Get Out Alive escrita por Mandy-Jam


Capítulo 6
Os bestantes


Notas iniciais do capítulo

Veremos o que vai acontecer com os tributos.
Será que todos sobrevivem ao primeiro obstáculo imposto pela Capital?
Boa leitura.



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Eram bestas horrendas. Assim que os olhos de Rhamon bateram naquelas criaturas escondidas atrás das plantas, ele notou que tinha virado uma presa.

Sem precisar, e nem mesmo ter, mais tempo para pensar ele saiu correndo para longe seguido por Vinícius. Aquilo era um truque da Capital. Um dos brinquedinhos favoritos deles durante os Jogos: os bestantes.

Essas mutações podiam ter milhares de formas diferentes, mas aquelas em especial pareciam uma mistura terrível de ursos com lobos ou algum tipo de cão selvagem. Patas enormes, presas afiadas, e olhos cinza e frios.

O garoto do Distrito 11 corria o máximo que conseguia para salvar sua vida, porém estava ficando para trás. Vinícius era mais rápido, mas por mais que eles corressem os dois sabiam que era só uma questão de tempo para os bestantes o alcançarem.

- Sobe na árvore! – Berrou Rhamon.

- Qual árvore?! – Perguntou Vinícius tenso.

- Aquela ali! Aquela! – Exclamou Rhamon.

- Estamos no meio da floresta! Tem árvore em tudo que é canto, porra! – Rebateu ele em um grito de desespero.

- Tanto faz! A primeira que você vir! Só escolhe logo! – Berrou Rhamon olhando para trás e vendo os bestantes se aproximando.

- Mas eu não sei subir em árvores! – Gritou Vinícius.

- Então aprende! – Respondeu Rhamon.

Vinícius viu que não teria jeito.

Ou ele dava um jeito de subir na primeira árvore que avistasse, ou teria um final horrível virando ração para os bestantes.

Ele pulou e agarrou-se á primeira árvore alta que viu na frente. Conseguiu escalar desajeitadamente até um galho que julgava alto o suficiente, e Rhamon foi logo atrás. Por ser do Distrito da agricultura, ele sabia muito bem como escalar as árvores, tornando fácil subir até um galho mais alto que o de Vinícius.

Os bestantes começaram a tentar escalar a árvore assim que avistaram os dois lá em cima, mas não conseguiam alcançá-los. Eles uivavam de raiva e fome, provavelmente, mas Rhamon tinha um largo sorriso no rosto.

- Otários. Acho que a Capital não os fez para subirem em árvores. – Disse ele feliz – Estamos salvos aqui em cima.

- Por enquanto. Mas e quando precisarmos descer? – Perguntou Vinícius.

- Eles já vão embora. Devem procurar outro tributo quando notarem que nós não vamos descer. – Respondeu ele, mas não estava tão seguro assim.

- Legal... – Murmurou Vinícius sem animação nenhuma. Rhamon recostou-se á árvore e relaxou um pouco.

- É até melhor ficarmos aqui mesmo. Assim os carreiristas não vão nos achar. – Comentou Rhamon mais para si mesmo do que para Vinícius, pois tinha quase certeza de que ele não daria a mínima – Eles são idiotas demais. Vão pensar em matar as pessoas o mais rápido que puderem, mas não tem habilidade o suficiente para escalar uma árvore ou coisa do tipo.

- Eu também não tenho. – Comentou Vinícius.

-... Então... – Rhamon ia mudar de assunto, quando notou que os bestantes olharam para um direção fixamente, e saíram correndo. Rhamon tinha quase certeza de que não tardaria para ouvirem tiros de canhão – Parece que acharam outra presa.

- Ainda bem. Mas agora é melhor nem descermos. – Falou Vinícius olhando-os se afastar – Quem será que foi o azarado que vai ser perseguido agora?

- Sei lá, mas eu não ficaria nem um pouco triste se fosse um carreirista. – Comentou Rhamon olhando a mesma cena.

- Gostaria que fosse aquela outra garota do Distrito 8. – Comentou Vinícius – Eu achei muito estranho eles terem dois representantes.

