Premonição 1: Sem Saída escrita por Lerd


Capítulo 9
Dor


Notas iniciais do capítulo

Capítulo extenso e cheio de acontecimentos! O tom pouco detalhado é proposital, para dar a noção do caos das situações. Enjoy!



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O reencontro com seus pais ocorreu como esperado: abraços, beijos e muita comemoração. Jimmy, Luke e Melissa haviam mudado muito. Os gêmeos estavam mais diferentes entre si, porém igualmente mais e visivelmente maiores. E Melissa... Uau! Os meses que Bobby ficara longe dela havia feito milagres: a garota estava ainda mais linda. Sua maturidade precoce que fazia a jovem se vestir como adulta, se fora. O que se via era uma bela adolescente vestida de acordo com sua idade. Os cabelos já não estavam mais presos no desajeitado e antiquado coque. Soltos, faziam milagres no rosto harmonioso.

— Eu senti tanto a sua falta, Mel! – Bobby abraçou a irmã com uma demora colossal, e, ainda sim, quando a soltou foi a contragosto, julgando o abraço curto.

— Eu também, Bimbo. Eu também. Mas sabe quem é que fez minha saudade ser diminuída só um pouquinho?

— Quem? – Bobby perguntou curioso.

— A Lily!

— A Lily?

— Aham! Acho que ela não te contou nas cartas, mas eu fui em todas as sessões de fisioterapia dela, sabia?

Bobby fez uma cara de espanto e alegria.

— Jura, Mel?

A garota maneou a cabeça positivamente.

— Eu sabia como você daria tudo pra estar ali, naquele momento. Então fui eu. Eu quis viver aquele momento por você, consegue entender? Além disso, eu e Lily nos tornamos melhores amigas nesse tempo.

— Isso é fantástico! – Bobby disse, não conseguindo conter a sua satisfação.

Melissa sorriu e voltou a abraçar o irmão, querendo que aquele momento de alegria nunca acabasse.

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O college já estava praticamente acertado. Bobby faria uma prova pra testar se suas notas ainda estavam aptas a garantir a vaga dele em uma importante universidade particular. Ele iria se mudar novamente e esperava levar Lily consigo.

— Mas já vai, filho? Você mal chegou!

Bobby riu.

— Calma mãe, eu só vou daqui a dois meses. Nós temos todo esse tempo para passarmos juntos.

A mãe sorriu e o abraçou.

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Já fazia três dias que Bobby estava de volta à cidade quando se lembrou de visitar a garota milagrosa que havia salvado suas vidas, a tal Beth. Matt estava acompanhando o rapaz, já que era dia de visitas no hospital onde Jamie estava com a bebê.

— Você vai ver como minha filha é linda, Bobby! – Matt exclamou.

Bobby sorriu com gosto.

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Beth era realmente uma visão angelical. A menina possuía bastante cabelo para uma recém-nascida, e ele era castanho escuro: mais escuro que o de Matt e mais claro que o de Jamie. Os olhos não eram os de ave de rapina que Matt possuía, mas doces olhos de tolerância e serenidade. Durante a hora em que ficaram na companhia de Jamie e da garotinha, a pequena não chorou nem por um segundo. Ela era viva, irradiava luz por todo seu pequenino corpo. Enquanto a segurava, Bobby pôde sentir toda a vivacidade contida em Beth.

— Você é uma princesinha... – O rapaz fazia gracejos para a menina.

Lily e Alice chegaram vinte minutos depois dos rapazes. A ruiva trazia diversas sacolas, a maioria delas em tons claros e calmantes.

— Adivinha o que a madrinha Alice trouxe?

Todos riram. Alice começou a espalhar o conteúdo das sacolas por todo o quarto de hospital. Bobby teve certeza que ali naquele cômodo havia roupa suficiente para Beth usar até o momento em que fosse pra universidade.

— Você não deve ficar gastando todo esse dinheiro conosco, Alice! – Jamie retaliou.

