Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 33
Dia 16, quarta-feira, 17 de agosto. (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu preciso dizer uma coisa. Eu acho que eu sou uma autora legal, sabe, não sou de atrasar, posto quase todo dia, não faço suspense com vocês e essas coisas. Então, agora eu resolvi fazer uma maldade. Dividi o último capítulo em TRÊS partes, hohohohoho (risada maquiavélica), só pra fazer um suspense fail, ok? Espero que vocês gostem mesmo assim :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/159744/chapter/33

   - Eu preciso que você acredite em mim, Lidia – Felipe continuou, levantando-se e andando pela sala. – Confesso que eu realmente me aproximei de você por vingança. Eu sei que não mereço seu perdão por isso. E, droga, Lidia, as coisas mudaram. Eu me apaixonei por você.

   Cada vez que ele dizia isso meu coração pulava uma batida. Eu só podia ficar lá, sentada, olhando para ele sem acreditar.

   - E eu sei que eu não fiz quase nada pra mostrar isso, pelo contrário – ele foi dizendo. – Mas certas coisas não podiam ter sido diferentes. Eu não podia ter te deixado ficar na casa da Renata, eu não podia ficar longe de você! E naquele dia em que eu a deixei sozinha...bem, eu tive que ir falar com meu pai, ele...ele começou a interferir, queria que você fosse embora, não só da minha casa, mas da minha vida!

   - Por que você não fez o que ele queria? – perguntei, sem olhar para ele.

   - Droga, Lidia! – ele exclamou, abaixando-se na minha frente, para poder olhar o meu rosto. – Era só você que importava, que importa, pra mim. Eu não quero mais nada da vida, só você. Eu percebi que o que você disse é verdade, nós não precisamos ser iguais aos nossos pais. Eu certamente não quero ser igual ao meu. E isso é outra coisa pela qual eu devo pedir desculpas. Meu pai fez sua mãe ser demitida quando eu contei que iria levar você para casa. Eu tinha acabado de chegar ao hospital, você ainda estava inconsciente e sua mãe ainda não estava lá, mas eu já sabia que não poderia deixar você.

   - Mamãe disse que você havia feito de propósito! – exclamei, surpresa.

   - Fazer sua mãe ser demitida? Lidia, eu confesso que queria vingança, mas não chegaria a esse extremo! O que eu tinha em mente era...partir seu coração...

   Uma lágrima escorreu por meu rosto.

   - Você conseguiu – eu disse.

   - Eu sei, mas com isso acabei partindo o meu também.

   Felipe enxugou minha lágrima com as costas da mão, depois começou a passar os dedos pelo meu cabelo.

   - Isso é sério? – perguntei.

   - O quê?

   - Que você me ama.

   Ele sorriu.

   - Lidia, eu nunca falei tão sério em toda a minha vida.

   Meu coração dava guinadas. Então era verdade. Sentia medo de acordar e descobrir que era tudo um sonho...mas não, não era. Felipe era real e estava ali. Por mim.

   Eu sabia que nada que eu vivesse ia superar a felicidade daquele dia. Nenhum momento seria tão perfeito e tão maravilhoso quanto aquele. Descobrir que eu era amada, amada, pelo dono do meu coração, pelo garoto que me fez amar mais do que eu imaginei ser possível...não dá pra descrever, Sr. Albert, é simplesmente a melhor sensação do mundo! É como acordar cedo de manhã para ir à escola e descobrir que é sábado, tomar um sorvete de limão num dia quente, acordar na manhã de natal só pra descobrir todos aqueles presentes embaixo da árvore, tirar 10 na prova de matemática, ficar acordada até tarde assistindo musicais dos anos 60 com a minha melhor amiga. Tudo isso junto multiplicado por mil. Todas as coisas que me fazem feliz...nenhuma delas chega perto do que eu senti quando finalmente percebi que ele estava falando a verdade.

   Eu o amo, Sr. Albert.

   E, finalmente, eu posso dizer. Ele também me ama.

   Ele me ama!

