Sem Rumo escrita por Mandy-Jam, ray_diangelo


Capítulo 6
Use protetor solar


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o novo capítulo! Desculpem pela demora,e boa leitura,beijoos Mandy e Ray.



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Eu abri meus olhos devagar e notei que o Sol já estava nascendo. Eu me espreguicei calmamente e olhei para o lado com um sorriso fraco.

– Bom dia, raio de sol. – Disse Ringo dirigindo ainda. Eu ri e esfreguei os olhos.

– Bom dia... – Respondi com a voz falhada – Você dirigiu a noite toda?

Ele encolheu os ombros como se aquilo não fosse nada demais.

– Nunca me canso de dirigir. – Comentou ele rindo um pouco. Eu me ajeitei no banco, e seus olhos pararam em mim um tanto curiosos – Sabe... Família é um negócio bem chato ás vezes.

– É? – Perguntei sem saber ao certo, e ele franziu o cenho. Assentiu confirmando e voltou seus olhos para a estrada.

– É realmente legal fugir um pouco para esfriar a cabeça, mas... – Ele parou um pouco – Acho que sua mãe e seu pai estão bem preocupados.

Eu abracei minhas próprias pernas e olhei pela paisagem tentando perceber se aquilo era verdade. Não estava levando em conta o que os meus tutores achavam, e sim o que os meus pais de verdade iam pensar.

– Acho que estão. – Confirmei incerta – Mas... Eu não tenho certeza.

– Devem estar. – Confirmou ele – Por isso é melhor você voltar para casa e ficar com eles, e...

– Eu não posso. – Respondi calmamente.

– Claro que você pode. Se quiser eu te levo para... – Eu o interrompi.

– Meus pais não estão em casa. – Eu disse devagar. Ele olhou para mim sem entender, e eu continuei – Meus pais morreram. Há muito tempo. Na verdade... Eu mal conheci eles. Só a minha mãe, mas não lembro dela direito.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes, e acho que deve ter se sentido mal por mim. Acho que qualquer pessoa se sentiria. Uma garota órfã andando por aí sem nem mesmo saber para onde que ir ou o que quer.

Mas então ele riu um pouco.

– Ah, tudo bem. Então dá para continuar a viagem um pouco mais. – Comentou ele tentando mudar o assunto. Eu olhei para a paisagem novamente.

– Estamos passando por plantações de trigo? – Perguntei franzindo o cenho – Que legal.

– Gosta das fazendas? – Perguntou ele distraído.

– Se eu tivesse uma fazenda, eu plantaria gira-sol. – Comentei desligada – E venderia milhares de sementes, que iam virar...

– Comida de hamster? – Completou ele rindo, e eu ri por ele ter dito o mesmo que eu diria.

– Isso. – Eu ri – É algo engraçado de se plantar.

Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, quando o seu celular tocou. Ele soltou um suspiro pesado, como se aquilo o tirasse a paciência.

– Já estava demorando. – Resmungou ele. Ringo pegou o celular no bolso e atendeu – O que foi agora?

Alguém estava reclamando com ele, por isso ele simplesmente afastou o telefone do ouvido enquanto a pessoa gritava do outro lado da linha com raiva. Quando ela terminou, ele atendeu novamente.

– Não posso falar. Estou dirigindo. – Respondeu e desligou o telefone.

– Falar e dirigir é errado, mas roubar um carro não. – Eu ri, e ele também.

– Sou um homem de princípios. Temos sempre que obedecer as regras. Especialmente aquelas que vêem bem a calhar. – Riu ele olhando para a estrada. O celular tocou novamente, e eu esperei para ver se ele atenderia.

Não atendeu. Só depois da terceira ligação, e ele perdeu a paciência novamente e atendeu.

– O que foi?! O fim do mundo é amanhã e você quer me avisar?! – Reclamou ele. A pessoa gritou mais um pouco e ele afastou o celular. Quando o colocou novamente no ouvido, ele fechou os olhos de cansaço – Eu já falei mais de mil vezes que eu não posso passar os seus pedidos para frente! Não tem como...

Ele parou e franziu o cenho, mas logo revirou os olhos.

– E daí que as flores vão morrer?! Uma hora elas iam morrer mesmo. – Mais gritos e ele afastou o celular – Só porque você tirou férias, não quer dizer que eu tenha que fazer tudo que você manda!