— A afilhada é minha, eu gasto o quanto eu quiser. E, além disso, o cartão de crédito é do papai.

Todos riram. A velha Alice estava de volta. Seu rosto outrora destrutivo fora trocado por um mais parecido com o de Lily.

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Já em casa, Bobby entrou na garagem de sua casa e pôs-se a avaliar o carro de seu pai, o seu apaixonante Impala que mantinha intacto na garagem desde a saída do filho. Não havia ninguém além de Bobby em casa naquele momento. Estavam todos assistindo uma peça de teatro.

O rapaz ligou o carro e viu que, além de funcionar perfeitamente, ainda tinha combustível. Levantou-se para abrir a garagem sem desligar o automóvel. No caminho escorregou em um carrinho de brinquedo dos gêmeos e caiu, batendo a cabeça com força. A batida fora suficiente para fazê-lo desmaiar.

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A família chegou momentos depois. A peça havia sido cancelada, e como a noite estava bonita, decidiram vir para casa andando. Por algum motivo, Melissa disse:

— Que sensação esquisita...

Os pais ignoraram-na, mas a garota continuou inquieta. Aproximou-se da porta da garagem e viu uma fumaça saindo.

— Bobby!

A garota gritou e pediu ajuda ao pai para abrir a porta. No local, a cena era aterradora: o Impala estava ligado, com uma grande quantidade de gás saindo do escapamento. No chão, deitado, estava Bobby. O rapaz estava desacordado.

— Filho! – Michael gritou ao ver a cena.

Jane tapou o rosto e desligou a chave da ignição. Michael gritou que Luke e Jimmy não entrassem no local e com cuidado retirou o filho de lá. Verificou seu pulso, e percebeu que ele era quase inexistente.

— Chama uma ambulância, rápido, Melissa!

A garota fez o que o pai pedira o mais rápido que conseguiu.

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No hospital, Bobby já acordara. Os pais estavam sentados num sofá próximo. Jane dormia, mas ao menor sinal de movimento do filho, acordou.

— Amor...?

Ela perguntou com preocupação. O médico alertara que muito tempo exposto ao monóxido de carbono poderia gerar sequelas em Bobby, e essa ideia dominou quase que completamente os pensamentos da mulher.

— Mãe?

A mulher abraçou o filho aos prantos. Michael continha o choro.

— O que aconteceu? – Bobby perguntou. — Eu me lembro de estar me preparando pra sair com o carro quando tudo ficou escuro...

Jane e Michael entreolharam-se.

— Quer dizer que não foi proposital? – Michael perguntou, positivamente surpreso.

— Como assim?

— Filho, você ficou preso na garagem com o carro ligado. Se tivéssemos demorado mais quinze minutos, você teria... – O homem não teve coragem de continuar.

Bobby congelou.

— Vocês acham que eu tentei me matar?

Os pais dele engoliram em seco.

— Não importa, Bimbo. O que importa é que você está aqui, bem, vivo. É o suficiente. — E abraçou-o longamente.

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Bobby recebeu alta já no dia seguinte. Contara a história aos amigos, que ficaram felizes em saber que ele estava bem. Ele e Lily caminhavam lentamente pelas ruas da cidade, conversando.

— E pensar que se a peça não tivesse sido cancelada...

— Como?

— Meus pais tinham ido assistir a uma peça de teatro, sabe? Eles deveriam ficar por lá pelo menos umas duas horas. Se a peça não tivesse sido cancelada, eles não teriam chego a tempo e...

Ao pronunciar todo o ocorrido em voz alta, uma ideia assombrou Bobby. Todo o seu corpo foi tomado por uma corrente elétrica e a amargura tomou conta de seu rosto.

— Não, Bobby...

Lily sentiu o pesar no rosto do rapaz e suspirou. Bobby olhou para os lados e viu o exato momento em que um letreiro de uma cafeteria caiu. Empurrou Lily com força para o lado oposto de onde a placa caíra, salvando-a de ser esmagada. Um aglomerado de pessoas se juntou em volta do local.

