1997 escrita por N_blackie


Capítulo 75
Jack




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JACK

Na manhã do dia combinado, Jack se levantou o mais cedo possível e começou a desmontar as suas coisas. Era um ritual que ele costumava detestar, pois tomava tempo e geralmente era acompanhado de uma série de discursos de Leonard que começavam com “sabe porque você precisa manter as coisas arrumadas, Jack?” e terminava com “ah, faça o que quiser mesmo, fique na sujeira, eu desisto!”. Agora, não só estava arrumando as coisas, mas sentia falta de Leonard lhe enchendo o saco enquanto fazia.

Estava mesmo ficando doido.

Os colegas que acordaram depois dele só se juntavam ao processo de levantar acampamento, sem falar nada ou expressar preocupação, todos presos na tensão de saber que aquele dia seria decisivo. Iriam executar a fiendfyre.

Hermione e Adie estavam particularmente tensas, repetindo a fórmula de contenção da maldição enquanto dobravam coisas e fechavam malas, lançando olhares esquivos para Regulus toda vez que completavam as frases. O Tio ajudava como podia, e ele mesmo pegou a caixa com o colar e a separou das demais.

O plano era simples: desmontar a barraca, queimar o colar, extinguir e o fogo e ir à casa dos Lupin. Jack já repetira a sequência para si mesmo pelo menos um milhão de vezes, sempre tentando ao máximo detalhar as entrelinhas. Se não desse certo de desmontar a barraca, o que faria? Se o colar não queimasse com a maldição? Se o fogo ficasse incontrolável? Se a casa dos Lupin estivesse cercada? Eram tantas as variáveis que eventualmente decidiu parar de planejar e se concentrar em dobrar uma camisa, evitando o olhar dos outros para não voltar a pensar em todos aqueles problemas.

Quando finalmente terminaram tudo, saíram da barraca e deixaram Romulus e Lewis usarem as varinhas para comprimirem o lugar o suficiente para colocar no bolso do casaco puído de Rom. O garoto fez isso em tom solene, assentindo quando perceberam que finalmente estava tudo guardado. Era a hora.

Detrás de uma árvore, Jack puxou a varinha. Era estranho fazer isso depois de meses usando somente as facas, como se de repente tivesse ganhado um membro a mais no corpo. Usá-la fora ideia de Regulus. Se a maldição saísse do controle deveria tentar todos os feitiços possíveis para contê-la. A garantia era que seria tanta energia mágica concentrada num só lugar que o ministério demoraria para perceber que uma delas era feita por um menor, mas Jack sabia que, se alguém estivesse prestando atenção naquele lugar específico, um feitiço de contenção dispararia o alarme imediatamente.

Regulus se aproximou da clareira, e depositou o colar no chão. Era difícil pensar que aquele objeto já estivera no pescoço de Adhara, e no pescoço de Sirius. Ele respirou fundo, e ergueu a varinha, pronunciando uma palavra comprida e complicada que Jack não se importou em decorar, com medo de algum dia dizer por acidente e tocar fogo aonde estivesse.

A princípio, uma pequena chama saiu da ponta da varinha do tio, e se enrolou em seus pés como uma cobra. Depois, ele deu um passo para trás, e a cobra começou a crescer. Rapidamente, tomou proporções enormes, e se apegou ao primeiro objeto que tocou: o colar.

Jack arregalou os olhos enquanto via o fogo se enroscar na corrente do colar, se alimentando da energia que ele tinha para se tornar mais forte. Suas bochechas esquentaram com o calor da fogueira que se formou, e cruzou os dedos com força quando viu o centro do colar sendo consumido. O âmbar negro absorveu as chamas, as conteve dentro de si, e logo explodiu.

Do fundo da joia, um grito de dor reverberou pela floresta silenciosa, e uma sombra negra de formato difuso saiu de dentro da explosão e desapareceu no ar junto da fumaça do fogo. Regulus deu outro passo para trás, e Jack percebeu que havia algo errado com ele. Sem avisos, o tio de Jack desmaiou.

Romulus saiu detrás da árvore em que estava e correu para acudir o homem, no que Adhara e Hermione se aproximavam das chamas, que agora aumentavam exponencialmente se alimentando das folhas secas ao seu redor. As duas começaram a pronunciar o feitiço, no que Jack ajudava a levar o tio para longe dali.

Logo, a cobra tomava proporções gigantescas. Se enroscava nas árvores ao redor, e logo Adie e Hermione estavam rodeadas pelo fogo, jatos e mais jatos de um líquido prateado jorrando de usas varinhas na tentativa de abafar o incêndio que começava.

“Jack, vem cá!” chamou Harry, ele mesmo erguendo a varinha e despejando água nos novos focos que surgiam. A fumaça negra se misturava com a branca, e quando Jack chegou mais perto, sentiu os olhos lacrimejarem do contato com ela.

Sem pensar mais nem um minuto, começou a recitar todos os feitiços de água e contenção que sabia, inclusive os que Harry lhe ensinara na véspera, sem treino nenhum. De dentro do fogo, Adhara conjurava um dragão prateado que cuspia sua própria essência nas chamas. Hermione direcionava os jatos diretamente para a base do fogo.

Jack sentiu os feitiços drenando suas forças aos poucos, e pareceu uma eternidade antes que a primeira árvore se apagasse, e a cobra começasse a recuar. Todos os sete trabalhavam intensamente, e Jack não queria imaginar o que teria acontecido se um deles não estivesse ali. Regulus estava deitado perto de Romulus, a varinha ainda em mãos, mas o rosto exaurido pelo feitiço.

“Só mais um pouco...” murmurou para si mesmo, dando passos para frente conforme via a cobra deslizar novamente para o centro do fogo, se enroscando em suas próprias curvas e tentando ultrapassar as barreiras dos adolescentes sem sucesso. Hermione e Adhara finalmente surgiram de novo, tossindo entre as palavras do feitiço. O dragão ficara fraco, e Jack experimentou direcionar os feitiços para fortalece-lo.

“Tem que alimentar o dragão dela, olha!” Chamou, e Romulus olhou para a criatura de prata que agora crescia. Ele abocanhava as chamas que encontrava, e com suas asas abafava as lambidas das chamas. Os garotos começaram a lançar os feitiços no próprio, e o animal começou a inchar com o poder deles. A cauda se alargava, e a cobra diminuída parecia teme-lo cada vez mais.

Jack sentia a visão embaçada, o corpo coberto de fuligem, e o suor escorrendo por todos os poros quando, com uma mordida, o dragão engoliu a cobra. A fumaça, que formava uma nuvem negra sobre a floresta, começou a se dissipar, deixando a mostra as árvores destruídas e a grama carbonizada para trás.

“Nunca mais.” Adhara deu passos cambaleantes para fora. Seus cabelos estavam secos e arrepiados, e seu rosto, coberto de pó preto. Parecia uma sobrevivente de explosão. “Nunca. Mais. Nem que a gente encontre mais trinta horcruxes.”

“Pelo menos deu certo...” Hermione veio logo atrás dele, e Ron foi até ela para ajudar. Jack viu o pó que antes era o colar inerte no chão. Desmontamos a barraca. Queimamos o colar. Extinguimos o fogo?

Olhou em volta, para os amigos exaustos e quase queimados.

Extinguimos.

Jack sentou-se perto do tio desmaiado, e tentou se lembrar do que precisava fazer agora. Completamente exausto, Lewis deitou a seu lado.

Ah é, pensou.

Próxima parada: casa dos Lupin.


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