1997 escrita por N_blackie


Capítulo 62
Adhara




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“Reg, tio Reg...” A voz na cabeça de Adhara gritava a cada passo acelerado que dava em direção à porta encardida que a separava dos gritos de seu tio. Atrás de si, conseguia ouvir Harry exclamando para todos tirarem as armas e entrarem, e se deu conta de que o plano de se esgueirar já fora pro espaço. Ah, dane-se, pensou.

Usou a varinha para derrubar a porta, e não teve tempo de digerir o que estava vendo antes de dois jatos verdes passarem rentes à sua cabeça. Sentiu o calor das maldições quase queimar suas orelhas, e passou correndo por entre os dois comensais que guardavam o lugar. Romulus lançou um feitiço em direção ao primeiro, um cara magricela e que cheirava que nem um animal morto, e ele foi erguido no teto com violência, caindo no chão em seguida e batendo a cabeça.

O outro, uma mulher loura, lançava feitiços na direção deles, e Adhara desviou de dois antes de conseguir deixa-la a cargo de Hermione e Ron. A sala era uma antiga sala de visitas, com janelas altas – agora sujas, claro – emolduradas de cortinas de veludo. O chão era madeira pura, e os móveis, embora cheirassem a mofo e decomposição, eram muito chiques. A lareira tinha como decoração a cabeça de um veado, mas não apenas isso.

Um gancho havia sido pendurado no lugar do que provavelmente fora o lustre, e pendurado nele pela camisa estava Regulus. A princípio uma sensação de terror invadiu o peito de Adhara, porque simplesmente não reconhecera o tio. Estava magro e pendia como uma boneca, as roupas sujas de poeira, terra, e muito sangue. O casaco devia ter se perdido em algum lugar, porque Adhara não via em lugar nenhum, e a luz azul saia de uma esfera de opala negra atada numa corrente de ouro branco, dependurada molemente no pescoço de Regulus. Adhara reconheceu aquele colar. Era o seu. A chave de Azkaban. A cada oscilação da luminosidade azulada, o tio parecia perder mais o fôlego. A culpa inundou o peito dela.

“Jack!” chamou, pulando sobre a mesa de centro para tentar alcançar o corpo, e viu o primeiro comensal se levantando. O primeiro feitiço a derrubou de onde estava, e Adhara caiu no chão, tentando se levantar completamente perdida.

“Expeliarmus.” O homem fez um movimento rápido demais, e ela sentiu, sem acreditar, a varinha voando de sua mão, batendo do outro lado da sala e caindo no chão. Começou a andar para trás, tentando calcular se conseguiria desarmar o homem antes que ele a matasse, e ele usou uma poltrona para recuperar o balanço. A mulher duelava com Harry, Hermione e Romulus, e Ron ajudava Lewis a estancar o sangue de um nariz inchado, sem perceber no que acontecia no outro canto.

“Noite, Black.” A voz rouca do homem sorriu quando ele voltou a ficar em pé, e a varinha de Adhara parecia a quilômetros de distância. Um galo feio despontava na cabeça do comensal, e mesmo tonto, ele apontou a varinha para ela.

Adie não pensou duas vezes, e começou a andar rápido para trás, respirando fundo e se elogiando mentalmente por ter lembrado de avisar Prongs sobre Jack. No entanto, quando o tiro demorou demais para sair, abriu os olhos.

O homem ainda estava parado com a varinha apontando para ela, mas sua expressão congelara. Lentamente, seu tronco começou a pender para frente, e Adhara deu dois passos rápidos para trás quando ele caiu completamente, a seus pés, uma faca enorme cravada nas costas. A uns dois metros de distância, Jack a encarava assustado, mas determinado, a mão ainda na posição em que atirara a lâmina. Seus olhares se encontraram, e Adie sentiu um arrombo de carinho pelo irmão. Eram iguais agora.

