TaecYeon não conseguia sequer disfarçar sua ansiedade adolescente, no dia seguinte. Ficava andando para lá e para cá no apartamento, vendo se tinha lembrado de tudo, se estava bem arrumado – ele nunca conseguia avaliar isso direito -, se estava perfumado, e quanto tempo faltava para a hora do encontro.

Era um lindo dia. O sol brilhava com força e uma brisa agradável soprava, entrando pelo apartamento bem ventilado dele. Eram três da tarde.

Ele tinha ligado para ChanSung pela manhã e eles haviam combinado de se encontrar para correr no parque às cinco. Depois, tomariam banho no apartamento de Taec – juntos, ele esperava – e sairiam para comer alguma coisa. Ou não, tudo dependia.

O telefone tocou. Ele correu para atender, mas era só WooYoung.

- Vai fazer o que, hoje à noite? – o amigo pediu.

- Ah... ainda nem sei – ele disse. Surpreendeu-se estando cansado de ter que omitir o que realmente pretendia fazer, mas não falou a verdade do mesmo jeito. Com o tempo, ele falaria. Não agora. – Mas estou cansado. E você? Vai sair com o JunHo?

- É, a gente combinou de se ver...

- Você passou a noite com ele, ontem?

Taec ainda não sabia o que tinha acontecido direito entre eles, embora pudesse imaginar. Na noite passada, quando sua paciência finalmente atingira seu limite - e o tédio também - ele fora para casa.

- Hm, é.

- Qual é o problema? Você parece meio... não sei, reticente.

Ele ouviu WooYoung suspirar, do outro lado da linha.

- Está tudo bem. Eu só não quero me animar demais por causa disso e ficar agindo como um adolescente descontrolado.

Exatamente como eu estou agora, Taec quase disse.

- Mas ele é legal, não é?

- É, sim. É bonito, inteligente, engraçado...

- Então – TaecYeon falou, quase não agüentando o peso de ser o único louco por alguém ali e querendo dividir o sentimento com WooYoung. – Investe nisso, você não tem nada a perder.

- Agora não, mas e depois?

- Você se preocupa demais.

WooYoung suspirou novamente. – É, você tem razão. Me preocupo demais. De qualquer forma, vou desligar agora, tenho umas coisas pra fazer.

TaecYeon sorriu. Nem conseguia acreditar no que estava ouvindo. WooYoung querendo desligar. WooYoung parando de falar. JunHo devia mesmo estar mexendo com ele.

- Oh, okay. Até mais, então.

- Até.

TaecYeon desligou e olhou para o relógio. Suspirou, sentindo-se entediado e preparando-se para o que iria parecer uma longa espera.

***

Quando Taec chegou ao parque, faltando dez minutos para as cinco, ChanSung já estava lá, sentado em um banco. Franziu o cenho para as costas do mais novo, que era o que ele via dele enquanto se encaminhava para lá.

Não era exatamente como se ele estivesse achando que ChanSung não fosse ser pontual, ele só... hm... é, ele provavelmente estava achando, sim. E então ele lembrou de tentar nunca mais “achar” nada sobre ele, porque era nesse momento que ele sempre acabava surpreso. Sempre. ChanSung parecia ter o dom de ser imprevisível.

E talvez isso fosse justamente onde ele mais o atraía. Depois das pernas, claro.

A corrida pelo parque foi ótima. Adorou saber que ele gostava de fazer exercícios também, porque assim teria mais um pretexto para que pudessem passar tempo juntos. E ChanSung nunca o cansava. Ele sempre tinha o que dizer, do que rir, histórias pra contar.

Talvez TaecYeon ficasse quase o tempo todo se preocupando com os rumos que essa história estava parecendo tomar, mas não quando estava com ele. Porque o mais novo tinha uma presença que o fazia esquecer qualquer outra coisa que não fosse ele. Não conseguia querer mais nada, só ele, ele, ele.

Olhou para ChanSung, correndo ao seu lado com ar concentrado, a conversa momentaneamente esquecida, e ainda assim não conseguiu explicar. Ele tinha alguma coisa que o deixava daquele jeito.

Provavelmente não era nada específico, e sim o conjunto da obra. Porque ele não conhecia ninguém como ChanSung. Aquilo não explicava direito o que ele sentia, mas pelo menos lhe dava um motivo. Ele era diferente. Ele era interessante.

