1997 escrita por N_blackie


Capítulo 79
Romulus




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/159907/chapter/79

Os olhos de Romulus ainda pesavam muito quando ele finalmente acordou, sentindo a superfície dura de pedra úmida pressionar suas coxas. Demorou um pouco para perceber que estava sentado, e quando tentou tatear para se localizar, suas mãos não se mexeram. Estavam atadas.

Com a garganta seca, pigarreou e chamou: “Prongs?”

“Moony?” respondeu a voz de Harry, mais distante. Romulus puxou outra vez a mão, e ouviu uma reclamação de dor. Era Lewis, provavelmente ainda dormindo. Piscou várias vezes, e conseguiu distinguir o contorno de Ron também. Hermione tinha os braços atados ás grades de onde estavam, e sua cabeça pendia para frente, os cabelos fazendo uma cortina que impedia Rom de perceber se estava acordada ou não.

Toda a cena na cozinha de sua casa parecia ter saído de um sonho muito agitado, que a cada minuto se tornava mais real e mais aterrorizante. O que os comensais fariam com eles agora?

Diante deles, em outra cela, Romulus pode ver Harry, sem os óculos, junto de Adhara e Jack, também amarrados uns aos outros. Adhara tinha uma mancha arroxeada onde o feitiço de estuporação atingira mais cedo, e Jack soluçava em silêncio. De uma fresta sobre a cela deles, o garoto viu uma nesga de sol, e tentou calcular quanto tempo estiveram presos ali.

“Gente,” Lewis murmurou, tossindo e se remexendo. Romulus soltou um muxoxo de dor quando ele pressionou as cordas contra seus pulsos, “desculpa, Moony... O que vamos fazer?”

“Sair daqui.” Adhara respondeu, erguendo os olhos na escuridão e farejando o ar como um cão. “Narcissa esteve aqui enquanto a gente estava desacordado. Meu nariz está coçando com o perfume horrível dela.”

“Lucius também.” Jack disse, limpando a garganta. Romulus assumiu que era para esconder o choro. “Eu vi ele entrar e ir embora.”

A porta, aparentemente não muito distante, se abriu com um rangido medieval, e Romulus calou-se. Um par de sombras foi projetado para dentro, e o som de passos descendo as escadas de pedra ecoou pelas celas. Romulus aguçou os ouvidos.

“Esses aqui vão ser o exemplo.” Rodolphus falava para Pollux, que caminhava lentamente ao lado do homem. As entranhas de Rom se contorceram de raiva do sonserino. Estava começando a gostar de Pollux. A aceitar que Padfoot podia estar interessada nele, e que ele era bom o suficiente para ela. Ele traiu tudo isso. E pior, agora que mostrara sua verdadeira face, Romulus se dera conta de que Adhara realmente gostava dele.

Muito.

“VOCÊÊÊ!” Ela rosnou, forçando as cordas que a prendiam com fúria, assim que os dois entraram no corredor em que estavam presos. Pollux parou de andar, paralisado. “SEU TRAIDOR! Há, eu devia ter acreditado! Estava desde o começo querendo meter a faca nas minhas costas, estava?”

“Prrrrrima...” o sotaque de Pollux estava descontrolado, e Romulus estranhou sua falta de frieza. Ele olhava constantemente para Rodolphus, como se esperasse que o bruxo mais velho agisse para tirá-lo dali. Mas Lestrange estava analisando a cena, como um professor numa prova. Romulus começou a desejar, estranhamente, que Pollux passasse nesse teste. Era desconcertante. “Adhara...”

“Se quiser calar a boca dela pode usar a varinha, garoto, “Rodolphus olhou para o sofrimento de Adhara com desprezo, “quando eu tiver a oportunidade, Black, quero arrancar a sua língua pessoalmente.”

Adhara se arrastou pelo chão, quase puxando Harry e Jack consigo, e encarou Pollux na penumbra. Seus olhos pareciam feitos de gelo.

“Você,” rosnou ela, olhando para Pollux com frieza, “não significa nada para mim. Quando sair daqui, eu vou matar você.”

