1997 escrita por N_blackie


Capítulo 15
Romulus




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ROMULUS

Numa confusão de bichos de pelúcia e balões, Romulus entrou no quarto de Teddy naquela manhã. O berço do irmão estava encostado numa parede azul pontilhada de estrelas pintadas magicamente em dourado, e que de tempos e tempos viravam constelações diferentes sobre a cabeça do pequeno, que ainda dormia abraçado no dragão gigante que ganhara no último aniversário. Romulus balançou a cabeça e riu do brinquedo, que era pelo menos uma cabeça maior que Teddy e parecia sufocado pelos braços carinhosos do menininho.

Fechou a porta atrás de si, abafando os ruídos de organização final que vinha da cozinha, e caminhou até Ted, tentando não tropeçar em algum bloco colorido que o irmão brincava. A penumbra confortável e o cheiro de shampoo infantil amaciaram o coração pesado de Romulus, que tentou esquecer por um segundo tudo o que o preocupava em relação a um ano que prometia NIEM’s, emoções e, claro, os amigos mais selvagens que nunca.

“Ted?” sussurrou, ajoelhando e espiando entre as barras cor de areia que selavam o berço. Um resmungo veio debaixo da barrida saliente do dragão, e o menino apertou com mais firmeza o pescoço do animal, “Ted, daqui a pouco o trem vai sair, vim dizer tchau.”

O dragão mexeu um pouco mais, e as mãos pequenas e rechonchudas de Teddy foram do bicho para o colchão, buscando apoio para se sentar. Quando fez, uma cabeleira azul elétrica surgiu, e os olhos furta-cor do menininho trouxeram um sorriso bem humorado ao rosto de Romulus. Se tinha alguém que merecera ter nascido com o dom de Nymphadora, era Teddy, e desde que Jack e Adhara ensinaram o garoto a mudar a cor dos cabelos para tons exóticos, nunca mais vira os fios castanho-claros do irmão.

“Oi, bom-dia.” Disse, e Teddy acordou um pouco mais, esfregando os olhos.

“Rom vai embora já?” a voz sonolenta da criança de três anos soou desapontada. Romulus sentiu um aperto no peito, e esgueirou a mão por entre o berço para segurar as dele.

“É meu último ano, daqui a pouco estou de volta para brincar com você, hein.”

“Eu vou.” Respondeu Teddy, fazendo menção de se erguer do berço. Romulus sobressaltou-se, e se levantou para ajudá-lo. “Espera, eu vou, espera!”

“Hum, tem certeza, Ted?”

“Eu vou, espera!” o menininho começou a andar a passos sem muita firmeza até a porta, e apontou para o trinco fechado com resolução. Rom suspirou, e abriu a passagem.

Remus e Nymphadora estavam na cozinha, e a chaleira fervia a água magicamente enquanto a madrasta de Romulus usava um espelho portátil para mudar a cor dos olhos.

“O que acha? Esse,” ela fez uma careta pensativa, e mostrou as íris castanhas para o marido. Remus ergueu a cabeça do jornal calmamente. Tonks apontou para os olhos, e logo em seguida mudou-os de novo, dessa vez para verde esmeralda, que lembravam muito os de Lily, “ou Esse?”

“Os dois são bonitos, com qual se sente melhor?”

“Rom, tenha decisão, qual dos dois?” Nymphadora balançou a cabeça enquanto revirava os olhos, direcionando a pergunta para Rom.

“Hm, o castanho ficou menos artificial, acho.”

“Muito obrigada, pelo menos alguém diz o que pensa aqui!” ela riu, e Remus sorriu conformado para o filho. Teddy veio correndo por trás de Rom, ainda de pijamas.

“Teddy?” Remus franziu a testa, se levantando para pegar o filho mais novo no colo, “bom-dia!”

“Espera, eu vou no trem!” o garotinho insistiu, e Romulus olhou para o pai, cuja expressão havia mudado de confusa para compreensiva.

“Ele quer ir junto?” Tonks ergueu as sobrancelhas, se levantando rápido ao olhar para o relógio, “bom, então vou trocar de roupa, vem, filho!” e tomou o garoto dos braços do marido, sorrindo animada, “Vou ver o Expresso de novo!”

Romulus riu, se dando conta de que Tonks provavelmente teria gostado de acompanha-lo nos outros anos, mas não pudera para ficar com Teddy em casa, e sentiu uma onda de carinho súbito por ela. Se viu sozinho com Remus, e quando sentou-se para comer, percebeu que os fios brancos que pontilhavam os cabelos do pai tinham aumentado.

“Estou meio preocupado com os NIEMS.” Confessou, e esperou uma resposta. Remus tinha voltado a ler o jornal, e ao ouvir a voz do filho mais velho pareceu despertar-lhe dum sonho. Olhou para um ponto fixo, e coçou a testa. Romulus voltou a ficar tenso. Tinha dito alguma besteira?

“Rom,” Remus finalmente respondeu, baixando O Profeta para olhar para ele, “esse ano é um ano de crescimento, para todos nós. Eu... Eu sei que você vai ter coração forte para encará-lo como se deve, e que tem inteligência para cumprir qualquer tarefa que a vida lhe impuser, ok? Se ficar nervoso, é só pensar que tem duas famílias que te amam, e que nem eu, nem sua mãe, nem Dora ou Gideon, e muito menos Teddy, vamos te abandonar, entende?”

“Pode deixar, pai...” Rom olhou para os lados, sentindo-se subitamente desconfortável na cadeira. O ar ficara pesado.

Para alívio do garoto, Tonks explodiu para fora da porta, segurando Teddy em roupa completa de sair. “Andem, os dois, que hoje nós vamos sair!”

Romulus sorriu amarelo, e foi para o quarto buscar o malão. No caminho, olhou o relógio, e levou um susto. Tinha meia hora para chegar à Estação.

“Corre, todo mundo!” saiu em disparada arrastando o malão, e diante das expressões surpresas da família, apontou o relógio, “São dez e meia! Anda, anda!”

Se juntaram e Remus e Nymphadora o ajudaram a aparatar. Romulus fechou os lábios com força para não vomitar com o sentimento sufocante que era surgir na Estação, e olhou para os lados procurando por trouxas antes de sair desembestado novamente assim que os pés sentiram a firmeza do chão de King’s Cross.

Teddy soltou uma exclamação quando viu o Expresso de Hogwarts, e estendeu as mãos para o trem vermelho com entusiasmo. Romulus sorriu para ele, e procurou pelos amigos nas janelas do trem enquanto corria para guardar a mala no bagageiro. A cabeça de Adhara apareceu na metade de um vagão, gesticulando para ele correr. “Perdeu a hora, seu preguiçoso?” ela gritou, e Romulus riu. Teddy gritou de alegria quando a viu, e Adhara sorriu para ele. “E você, lobinho, veio também? Hey, Prongs, olha quem tá aqui! Oi, Teddy! Dá oi pra prima!”

Teddy acenou alegremente para ela, e conseguiu fazer com que Padfoot abrisse um sorriso gentil. Romulus se aproximou do pai, o abraçou (“não esquece do que eu disse, filho”), depois deu um beijo em Nymphadora (“vai dar tudo certo esse ano, fica frio!”) e depois pegou Teddy no colo. O garotinho o abraçou pelo pescoço, e Romulus fechou os olhos.

“Vou sentir tanto a sua falta, Ted.”

“Espera, eu vou no trem!”


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