Harry deu uma volta pelo campo de quadribol, sentindo o chão úmido do chuvisco e o ar carregado de lembranças e adrenalina. As arquibancadas estavam vazias, e ele escolhera treinar tão cedo justamente por isso. Um treino sem as garotas gritando para Jack tirar a camisa era sempre um treino duas vezes mais rentável.

O restante do time esperava nos bancos à beira do campo, e apenas Ginny parecia ter cumprido o acordo de irem dormir cedo na noite anterior. Seus olhos doces e castanhos o encaravam na expectativa de começar, alternando com dar risadinhas de Ron quando este batia a cabeça na de Sam, os dois com os olhos bem fechados. Demelza olhava fixamente para algum ponto, segurando na vassoura para não escorregar. Jack estava embaixo do banco, o rosto amassado contra a grama, e Adhara cochilava perto do irmão. Harry balançou a cabeça, e sorriu para a namorada.

“Vamos lá, pessoal, quanto antes terminarmos, antes podemos ir comer!”

Ao ouvir o som da última palavra, Jack sentou-se muito rápido, batendo a cabeça com tudo no assento acima dele. Atordoado e segurando a testa, empurrou Adhara e começou a engatinhar para fora dali, caindo no cão assim que estava fora de alguma cobertura.

“Acordem!” insistiu, frustrado. Adhara ergueu o polegar de olhos fechados, e Sam bocejou muito alto.

“To acordada, que coisa, Harry! Diz o que precisa dizer de uma vez.”

Harry revirou os olhos, e começou a falar enquanto cutucava os amigos para se manterem acordados: “A temporada vai começar no próximo sábado, e nós precisamos pensar no título seriamente desde o começo dessa vez. Romulus fez uma tabela com potenciais resultados para nos ajudar, e pretendo segui-la, então o que peço é que colaborem. É meu último ano e não quero... Ah, fala sério.”

Um assovio atrás de si veio acompanhado do som de vários passos, e o time grifinório voltou-se para a direção da qual vinha aquele barulho. Harry cerrou os pulsos.

“Dia, Potter.” Falou Blaise friamente. Atrás dele, Malfoy acenou.

“Dia, Zabini. Precisa de alguma coisa?”

“Que bom que perguntou, na verdade preciso sim. Preciso usar o campo hoje.”

“Á vontade,” Harry fez um gesto amplo, e aproveitou para olhar seu time. Adhara e Jack tinham despertado, e seguravam os pesados bastões ameaçadoramente. As artilheiras tinham cruzado os braços, e Ginny e Sam pareciam querer ir ajuda-lo, dando passos inquietos para frente. Ron, mais alto que todo mundo, espiava Malfoy com ar de suspeita, “terminamos às dez.”

“Acho que você não entendeu, Potter, precisamos dele agora.” O sonserino soltou uma risada galante, indicando seu próprio time pronto para treinar.

“Não, Blaise, quem não me entendeu foi você. Reservei o campo. Cai fora.”

“Nós precisamos do campo, tenho que testar táticas novas.”

“Não ouviu o que ele disse?” Jack se aproximou, rolando os olhos. O bastão pendia firme em suas mãos ainda. “Cai fora, Zabini, o campo é nosso.”

“Pare de se achar, garoto.”

“E você saia daqui, você é surdo?” Samantha reclamou.

Harry contou até dez, mas a tentação de socar Zabini era muita. Blaise olhou com desprezo para Sam.

“Deixe os capitães resolverem, mestiça.”

“Mestiça é a vaca da sua mãe, aquela vigarista de quinta!” Adhara rosnou, finalmente se aproximando. Harry a acompanhou, e se aproximou de Blaise.

“Escuta, você tem dez segundos pra pegar o seu time e dar o fora daqui, entendeu? Dez segundos.” Rosnou, mas Zabini aparentemente tinha ficado muito ofendido com o que Padfoot dissera.

“Pelo menos ela guarda muito bem os segredos que confiaram, Black, ao contrário de você, que nem uma chave de prisão consegue proteger.”

“Cala a boca, Zabini, mas que inferno, sai daqui!” Harry largou a varinha e quis empurrar aquele sonserino teimoso para fora do seu campo, mas Ginny se interpôs. Vermelha como um rabanete, e parecendo mais alta do que realmente era, esticou o dedo na cara do capitão da sonserina.

“Escuta aqui, estamos a quinze minutos do Salão Principal. Posso ir até lá na metade desse tempo, buscar Dumbledore em pessoa e te fazer engolir a ficha de reserva do campo, ou pode mexer essa sua bunda e sair daqui agora. Querendo você ou não, vamos treinar nesta droga de campo, e a única questão que ainda está no ar é se vamos precisar atrasar ou não o treino para chutar sua traseiro daqui.”

Blaise soltou uma exclamação de indignação diante da chance de ter de discutir com o diretor, e fez um sinal autoritário ao time. “Vamos, as nove e cinquenta e nove estaremos de volta. Mas se preparem, porque seus dias de amiguinhos de gente poderosa vão terminando, Potter.”

Eles marcharam para fora, e Harry sorriu para Ginny em agradecimento. O time recomeçou a treinar, apesar das ameaças, mas conforme as horas avançavam, notou que Adhara estava com um tique esquisito de coçar as orelhas toda hora. Seu olhar recaiu no pescoço dela, e parou para pensar no que Zabini havia dito.

Não seria possível que aquele colar fosse a chave de prisão que ele estava imaginando.

E se fosse, não era possível que os dementadores a tivessem levado.

Precisava falar com o pai. Urgente.