Do Próprio Inferno escrita por erikacriss


Capítulo 11
11. Quando os mortos resolvem falar


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora para postar esse capítulo, mas foi por causa de um problema na minha internet, que já está resolvido. =)



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― Onde ela está? ― Dizia a voz de meu marido. Meu coração falhou uma batida.

É uma grande merda quando nos pegam fazendo coisas que não deveríamos fazer.

― Ela quem? ― perguntou Thiago, tentando ganhar tempo.

― Como, ela quem? Renata! ― ele disse e logo eu ouvi batidas na porta do banheiro ― Renata, abra essa maldita porta agora ou eu a derrubo! Eu já sei de tudo, você é uma mulher promíscua!

Agachei-me a um canto do banheiro e comecei um choro baixo. Nem me preocupei em vestir toda a minha roupa, pois já estava na merda mesmo, então não faria diferença. Mas ouvir meu marido me chamando de “vadia” não foi muito bacana. Ainda mais saber que ele já sabia sobre Thiago.

― Do que está falando, Denys? Estás louco? ― perguntou Thiago ― Você não tem nada a ver com minhas amantes. Renata não está aqui. Se não sabe onde ela está... ― Thiago foi silenciado por um soco. Ou ao menos acho que foi o barulho de um murro, o que eu ouvi.

― Pare de dizer disparates! ― bramiu Denys ― Renata! ― Gritou a plenos pulmões enquanto esmurrava a madeira da porta.

Ouvi sua respiração rápida e forçada, como um choro desesperado vindo de meu marido. Eu me agarrei aos meus cabelos e desejei mais que tudo voltar no tempo e mudar o rumo das coisas, mas aquilo não era uma opção.

Olhei para a minúscula janela do banheiro e deduzi que escapar por ali seria impossível, sem contar que seria suicídio, já que estávamos no quinto andar do motel.

Eu queria morrer, queria que minha mãe jamais tivesse me concebido. Queria que o mundo se explodisse e que eu fosse junto. Sentia um gosto amargo na boca, algo como ódio, ódio de mim, ódio por eu ter estragado minha única chance de felicidade na vida.

Continuávamos chorando, eu e Denys, e as batidas começaram a surtir efeito. Logo a porta estava arrombada e meu marido me olhava com nojo e com ódio em seus olhos, que estavam banhados em lágrimas e vermelhos.

― Como pôde fazer isso comigo? ― ele disse odioso ― Como pôde me enganar por todos esses anos?

Eu não conseguia responder, não conseguia respirar com facilidade e meu coração estava em frangalhos. Havia feito os dois amores da minha vida chorarem em um mesmo dia infeliz.

― Com meu próprio irmão, Renata! ― Ele bramiu dando um chute na parede de azulejos ― Meu próprio irmão! ― ele enfiou a mão em seus próprios cabelos e apertou os fios com desespero, depois um grito odioso saiu de seus lábios. ― Eu te amava! Sempre te amei! E tu tiveres a infâmia de trair-me com meu próprio irmão! ― soletrou aos berros dando um soco no espelho, o dividindo em muitas partes.

― Denys... Eu... ― tentei dizer entre meu choro ― Eu não queria que... Eu te amo...

― Não digas que me ama, sua sirigaita! ― disse ele avançando até mim, mas foi impedido por Thiago que antes estivera parado observando a cena de boca aberta, em choque.

― Pare! Não vou deixar machucá-la! ― disse Thiago enquanto tentava segurar Denys longe de mim.

― Não vou machucá-la, eu vou matá-la! ― anunciou dando chutes nas pernas do irmão que por um deslize o deixou escapar.

Denys avançou sobre mim com as mãos em punhos, pronto para me dar a maior surra de minha vida infeliz. Fechei meus olhos esperando que a pancada viesse e que fosse dolorosa, mas ela não veio. Abri novamente meus olhos e vi que o punho de Denys pairava a minha frente, mas não me tocava, como se ele tivesse desistido do ataque e apenas me fitasse com ódio.

Denys recolheu seu braço e preparou outro golpe, que novamente não foi proferido, aparentemente por desistência do meu marido. Mas o estranho é que o ato se repetiu mais três vezes até que Denys bufasse de frustração e chutasse a parede ao meu lado com um gemido de ódio.

― Por que eu não consigo te bater?! ― perguntou com olhos insanos ― Eu quero te bater! ― ele apontou o dedo para mim ― Eu quero lhe acabar! Sinto tanto ódio, Renata, mas tanto ódio de ti, que você pode se considerar morta para mim! ― ele disse começando a rumar para fora do lavabo, mas não sem antes me fitar com mágoa e proferir ― Você está morta para mim! E para Arnon também, pois não quero que ele saiba o quão promíscua é a mãe! Prefiro que ele ache que estás morta!

