Jack estava acocorado no chão da cozinha, a cabeça em meio as pernas, enquanto vomitava sem parar num balde que Romulus conjurou quando percebeu que ele estava ficando verde em vez de pálido. Ao lado dele, Lewis dava tapinhas consoladores em suas costas, e Harry sentiu-se desnecessário por ora, se concentrando em tentar analisar Adhara.

Não sabia que ela um dia seria capaz de executar uma maldição imperdoável, mas não estava muito surpreso que ela tivesse feito. Quando tiveram essa aula, no sexto ano, Mumble deixara bem claro todos os efeitos de cada uma, mas se recusara a fazê-las terminantemente.

“Tem um motivo por que elas são imperdoáveis, Weasley. “ Ele tocara no quadro negro com a varinha, e três colunas descrevendo a teoria surgiram em caligrafia legível, “se forem pegos sequer tentando, vão todos ter um encontro bem triste com Sirius Black e seus dementadores, então acho melhor nem pensar em tentar. “

Sentada ao lado de Harry, Adhara dera risada, como geralmente fazia quando mencionavam Azkaban em sua presença. “Não está pensando em nada ilegal, né? “ Perguntara quando saiam, só para ter certeza.

“Claro que não, Prongs. “ Padfoot dera risada, “Eu quero trabalhar em Azkaban, sem chances de isso acontecer se eu estiver presa lá, não é? “

Agora aquela cena parecia de outra vida. Adhara trouxera Jack de volta à consciência, mas assim que o irmão começou a passar mal, deixou Hermione e Ron cuidarem dele, e se afastou. Observava o atendimento à distância, em silêncio.

“No que está pensando? “ Arriscou.

“Eu matei um cara. “ Um sorriso sem emoção aflorou nos lábios dela, “engraçado, todo mundo sempre falava que eu ia acabar matando alguém. Não levei a sério. “

“Se não fosse essa desgraça toda, você não teria matado ninguém, Pads. “

“Eu sei, mas aconteceu, né. Estranho, achei que ia me sentir pior. “

“O importante é que Jack está bem, agora. “ Harry olhou para o garoto, que parara de vomitar e agora corria para o banheiro. “É, quase bem... “

“Ele tem quinze anos, Prongs. Eu arrastei um menino de quinze anos pra isso, cara, que merda. Que merda. “ Adhara passou a mão pelo rosto com força. “Ele não vai sobreviver. Que merda, ele não vai sobreviver. “

“ADHARA! “ Jack exclamou do banheiro, e ela suspirou antes de atender ao chamado. Harry a seguiu, e quando chegou ao banheiro do térreo, viu que Jack não estava mais lá. Em vez disso, os esperava parado diante da sala. “Hum, o quão bagunçado estava esse lugar quando vocês foram embora? “

Harry olhou ao seu redor, e percebeu que alguém estivera ali antes deles. Além da confusão que fizera quando os aurores invadiram a casa, todas as gavetas estavam remexidas, e alguns porta-retratos tinham caído no chão e quebrado. Sem pensar duas vezes, começou a correr para o segundo andar, onde os quartos estavam no mesmo estado. Tirou as gavetas com violência da posição torta em que estavam, puxou o resto dos tapetes, e só parou quando, no corredor, Romulus lhe encarava.

“Sentiu falta de alguma coisa? “

“Não! Eles tiraram tudo do lugar, mas não estou sentindo falta de- ah, não. ”

Pareciam que os pés de Harry estavam atados a sacos cheios de areia, e cada passo que ele dava lhe atrasava mais até o escritório. Derrapou na porta arrombada, e ajeitou os óculos sobre a ponte do nariz suado, sentindo o coração diminuir de tamanho dentro do peito ao mesmo tempo em que se sentia estranhamente triunfante.

“A Ordem de Merlin. Estava bem ali. Do lado daquela medalha. “

Passou as mãos pelos cabelos, sentindo que precisava sair dali. Se os comensais já estiveram naquele escritório, tinha de ser para pegar algo do homem que derrotara seu mestre. E o que mais seria tão simbólico quanto o troféu que James ganhou justamente por ter feito isso?