— Você tá legal? – Bobby perguntou.

A garota meneou a cabeça positivamente. Bobby não conseguiu dizer mais nada. Várias imagens confusas tomaram conta de sua cabeça e em segundos tudo que ele julgara verdade foi por terra. Um insight clareou sua mente de forma a deixá-lo sem chão, sem qualquer rumo.

Ele estava de volta ao dia do acidente de trem. Observava Jamie com cautela, suas mãos sob a barriga, um gesto intuitivo e despercebido. Depois foi transposto para a maternidade: os olhos de Beth. Os olhos de Matt. Não eram os mesmos olhos. O olhar desconfiado do amigo não estava impresso nos olhos da garota, nem subjetivamente. De repente entendeu tudo e quis se bater por não ter percebido isso antes.

— A Jamie já estava grávida quando nós sofremos o acidente de trem. – Ele disse a queima roupa.

— Como assim?! – Lily perguntou, tremendo.

— Ela não engravidou de Matt apóso acidente. Ela já estava grávida dessa criança antes de eu ter aquela premonição. A Beth não é filha do Matt. Ela não é uma vida “nova” que irá nos salvar, porque... Ela deveria ter morrido naquele trem, junto de nós, dentro da barriga de Jamie. Beth já estava condenada antes mesmo de nascer. Ela ainda não respirava, mas ela já era vida. Ela já era uma vida na lista da morte.

Lily tapou a boca, abafando um gritinho.

— Então você acha que a morte considera uma vida desde o momento da concepção?

Bobby ignorou a pergunta e continuou:

— Quando o Matt salvou a Jamie de ser eletrocutada na banheira, ele salvou a Beth junto, novamente. Ele tirou mãe e filha da lista, mandando-as para o final, junto com você. Daí a morte pulou elas, matou Lubo, pulou Matt e Alice e veio para mim, na garagem. Lá meus pais interferiram na minha morte, me pulando e voltando pra você. Mas eu te salvei agora e então você foi pulada mais uma vez. O que nos leva...

— A Jamie e Beth! – Lily exclamou atônita.

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Lily e Bobby corriam o máximo que podiam. Tinham de chegar ao hospital antes que algo acontecesse a Jamie e a bebê. O rapaz então ligou para Matt, sem parar de correr:

— Pro hospital, agora!

O amigo não questionou e desligou o celular.

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No hospital, Jamie amamentava Beth com gosto. A menina parecia sorrir. A garota desejou que esse momento nunca tivesse fim. Mas logo uma enfermeira chegou, pedindo para pegar a menina:

— Hora de dormir, mamãe. – A enfermeira brincou.

Jamie fez muxoxo:

— Só mais dez minutinhos...

A enfermeira fez cara de frustração, mas concordou, saindo do quarto. Jamie sorriu, satisfeita. A garota riu largamente com a criança nos braços. Um copo d’água caiu no chão.

Por que ela estava fazendo aquilo, afinal? Tantas mentiras e frustrações... Não, é necessário. Jamie tinha de mentir, pelo bem de Beth. Se ela contasse que a garota não era filha de Matt, o verdadeiro pai poderia vir atrás e isso ela não iria permitir. Matt era o pai que ela escolhera para a garota. Não é isso que realmente importa? O outro, traste, biologicamente pai da garota, não valia os tênis que usava.

Desistiu de pensar. Fechou os olhos e dormiu abraçada à Beth.

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Na casa de Bobby, a campainha tocou. Melissa atendeu, e viu que era um carteiro.

— Entrega para Bobby Scott Davies...

— Ele é o meu irmão, mas ele não está em casa.

— Você pode receber por ele?

— Claro.

O homem então passou um papel para Melissa, que o assinou e trouxe a caixa para dentro. Em cima dela havia um papel onde se lia que o remetente era a empresa de aviação a qual tinha enviado a carta a Bobby após ele ter evitado o acidente, vários meses atrás. A garota estava extremamente curiosa, mas decidiu não abrir. Afinal aquilo era uma correspondência, e mesmo que Bobby não escondesse segredos dela, seria injusto ver seu conteúdo antes do próprio dono.

