Até que se Tornem Lembranças escrita por Aki Nara
Laura estava com a mão na maçaneta parada diante da porta, teve receio de entrar, para o que deveria se preparar? Era tão mais fácil saber o que fazer se fosse para encontrar o pai estatelado no sofá. Ela suspirou tomando coragem e abriu a porta sorrateiramente.
- Pai? Cheguei! – enfiou a cara temerosa – Tudo bem? O Joaquim me disse que nós temos visita, qual é a novidade?
Encontrou o pai com a cara vermelha e inchada, mas sóbrio. Ela ainda não tinha reparado na figura em pé a varanda, o “mulherão” era sua mãe ricamente vestida e ela acabava de se virar para olhá-la.
- Laura... – ela disse com os olhos marejados – você cresceu tanto.
- Quem é essa mulher? – fingiu não reconhecê-la. – Arranjou uma nova namorada?- usou de sarcasmo – Você tem muito mau gosto, pai.
- Arrume as suas coisas! – o pai segurava o rosto e disse áspero. – Você vai morar com ela.
- Por quê? – disse num desespero gritante. – E se eu disser que prefiro ficar...
- Eu é que não quero... – os lábios do pai tremiam – você é um estorvo pra mim – parecia que ia ter um treco pelo esforço de mentir – vai ser um alívio poder beber sem culpa.
Mudar de vida era o que ela sempre pediu a Deus em suas preces e agora que seu pai lhe dava essa chance, ela não sabia porque se sentia tão infeliz.
- Nem precisa se dar ao trabalho, filha – a mãe tentava comprar seu entusiasmo. – Você poderá montar o seu quarto como quiser...
Ela não quis ouvir o resto do discurso, seguiu o corredor que a levaria para seu quarto e bateu a porta ao entrar. Laura abriu o seu guarda-roupa, retirou apenas uma caixa contendo as coisas que guardou para suportar os maus momentos e saiu novamente.
- Se é para ir... – sentiu um nó na garganta. – Vamos logo! – saiu do apartamento decidida e esperou a mãe no elevador.
- Você não vai se despedir do seu pai? – ela apareceu depois de algum tempo, um tempo longo demais.
- Não é você que está sendo posta pra fora! – disse com raiva contida. – Vocês dois sempre decidem tudo como se eu não existisse e ainda querem que eu me importe?
- Só pensamos no melhor pra você, Laura! – a mãe disse incrédula por ser o alvo de tamanha raiva. – Quando você tiver filhos você vai saber como é.
- Graças a vocês – disse colocando toda raiva e frustração. –Eu nunca me casarei e nem terei filhos que são... – acrescentou cheia de mágoa – um estorvo.
Jaqueline Paes Vieira deu um longo suspiro para se encher de paciência, conquistar novamente a filha seria um trabalho árduo depois de dez anos, fechou a porta, apertou o botão, o elevador começou a descer e a distância até o térreo pareceu mais longa que o normal.
As duas sentiram um grande alívio quando o elevador abriu e o vento soprou no cubículo abafado. O vizinho do décimo andar esperava as duas saírem para entrar abarrotado de compras.
Laura nem se dignificou a falar com o porteiro curioso e saiu às pressas, com sua mãe logo atrás. Já era noite e às luzes dos postes estavam acesas, nada parecia diferente a não ser a surpresa de ver que o garoto estava parado junto ao carro estacionado em frente.
- Você demorou! – ele disse olhando em sua direção. – É ela?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
**Espero estar conseguindo deixar os capítulos em suspense.