***

Após uma hora de caminhada, eles pararam e foram para o apartamento de Taec.

- Onde nós vamos jantar? – ChanSung perguntou, quando o elevador parou no andar do apartamento dele.

- Não sei, ainda nem pensei nisso – Taec admitiu. – Você tem alguma ideia?

- Hm... – ChanSung parecia pensar, enquanto eles caminhavam os passos pelo corredor até a porta do apartamento de Taec. – Algumas. Mas depois a gente fala sobre isso.

TaecYeon sorriu e abriu a porta, deixando o mais novo passar primeiro por ela, antes de entrar no apartamento também e fechá-la novamente atrás de si.

Então, antes de conseguir pensar direito no que estava acontecendo, ChanSung estava beijando-o, e ele mal conseguia lembrar direito onde seu próprio corpo terminava e onde começava o do mais novo.

- Hey... – ele disse, interrompendo o beijo – Calma.

ChanSung sorriu.

- Por quê?

- Você não quer tomar banho? – perguntou e beijou-o brevemente.

- Sim. Com você.

Não dava para resistir a ele, principalmente porque as idéias dele coincidiam perfeitamente com as que o próprio Taec havia tido antes.

- Você sabe onde é o banheiro – ele disse, rindo um pouco. – Vai indo que eu já vou.

- Okay – ChanSung respondeu, com um sorriso safado no rosto, e encaminhou-se para o banheiro.

Tão logo ele estava fora de vista, TaecYeon largou-se na poltrona mais próxima. Deus do céu, ele era um furação. Provavelmente a pessoa mais enérgica que ele conhecia. Suspirou, tentando descansar – de qualquer coisa que fosse, ele se sentia cansado em cada poro do corpo. Embora, por outro lado, se sentisse muito disposto.

Ouviu o barulho do chuveiro sendo ligado. Fechou os olhos, querendo e não querendo dormir. Ficou assim por algum tempo, achando que não estava pensando em nada, mas ao mesmo tempo pensando, sim. Nunca conseguia fugir de seus próprios pensamentos.

Algum tempo depois, ChanSung gritou por ele. Taec sorriu, tentando imaginar quanto tempo haveria passado. Não fazia ideia. Rendido, alevantou-se preguiçosamente e foi até o quarto para pegar toalhas para eles dois. Estava procurando por elas no seu roupeiro quando ouviu uma batida na porta.

Estacou, alarmado. Não estava esperando ninguém. Olhou para o relógio e viu que eram seis e quinze da tarde. Quem viria até ali sem avisar? Um de seus amigos, muito provavelmente. Ou o carteiro, mas achava que os carteiros não trabalhavam até essa hora. Bem, talvez ele estivesse fantasiando-

Ouviu novamente. Por favor, que seja um carteiro. Um mendigo. Um assaltante. Qualquer pessoa desconhecida, por favor.

Decidiu ficar quieto e esperar que quem quer que fosse resolvesse ir embora. Podia ouvir o barulho do chuveiro e pensar que ele não ouviria. Aliás, era exatamente isso que ele diria, depois. Que estivera tomando banho a essa hora, você tem certeza de que bateu com força suficiente? Porque eu não ouvi nada.

Simples e perfeito.

- Taec? – ChanSung chamou, mais baixo desta vez. Ele foi até o banheiro tentando não fazer muito barulho.

- O que foi? – perguntou, tentando controlar o pânico na voz.

- Eu acho que ouvi alguém batendo na porta – ChanSung disse. Conseguia ver a silhueta dele através do box, e descobriu que não existia nada na vida que ele quisesse mais do que ir pra dentro daquele chuveiro com ele.

- Hm... Sério? Eu não ouvi nada, não.

- Oh. Okay, então, eu posso estar me confundindo. Escuta, você vai vir ou não? Porque eu vou virar um peixe, daqui a pouco, esperando por você aqui.

- Ah... Já vou, espera só um pouco.

Voltou para o quarto, pensando que a pessoa que estava batendo na porta já deveria ter ido embora, graças a Deus. Finalmente alguma coisa que dava certo, ali.