Melissa largou o objeto no chão e subiu para seu quarto.

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— Qual é o quarto da Jamie Walker? – Lily perguntou assim que chegaram à recepção do hospital.

— Desculpa senhorita, mas...

Bobby não esperou a mulher terminar de responder. Roubou uma caderneta que estava no balcão e viu o número do quarto. Saiu em disparada sob protestos da recepcionista.

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A maca onde Jamie estava com Beth mexia vertiginosamente. Bobby, Matt e Lily entraram no quarto num rompante. O susto fez Jamie acordar num pulo, mexendo a maca com força. Beth caiu no chão e Jamie iria cair em cima dela, esmagando-a, se Matt não tivesse protegido a bebê com os braços no último segundo, fazendo Jamie cair em cima dele.

— Você... Salvou Beth. – Jamie balbuciou. — Mas o que diabos está acontecendo?

— Não acabou ainda, Jamie. Você é a próxima.

A garota tapou a boca, pasma. Começou lentamente a dar passos para trás, procurando se afastar de Bobby. Ela então escorregou na pequena poça d’água, batendo com força na janela atrás de si. Os vidros se quebraram e o frágil corpo de Jamie caiu andares abaixo, sob os protestos e gritos de Matt. Ele viu o exato momento em que a garota bateu com as costas em um hidrante, esmagando alguns ossos e tornando a coluna dela uma massa retorcida. Algum sangue saiu de sua boca. Jamie morreu de olhos abertos.

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Bobby não esperou mais nada. Desceu as escadas do hospital num pulo, deixando Matt e Lily no quarto. Vários paramédicos já estavam do lado de fora, ao redor de Jamie, mas ela já estava morta. Um aglomerado se formou e pessoas murmuravam e gritavam diante da terrível cena. Bobby desviou de tudo e de todos e correu o mais rápido que pôde.

Bludworth. Ele precisava encontrar o homem antes que fosse tarde demais. A dica dele sobre o bebê teria funcionado, se Beth não fosse uma vida também já na lista, já condenada. Bobby não tinha ideia de quais outros métodos, com exceção do assassinato (já descartado?), poderia usar para salvar a si e aos amigos. Mas precisava descobrir. Ele não iria morrer sem tentar.

Era sábado. Ele chegou à escola de Melissa e torceu para que Bludworth morasse ali, numa casinha dos fundos, como a irmã dissera que seria. O local estava vazio e Bobby corria o mais rápido que podia. Era um dia ensolarado como de costume, e o contraste entre as possibilidades do dia e os acontecimentos, eram gritantes. Quem poderia imaginar?

A casa era pequena, embora bem cuidada. Bobby bateu uma vez e o homem imediatamente atendeu a porta.

— Eu sabia que você aparecia uma hora ou outra. – Ele disse.

O rapaz entrou sem cerimônia e pôs-se a falar:

— Me diz uma coisa: se a garota já estava grávida antes do acidente e esse bebê nascer, ele não pode nos salvar, certo?

— É provável que não. Afinal a vida dessa criança também já estaria condenada desde o princípio. Foi esse o caso?

Bobby abaixou a cabeça, abatido.

— Eu estava tão certo da gravidez da Jamie que não parei para pensar nesses detalhes. — O rapaz suava frio e, já sentado, colocou a cabeça entre as pernas.

Bludworth se aproximou dele, dizendo:

— Mas existem outros métodos.

— Então me diz, porra! – Bobby disse, mas logo se arrependeu. Ele estava na casa daquele homem ofendendo-o sem motivos.

William Bludworth não se ofendeu.

— Meus amigos não param de morrer e... – Bobby murmurou, tremendo um pouco. Ele percebia que estava a ponto de explodir.

— Você entende que a morte respeita a ordem da lista, certo?