E então começou a rir, balançando a cabeça. Pollux deu um passo incerto para frente, e a mão de Rodolphus voou para seu braço esquerdo. “Olha quem chegou,” ele olhou ansioso para todos, “Bella está aqui. Sorte a sua, Black, ela quer te conhecer.”

E depois, virou-se para Pollux.

“Vá avisar que estamos aqui. Deixa que eu cuido desse bando.”

“Sim, senhor.” Pollux se reteve, girou nos próprios calcanhares e aparatou. Enquanto Rodolphus se aproximava da cela de Romulus, o garoto viu Adhara piscar muitas vezes, e algumas lágrimas escorreram por seu rosto sujo. Jack se aproximou debilmente da irmã, e encostou o ombro no dela carinhosamente.

“Vai ser um dia divertido, sabe.” Rodolphus encarou Romulus, e o garoto entendeu porque Regulus tinha tanto medo dele. Seus olhos eram negros como o fundo de um poço, e as sobrancelhas grossas lhe davam a aparência de estar sempre com as pálpebras semicerradas, olhando com suspeita para todos.

Uma silhueta bonita emoldurou a porta novamente. Romulus viu a sombra de saltos altos, pernas torneadas que terminavam numa cintura elegante, e um vestido. Sentiu uma conhecida ansiedade, e uma estranha mistura de repulsa e admiração. De longe, ao menos por sua sombra, Bellatrix Lestrange podia ser Adhara.

Os passos decididos e firmes chamaram a atenção de Rodolphus, que virou o pescoço como um animal na direção da mulher. A sombra foi ficando mais difusa, e logo Romulus se viu encarando a lendária prima má dos Black.

Ela era tão parecida com Adhara que assustava.

O mesmo corpo não era a única coisa que inquietava a Romulus. Era a mesma pele pálida, os mesmos lábios sedutores, os olhos expressivos, a postura agressiva e ao mesmo tempo relaxada. Os cabelos eram de um castanho escuro intenso, diferentes dos negros de Adhara, mas as ondulações eram as mesmas. Lhe desciam pelas costas, como os de Padfoot agora faziam, depois de meses sem cortar. Quando analisou os prisioneiros, um sorriso maroto brincou em seus lábios como fazia nos de Padfoot quando estavam para começar um jogo difícil de quadribol. Ela desafiava o mundo a não lhe obedecer.

A semelhança estava perturbando Romulus, que preferiu se concentrar na versão melhorada que era Adhara. Ela também parecia ter notado o quanto eram parecidas, e olhava para a prima como se visse um espelho que lhe mostrava algo que não queria ver. Bellatrix mirou a prima, e seus olhos se iluminaram.

“Adhara,” sua voz era aveludada e ácida ao mesmo tempo, “você realmente é tão bonita quanto Pollux disse, não? “

“Vá pro inferno.”

“E tão brava quanto ele mencionou, também. É uma pena que estejamos tão separadas. Teria dado uma ótima assistente.”

“Eu disse pra ir pro inferno. Não sou como você.”

“Tem certeza?” Bellatrix se aproximou das grades, e usou as unhas afiadas para delinear o maxilar de Adhara, “Acho que somos. Por isso quero ter uma conversa com você. De mulher para mulher, o que acha? Faz tempo que não tenho uma dessas com alguém.”

“Vá à merda.”

“Acha que me incomodo com seus modos, Adie? Posso chama-la assim? Não sou como a minha mãe, e nem como Cissy. Anda, Rodolphus, abra a cela.”

Lestrange tocou a grade com a varinha, e a porta se abriu. Com uma faca, ela cortou a corda que prendia os garotos à Adhara, e Jack começou a se contorcer. Tentou chutar a prima com os pés livres, mas a mulher apenas se desviou.

Padfoot estava pálida, e seu único esforço para se soltar foi recebido com um olhar fuzilante de Bellatrix. “Você vem comigo. Não me obrigue a mata-la, querida. Jacques aqui vai ficar muito chateado se perder a irmãzinha.”