Achou as toalhas atrás de uma pilha de jogos de cama, e estava encaminhando-se para o banheiro novamente, quando ouviu uma coisa que o fez gelar.

- Taec? – alguém perguntou. Taec largou as toalhas na cama. Não tinha sido ChanSung. Ele conhecia aquela voz, e era...

- JunSu? – ele perguntou, assim que viu o mais velho passando pela porta de seu quarto. Era o que faltava.

- Ah, oi – ele disse, e sorriu. – Eu ouvi barulho, mas você não respondia. A porta estava aberta, então eu-

- Ah, claro – tentou retribuir o sorriso, mas não achou que o resultado tinha sido satisfatório. – Desculpe, eu... é...

JunSu franziu o cenho.

- Tem alguém tomando banho?

Taec olhou para a porta do banheiro, desesperado.

- Ah... nãaao, eu é que... liguei o chuveiro, você sabe, depois esqueci de pegar, anh... – ele se virou para a cama e agarrou uma das toalhas que havia jogado ali minutos antes – Toalhas! Que cabeça a minha, não é?

- Mas...

- Então eu me vesti de novo e vim pra cá pegar.

- Mas...

- Deve ter algum problema comigo ultimamente, haha. Então, vamos conversar na sala.

Ele empurrou o amigo em direção a porta, porque a sala ficava mais longe do banheiro que seu quarto. Junsu se debateu um pouco e olhou por cima do ombro interrogativamente para ele, mas acabou andando até lá.

- Você não vai desligar o chuveiro? – ele perguntou, assim que entraram na sala.

- Ah, pra quê vamos perder tempo-

- TAEC! – JunSu gritou, livrando-se dele e parando de andar. – Tem alguém aí, não tem? Quer parar de dar a louca e me dizer a verdade?

- Não sei do que você está falando.

- E eu não sei o que você está tentando fazer! – JunSu replicou, olhando fundo nos olhos dele.

TaecYeon não tinha resposta para aquilo. Não tinha nada que ele pudesse dizer. Nem para si mesmo.

O que ele estava tentando fazer? O que JunSu podia fazer, afinal, só por descobrir ChanSung ali? Certo, não era legal ter um cara estranho tomando banho na sua casa num sábado de tarde. Quero dizer, não era mais como se ele e Jay tivessem combinado que podiam ficar com outras pessoas – aquilo era mais sério do que ir pra uma festa e beijar alguém.

Mas ainda assim, ele podia dizer para JunSu. Era seu melhor amigo. Se conheciam muito antes de qualquer um deles ter conhecido Jay. Não era como se não pudesse esperar a confiança dele.

E porque tinha tanta vergonha do que estava fazendo?

Só se deu conta de que estava há alguns minutos olhando para JunSu sem dizer nada quando ouviu outros passos no corredor.

- Taec, eu peguei uma das toalhas q-

E então ChanSung entrou na sala também, parecendo um deus com uma toalha enrolada na cintura e outra secando os cabelos, água ainda escorrendo pelo tronco.

Ele olhou para JunSu, JunSu olhou para ele, e então os dois olharam para Taec.

- Hm – ele disse, limpando a garganta.

- Ops, foi mal – ChanSung murmurou.

- Taec, quem é esse menino?

- Menino? – ChanSung murmurou.

Anos pareceram passar antes que qualquer um deles conseguisse dizer qualquer coisa. Os olhos de JunSu e ChanSung percorriam a sala, enquanto os de TaecYeon se mantinham fixos no chão. Ele deveria fazer alguma coisa. Afinal, era sua culpa que aquilo estivesse acontecendo. Ele devia saber que era uma questão de tempo até alguém perceber e, principalmente, deveria ter sido mais cuidadoso.

Tipo, muito mais cuidadoso.

– Bom, já que o Taec não parece conseguir dizer nada, prazer, Hwang ChanSung.

JunSu continuou olhando de um para o outro.

- Bom, acho que isso pode explicar o que você estava tentando fazer.

- Você é o namorado dele? – ChanSung perguntou, para o estarrecimento da Taec.

- Jay está nos Estados Unidos, eu te disse isso! – Taec falou, saindo do transe.

- Bom, como vou saber se você estava dizendo a verdade? Principalmente depois de ver como está sua cara, agora. Ele pode ter voltado, não sei!