Bobby mexeu a cabeça positivamente, ainda chorando.

— Pois então. Quebre essa ordem. Quebre a ordem da lista da morte. Se isso acontecer vocês estão salvos.

— E como eu faço isso?

Bludworth fez uma expressão de pena.

— Alguém, preferencialmente o último da lista, deve... Suicidar-se.

Bobby arregalou os olhos, incrédulo.

— Essa é a única maneira?

— Eu não sei, meu rapaz. Mas essa funciona. Além do mais, sempre existe a possibilidade de colocar outra vida no lugar da sua...

O homem falou a última frase com um tom assustador em sua voz. Bobby não se deu ao luxo de ficar pensando por muito tempo. Levantou-se do sofá e se pôs ao lado da porta. Virou-se e, com uma expressão enigmática, disse:

— Obrigado.

E então saiu.

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Na porta de sua casa, Bobby pôs-se a pensar sobre a lista e sobre o sacrifício. Será que ele realmente funcionaria? Maldito Bludworth! Foi quando se lembrou de Melissa e do incidente no avião. Será que ela também estava condenada? E se sim, será que seu suicídio poderia ajudá-la? Malditas dúvidas!

Não havia ninguém em casa. Ao lado das escadas a caixa vinda da companhia de aviação. Bobby abriu-a, como se ali houvesse sua salvação. Besteira. Deviam ser apenas souvenires, como chaveiros e broches.

Surpreendeu-se com o que viu. Uma planta do avião em detalhes, além de informações técnicas de cada parte do modelo. Na planta havia as poltronas, devidamente numeradas. Junto, um cartão:

Esperamos que seu interesse por aeroplanos seja intensificado com esse material. Quem sabe no futuro você possa trabalhar conosco?

Não havia assinatura. Bobby jogou tudo no chão. Correu até a sala e ligou a televisão, como que hipnotizado. Como se alguém o estivesse comandando a isso. O que estava passando era um noticiário:

Vamos às notícias de hoje: a polícia investiga o caso de um empresário de quarenta e cinco anos, chamado Jeff Malone, que foi encontrado morto na chácara onde morava. Sua cabeça foi baleada por um tiro de uma espingarda ainda não identificada. Apesar de suicídio ser a hipótese mais provável, a polícia não descarta assassinato...

A foto de Jeff foi mostrada na tela e Bobby teve certeza de que o conhecia. Claro, ele estava no avião de Melissa! O rapaz não consegui deixar de pensar a respeito de como o cérebro humano é incrível. Ele esconde-nos fatos importantíssimos (como todo o ocorrido no aeroporto), mas guarda detalhes ínfimos, como a presença desse Jeff Malone no voo da Melissa.

Bobby conhecia Jeff, isso era certo. Então, de súbito, uma ideia tomou conta de sua mente.

Bobby correu até a planta do avião e pôs-se a estudá-la. Os locais onde cada peça ficava estavam demarcados e havia algumas marcações em vermelhos em pontos importantes.

— Foi aqui onde ocorreu o problema... Se eu ao menos eu pudesse saber onde esse Jeff estava sentado...

Sua ideia era simples e assustadora. Jeff morrera, e isso era um fato. O que significava que também, quase que obrigatoriamente, Melissa estava em perigo. Mas o rapaz queria saber qual a ordem, naquele caso. Quando Melissa morreria.

O telefone tocou. O rapaz não atendeu. Uma visão aterradora tomava conta de sua mente.

Ele estava aparentemente dentro do avião. Estava sentado ao lado de uma senhora com um bebê que gritava e tentava salvar a criança da agitação. Sabendo da importância da visão, Bobby começou a procurar Melissa e Jeff. Encontrou-o, mas não ela. Olhou em suas mãos e viu esmaltes verdes. Ele era Melissa. De repente a explosão. Bobby sentiu a pele queimar e sentiu a dor que se seguiu. Olhou para trás e antes de fechar os olhos viu Jeff desesperado, embora visivelmente longe do restante do caos.