   As lágrimas caiam descontroladas como uma cachoeira pelo meu rosto, mas eu não me importava, joguei-me nos seus braços e o apertei até ficar sem ar. Não queria largá-lo nunca, nunca! O meu coração era dele, mas o coração dele, era meu! Eu sorria e chorava, o rosto enterrado na curva do seu pescoço, aspirando aquele cheiro que só ele tem, que me faz ficar arrepiada e querê-lo mais perto. Um cheiro que, agora, também parecia impregnado na minha pele. Suas mãos faziam carinhos nas minhas costas e juro que o ouvi fungar.

   O grande Felipe Madson chorando?

   Devo estar imaginando coisas.

   - Então, o que você acha – comecei, quando finalmente reuni coragem para soltá-lo, mas ainda segurando suas mãos – de consertar meu coração e deixar que eu conserte o seu?

   Ele sorriu. Seus olhos brilhavam.

   - Acho que foi a melhor ideia que um de nós podia ter. E vamos começar agora. Eu tenho uma coisa para você.

   Ele pegou seu casaco que estava numa ponta do sofá e tirou uma caixa fina de dentro dele. Prendi minha respiração. Ele se ajoelhou na minha frente e me entregou a caixa.

   - Estou com isso há dias, mas provavelmente você vai achar estúpido – ele disse, parecendo um pouco envergonhado. – Mas, por alguma razão, sempre me faz lembrar de você.

   Eu abri a caixa e lá estava a meia calça de que o Daniel havia falado. Comecei a rir descontroladamente e dei um rápido beijo nos lábios do garoto lindo ajoelhado na minha frente, em agradecimento. O sorriso parecia incapaz de abandonar meus lábios.

   Romântico? Não.

   Perfeito? Sim.

   Mudaria alguma coisa? Nada.

   Felipe me beijou gentilmente, afastando a caixa das minhas mãos. Acabamos os dois deitados no sofá. Ele parou de me beijar e ficou apenas olhando o meu rosto.

   - Você me ama, Lidia? – ele perguntou, parecendo um pouco inseguro.

   - Sim – respondi, sem medo, sem culpa. Essa simples palavra que, no momento, significava tanta coisa...foi maravilhosa de se dizer.

   - Mesmo depois de tudo o que eu fiz?

   - Você sabe como é, eu sempre fui meio idiota. Uma vez idiota, sempre idiota.

   Felipe voltou a colar os lábios nos meus. Pensei que ia começar a chorar de novo. Ai, Sr. Albert, ele me ama! Não canso de dizer isso, não mesmo! Ele é meu, Sr. Albert, e não consigo imaginar minha vida sem ele. Aconcheguei-me no seu abraço e ele dava mordiscadas no meu pescoço. Eu acariciava sua nuca e suspirava no seu ouvido.

   De repente ouvi o barulho da porta se abrindo.

   - Que pouca vergonha é essa?!

   Felipe e eu ficamos estáticos.

   Merda.

   Parecia que todo o terceiro ano, os professores e a Renata estavam ali, se espremendo para passar pela porta e ver melhor.

   Realmente, minha vida é um show de horrores, um atrás do outro. Quando eu penso que vai tudo dar certo...acontece alguma catástrofe.

   É lógico que o “que pouca vergonha é essa?!” tinha sido lançado pela Renata. Estava escrito na cara dela, ela estava se divertindo com a minha situação!

   - É, Felipe – alguém gritou. – Agora vai ter que casar!

   - Nossa! – outra pessoa fez coro. Não dava para discernir as vozes no meio de tanta gente. Principalmente porque todos estavam fazendo ruídos e comentários totalmente indecentes.

   - Ela te pegou de jeito!

   - Não sabia que tinham serviço de motel aqui!

   - Esses dois é que sabem o que fazer no meio de uma nevasca!

   MORRER.

   Era só o que eu queria.

   - Todos para fora! – Gritou Marta Borges para se fazer ouvir naquela balbúrdia. – Voltem para seus quartos.

   Todos foram relutantes, ainda conversando e rindo, enquanto ficávamos só Felipe, eu e aquela mulher horrível.