- Não, eu não sou o namorado dele – JunSu respondeu, ainda parecendo chocado.

- É outro amante? – ChanSung perguntou, sério. Taec estava quase atirando alguma peça da mobília nele quando ChanSung começou a rir, e, inexplicavelmente, JunSu também.

Foi a vez de Taec ficar olhando de um para o outro.

- Ele é meu amigo – Taec disse, já que nenhum dos dois parecia estar em condições de se acertar.

- Ah, então tudo bem. – ChanSung respondeu, ainda olhando de um para outro. Alguns momentos se passaram e, então, ele franziu o cenho. – Bom, eu vou me vestir e deixar vocês conversando.

Então ele virou as costas e se dirigiu até o quarto de Taec. JunSu se atirou no sofá assim que ouviu a porta do quarto sendo fechada.

- Taec, que porra foi essa?

TaecYeon sentou-se também, porque achava que provavelmente ia cair se continuasse de pé.

- Não sei. Não tem mais o que eu possa dizer.

- Por que você não me contou? Há quanto tempo está com ele?

- Anh... menos do que você imagina, na verdade. A gente se conheceu semana passada. E... eu não sei porque não te contei. Só que não é nada sério ainda, não que houvesse alguma coisa pra contar, você sabe-

- Eu sei? – JunSu perguntou exasperado. – A única coisa que eu sei é que ou você está se sentindo terrivelmente culpado, ou está muito a fim dele, ou os dois. Provavelmente os dois.

- É, provavelmente os dois – ele se forçou a responder, baixinho. Não conseguia tirar da cabeça a ideia de ChanSung ouvindo atrás da porta o que eles estavam conversando.

- Pelo menos isso explica porque você tem se comportado dessa forma nos últimos dias. Bem, eu posso entender o motivo, ele é lindo e completamente adorável, mas-

- É, não é? – perguntou, antes de conseguir se controlar.

JunSu olhou pra ele de um jeito estranho, então bufou.

- Você está perdido.

- Eu acho que sim. Eu não sei o que fazer. Eu nem sei... – mas ele não soube como terminar. Não agora, pelo menos.

- E o Jay?

- Ainda não pensei nisso. Quero dizer, pensei, mas não quero pensar nisso.

JunSu pareceu preocupado.

- Você vai se apaixonar por esse garoto, Taec. Se é que já não se apaixonou.

Taec rolou os olhos. – Olha o jeito como você está me olhando. Entende por que eu não queria te contar?

- Você parou pra pensar em como tem se comportado essa semana? Eu conheço você. Ele provavelmente meche tanto com você que você nem se dá conta. Quero dizer, levá-lo pra cá, esconder de todo mundo, e alguém me dê um tiro se JunHo não for amigo dele.

- Hm... é, sim. – Taec respondeu, sem conseguir deixar de pensar que porra era aquela e como JunSu conseguia saber aquilo tudo.

- Viu? E eu não estou dizendo essas coisas porque tenho uma bola de cristal ou porque sou particularmente perspicaz. Estou dizendo porque está tudo escrito na sua cara. E quantos anos ele tem? Dezoito?

- Vinte.

JunSu bufou e balançou a cabeça. Continuou olhando para TaecYeon, que não conseguiu evitar desviar os olhos para o chão. Eles ficaram algum tempo calados, até JunSu alevantar-se repentinamente.

- Bem, eu vou indo, você provavelmente tem um encontro. E aposto que não tem nada na vida que você queria mais do que me ver fora daqui, agora. – Taec sacudiu a cabeça, como se ele estivesse exagerando. Embora fosse verdade. - A gente pode conversar melhor mais tarde.

- Okay – ele alevantou-se também. – E, JunSu... Você queria dizer alguma coisa? Quero dizer, por ter vindo aqui...

JunSu lançou um olhar cortante para ele. – Alguém disse que ia sair com a gente.

- Eu saí! Ontem!

O mais velho rolou os olhos, saindo da casa.

- Taec, vou dizer outra coisa. Provavelmente vou repetir mais tarde, mas pra você já ir pensando: Você vai ter que dizer pro Jay, se pretende continuar.

Estava demorando.

- É, mas não sei se pretendo.

JunSu parecia prestes a dizer alguma coisa, mas então fechou a boca e saiu do apartamento.