Romulus viu Adhara ser levada para cima, e assim que as sombras dos Lestrange desapareceram, começou a contorcer as mãos. Lewis e Ron faziam o mesmo, tentando afrouxar as cordas. Do outro lado, Harry e Jack faziam o mesmo.

“Hermione, são mágicas?” perguntou, e a garota olhou para os próprios punhos.

“Não... São conjuradas, mas não enfeitiçadas. Jack, não sobrou nenhuma faca com você?”

Jack negou com a cabeça, o rosto ficando vermelho com o esforço que fazia para se soltar. Podiam ouvir o som de vozes vindo do andar de cima, e quando Romulus achou que ia escorregar as mãos por uma fresta, o primeiro grito soou.

Todos pararam o que estavam fazendo, e Romulus se arrastou mais para perto da grade. Outro grito, dessa vez mais alto. Era Adhara, com certeza.

“ADHARA!” Jack começou a puxar as cordas com violência, e Harry fez o mesmo no sentido oposto. Um urro de dor ensurdeceu Romulus, que também forçou as amarras mais ainda. Precisava se soltar. Precisava salvá-la.

“ADHARA!” Com um som alto, aas cordas que prendiam Jack e Harry se romperam, e o garoto imediatamente se levantou e agarrou as grades, como se quisesse separá-las com as mãos. “ADHARA! ADHARA! “

Harry esfregou os pulsos rapidamente, e se aproximou as grades também, mas se dirigindo a Romulus.

“Puxem de lados opostos!”

“ADHARA! SOLTA ELA, SUA VACA, SOLTA ELA!”

Adhara gritou novamente, em outra onda. Jack pressionava tanto as grades que Romulus viu os nós de seus dedos ficarem brancos. Seu rosto estava contorcido de angústia.

“ADHARA!”

Ajudado por Lewis e Ron, Romulus começou a puxar, tentando bloquear o som horrível dos gritos de Padfoot e de Jack por um segundo para conseguir se concentrar, mas era difícil. Harry fizera o garoto de soltar das grades, mas ele agora fora para a parede, esmurrando a superfície. “Jack, a gente precisa tentar sair daqui juntos, ela não vai parar “ele dizia, olhando com pena para o garoto. Romulus achou que devia estar com a mesma expressão. Pobre Jack.

“ADHARA!” As lágrimas inundavam o rosto dele, e seus cabelos na altura dos ombros balançavam com sua cabeça. “ADHARA, NÃO... POR FAVOR...”

Uma dor ardente subiu pelo braço de Romulus quando a corda se rompeu. Ron foi soltar Hermione, e Romulus se aproximou da grade para tentar acalmar Jack.

“Precisa ficar com a cabeça fria, Jack! Não vamos conseguir salvá-la se não pensarmos!”

“ADHARA! Adhara! Adhara...” O lado das mãos de Jack estava abrasado, e seus olhos vermelhos cheios de uma sombra que Romulus não conseguia analisar. Era algo mais do que medo, e muito maior do que ele mesmo sentia naquele momento. Ele estava ficando fora de controle.

Uma mesa de madeira que ficava na entrada da escada se mexeu. Jack esmurrou a parede mais uma vez. O grito de Adhara soou novamente.

“Jack, por favor!” Implorava, e quando Jack esmurrou a parede novamente, a mesa se quebrou em dois. As cordas no chão da cela deles começaram a se dissolver, e Harry foi jogado para trás, batendo as costas com força na pedra.

“Segura ele, Prongs!”

“Jack, vem aqui, vamos,” Harry se aproximou com as mãos para cima, e quando tocou o ombro de Jack, parecia ter levado um choque. “Vamos, eu também amo Padfoot, vamos resolver isso, hun...”

“Tira ela dali, Prongs...” a voz de Jack estava fraca e rouca. Harry o olhou com gentileza.

“Nós vamos, só precisa se acalmar... OK?”