   O que aconteceu a seguir foi provavelmente a maior bronca que eu já recebi na vida, e olha que com a mãe que eu tenho isso não é pouca coisa não. Marta simplesmente cuspiu na gente toda a preocupação que eles tiveram, porque nós dois ficamos a noite toda desaparecidos, no meio de uma nevasca. Foi um caos, ela teve de ligar para os nossos pais, chamar a equipe de resgate e tudo o mais e, enquanto isso, nós estávamos nos dando bem naquela cabana!

   Depois de desabafar, Marta finalmente permitiu que nós déssemos nossas explicações. Eu estava tão chocada com as coisas acontecendo rápido daquele jeito que fiquei até aliviada de ver Felipe tomar as rédeas da situação e explicar tudo – com muita calma e paciência – para Marta.

   Na verdade, eu nem prestando atenção estava. Marta podia me mandar fazer 500 flexões que eu faria de bom grado e ainda estaria nas nuvens. Ele me ama! E, eu sei que é patético, mas eu só conseguia pensar nisso.

   Eu ainda não conseguia acreditar, mas ao mesmo tempo conseguia. É que era tão certo, mas também parecia impossível. Eu estava sentindo tantas coisas ao mesmo tempo que tinha medo de entrar em curto circuito!

   - Voltem agora para seus quartos – disse Marta, levantando-se e fazendo com que eu parasse de devanear. – Teremos de voltar mais cedo por causa da confusão que vocês causaram, os pais foram avisados e enlouqueceram. Sairemos ainda hoje e eu tenho certeza que seus amigos irão adorar a notícia! – terminou com sarcasmo.

   Saímos de cabeça baixa. Felipe nunca parava de me segurar pela cintura e eu me sentia protegida daquele jeito. Sim, definitivamente era certo. Eu não estava nem aí se as pessoas iam odiar a gente pelo resto da vida por termos estragado a viagem, tudo o que me importava era que Felipe estava comigo, e me ama.

   Eu não conseguia parar de gritar em pensamento: Felipe me ama!

   - Ela é definitivamente uma criatura demoníaca – sussurrou Felipe no meu ouvido, enquanto caminhávamos para o chalé.

   - Definitivamente – concordei. – Mas eu não me importo nem um pouco.

   - Quer saber? Nem eu.

   Chegamos no chalé e não havia ninguém na parte comum. Aparentemente todos já haviam sido avisados de que voltaríamos mais cedo. Podia apostar que a galera estava soltando fogo pelas ventas e logo direcionariam esse fogo para nós dois.

   Estava quase subindo as escadas quando Felipe me puxou e me pressionou contra ele. Com as costas encostadas no corrimão, deixei-me levar pelo seu beijo. Era tão bom beijá-lo sabendo que ele sentia as mesmas coisas que eu! E eu já conhecia tão bem aquele beijo, aquela boca, aquelas mãos que deslizavam pelas minhas costas...

  Ouvi um pigarro e Felipe interrompeu o beijo, mas não tirou sua mão da minha cintura. Olhei para onde ele estava olhando e, no topo da escada vi o Leo.

   Puta merda, logo quando eu pensava que tudo eram rosas, me acontece uma dessas. Sr. Albert, será que eu nem posso ter o meu final feliz? Quer dizer, eu ainda me sinto culpada e tudo por causa do Leo...caramba, o menino voltou por mim, me ama!

   Mas amor não pode ser forçado e eu não o amo da mesma maneira. Infelizmente, as coisas são assim. Mas...eu já estive do outro lado, ou pelo menos, pensei que estivesse, e sei como dói.

   Nenhum de nós disse uma palavra, mas eu podia cortar a tensão no ar com uma faca. Felipe apertava cada vez mais minha cintura e eu sabia que ele não estava gostando nada da situação. Eu estava para dizer algo quando Felipe se adiantou:

   - Eu vou indo para o quarto arrumar minhas coisas, Lidia. A gente se encontra depois, ok? – Dando-me um beijo leve na bochecha, Felipe subiu as escadas, desviando de Leo, e desapareceu de vista.

   Agora que eu sabia como ele morria de ciúmes de Leo, vi naquela atitude mais uma prova de amor. Eu precisava conversar com Leo, ele sabia disso, podia não gostar, mas sabia. E resolveu confiar em mim para resolver aquilo.

