“Minha garota, as coisas por aqui estão bem. E aí? Ninguém aqui apronta tanto quanto eu e George, e você sabe disso, mas por incrível que pareça, não aprontamos nenhuma brincadeira muito genial ainda.

Você bem imagina o quanto eu sinto a sua falta. Mesmo tendo todos por aqui, é muito estranho acordar sem você por perto... Você me acostumou muito mal, querida. Não devia ter feito isso!

Espero que não diga isso achando que eu estou “normal”, porque tenha certeza, de normal eu não tenho mais nada desde o dia em que me apaixonei por você!

Eu já disse que vou te explicar o que é isso quando estivermos juntos, não disse? Imaginei que o impulso de correr pros livros seria enorme, então eu peço mais uma vez pra que esqueça isso um pouco. Curta as coisas por aí e esqueça isso. Eu quero ter o prazer de te dizer o que significa.

Espero que esteja se divertindo com os seus pais. Depois que vier pra cá eu não vou te deixar voltar! Vou te seqüestrar e aí você vai visitá-los só no natal! Brincadeira querida... Você vai passar o natal comigo também.

Tudo bem, vou sentir falta de suas cartas, mas vou saber que está se divertindo e que está bem... É mais que o bastante. Não vou me preocupar.

Tenho medo do que sua mãe queira falar de mim... Será que ela fala coisas boas? Não devia ter escrito isso... Vou ficar nervoso e pensativo até que me conte o que “definitivamente” sua mãe pensa de mim.

Eu não vou esquecer minha pequena. Eu também estou morrendo de saudades... Não paro de pensar em ti um só minuto. Espero que estejamos dividindo o mesmo sentimento. Até logo, minha princesa. Eu te amo mais.

F. Weasley.”

Li a carta com um sorriso no rosto. Provavelmente essa carta foi escrita ontem, porque demorei muito no acampamento e só chegamos em casa agora... Dei um beijo na carta, mas antes de responder fui comer alguma coisa.

Voltei, escrevi a carta de Fred e me deitei. Estava cansada e com saudades da minha cama... Minha marca queimou, ardeu e esquentou a noite inteira – como de costume – e logo depois eu caí no sono.

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- Mas... – Suspirei. – Isso não pode ser verdade!

- Isso é verdade. – Sua voz soou fria, como não ouvia há tempos. – Você não pode mudar a realidade, Hermione.

- Mas eu não posso conviver com ela.

Snape não atreveu a me responder. Continuou sentado, me fitando com os olhos negros e parecendo pensar em algo distante. Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, me joguei nos braços dele novamente e comecei a chorar.

- Eu sentirei saudades. – Ele sussurrou.

Então a cena se dissolveu. Como se eu estivesse viajando no tempo, me vi novamente na casa dos gritos assistindo a conversa de Voldemort e Snape.

- Não pode ser de outro jeito. – Disse Voldemort. – Eu preciso ser mestre da varinha, Severus. Mestre da varinha, e mestre de Potter, finalmente.

E Voldemort riscou o ar com a varinha mestra. Nada aconteceu à Snape. Suspirei aliviada. “Ele foi poupado.” Mas então a intenção de Voldemort me pareceu clara. Antes que Snape pudesse fazer algo além de gritar, Nagini caiu sobre ele, enrolando seus ombros e sua cabeça. Voldemort sibilou e as lágrimas começaram a rolar meu rosto com mais rapidez e intensidade que antes.

Solucei e senti Ron apertar meu ombro. Logo depois, houve um terrível grito. O rosto de Snape perdeu a pouca cor que tinha e seus olhos foram se arregalando enquanto a cobra enfiava suas presas em seu pescoço.

Acordei e ao mesmo tempo pulei da cama. Respirei fundo, como se o ar tivesse sumido dos meus pulmões por minutos. Minha garganta ardeu no começo, até que conseguisse me acostumar com o ar entrando e saindo com rapidez. Olhei pro relógio que havia no criado-mudo ao lado da cama. Cinco horas da manhã.

Senti uma fincada forte na cabeça e levei as duas mãos até ela. Novamente, e depois mais intensa ainda. Comecei a ficar assustada, nunca tinha sentido isso. “Hermione?” A voz vinha de dentro da minha cabeça, mas não era minha. “Hermione?” Chamou novamente, eu apertei mais minha cabeça com as mãos, tentando fazer a dor parar.

“Hermione, você está bem?” E então reconheci a voz fria e rouca que era praticamente inconfundível. “Snape?” “Graças à Merlin você não desmaiou!” Espera... Só pode ser alucinação. Apertei mais uma vez minhas têmporas, tentando fazer aquela loucura parar. “Eu precisava falar com você...” Então... Era realmente Snape? Porque é que eu estava escutando a voz dele? “Isso provavelmente vai te deixar fraca...” Pisquei várias vezes, tentando me acostumar com a sensação de ouvir uma voz que não é minha dentro da minha cabeça. “Espero que não desmaie, mas eu precisava falar com alguém que confia em mim.” Sorri. “Você sabe que sempre vou te ouvir...” O que é que eu estou fazendo? Eu estou conversando com uma voz na minha cabeça! Isso é uma alucinação. “Espero que fique bem...” Murmurou. “Snape, por quê?”