- A Capital muda as regras na hora que ela quer. Isso é uma droga. – Murmurou Rhamon. Vinícius assentiu e depois olhou para ele no galho de cima.

- Você vive assim no Distrito 11? Escalando árvores o dia todo? – Perguntou ele.

- Não o dia todo... Só a maior parte dele. – Respondeu Rhamon rindo da sua vida miserável – Eu trabalho com a colheita de frutas. Vivo escalando árvores para pegar maçãs, ou de vez em quando umas laranjas.

- Que vida de merda, hein? – Comentou Vinícius.

- Ah, e a sua vida é melhor? – Rebateu ele.

- Sei lá. Acho que a vida de ninguém é muito melhor. Tirando os carreiristas, claro. – Respondeu Vinícius se ajeitando no galho – Eu passo a tarde, logo depois da escola, enlatando palmito.

- Palmito? – Rhamon prendeu o riso – Isso sim é uma vida de merda.

- É, é sim. – Confirmou Vinícius – Eu enlato palmito, depois azeitonas, e depois palmito de novo. Minhas mãos ficam fedendo um tempão. Sem falar que aquela porcaria de fábrica é abafada para cacete. Quando chega o verão as pessoas tentam até fugir do trabalho.

- E elas conseguem? – Quis saber Rhamon.

- Não. Os Pacificadores metem a porrada nelas, e todo mundo tem que voltar á trabalhar. É um inferno. – Respondeu ele.

- Lá também é assim. No meu Distrito. – Comentou Rhamon – Se você rouba uma fruta para alimentar a sua família faminta, você leva uma surra. Se você falta o trabalho, você leva uma surra. Se você respira em lugar que não é para respirar, você leva uma surra. Resumindo... Você leva uma surra por qualquer besteirinha.

- Que interessante. – Disse Vinícius fingindo realmente se importar.

- É. Demais. – Murmurou Rhamon revirando os olhos.

Flávia andava pela floresta completamente sem rumo. A garota de olhos azuis e cabelos loiros não sabia ao certo o que devia fazer. Ela sobrevivera á uma noite difícil. Teve que dormir em uma árvore, e ficou morrendo de medo de cair.

Mas estava bem agora. Exceto pela sua enorme fome e sede.

A sua mochila tinha um arco e flechas dentro, mas nenhum suprimento. Ela imaginava que não era muito difícil usar um arco e flechas, por isso tinha chances de conseguir comida caçando algum bicho.

Ela passou algumas horas da manhã, logo após o hino da Capital, treinando tiro ao alvo. Ela não era tão ruim, mas não tinha tanta força. Caçar seria algo complicado, já que os animais estariam em movimento.

- Poxa... – Murmurou ela desanimada. O Sol estava sendo tampado por algumas nuvens cinza. Se começasse a chover, ela podia beber a água da chuva, mas ainda assim estaria morrendo de sede.

A garota do Distrito 6 colocou o escudo amarrado nas costas, de modo que a protegesse de algum ataque inesperado, e andava por aí com o seu arco e uma flecha já armados.

Flávia encostou-se á uma pedra grande e parou para respirar. Não sabia para onde poderia ir, e nem mesmo o que fazer. Ela tinha medo de achar os carreiristas ou alguém de outro tributo.

Não teria chances contra a Mariana. Também não seria tão boa contra a Bruna e aquele machado.

Ela queria ter formado um grupo com alguém, mas... Como poderia confiar em estranhos? Ela nem mesmo os conhecia, e não podia ignorar o fato de que somente um deles poderia ser o vitorioso. Ou seja... Os outros teriam que morrer.

E se a matassem quando ela menos esperava? Isso não seria nada bom. Só de pensar na possibilidade sangrenta, Flávia estremeceu. E foi nesse momento que ela ouviu um barulho.

O chão parecia estar tremendo um pouco, o que a fez ficar preocupada. O que estava acontecendo?

Ela olhou para o lado, e seus olhos se arregalaram. Podia ver algumas criaturas estranhas correndo em direção dela. Mesmo estando longe demais para ela notar os detalhes, Flávia sabia muito bem que eram os bestantes. Só podiam ser.