   Eu achava que já o amava o máximo que podia, mas me enganei. Eu amava Felipe ainda mais depois daquilo. Suspeitava que meu amor por ele iria continuar crescendo indefinidamente.

   - Leo – eu comecei. – Eu amo você, como meu melhor amigo, mas.. –

   - Sempre tem um “mas” – ele disse, descendo os degraus até parar na minha frente. - Não se preocupe, Lidia, o que eu mais quero é te ver feliz. E se aquele mauricinho metido é o que te faz feliz, não posso querer outra coisa para você.

   Lágrimas me vieram aos olhos e eu não tive vergonha de mostrá-las.

   - Oh Leo, eu sabia que você entenderia! – Dei um grande abraço nele e um último beijo em seus lábios.

   Ele sorriu para mim e me soltou. Seu sorriso era triste, não alcançava os olhos, mas era o que ele podia me dar agora. Eu sabia o que ele estava sentindo. A dor de um amor não correspondido, uma dor que te rasga de dentro para fora, que te domina, te possui, escurece tudo.

   Iria demorar um tempo, mas essa ferida, que agora sangrava, se cicatrizaria e faria de Leo uma pessoa ainda mais forte. Eu tinha orgulho dele. Ele era bem mais forte do que eu. Eu não resistiria.

   Subi e fui para o meu quarto, onde Renata já me esperava com aquele olhar inquisidor.

   - Se eu sou obrigada a voltar para casa antes do tempo e a culpa disso é sua – ela começou, com os braços cruzados na frente do peito numa postura do tipo “você não me escapa” – o mínimo que você pode fazer para se redimir é me contar, com detalhes, o que você e Felipe fizeram naquele chalé durante a nevasca.

   E eu contei. Contei tudo, nos mínimos detalhes. Renata era minha amiga mais íntima e mais querida. E eu não tinha mais ninguém com quem dividir aquilo, dividir aquele momento tão importante e tão feliz. Quer dizer, com quem mais eu vou levar esse papo? Mamãe, Leo, Fred? Hm...acho que não.

   É lógico que Renata ficou chocada, mas deu boas risadas e ficou feliz por mim, por eu finalmente me acertar com o amor da minha vida.

   - Eu sabia que vocês dois iam acabar ficando juntos pra valer – ela ficou dizendo. – Tá tão na cara que vocês se amam!

   E ela nem estava tão chateada por ter de voltar mais cedo. Arrumamos nossas coisas e Marta foi até meu quarto com um celular.

   - Para você, Brazzi – ela disse, com raiva, provavelmente por estar fazendo papel de menina de recados. Ou talvez seja porque Marta Borges está sempre com raiva.

   Meio desconfiada peguei o telefone, achando que devia ser mamãe. Mas, para minha surpresa, era meu pai! Ele começou a dar graças a Deus que eu estava bem, contar como ele e mamãe haviam ficado preocupados e todas essas coisas. Fazia tanto tempo que não ouvia a voz do meu pai! Nem percebera como sentia falta dele, de ouvir sua voz, de saber que ele se preocupava comigo, que sabia da minha existência. Fiquei com os olhos marejados. No final das contas, eu tenho um pai, Sr. Albert. E acho que ele se importa comigo.

   - E quanto àquele seu recado, filhinha – ele disse. – Já falei com a sua mãe e está tudo certo. Como você podia ter pensado que seria um fardo para mim? Helena está louca para conhecer você melhor e disse que sempre quis ter uma filha. Você sabe, os gêmeos às vezes são muito atentados, mas tenho certeza que Luca e Pedro vão adorar morar com a irmã mais velha!

    Senti como se uma faca perfurasse meu coração. Fria e cortante. Como eu pude ter esquecido disso? Da minha ligação desesperada para o meu pai pedindo para morar com ele? Como contaria isso para Felipe? Que eu agora iria morar com meu pai, no rancho, em outra cidade? Como eu viveria sem Felipe perto de mim?

   É, tava bom demais pra ser verdade.

   Minha vida é oficialmente uma merda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Maaaas, não se preocupem, eu vou almoçar e posto a terceira parte assim que acabar, ok? Beijos!