Sua pele queimava quando acordou. Estava completamente vermelho, mas pelo menos uma parte de seu desespero tinha sido resolvida. Melissa estava a salvo. Jeff morria após a garota, e havia se suicidado. Bludworth tinha de estar certo.

Pela última vez ele olhou sua casa. Pensou em escrever um recado, mas desistiu. O telefone tocou. Era Lily. O rapaz não respondeu a nada do que ela disse. Falou apenas.

— Eu te amo. Nunca se esqueça disso.

E desligou. Pegou sua bicicleta e pôs-se a pedalar. Sabia exatamente o que iria fazer. O que deveria fazer.

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Lily estava desesperada com o recado abrupto de Bobby. Ao lado dela estava Alice, bastante confusa:

— O que diabos ele te disse, garota?

A outra nada respondeu, tremendo e sentindo os olhos se enchendo de lágrimas.

— Eu acho que ele vai fazer uma besteira.

Alice então estava na estação de trem onde Bobby previra o desastre. Ela e Lily gritavam coisas desconexas para o rapaz, e não conseguiram impedir o momento em que ele pulou na frente do trem em movimento, sendo transformado numa massa ensanguentada.

— O Bobby vai se suicidar. Ele vai se jogar na frente de um trem.

Lily estava trêmula com a mão na boca.

— Ele descobriu que essa é a única maneira de deter a morte. Ele se matar quando a morte esperava levar o Matt. Se ele fizer isso vai quebrar a lista e salvar a mim, a você, a Matt e Beth...

As duas então se puseram a correr até o carro de Alice, dirigindo furiosamente até a estação de trem.

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Bobby largou a bicicleta e observou o local: quase vazio, como esperava. Não queria plateia. Não queria nada que pudesse fazê-lo desistir. Por que eu estou fazendo isso? Não dava pra saber. Ele se importava com a vida de Matt, Beth, Alice ou Lily, mas não era motivo suficiente pra um suicídio quando havia tantas pessoas que sentiriam a sua falta, que sofreriam com a sua ausência. Apesar do amor que sentia pelos amigos, ele só seria capaz de tal ato por uma pessoa nesse mundo, Melissa. Então por que ele estava prestes a fazer aquela besteira?

Talvez pela angústia e depressão decorrentes de tudo aquilo. Em toda a sua vida o rapaz foi capaz de conseguir e resolver tudo o que propôs a si mesmo. Nada havia feito com que ele falhasse e nada fugia ao seu entendimento. Então, pela primeira vez, com as visões e a lista, ele estava vulnerável. Pela primeira vez não tinha ideia do que acontecia, e isso doía. A frustração, o medo. A tristeza, por fim.

Alice e Lily desceram do carro, esbaforidas, gritando por Bobby. O rapaz ouviu-as e desejou que o trem fosse mais rápido. O veículo ainda não havia saído e ele teria de ser rápido. Correu a fim de ficar a uma distância suficientemente satisfatória pra seu baque com a caixa de ferro ser fatal. As garotas corriam atrás dele. De repente tudo aconteceu.

Bobby virou-se, lançando-lhes um último olhar. Gritou, embora com a certeza de não estar sendo ouvido:

— Diga a meus pais, Luke, Jimmy e Melissa que os amo.

E pulou. Lily gritou de modo tão alto que Alice viu-se fazendo o mesmo, enquanto lágrimas pulavam com furor dos olhos das duas. A ruiva viu em câmera lenta o que ocorrera em sua visão do acidente. O corpo de Bobby chocou-se com o objeto e transformou-se numa massa de sangue. Uma parte sua caiu, e os trilhos passaram por cima sem piedade. Sangue, apenas sangue.

E a dor.


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Notas finais do capítulo

Haha, cruel não? No início pensei em levar Beth junto, mas não sou tão sádico. O último capítulo sai logo, e vai ser uma espécie de epílogo... De qualquer forma obrigado aos leitores! :D



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