Jack assentiu, cansado, e tirou as mãos. Um pouco de sangue saia de alguns pontos, e estavam inchadas. Harry tocou-o novamente, e então Jack o abraçou.

“Pronto, pronto... Vamos sair daqui...”

Os gritos de Adhara tinham parado, e Romulus temeu pelo pior. Jack chorava nos braços de Harry, seu corpo ainda desajeitado lembrando a Rom um pouco de Teddy.

“Eu quero a minha irmã, Prongs... “

“Vamos tirar Adhara daqui, Jack, vai dar tudo certo...” Hermione disse maternalmente. Era fácil esquecer que Jack tinha quinze anos ainda.

“Ei, eles tão vindo!” Ron murmurou, e o som de uma porta batendo foi ouvido lá em cima. Romulus respirou fundo, se preparando para se oferecer para ser o próximo a morrer, se esse fosse o caso. O silencio só era quebrado pelos soluços de Jack no ombro de Harry.

“Será que eles foram embora?”

Um baque surdo, seguido do som de passos, alertou-os novamente. Harry abraçou Jack protetoramente. Outro baque, e parecia que alguém quase escorregara nas escadas quedavam nas celas.

A sombra difusa começou a descer, e o sangue correndo nas orelhas de Romulus acompanhava seu coração acelerado. O ar ficou pesado, até que a sombra ficou mais próxima.

“Pode vir, Lestrange, seu babaca!” Ron provocou, e Lewis fechou os punhos para socar alguém.

“Não sou Rodolphus, Weasley, cale a boca!”

Era Pollux, pálido e trêmulo, segurando Adhara no colo. Seu terno amarrotado se enrolava nos ombros dela, e o sangue que saia em gotas do nariz de Padfoot manchava levemente a gola de sua camisa. Jack soltou um urro e avançou na grade, mas Pollux o ignorou.

“Veio aqui jogar na nossa cara o corpo dela, foi?” Harry olhou triste para o corpo de Padfoot, e Romulus queria rasgar a cara do sonserino.

“Vocês não entenderiam. Vamos, não temos muito tempo,” com uma jogada de ombro, ele conseguiu pegar a varinha, e abriu as portas das gaiolas com ela. Jack correu até ele e arrancou Adhara de seus braços, segurando-a contra si enquanto se afastava cheio de suspeita. Pollux tirou um maço de varinhas do bolso.

“Aqui, fiquem com elas. Porque queriam a cabeça?”

“Você não precisa saber de nada seu-“

“Eu posso ajudar.”

“Não confiamos em você.”

“Têm outra opção? Bellatrix foi chamar o Lord das Trevas, ele quer conhece-los. Coloquei a cabeça num cofre especial, junto de uma medalha com o nome de James Potter escrito. O que são essas coisas?”

“Não te interessa!”

“Se quer mesmo ajudar, destrua esses objetos de forma que eles nunca mais consigam se regenerar. Seu pai nos disse que metal de duendes, alguns venenos, e até a maldição do fogo funcionam. “

À menção de Regulus, Pollux se contraiu.

“Acreditem ou não, eu amo o meu pai.” Seu rosto parecia talhado em sofrimento. “Vamos, não têm muito tempo. Farei o meu melhor.”

E, pegando uma das pernas da mesa destruída, tocou com a varinha. “Vou manda-los para uma floresta perto de Surrey, é seguro lá.”

“Você traiu a família inteira, Pollux.” Jack rosnou numa clara tentativa de ferir o primo. Pollux se aproximou dele, impassível.

“Não deixe Adhara morrer. Eu... Eu me importo com ela. Depois conversamos. Leonard ficará feliz de saber que estão vivos. Eu fiquei.”

Um estralo de aparatação veio do andar de cima. Pollux sobressaltou-se. “Vamos, peguem logo!”

Romulus tocou a madeira com suspeita, dividido entre odiar Pollux e sentir-se agradecido. O francês observou-os se juntando em torno do portal, e antes de desaparecer, Romulus o viu apontando a varinha para a própria cabeça.

“Adieu.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "1997" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.