Não teve tempo de fazer mais nada. Ela só saiu correndo para a primeira direção que viu em busca de algum lugar para se esconder.

Flávia correu, e correu, e correu... A cada passo que dava, podia sentir os bestantes se aproximando. Ela imaginou como seria a sua morte. Ela caída no chão, enquanto as feras rasgavam sua pele parte por parte de modo cruel e assassino.

Lágrimas escorreram de seus olhos, e ela acabou tropeçando em uma pedra na sua frente. Seus olhos azuis miraram desesperados para o caminho que tinha deixado para trás, mas não havia nenhuma fera por perto.

O que será que aconteceu?

- Era só o desespero... – Murmurou Flávia tensa.

Sentou-se no chão e parou para ouvir. Não tinha mais nenhum som. Somente o silêncio da floresta, e o cantar de alguns pássaros acima de si.

Flávia olhou para frente e viu de longe uma pequena caverna. Imaginou logo de cara que deveria ser lá que os bestantes ficavam, por isso não se surpreendeu quando viu um animal indo calmamente para dentro de lá.

Mas... Um animal? Aquilo parecia um lobo. Não um lobo modificado, e sim um pequeno lobo comum. Talvez um filhote de lobo. Tinha o tamanho de um cachorro comum.

Ele estava cheirando a entrada da caverna calmamente, o que fez Flávia relaxar. Então ela não estava perto da casa dos bestantes.

Um sorriso se formou no rosto dela, e Flávia quis esticar a mão e ir cada vez mais para perto do pequeno lobo para lhe fazer carinho. Parecia tão inofensivo que poderia ser até domesticado.

Mas ela não se mexeu. Antes mesmo de esticar as mãos, algo voou na direção do filhote de lobo, e ele caiu morto.

Os olhos de Flávia se arregalaram ao ver que era uma picareta, aquelas ferramentas que os mineiros usam para escavar... Carvão. Ela tampou a boca horrorizada, assim que viu Amanda sair de lá. Ela arrancou a arma da cabeça do animal, e o puxou para dentro da caverna.

- Tenho que sair daqui. Tenho que ir para longe daqui agora. – Pensou Flávia quase que em desespero. Ela se levantou e saiu correndo para longe. Novamente, não tinha idéia de para onde, mas qualquer lugar seria melhor que ali.

Imaginou uma segunda possibilidade de morte. Ser atingida na cabeça por aquela arma pontuda e perfurante, enquanto a garota do Distrito 12 sorria malignamente e a puxava de volta de sua testa com toda a brutalidade que não parecia ter.

Talvez aquilo fosse um grande exagero, pois Amanda não parecia ser o tipo de pessoa violenta e assassina que mata com um sorriso no rosto, mas ainda assim era uma possibilidade.

- Eu sei. Eu entendo que queira ajudar, mas na faça isso. Até porque, eu não vou poder te ajudar de volta mais tarde. – Foram as suas palavras quando Flávia tentou ajudá-la a se levantar na área de treinamento.

Ela deixou bem claro, não? Nada de amizade, nada de ajudas. Nada de tréguas também. Flávia não queira arriscar se juntar á ela. Nem pensar.

E muito menos Nina. Nina não tinha pensado a mesma coisa? Todos ali sabiam muito bem que o lema “um por todos, e todos por um” não era o mais apropriado. Eles teriam que salvar suas próprias vidas e que se dane a dos outros.

Cansada de correr, e já tonta por causa das cenas horrendas que imaginou e viu, Flávia resolveu sentar-se embaixo de uma árvore. Agora podia sentir o cansaço, o desgaste da corrida, e principalmente... A sede e a fome.

De que adiantava um arco e flecha para caçar, se ela não conseguia nem ver a imagem de Amanda matando um filhote de lobo? Ela teria pena de todos os bichinhos que passassem pela sua frente, e acabaria morrendo de fome.

Sede... Ela tinha que torcer para chover. E chover logo.

