Memória escrita por Guardian


Capítulo 5
Quem?




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 Qualquer um que me conheça minimamente sabe que eu não sou exatamente a pessoa mais paciente do mundo, e isso em condições normais. Agora imagine então em uma situação dessas?!

 Depois do tão prestativo monitor ter me passado o recado de Roger, eu gritei, briguei, mas nada disso adiantou. Nem mesmo quando eu parei de ameaçar o cara e falei com a expressão mais séria e decidida que conseguia fazer: "Tudo bem, eu posso muito bem dar um jeito de sair daqui e ir sozinho até o hospital. Claro que está frio, escuro, e é muito provável que eu também seja assaltado e largado sangrando em um beco qualquer".

 Doeu em mim dizer aquela última parte, mas nem mesmo isso funcionou. O monitor não cedeu. 

 Se bem que eu notei ele dando ordens a outros dois funcionários para ficarem postados embaixo da minha janela e na porta do orfanato.

 E eu não tive outra escolha a não ser me dar por vencido. A última coisa da qual eu precisava agora era era ficar perdido na cidade durante a noite, afinal.

 Droga...

 "... também seja assaltado e largado sangrando em um beco qualquer"... Não, não está errado. Seria "também" porque... Isso tinha contecido com Matt.

 Já que eu não consegui fazerem me levar até o hospital, eu fiz, ao menos, ligarem para Roger para no mínimo saber que merda tinha acontecido.

 E ele me falou.

 Aparentemente, Roger entrou em um loja (que ele não mencionou o nome e eu também não ligo) e deixou Matt sozinho com as compras já feitas, esperando na rua. E é claro que Matt o obedeceu! Os jogos dele dependiam disso, afinal!

 Enfim, ele foi deixado lá sozinho e o que aconteceu? Pois eu repito as palavras de Roger: "Quando eu saí, não encontrei Matt. Primeiro pensei que ele havia fugido, mas as compras também tinham sumido. andei pelos lugares mais próximos, procurando-o, e em um beco isolado eu o encontrei. Chamei logo uma ambulância e depois a polícia, comunicando o roubo e a agressão".

 Foram essas as exatas palavras que ele usou.

 Mas ele disse como Matt estava? Nããããão. Ele preferiu me deixar com minha imaginação para deduzir isso. Era grave? Estava em perigo? Ou só foi o susto? Eu não sei. E ninguém se dava ao trabalho de me dizer!

 Agora cá estava eu, deitado na cama, apenas esperando o tempo passar. Levantei um pouco o olhar, encontrando mais uma vez minha caixa de chocolates em cima da mesa. Até cogitei por um momento levantar e pegar um para controlar a ansiedade (pareço um viciado falando, caramba), mas... Não, não estava com vontade de comer chocolate agora.

 ...

 Nunca pensei que diria isso algum dia.

 Bom, obviamente eu não preguei os olhos por toda a noite, e assim que chegou um horário razoável para eu acordar quem fosse preciso para me levar ao hospital, eu saí do quarto para fazer justamente isso.

 Ou seja, eram cinco horas da manhã e eu fui gritar no ouvido do primeiro ser que tivesse carro que encontrei.

 Só digo que funcionou.

 Não vou ficar perdendo tempo falando como estava o tempo, o trânsito, e essas coisas sem importância. O que importa é que eu cheguei, encontrei Roger, e o que eu ouço? "Você não pode entrar".

 Eu acabo de chegar e tudo o que ele diz é "você não pode entrar"?! É piada, né?!

 Não posso entrar?! Meu melhor amigo está em um hospital, depois de sabe-se lá o que fizeram com ele, e eu não posso vê-lo?! O caramba que eu vou ficar aqui fora!

 Após pronunciar essa digníssima frase, Roger sumiu junto com o cara que me trouxe e um médico de meia-idade. Então eu saí sorrateiramente da sala de espera, tentando não chamar a atenção das enfermeiras que andavam de um lado para outro, e fui até o corredor dos quartos.

 Eu não sabia qual era o quarto do Matt (só sabia que era nesse andar), então fui abrindo porta por porta até encontrar. Claro que alguns pacientes não gostaram disso, principalmente uma que estava no maior amasso com um cara que sob outras circunstâncias eu acharia ser o pai dela.

 Mas enfim.

 Quando eu encontrei o quarto certo, entrei sem fazer barulho. 

 Imagens de um Matt todo ferido, coberto de sangue, ou sem um dos membros, e até mesmo cheio de marcas de faca ou algo assim ficaram me aterrorizando desde a noite passada. Mas é claro, como já disse antes, ninguém se dignou a me dizer como ele estava! O que eu vou fazer se a minha imaginação é fértil?!

 Mas Matt não estava tão mal assim. Ao menos não aparentemente.

 Ele tinha uma bandagem cobrindo o lado direito de sua cabeça e outra envolvendo seu braço, direito também. Isso era tudo o que eu conseguia ver, por causa do lençol que cobria todo o resto dele.

 Fiquei olhando para seu rosto por um tempo, apenas... Olhando. Eu estava aliviado em vê-lo, aliviado por ver como ele estava. Mas algo mais do que alívio me invadiu ao olhar e observar sua expressão adormecida. Não sabia o que era, mas esse "algo" desconhecido estava lá e era forte.

 Até que ele abriu os olhos.

 Eu me sobressaltei um pouco quando suas pálpebras lentamente levantaram, e dei um passo involuntário para trás. Ele piscou algumas vezes antes de manter seus olhos abertos, e me encarou.

 Não falou nada, apenas ficou me encarando com um olhar... Estranho.

 Por algum motivo me senti incomodado com aquilo.

 - Não se preocupe. Acho que depois disso o Roger vai se sentir culpado o suficiente para cancelar o seu castigo - falei a primeira coisa idiota que me veio à cabeça, simplesmente para falar alguma coisa. Mas não consegui desviar do olhar dele.

 E ele só continuou me encarando com exatamente o mesmo olhar. 

 Até que ele finalmente falou, a voz saindo um pouco rouca.

 - Quem... Quem é você?


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Notas finais do capítulo

Eu estava com vontade fazer algo assim desde que escrevi Blade and Stars xD
Mas e aí? Reviews? :3