Mais reclamações.

– Flores especiais?! Qual flor não é especial para você?! – Rebateu ele – Seu pedido é o número 4100. O pedido 3906 ainda está sendo entregado.

Mais reclamações, e eu prendi o riso.

– Furar fila é feio sabia? – Comentou ele depois da reclamação, mas então ouviu ainda mais. Ele prendeu o riso, e eu também – Como você quer que eu entregue as flores para você?! Eu vou ter que ir no Oli... Empire States, pegar, trazer para cá, e torcer para elas não morrerem. E com esse Sol, eu duvido.

Não houve reclamações. Ele revirou os olhos.

– Ah, você vai fazer o Sol diminuir. Claro. – Concordou – Tá bom... Eu vou para lá, Deméter.

Ele desligou o celular e jogou no banco de trás. Eu olhei para ele e depois para a janela. Podia ver trilhos de trem passando por ali, e tive uma idéia.

– Você é entregador? – Perguntei, e ele assentiu.

– Você não sabe como isso dá trabalho. – Murmurou ele – É sempre isso. Sair correndo com entregas estúpidas como 100 vasos de rosas e 150 violetas.

– Parece cansativo. – Comentei – Sabe... Acho que é melhor eu parar por aqui. Quero andar um pouco.

– Tem certeza? O Sol está queimando. – Comentou ele.

– Você tem que entregar as flores, e eu tenho que andar um pouco. Vou pegar a minha mochila e ir embora. Pode me deixar ali mesmo. Perto dos trilhos.

Ele olhou para mim incerto, mas acabou assentindo devagar.

– Você vai ficar bem? Estamos bem afastados da cidade. – Ele quis saber.

– Vou ficar bem. – Sorri – Para onde ficar a próxima cidade?

– Muito mais para frente. Vai demorar muito para você chegar lá á pé, mas se quiser tentar... Pode seguir os trilhos de trem. – Explicou ele apontando. Ringo parou o carro, e eu abri a porta, mas antes de ir... – Ei.

– O que? – Perguntei olhando para ele.

– Só porque seus pais não estão mais aqui, não quer dizer que não se preocupam com você. Tome cuidado, certo? – Disse ele devagar. Ele colocou meu cabelo para trás da orelha e eu sorri.

– Tudo bem. – Confirmei – Muito obrigada pela carona, Ringo. E se a polícia me parar, pode deixar que eu não vou contar nada sobre o seu roubo.

Ele riu, e assentiu com a cabeça.

– Se contar, eu acabo com você, ouviu? – Falou apontando para mim, mas depois riu – Estou brincando. Ah! E leva isso.

Ele me entregou um filtro solar, e eu fiquei imaginando de onde ele tinha tirado aquilo. Acho que ele notou, pois riu um pouco para disfarçar.

– Veio no carro. – Respondeu. Eu peguei sem fazer mais perguntas, e saí de lá. Vi ele buzinar e seguir em frente.

Passei um pouco do filtro solar nos braços, e no rosto, para depois guardá-lo na minha mochila. Eu continuei andando, e tenho que admitir que estaria extremamente vermelha se não tivesse usado aquilo.

Lembrei-me de um tutora que eu tivera que nunca me deixava andar sem filtro solar, porque eu podia pegar câncer de pele. Na verdade, ela não me deixava chegar perto do microondas, comer doces, beber refrigerante, ficar muito tempo no computador, usar demais o celular, ou comer coisas com corantes, pois, de acordo com sua mente, tudo isso dava câncer.

Eu ri sem querer ao lembrar disso. Eu já tinha andando um bom percurso, quando algo estranho aconteceu. Senti que estava sendo observada, por isso me virei devagar e olhei em volta. Aquela estrada de terra era tão clara que eu não conseguia enxergar direito, mas notei muito bem um pontinho preto se movendo rápido em minha direção.

Ele estava longe, mas pude ter certeza de que não era um carro ou um caminhão. Parecia algo de quatro patas, e como não queria arriscar para ver o que era de perto, resolvi sair correndo.

Sem pensar duas vezes, eu pulei uma cerca de arame farpado e acabei me machucando feito nos braços. Olhei para trás, quando já estava no meio dos trigos, e notei o que era aquilo.