Suas palavras me deixaram em estado de choque. Nem sei quanto tempo fiquei olhando para o vazio enquanto Thiago tentava me chamar a atenção. Mas quando me levantei, o fiz decidida a não deixar que Denys tirasse meu filho de mim. Ele não podia fazer isso.

Vesti minhas roupas e saí sem nem dizer uma palavra sequer ao meu amante. Peguei carona com um cara que me ofereceu ajuda, pois eu parecia desesperada, segundo ele. Cheguei em casa e corri para o quarto de Liam, onde ele deveria estar dormindo, mas não o encontrei e também não achei Fátima ou Denys por onde passei. Decidi procurá-los no meu quarto e eu o encontrei, mas estava colocando minhas roupas em uma mala.

― O que pensas que está fazendo? ― perguntei desesperada.

― Irás se mudar dessa casa o quanto antes. A quero longe de meu filho.

― Nosso filho! ― falei.

― Como pode saber? ― perguntou ele com desdém, tinha até um risinho de deboche, que podia acusar sua sanidade ― Ele pode muito bem ser filho do meu irmão, afinal, fornicas com ele desde nosso casamento, pelo que fiquei sabendo.

A primeira coisa que me veio a cabeça foi a indagação de como ele havia ficado sabendo disso. E pelo jeito essa dúvida estava estampada em minha face, pois ele apontou para a explicação. Uma folha estava em cima da cama.

― É uma carta. ― anunciou ele ― Uma carta de Berta.

Maldita! Havia morrido a mais de dois anos e ainda atrapalhava minha vida. Deveria tê-la feito sofrer mais antes de matá-la.

― Sabe o conteúdo dessa carta, Renata? ― perguntou ele com olhos arregalados de acusação e marejados de decepção ― Berta disse que sonhou que você a havia matado, por isso passou a temer pela própria vida, por isso escreveu essa carta, por que achava que você realmente pudesse atentar contra a vida dela. ― ele me apontou o dedo ― E ela tinha razão, não é Renata? ― riu de um modo sombrio.

― Ela era louca! ― tentei dizer, mas nem mesmo eu acreditava em minhas palavras.

― Não fale dela! ― ele bramiu chutando a mala do chão ― Não ouse falar daquela santa mulher. ― sua voz havia assumido uma calma mortal e assustadora ― Na carta ela disse suas suspeitas, essas que havia tendo desde o nosso casamento. Contou que via certa intimidade entre você e Thiago. Eu queria que ela estivesse mentindo, queria que ela fosse louca, e resolvi ir atrás de ti para que falasse que, sinceramente, aquelas suspeitas eram infundadas, mas você não estava em casa. Não estava em lugar algum. Até que eu fui na casa de sua irmã e ela disse que você também não havia passado por lá e que Thiago estava no trabalho, mas meu irmão não estava trabalhando hoje. Foi então que a verdade me esmagou.

Denys fechou os olhos com força, deixando lagrimas escaparem. Eu continuava parada, sem conseguir dizer nada. Queria começar a pensar em desculpas, mentiras ou qualquer coisa que o fizesse ficar comigo, mas não conseguia nem sequer pensar.

― Eu bati na porta de todos os motéis dessa cidade, de todos os moquiços, todos os inferninhos dessa metrópole. E, para a minha decepção, eu realmente encontro você com meu irmão em um dos lugares mais chulos e imundos. ― ele voltou a abrir os olhos e me encarar ― Vamos! ― ele gritou me exaltando, pois seu tom antes era extremamente calmo e controlado ― Comece a contar suas mentiras! Onde estão suas histórias bem boladas agora?!

Comecei a chorar descontroladamente e tentei me aproximar de Denys, mas levei um tapa por isso. Coloquei minha mão sofre a região agredida e voltei a fitar Denys, com medo dessa vez. Ele tentou avançar sobre mim e me desferir outro tapa ou mais agressões, mas pareceu ter mudado de idéia no meio do caminho. Bufou de frustração e terminou de colocar minhas coisas na mala, logo depois a arrastando para fora do quarto e para fora de casa. Eu o segui em silêncio, tentando encontrar minha voz.

― Denys... Você não entende... ― tentei dizer, mas nada me vinha, nada podia me tirar daquela enrascada que me enfiei. Porcaria de vida. Se eu não tivesse me envolvido com Thiago talvez, só talvez, tudo estivesse bem.

― Cale a boca. ― disse ele sem nem mesmo olhar para trás quando jogou minha mala porta a fora ― Não quero mais ver-te. Vá embora e nunca mais volte. ― foram suas palavras quando esperava que eu segui-se a mala.

― Mamãe? ― aquela voz inocente de Liam me fez olhar para trás.

Meu filho estava no colo de Fátima, esticava seus bracinhos em minha direção e parecia não entender o que estava acontecendo. Só queria o colo da mãe.