Ela já se sentia fraca. Não bebia nada desde que entrou na arena no dia anterior. Sua boca estava seca, e não estava se sentindo nada bem.

Precisava de água. Mas como acharia isso?

Não tinha como calcular um lugar onde possivelmente teria água. A única coisa que a garota do Distrito 6 sabia fazer era identificar remédios, fazer curativos de primeiros socorros, e eventualmente identificar alguns tipos de plantas.

Ela poderia comer algumas plantas, é claro, mas várias delas davam sede. E até mesmo a sede atrapalhava na vontade de comer. Mesmo estando morrendo de fome, ela não conseguia nem mesmo salivar direito.

Flávia se pôs de pé um tanto cambaleante e seguiu caminho. Depois de entrar em alguns trechos cercados de plantas rasteiras extremamente verdes, viu uma pequena ponte de madeira. Tudo ao seu redor parecia cercado de mato rasteiro, mas... Quando ela parou para ouvir bem...

- Um... Um rio! – Exclamou ela feliz. Flávia correu para perto da possível margem e notou que estava certa. Um rio passava por ali, mas depois parecia simplesmente sumir entre a vegetação.

Ela desceu a pequena encosta dele, e parou em um chão de terra que ficava á centímetros da água. A margem. A doce margem do rio.

Flávia estava pronta para avançar e beber a água, quando... Ouviu um barulho á sua esquerda.

- Desisto! Argh! – Exclamou alguém jogando-se no chão – Eu vou morrer...

Em cima da ponte, estava Nina que jogou-se contra o chão de madeira e simplesmente fingiu de morta. Ela usava uma camisa branca, que já estava ficando suja de terra, e uma calça azul escura aparentemente confortável.

Ao lado de Nina estava sua espada, e uma lança. Flávia ficou completamente parada, com medo de fazer qualquer barulho e chamar a atenção de Nina. Porém... Não foi preciso, pois o próprio rio fez o barulho.

- Água... Água! – Exclamou Nina se levantando repentinamente, mas assim que fez isso, seus olhos fitaram os de Flávia. Nina e ela permaneceram imóveis, avaliando o que deveriam fazer.

Nina pulou a pequena ponte de madeira e seus pés tocaram a margem de terra úmida. Sua espada estava presa na sua cintura, mas sua lança estava em sua mão. Pontiaguda e perfeita para matar alguém, ela assustou Flávia.

A garota do Distrito 6 armou seu arco e flecha por impulso e se preparou para acertar Nina caso ela tentasse matá-la. Mas... A garota do Distrito 8 arregalou os olhos para frente. Flávia virou-se para o seu lado direito e viu Bruna segurando seu machado.

A lenhadora olhou para a água no chão e depois para as duas. Bruna era a mais forte das duas, o que implicava em uma terrível desvantagem. Ela poderia avançar na direção das duas e ficar dois passos mais perto de voltar para seus irmãos do Distrito 7, mas...

Um novo som. Um tipo de galinha correu para perto do rio, mas antes de tocar na água, uma garota o acertou com sua arma. Flávia já havia visto aquela cena antes. Amanda acertara a galinha com seu garimpo, do mesmo modo que acertara o filhote de lobo.

A garota do Distrito 12 não notou a presença delas de primeira. Depois de tirar a arma do animal morto, Amanda notou o rio na sua frente. Seu queixo caiu como se ela tivesse achado uma mina de ouro, e um sorriso enorme surgiu em seu rosto.

Mas assim que ela deu um passo para frente, pode notar Flávia, ainda com medo da cena de caça. Amanda segurou mais firme o seu garimpo e depois olhou para Nina e Bruna.

Todas ficaram em silêncio, encarando umas as outras por alguns minutos, até que o silêncio mortal foi quebrado por Nina.

- Então... Que reunião legal, hein? – Comentou ela em sarcasmo.

- É. Muito divertida. – Confirmou Bruna completamente séria – Quem quer começar a festa dando um passo á frente?


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Notas finais do capítulo

Agora é que vai ficar tenso.
Quem será que morre depois dessa? Um briga pela água.
Espero por reviews!
Beijos e até o próximo capítulo.



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