- Tchau, Taec, divirta-se.

- Você também.

TaecYeon fechou a porta e respirou fundo. Era uma droga, tudo o que tinha acabado de acontecer. Não dava mais para ignorar que ele sabia como o que estava acontecendo era errado, e como provavelmente acabaria pior ainda. Não valia a pena continuar com aquilo. Não se ele realmente gostava de Jay – e ele achava que gostava, achava mesmo - e não queria acabar com o que tinham. Porque ele ia. No final, ia acabar estragando tudo.

Mas ChanSung ainda estava ali, de qualquer forma. No quarto, esperando por ele. E o que ele ia fazer? Entrar lá e mandá-lo embora? Dizer que não podia mais sair com ele, que tinha sido um erro desde o começo, mentir que não queria mais?

Ele passou as mãos pelo rosto, ainda tentando ignorar o que sabia que teria que fazer. Então se encaminhou até o quarto, decidido.

ChanSung estava sentado inocentemente na cama, já vestido para sair. Taec andou até ele, ergueu-o e beijou-o na boca, empurrando-o na direção da saída do quarto. Enrolou a mão na bainha da camiseta que o outro usava, parando de beijá-lo para olhá-lo nos olhos, assim que chegaram à porta do banheiro.

- Tira – ele disse, simplesmente, momentaneamente deixando-o prensado contra a parede.

ChanSung sorriu, e entrou com ele no banheiro novamente.

***

TaecYeon ligou para Jay na segunda-feira, em parte porque se sentia culpado e em parte porque precisaria ligar, mais cedo ou mais tarde. E também porque realmente sentia falta dele. Não dava pra ignorar isso, embora ele estivesse tentando.

Não queria sentir falta de Jay o tempo todo e ficar desesperado por causa daquilo. Afinal, eles não tinham nada sério, tinham? Ainda estavam tentando descobrir o quanto gostavam um do outro, se valia a pena continuar o que estavam começando.

Sabia que aquela viagem não deixava de ser uma espécie de teste. Algum do tipo “como você consegue se virar sem mim?”, Taec achava. Se tudo ficasse bem era porque eles provavelmente gostavam menos um do outro do que um relacionamento sério pedia que gostassem.

Só que não estava tudo bem. Certo, havia ChanSung e o jeito com que ele lhe fazia enlouquecer, mas isso não fazia com que tudo ficasse bem. Estava acostumado a ter Jay por perto. Ele o fazia sentir bem melhor do que qualquer outra pessoa. Não importando com que humor ele estivesse.

- Como foi o final de semana? - Taec perguntou.

- Foi tudo bem. Eu e os garotos fomos praquele evento de b-boy que eu tinha te dito, na Califórnia-

- Ah, sim! – o fato de que mal tinha pensado nisso o deixou péssimo. Devia estar pensando em Jay ao invés de ficar exercitando seu egoísmo. – E aí?

- Foi incrível. Nós não ganhamos, mas ainda assim. Tinham caras realmente bons, Taec, você devia ver! E a viajem em si já valeu a pena, ficamos dando risada, falando bobagens...

- Eu acho isso ótimo – ele disse, sinceramente. – Eu te disse pra sair com eles e se divertir, não foi? Não é sempre que você pode fazer isso.

- É, mas tudo seria melhor se você estivesse aqui – Jay respondeu, com voz aborrecida. – Eu sei como isso vai soar, mas eu... hm...

- Você não precisa dizer, Jay.

Nesse ponto eles ainda eram muito estranhos um com o outro. Dizer qualquer coisa romântica que não fosse em tom de brincadeira ainda parecia muito fora do lugar.

- Quer me deixar tentar? – Jay perguntou, rindo.

- Tudo bem, vá em frente.

- Eu... bem... não achei que ia ser tão difícil. Ficar longe de você, quero dizer. Às vezes... eu me pergunto o que estou fazendo, deixando você solto por aí.

TaecYeon suspirou.

- Você não é o único – ele admitiu. – Eu quero dizer, você... sabe... na Califórnia...

- Se eu fiquei com alguém, é o que você quer dizer? – Jay perguntou, rindo um pouco. Esse era um dos motivos pelos quais TaecYeon o adorava. Ele não precisava dizer tudo para que ele entendesse.