Um bicho enorme. Uma mistura de leão, com cachorro, e sei lá mais o que. Ele farejou o local e olhou em volta tentando me achar. Seu olfato devia ser perfeito, pois seus olhos vermelhos e sanguinários encontraram os meus.

Eu saí correndo o máximo que pude em direção ao meio da plantação de trigos.

XxX

Perséfone desceu as escadas junto de Deméter, e as duas viram Hades deitado no sofá. O Deus dos mortos ainda estava completamente vermelho, e tentava não morrer de dor enquanto dormia deitado com seu travesseiro e lençol.

– Hades. – Chamou Perséfone, e ele acordou. A filha de Deméter foi para perto dele e alisou seu cabelo – Nós vamos ajeitar as flores lá fora. Hermes disse que vem aqui entregar as que estão faltando.

– Deixa eu adivinhar... Sua mãe convenceu ele com toda a delicadeza de gorila que ela tem? – Chutou ele. Deméter jogou uma almofada nele, e o Deus engoliu um grito de dor – Um dia que vou ter o enorme prazer de te fazer sofrer. É sério. Me aguarde.

– Enquanto isso... Eu te faço sofrer. – Sorriu ela.

Perséfone puxou sua mãe para fora de casa, e Hades resmungou levantando do sofá. Ele olhou em volta e viu que as duas já tinham enfeitado a sala inteira com plantas. Vários vasos em cima da lareira, algumas samambaias penduradas no teto, e muitas outras plantas que Hades nem mesmo sabia o nome.

– Ah, ótimo... Como se já não bastasse estar aqui, eu ainda tenho que dormir no meio de uma nova floresta Amazônica. – Resmungou indo para a cozinha. Ele teve que desviar de algumas plantas, mas quando alcançou a geladeira, pode pegar um suco.

Uma jarra transparente tinha um bilhete:

“Suco de laranja. Mantenha longe suas patas sujas, Hades!

Ass: Deméter.”

– Quem mais poderia fazer um bilhete tão amável? – Perguntou ele revirando os olhos. O Deus dos mortos sorriu maldoso, amassou o bilhete, e encheu um copo enorme com o suco – Me prenda, sua velha chata.

Hades foi para a varanda casa, e sentou-se aproveitando a cobertura do telhado. Ele olhava Deméter e Perséfone trabalhando, mas não sentiu nem um pouco de vontade de ir até lá se queimar mais um pouco com o Sol.

Ele olhou para o horizonte, e de repente algo lhe chamou atenção. A plantação de trigo parecia estar sendo divida em uma parte, como se algo estivesse correndo por ali. Ele riu imaginando como seria engraçado ver o mortal ou o monstro darem de cara na barreira mágica.

A criatura que estava fazendo aquilo, realmente deu de cara contra a barreira e parou de andar. Mas... Ainda tinha algo se movendo. O Deus se inclinou para frente e franziu o cenho.

– Ahm... Per... – Ele ia chamá-la, mas viu que Perséfone estava falando com sua mãe, de modo que levaria uma enorme bronca por interrompê-la. Ele resolveu prestar atenção no que estava se aproximando.

De repente, o trigo foi ficando mais fino, de modo que deu para ver uma garota loira correndo com medo. Ela tinha os braços machucados e vermelhos. Ela parou de correr, e parecia um tanto tonta.

Sua mão deslizou sobre a testa, e suas pernas ficaram bambas. Hades se levantou e foi até lá. Ainda estava usa só uma bermuda e uma camisa sem mangas (seu pijama improvisado), mas não ligou para isso.

Ele parou na frente da garota, que olhou-o sem ar.

– Quem é você? – Perguntou ele franzindo o cenho – Conseguiu passar pela barreira?

A garota não agüentou.

– Eu... – Foi tudo que disse antes de desmaiar na sua frente. Hades ficou sem reação por uns segundos, mas depois se abaixou e tocou de leve o pescoço dela. Ainda estava com pulso.

Deméter! Perséfone! – Chamou ele o mais alto de pode para elas o ouvirem – Tem uma garota desmaiada aqui!

O Deus dos mortos olhou para a mochila que tinha caído junto com a garota, e viu algo que lhe deixou mais animado.

– E ela tem protetor solar! – Berrou ele animado.



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Notas finais do capítulo

Então,gostaram ? Comentem ! Beijoos.