“Cara, que bosta. “ Jack xingou, ainda ofegante pela busca desenfreada que Harry interrompeu ao descer com as más notícias. “Então devem ter pegado uma coisa de cada casa daqui, né. Como vamos fazer? “

“Cala a boca, Jack. “ Padfoot se adiantou, pressionando a própria testa com o dedo como se quisesse espremer a informação dali de dentro. “Não tem mais nada faltando? “

“Não. Tenho quase certeza de que é uma horcrux. “

“Podíamos fazer tipo uma revista, passando em todas as casas pra tentar recolher mais pistas, “ sugeriu Ron, “ se eles levaram um item de cada, podemos ver onde esconderam. “

“Não sei se isso seria prático. “

“Não, Moony, acho que Ron está certo. “ Hermione argumentou, e ganhou um dedão levantado de Ron em agradecimento, “não fique se achando por isso, Ronald, eu ainda não acabei. Não podemos ficar aqui muito tempo. Se nos descobriram na Toca, vão com certeza procurar de novo nas casas dos membros da Ordem, é óbvio! “

“Mas onde eles esconderiam? Não tem nada nessa papelada absurda que você está levando pra passear? “ Adhara apontou para a mochila que Hermione usava, e ela cruzou os braços.

“Eu e Jack lemos poucos relatórios! “

“Ah, que beleza. Anda, então vamos sair daqui! “

“Podíamos tomar um banho antes...” Jack sorriu amarelo, e se encolheu um pouco quando levou uma olhada séria da irmã. A cabeça de Harry doía de tentar imaginar todo o trabalho que ainda teriam. Já não bastava não ter ideia de quais objetos guardavam pedaços da alma de Voldemort, precisavam também não saber onde ele os colocou! Enquanto tentava avaliar para onde poderiam ir, a briga continuava, e sentiu Moony o cutucando.

“Não adianta brigar...” ele murmurava, dando passos tímidos para trás conforme Adhara pressionava Hermione e ela respondia.

“Vocês não querem um sanduíche? “ Lewis estava da cor das almofadas berrantes que Lily usava para enfeitar o sofá da sala.

“Se vocês pudessem trabalhar mais, a gente teria algum rumo! “

“Ah, muito legal da sua parte, Adhara! Eu e Jack somos dois, e se você ajudasse pra variar? “

“Eu? Bom, deixa eu ver porque não estava ajudando os dois... Estava ocupando salvando o traseiro desse inútil! “

Cor subia pelas bochechas das duas garotas, e Hermione se esforçava para não chorar na frente de Adhara. Harry deu um passo e se pôs entre ambas. “Não podemos perder tempo com isso! Hermione e Jack estão fazendo o seu melhor, e talvez se encontrarmos um lugar estável para ficar possamos dar a eles mais tempo para conseguir ler o máximo. Pads, se acalme. A gente sabia que não ia ser fácil quando entramos nisso, agora... agora é só se esforçar... “ percebeu que todos tinham se calado, e limpou a garganta. Precisava escolher para onde iam. “Vamos até os Pettigrew, que tal? Não é longe daqui. “

“Que seja. “ Adhara olhou feio para Hermione uma última vez.

“Acho muito útil, Harry, isso mesmo. Vamos, Jack, quem sabe dormimos por lá e conseguimos tirar os relatórios de novo. “

Todos se aproximaram, e Hermione puxou o braço de Jack para si, para poderem aparatar juntos. Adhara deu de ombros, e Harry cruzou os dedos antes de aparatar, desejando que pelo menos dessa vez a superstição trouxe ajudasse a encontrar um caminho pra encontrar essas horcruxes o mais rápido possível.

Quando a sala dos Pettigrew entrou em foco, Hermione soltou um grito e correu para cima do sofá, seguida por Ron e Romulus. Harry sentiu algo roçar em seus pés, e puxou a varinha imediatamente quando viu que não só a sala, mas toda a parte do corredor que conseguia enxergar pela porta entreaberta, estavam cheios de ratos.