~Always Angel~

     — Por que tanto olhas para aquela garota? Não sabes que não é boa coisa apaixonastes por alguém de lá? - Fala ao perceber o contínuo olhar do colega para baixo.

     — Não estou apaixonado! Ela só tem algo de especial que me faz querer protegê-la do mal que a cerca...

     — Só falei para ter cuidado...

     — Não precisa se preocupar tanto comigo!

     — Você sabe por que me preocupo tanto... Um anjo amar um mortal só dá problemas, certo alguém que tudo sabe pode não gostar.

     — Mesmo sendo um amor sincero?

     — Já está a admitir amor?

     — N-não foi isso que quis dizer! Não entenda mal!

     — Mas foi isso que ouvi!

     — Então esqueça disso!

     — Não quero nãão!

     Aquele ser permanecera a rir do outro enquanto este ficara emburrado. Mas parece que em meio à brincadeira existe uma única verdade naqueles atos. Um anjo não deveria amar um humano no Reino Divino. Os anjos apenas existiam para proteger em geral os humanos que merecerem, e não amar apenas uma pessoa. O coração de um anjo não deveria ser capaz de amar especialmente uma pessoa, não somente isso, não poderia amar, pois o Ser supremo assim disse. Anjos, como é de conhecimento geral, não possuem sexo definido, talvez para que o desejo Dele cumprido.

     — Mitsu-chan! Você não estava fingindo, eu sei!

     — Sabe do que? Não tem nada acontecendo, tudo bem?

     — Isso é o que você diz. Mas eu já disse o que acho. - Ao falar sorri com deboche abrindo de repente as longas e deslumbrantes asas brancas que vinham de suas costas e as batendo delicadamente retirando aos poucos seus pés do local onde estavam, uma encantadora cena.

     — Não me perturbe com isso, Naoko-chan! - Fala já levantando o sutil vôo, as plumas que caíam de suas asas iam lentamente atravessando o que considerava chão e indo para aquela outra dimensão inexplorada à qual conheceram à tempos. Aquelas plumas transformavam-se então em brilhos que se dissipavam no ar. - Por que ao certo não devemos nos aproximar dos humanos? - Pergunta depois de algum tempo voando ao lado de Naoko.

     — Como você deve saber você já foi um humano... Mas como foi após sua morte, absolvido de todo pecado que já cometeu você não pode mais lembrar do que já fez em vida. E como prevenção para que não aja essa possibilidade os anjos não devem se envolver com humanos...

     — Entendi... Isso é um pouco triste... Não posso nem saber sobre o que já fiz... Nem posso ao menos conhecer aquela garota...

     — Eu não me interesso nem o pouco pela minha vida, até porque já passou.

     — Você não tem sentimentos mesmo... - Fala olhando para cima como se tentasse disfarçar a risada.

     Um som um pouco agudo retirava lentamente a calmaria do lugar, deixando aos poucos todos inquietos. Uma espécie de sirene tocara, esta que não trazia, aparentemente, boas notícias. Mas talvez desta vez pudesse ser diferente, havia muitos anos que nenhum anjo a ouvia. Esta sirene era uma espécie de chamado especial que convocava determinado anjo a se encontrar com "A Organização", esta controlava e mantinha a ordem do local. Poucos sabem sobre, pois os que viram algum de seus integrantes não puderam mais se comunicar com outros anjos.

     Desta vez quem foi Mitsuko Ryotaro que fora chamado, algo de grave devera de ter acontecido.

     Mitsuko simplesmente mudou subitamente a direção de seu lento vôo, que agora estava mais rápido. Em nenhum momento fora mencionado que ele havia sido chamado mais algo em seu coração o alertou.  Foi levado pelo impulso para um lugar em que não deveria freqüentar, normalmente. Parecia-lhe, sempre que o observava, um castelo, mas para si tinha com se fosse um castelo obscuro, mesmo se encontrando no Reino Divino. Passou por uma janela comprida e foi adentrando o local desconhecido lentamente, até chegar a uma sala circular onde permaneceu parado à porta. Dezenas de pessoas estavam a lhe olhar penosamente, mal pareciam a imagem bondosa que se tem de anjos. Mitsu, agora caminhando, entrou na sala olhando para cima, onde estavam as longas mesas circundando a sala, cada fileira em um patamar.

     — Mitsuko Ryotaro. Nascido em Vinte e Sete de Junho de Mil Novecentos e Cinqüenta e Cinco. Morto em Dezenove de Abril de Mil Novecentos e Setenta e Oito. Absolvido de seus pecados no dia seguinte à sua morte. Com a possibilidade de desrespeitar a regra mais importante do lugar que habita, ordenamos que se retire antes que desobedeça esta ordem Dele.  Por não ter chego a cometer a infração te baniremos daqui, mas, te mandaremos para o mundo humano, onde poderás combater a maldade de perto. Assim, eu, porta-voz de todos os presentes e também de Deus, te darei até o amanhecer do dia no mundo humano para se retirar do Reino Divino. Assim termino tudo o que tinha a informar-te.