- Sim – ele admitiu, com o coração batendo rápido no peito. Talvez não quisesse saber. Ele não queria ser hipócrita.

- Bem, eu... – Jay parou por alguns segundos. – Fiquei, sim. Não vou mentir pra você, porque não tem motivos pra que eu faça isso. Mas, você sabe, fez mais mal do que bem.

Taec fechou os olhos com força, pensando em ChanSung. Era como ele se sentia, na maior parte do tempo. Como se estivesse fazendo mais mal do que bem. E ainda assim...

- Hey... tudo bem, pelo menos enquanto você não quiser me abandonar e ficar por aí...

- E você, Taec? – ele perguntou, e Taec conseguia sentir que ele estava sorrindo.

Ele pensou por algum tempo. Talvez por tempo demais. Tinha que dizer para ele. JunSu também já o tinha alertado. Jay não havia sido honesto, afinal?

- Não – ele respondeu, embora soubesse que Jay tinha notado sua hesitação, e que tiraria conclusões daí. Que fosse. Ele não ia falar nada enquanto ainda estivesse acontecendo e ele não soubesse o que fazer.

- Sério?

- Sim – ele respondeu, sentindo-se um lixo por aquilo. – Embora já vou avisando que não faltaram propostas na sexta, quando saí com os outros.

Jay riu, e ele riu também.

- Pra onde vocês foram?

- Ah, uma boate nova... Hétero, para o caso de você estar se perguntando. SeulOng estava com a gente, NichKhun também-

- Falando no Khun, ele já admitiu que gosta do Woo? – JaeBeom perguntou, animado.

Taec soltou uma risada desdenhosa – Antes fosse. Woo conheceu um garoto e-

Ele se interrompeu. Droga. Falar no JunHo tinha sido uma péssima ideia porque todos os seus amigos – menos JunSu – achavam que Jay o conhecia também. E se ele resolvesse falar disso com algum dos outros e eles descobrissem que Taec estava mentindo? Merda, ele estava cada vez mais enrolado.

- E...? – Jay disse.

- E Khun ficou com uma garota – ele terminou, apressado.

- Eu não acredito!

- Verdade! Se quer saber, acho que eles estão mais longe do que nunca de terem alguma coisa, porque WooYoung parece realmente animado com aquele garoto. Tão animado que nem parece animado, sabe o que eu quero dizer.

Jay riu.

- Sei, sim. É tão típico dele. Mas e aí, quem é esse garoto? Porque você sabe como ele age normalmente, colocando mil defeitos em qualquer pessoa que cruzar o caminho dele.

TaecYeon pensou por alguns momentos. Então resolveu que não tinha nada a perder.

- Você lembra do JunHo? Nós o conhecemos um dia que saímos sozinhos... aquele dia que fugimos deles e fomos pra uma boate no outro lado da cidade – ele disse, falando no único dia que lembrava ter saído sozinho com JaeBeom. E também esperava que ele caísse nessa. Afinal, mais cedo ou mais tarde ele iria querer falar com WooYoung.

Jay riu sonoramente.

- Não acho que eu lembraria de qualquer pessoa que tenhamos conhecido naquele dia, Taec.

Ele franziu o cenho.

- Por quê?

- Foi o dia que você me embebedou pra ir pra cama com você, lembra?

- Jay! – ele disse, embora estivesse rindo. – Não foi assim que aconteceu! Já discutimos milhares de vezes e-

- Não interessa. O fato é que você sabe que eu não gosto de beber, e ainda assim me levou num lugar desconhecido e me fez provar todos os tipos de porcarias. E depois me levou pro seu apartamento. Juntando tudo, eu diria que parece muito com um ato de embebedar alguém para transar com a pessoa.

TaecYeon rolou os olhos, porque Jay já tinha dito aquelas exatas palavras pelo menos um milhão de vezes.

- E porque você acha que eu precisava te embebedar pra te levar pra cama? – ele perguntou – Isso não faz sentido, você já é suficientemente safado sóbrio.

- Não sei – Jay respondeu, forçando indignação. – Talvez você quisesse experimentar algo novo, sei lá.

- Você estava tão podre quando chegou aqui que a única coisa nova que eu experimentei foi deitar do seu lado e só dormir.