Estava confusa, mas no fundo queria que fosse verdade. “Ligação de mentes.” Foi a única coisa que ele disse. “Desculpe-me pela dor de cabeça ou qualquer coisa que causar, mas eu tinha que fazer isso...” Apertei minhas têmporas novamente, minha cabeça parecia querer explodir. “Tudo bem.”

As coisas ficaram calmas por alguns segundos. “Eu sinto saudades.” Murmurei hesitante. “Eu também.” Ele respondeu e eu respirei fundo, provavelmente aliviada. “Ainda vamos nos ver, não se preocupe.” Sorri novamente. “Agora eu vou te deixar dormir, antes que desmaie ou morra sem forças.” Revirei os olhos. Ele sempre me julga como uma boba e fraca. “Boa noite.” “Boa noite, Sev.”

Então assim que as coisas ficaram mais calmas, minha cabeça parou de doer. Antes que pudesse me firmar em minhas pernas ou fazer qualquer movimento, meu corpo ficou mais pesado do que eu agüentava e eu fiquei inconsciente.

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- Eu acho que ela está acordando...

A claridade parecia querer me cegar e as vozes que se amontoaram acima de mim ficaram insuportáveis de distinguir. Abri os olhos e pisquei várias vezes.

- Hermione, você está bem? – Minha mãe estava ajoelhada ao lado da minha cama.

- Eu... – Respirei fundo. – Sim.

- Nunca mais... – Só de escutar a voz dele, meu coração parecia querer saltar pela boca. – Nunca mais me dê um susto desses!

- O que eu fiz? – Disse me virando pro outro lado, onde encontrei o ruivo ajoelhado ao lado do meu pai.

- O que você fez? – Foi a vez de o meu pai falar. – Você ficou três dias desacordada!

- Quando eu mandei a terceira carta e não tive resposta, tive que vir ver o que estava acontecendo. – O ruivo bagunçou os cabelos. – E eu te imploro que nunca mais faça isso!

- Mas eu não fiz nada. – Balancei a cabeça. – Eu nem lembro de nada...

- Você devia estar fraca. – Mamãe murmurou. – Você precisa comer.

Ela e meu pai se levantaram e saíram, me deixando sozinha com o meu namorado. Tentei me sentar na cama, mas não consegui.

- Fred... – Murmurei.

- Aqui! – Sorriu.

- Me ajuda a sentar? – Pedi fazendo careta.

Ele se levantou e me ajudou. Logo depois se sentou ao meu lado e entrelaçou nossas mãos. “Merlin, como eu senti falta disso.”

- Você tem idéia do quanto me deixou preocupado? – Perguntou e grudou os olhos nos meus. – Eu estava a beira da loucura só por não ter suas respostas... E quando eu cheguei aqui e seus pais disseram que você tinha desmaiado... Hermione... Nunca mais me dê um susto desses! Seja lá o que tenha provocado.

- Tudo bem. – Sorri. – Talvez tenha sido bom.

- Como assim? – Perguntou irritado. – Eu fiquei com tanto medo!

- Você está aqui agora. – Me aproximei e abracei-o. – Eu estou bem.

- Eu preciso voltar. – Ele murmurou. – Nos vemos em uma semana...

- Uma longa semana. – Suspirei, inspirando seu aroma doce e inconfundível. – Vou desmaiar de novo só pra te ter aqui...

- Nem brinca com uma coisa dessas! – Disse sério e eu senti vontade de gargalhar.

- Tudo bem. – Sorri. – Parei.

- Está bem? – Se afastou e analisou meu rosto. – Posso te deixar sozinha sem que desmaie?

- Estou bem. – Revirei os olhos. – Pode ir.

- Tudo bem. – Sorriu e se levantou.

- Friederich Weasley! – Berrei.

Ele gargalhou e voltou a se sentar na cama. Analisou-me mais uma vez, agora com um sorriso. Com um movimento só, me puxou e me aninhou em seus braços. O abracei apertado, sentindo meu peito se apertar com mais uma despedida. “Só uma semana, Hermione.” Só uma semana...

- Prometa que vai se cuidar. – Sussurrou e depois selou nossos lábios.

Um selinho, que com menos de três segundos se tornou um dos beijos mais apaixonados e intensos que já trocamos.

- Pra quem estava sem forças. – Sorri e mordi o lábio inferior. – Eu acho que já estou bem.

- Você não presta. – Riu, juntando nossas testas.

- Quem me leva pro mau caminho é você! – Disse antes de beijá-lo de novo.