Desmoronei em lágrimas e corri até meu bebê, o arrancando dos braços da empregada. Abracei Liam com força e desejei que nada o tirasse de mim.

― Mamãe está aqui, meu bem. ― falei afundando meu rosto em seu pescoçinho.

― Porque você e papai estão brigando? ― perguntou inocente.

― Não é nada, meu bebê, só estamos conversando. ― falei fungando.

― Não chora, mamãe. ― ele disse colocando sua mãozinha em meu rosto riscado de lágrimas.

― A mamãe precisa ir agora, Arnon. ― falou Denys, tentando esconder a aspereza de sua voz.

Denys nunca chamava Liam pelo primeiro nome, apenas pelo segundo que ele pôs: Arnon.

― Para onde? ― perguntou ele, virando o rostinho para encarar o pai.

― Lugar nenhum, meu filho. ― falei lhe dando um beijo na bochecha. Logo depois fitei Denys e murmurei: “Não na frente dele.”

Denys deu um suspiro irritado e falou.

― Fátima, será que pode levar o Arnon para cima?

A criada assentiu e foi pegar Liam em meu colo, mas eu não deixei, apertando meu filho contra meu peito.

― Deixe ela levá-lo, Renata, ou Arnon saberá a promíscua que és. ― falou Denys em um tom baixo e calculado.

Olhei para ele e implorei:

― Por favor, Denys, por favor, deixe-me explicar. Deixe-me dizer toda a verdade. Juro que não esconderei nada, direi tudo desde o princípio. Por favor, vamos conversar.

― Para quê? Para que me contes mais mentiras. ― ele riu de escárnio ― Por favor, digo eu, Renata, nós já passamos por essa parte. Não te enroles, quero-te longe dessa casa ainda hoje.

Beijei as bochechas de Liam e o entreguei a Fátima. Olhei nos olhinhos suplicantes de meu filho e disse que estava tudo bem. Dei um longo suspiro e, com dor em meu coração, saí da casa em que tive meus momentos mais felizes. Denys fez questão de bater a porta atrás de mim enquanto proferia algumas injúrias.

Peguei minha mala, mas eu já tinha algo pensado em minha cabeça, não deixaria que acabasse assim. Esse não seria o fim, seria o começo.

Vi de soslaio a vizinha cochichando com a comadre, com certeza dizendo ultrajes. Eu havia caído, em fim, nas bocas das más línguas, mas isso não me abalaria. Não era algo que eu fosse me preocupar, pois eu tinha um plano a me apegar.

Arrestei minha mala até a casa de Anne, torcendo que Denys não tenha tido tempo de explicar nada a minha irmã, e bati em sua porta pedindo abrigo por uma noite. Anne ficou preocupada, disse que meu marido havia passado lá mais cedo e parecia nervoso, mas não disse nada sobre isso. Perguntou-me o porquê de eu ter ido para fora de casa e eu falei apenas que era um caso de infidelidade, mas que ela não devia se preocupar com isso. Anne desatou a mal-dizer Denys, pensando que a infidelidade vinha da parte de meu marido; eu não a apoiei e nem, tampouco, discordei. Eu só precisava passar aquela noite ali, então não importava.

Quando Thiago chegou a casa, mais tarde do que normalmente voltava, segundo minha irmã, o meu amante parecia ter bebido algumas no bar. Seu cheiro era, inegavelmente, de álcool. Anne franziu o cenho irritada e o mandou tomar um banho.

Thiago assentiu, mas parou de andar ao ver que era eu quem estava sentada na sala. Dei-lhe um sorrisinho melancólico e repeti o que sua esposa havia mandado. Novamente ele assentiu sem dizer nada e foi até o lavabo.

― Thiago está me dando nos nervos ultimamente. ― comentou Anne ao sentar-se novamente ao meu lado ― Chego até a achar que ele me trai. ― deu um suspiro desconsolado ― Homens! Todos iguais. Não salva um. Nem mesmo Denys, que pensei ser um ótimo marido. Mal sabia eu que ele andava traindo-te por aí. Não presta. ― lamentou.

― Não fale nada de Denys. ― disse eu, não agüentando ouvir as injúrias contra meu santo marido ― Eu é que sou uma péssima esposa.

― Não digas isso! Ao menos tu és fiel. ― disse ela decidida.

Anne realmente nunca foi um poço de inteligência.

E lá estava eu, na casa do meu amante, com a esposa dele. Claro que Anne logo ficaria sabendo da verdade e eu não teria mais abrigo, nem tampouco Thiago, por isso mesmo é que meu plano daria certo.  Iríamos fugir, finalmente. Seria como Thiago sempre quis e eu levaria Liam comigo. Denys não poderia me impedir.


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Notas finais do capítulo

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