Sem muito tempo para perder com sentimentalismos, chamou o irmão para perto, e subiu na mesa de centro de novo. Um grito de dor soou no meio do duelo, e ficou com a respiração suspensa até perceber que era a comensal que caíra.

“Como vamos tirar ele daí, Ad!?”

“Cala a boca e me deixa pensar, “todos os planos pareciam ter fugido da cabeça dela, e tudo o que conseguia sentir era o puro terror de tirá-lo dali e mata-lo sem querer.

“O colar está sugando a vida dele, precisamos tirar isso daí!” Hermione se aproximou, e Adhara vasculhou a mente por alguma resposta. Precisava tirar Regulus dali, era culpa dela que aquele colar fora parar na mão de Comensais da morte!

“Padfoot, desce daí, você ajuda Jack a baixar ele. “ Harry pegou em seu pulso, e ela sentiu-se descer da mesa, sem saber o que fazer. Regulus parecia tão frágil.

Viu Hermione flutuar o colar para fora da cabeça de seu tio, e sentiu as mãos suarem conforme ela o posicionava dentro de uma caixinha que Romulus conjurou, o brilho azul tentadoramente chamando-a a recuperar o colar dali. Jack, mais alto, pegou Regulus pela cintura e o desenganchou.

Correu para ajudar Jack a carregar o tio, e quando apoiou seu braço em seu ombro, sentiu que cairia no chão. “A horcrux é o meu colar!” Disse assim que notou que Harry estava olhando para ela. “Me dá ele aqui!”

“Não, vamos deixar esse negócio escondido até ver como destruímos.” Disse Ron.

“Se alguém nos roubar, perdemos o colar, me dá ele aqui!”

“Padfoot.”

“Me dá o colar, Prongs!”

Romulus se aproximou dela. “Vamos levar Regulus para um lugar seguro primeiro, ok?”

“Tá. Anda! Anda!”Começou a andar, forçando Jack a seguí-la com o outro braço de Regulus sobre seu próprio pescoço. Sentia a respiração fraca do tio em seu braço, e via suas pálpebras tremendo. Os pés arrastavam no chão.

Lewis, Ron, e Harry saíram na frente quando chegaram ao quintal, e Adhara pousou a cabeça de Regulus em seu colo enquanto esperavam os garotos buscarem a bagagem para saírem dali.

Adhara mirou o rosto suado e gelado do tio, e sentiu toda a estrutura que vinha construindo começar a ruir. Não podia sentir nada, e dissera a si mesma que iria manter –se assim para o resto daquela missão. Não iria parar para pensar em quantos mataria, nem em quanto podia machucar Jack sendo distante. Queria ser como o seu pai, uma heroína, sem medo, mas isso era tudo o que conseguia sentir naquele momento. Medo.

E uma vez aberta aquela porta, todos os medos que tivera desde que começaram a viajar retornaram como se fossem vivos. Medo de perder seus pais. Medo de se separar de Leonard e alguma coisa acontecer com ele. Medo de perder Jack naquela missão. Medo de enfrentar o desconhecido. Medo daquele comensal na Toca matar Jack. Medo de ter matado uma pessoa. Medo de ter ficado, de alguma forma, corrompida pela maldição da morte. Medo de voltar para casa. Medo de saber notícias do que estava acontecendo.

O medo de nunca mais voltar a ver a família.

Sentiu o coração acelerar, e tentou respirar fundo para manter a calma. A garganta apertou, e Adhara começou a cravar as unhas nas palmas das mãos para não chorar. Detestava chorar.

“Adie-“ a mão de Jack pousou sobre a sua, e dessa vez Adhara não teve forças para fingir que estava tudo bem. Deixou o irmão se aproximar e encostar a cabeça em seu ombro. Era uma sensação estranha e confortável sentir que Jack estava ali. Não estava sozinha no mundo. Sempre teria o seu irmão. O seu ridículo, idiota irmão. O imbecil que atirou uma faca nas costas de um cara para salvar a sua vida.

Antes que pudesse recomeçar a se controlar, já estava chorando.


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