Corria. A neve que cobria o chão lhe deixava mais lenta, mesmo acostumada, mas agradecia mentalmente por o mesmo acontecer com seu irmão. Sua respiração fazia embaçar a vista mas mantinha os olhos no mesmo ponto que era sua casa, somente algumas vezes virando-se para trás para ver a que distância o bielorrusso estava de si. Dmitry continuava a se aproximar, atravessando a neve furiosamente. Apertou o cabo de sua pá a sua pá nas mãos

Anya aliviou-se por conseguir enxergar sua morada mas manteu a rapidez em que corria. Destrancou a porta e apressou-se em entrar. Dmitry havia chegado na soleira algum tempo depois, enquanto ela tentava trancar a porta por dentro - geralmente tinha sorte de conseguir fechar a porta antes dele se aproximar, mas desta vez com o ombro o irmão impediu-a de trancar a porta. Com o solavanco se desequilibrou.

Dmity adentrou a casa, sorrindo de modo assustador, tirando a neve cuidadosamente do buquê que havia feito para a irmã (girassóis).

A russa voltou a correr, ouvindo logo o irmão ainda a lhe perseguir. Ouvia-o gritar "CASAR, CASAR" como sempre.

Afastou-se deles pelos corredores, dirigindo-se para o quarto. Segurava a pá firmemente com ambas as mãos. Desta vez evitou de olhar para trás, o coração batendo mais forte pela corrida.
Ao contrário da porta da frente conseguiu entrar em seu quarto e se trancar lá antes que o bielorruso se aproximasse.

Recuperando o fôlego, Anya afastou-se da porta, com a pá na frente do corpo para se proteger.
Dmitry socou, fazendo seu coração dar um salto, e em seguida arranhou a porta - com uma só das mãos por causa dos girassóis que segurava na outra.

Já era quase normal cenas como aquela, mas mesmo assim aquilo não deixava de ser incômodo.

Dmitry desferiu vários chutes ferozes contra a madeira (a porta do quarto da russa estava marcada em vários pontos por culpa do bielorrusso e ela não se dava ao trabalho de concertá-la pois a cena se repitiria várias vezes); rosnando para que ela aceitassse seu pedidido, dizendo para deixá-lo entrar, falando que o destino dos dois era ficarem juntos.

Aquilo demorou algum tempo. Tremia os ombros quando escutava a madeira ranger, com medo que não suportasse as investidas do irmão. Cobriu os ouvidos com as mãos, tentando abafar o som.

Certa hora ele parou e então afastou as mãos das orelhas, prestando atenção no que ele faria. Logo ele voltou a acertar a porta, desta vez com o ombro, forçando a maçaneta algumas vezes. Choramingou e, depois mais alto, pediu para deixá-la em paz.

Com um som bastante alto a madeira e as dobradiças cederam. A porta fora aberta com um estrondo, a se desprender do batente. Dmitry soltou a maçaneta que havia ficado em sua mão e ajeitou o buquê.
Anya continuava a se proteger com a pá, mas não tentaria machucar o irmão com aquilo. Observava-o somente com algumas lágrimas nos olhos.

- Você sabe o meu sentimento por você, certo? - Aproximou-se dela em passos lentos. Estranhamente, pareciam levemente incertos.

Não obteve uma resposta, piscou os olhos. Se colocou mais próximo da russa que se encolheu - o máximo que podia pos já estava recostada à parede.
Entregou o buquê para ela. Anya não pegou, ainda lhe olhava assustada. Suspirou e o deixou de lado.

Agora próximo de si o outro parecia dócil. Anya teve os cabelos tocados gentilmente, Dmitry enrolou uma mecha entre os dedos brevemente. Rodeou seus ombros e abraçou-a.
Piscou algumas vezes e fez algumas lágrimas, antes de medo e nervoso, sumirem. Esperou ele fazer ou dizer algo.

- Você sabe o meu sentimento sobre você, certo? - Repitiu a pergunta, em um tom baixo, diferente do anterior. Estreitou levemente o abraço.

Com o silêncio interpretou que Anya esperava que prosseguisse e então o fez.Dmitry era somente muito protetor. Queria que Anya estivesse bem e que ninguém a ferisse. Queria que ela fosse feliz. Ele a faria feliz - ali, abraçado a ela, explicou isso.

Desfez o abraço para poder olhá-la nos olhos: - Ya lyublyu tebya.

Ficaram alguns minutos a se observar. Naquele silêncio Dmitry se sentiu incomodado e resolveu levantar. Antes que pudesse se afastar Anya lhe segurou e retomou o abraço.
Aconchegando o irmão, que era menor que ela, afagou-lhe os cabelos, novamente com algumas lágrimas nos olhos - mas não mais de medo.

Dmitry processava o que havia acontecido. Sentia o calor da irmã, ouvia-a e sentia também ela respirar.Correspondeu o abraço. Não costumava mostrar fraqueza, não gostava, mas naquele momento ele chorou. Anya lhe confortava.

Dmitry agia tanto como um irmão mais velho quanto o mais novo.