- Minha única felicidade é ter frustrado seus planos.

- Que planos, Jay?

- Enfim, o que nós estávamos falando, mesmo? – Jay perguntou, rindo. – Você sabe como a ligação é cara-

- Sim, você repete isso toda vez que me liga. Mas dessa vez eu te liguei, então fica tranquilo.

- Claaaaro, e pra quem você vai pedir dinheiro emprestado pra pagar a conta, depois?

- Estávamos falando sobre o novo namorado do WooYoung, JunHo, que nós conhecemos aquele dia na boate e do qual você não lembra – ele disse, cortando o assunto. Afinal, Jay não deixava de ter razão. A ligação era cara e quando eles começavam a discutir era difícil parar.

- Não lembro, mesmo.

- Nem eu lembrava dele – Taec falou, fingindo exasperação. – Mas ele lembrava de mim. Veio me cumprimentar, pediu como você estava... Enfim, acho que Woo gostou dele desde a primeira vez que o viu. E agora ele está todo “não quero me envolver, não quero quebrar a cara”, e você sabe que quando ele fica assim-

- É quando ele vai se envolver e quebrar a cara. É.

- Sim, mas JunHo parece um cara legal. Acho que pode dar certo.

- Mas e o NichKhun? – Jay perguntou, horrorizado.

- Bom, ele ainda acha que é hétero. Não podemos fazer nada por ele.

- Vou ligar para o Woo assim que eu tiver tempo. Ele precisa de uns conselhos. Se o cara for legal e bonito, ele tem que parar de ter medo.

- É, eu também acho. De qualquer forma, vou desligar agora, ou isso vai ficar realmente caro.

- Okay. Tchau, Taec.

- Tchau, Jay. Se cuida.

- É, você também. Não vá conhecer nenhum garotão alto, lindo e de 20 anos e querer me abandonar.

TaecYeon engoliu em seco. Porque diabos ele sempre acertava?

- Certo. Até mais.

- Até – Jay disse, e desligou.

Taec deitou no sofá e fechou os olhos. Estava se sentindo muito pior do que achou que se sentiria, depois dessa conversa. JunSu tinha razão, ele tinha que ter contado. Mas simplesmente não foi capaz.

O que era aquilo que ele estava jogando fora? Pior do que o relacionamento amoroso deles era a amizade de anos que eles tinham. Não que ela fosse acabar se ele realmente fosse ficar com ChanSung – e existia essa possibilidade? -, mas nunca mais seria a mesma coisa. TaecYeon tinha certeza disso.

E isso depois de tudo o que eles tinham passado juntos. Porque mesmo que tenha sido estranho o modo como eles haviam começado, ele sentia como se fosse mais especial do que qualquer outra coisa.

Eles deviam se conhecer há... três anos? Por volta desse tempo. E saiam juntos há no mínimo dois anos. Taec acha que sempre foi a fim dele, embora fosse difícil dizer. E talvez Jay se sentisse do mesmo jeito.

Mas ele não achava que pudesse acontecer. Justamente por eles serem amigos. Embora ele gostasse de Jay, nunca pensava seriamente no assunto. Porque não era pra ser pensado. Era desconfortável.

Ele sabia que Jay ficava com garotos, mas não achava que pudesse ter alguma coisa séria com algum deles. Ou com ele.

E então um dia, vindo do nada, eles estavam dançando e provocando um ao outro como sempre fizeram e Jay o beijou. E TaecYeon beijou de volta, porque ele jamais deixaria de corresponder – no fundo ele sempre soube, sabe como é. Eles não falaram muito, ao contrário da forma com que sempre agiam perto um do outro. Num minuto eles estavam se beijando na boate, no outro estavam indo de carro ao apartamento de Jay.

Eles nunca realmente começaram nada, mas também nunca pararam. E agora, quando Taec pensava na proximidade de casal que eles acabaram adquirindo – com fatos como o daquele dia que eles fugiram para ir para uma boate sozinhos, e Jay ficou mais bêbado do que ele jamais veria novamente -, sentia vontade de bater a cabeça na parede.

Suspirou e virou-se de lado no sofá. Achou que mal conseguiria dormir nessa noite, pensando no que estava fazendo, mas acabou adormecendo antes que se desse conta.