Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 20
Dia 10, quinta-feira, 11 de agosto. (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Sorry por só ter vindo postar agora e por só ter um capítulo pra postar =/ Vou ter prova sexta feira e meu professor é um dos enviados do apocalipse e parece que vive pra torturar os pobres alunos, então eu passei o feriado estudando *chora*. Mas ninguém me perguntou nada disse, então vamos ao cap :)



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   Acordei assustada no meio da noite. Olhei para o relógio e eram duas e meia da manhã.

   Rapidamente sentei na cama com a sensação de que alguma coisa estava errada. Levantei-me e manquei até a janela, abrindo-a sem fazer barulho.

   Olhei para aquela bela vizinhança, cheia de casas ricas, luxuosas e ostensivas, e me perguntei mentalmente: que raios eu estou fazendo aqui?

   Era isso que, só agora e no meio da noite, eu percebi que estava errado.

   Aquele não era meu lugar! Eu era uma intrusa.

   Totalmente.

   Olhei em volta do quarto e encostei minhas costas na parede. Meus olhos pousaram nas muletas que eu estivera usando nos últimos dois dias. Então pousei delicadamente meus pés no chão e dei dois passos. Tirando um certo incômodo no tornozelo, não sentia mais nada. Podia mandar aquelas muletas pro inferno.

   Havia tantas coisas (e pessoas) que eu queria mandar pro inferno.

   Tinha até uma lista.

   A primeira coisa com certeza seria aquela bota de vinil mega horrorosa que papai me deu no meu aniversário de catorze anos. Depois seria Felipe e mamãe. Ainda não tenho certeza se depois deles mandaria aquele gorro de lã que a vovó fez pra mim no último natal (o que me deixa com orelhas de abano) ou se seria o traidor duas caras do meu irmão.

   Com certeza minha vida sem essas coisas/pessoas seria drasticamente mais fácil.

   Resolvi voltar para a cama. De jeito nenhum que eu ia faltar aula amanhã. Não agora que eu tinha metido na minha cabeça que nem Felipe nem mamãe me diriam o que fazer ou onde morar. Estava farta de ter as pessoas mandando em mim como se eu fosse uma doente mental sem vontade própria.

   E, ok, um pouco dessa amargura toda se devia ao fato de Felipe ter dado o pé daqui ontem, me deixando às moscas (ok, talvez essa não seja a expressão certa, porque, com toda essa galera trabalhando aqui e satisfazendo cada caprichinho meu, eu certamente não estava ‘às moscas’).

   Ele podia ter, pelo menos, se dado ao trabalho de me dizer aonde ia. Ou me ligado, sei lá. Nós não estamos “teoricamente” juntos?

   E parece que toda a família sumiu também!

   Felipe não foi o único que não deu mais às caras ontem. Paula também não voltou mais e nem vou falar nos pais deles. Eliza Madson deixou a casa antes que eu pudesse sair do quarto e o marido dela...eu nem sabia o nome dele! Nunca tinha visto nem a cara da criatura.

   Será que todos eles têm o hábito irritante de ficar na rua até tarde, deixando a hóspede pra se virar sozinha em casa?

   Eu estava sim chateada com isso.

   Imagina só, Sr. Albert. A sua mãe acabou de expulsar você de casa por achar que você é uma vadia (esse é um caso hipotético, tenho certeza que o senhor não é uma vadia) só porque você transou com um riquinho (ainda que você não tenha transado), você acaba na casa do cara que você deveria odiar, mas que, por um truque canalha do destino, seu coração parece bater mais forte (idem pra esse ponto, também não acho que o senhor seja gay, ou se é, esconde muito bem). Além disso, esse cara é um arrogante metido a besta que te trata como se você fosse um cachorrinho. E depois, todo mundo some, te deixando sozinho numa casa estranha, com um punhado de empregados e o controle da TV a cabo.

   Dá pra entender por que eu estou tão carente?

   Iria embora com a Renata na manhã seguinte, estava resolvido. Nem morta que eu ia passar mais um dia naquela casa branca e fria.

   Principalmente porque, só estava percebendo naquele momento, que a cada minuto que eu passava lá, mais doloroso seria ir embora.

   Voltei para a cama, mas dormir foi impossível. Rolei entre os lençóis, contei carneirinhos, fiz de tudo, mas não consegui pregar os olhos. E quando o relógio marcou 6 da manhã, resolvi desistir e me levantar.

   Nem preciso dizer que estava em um estado deplorável. A pele pela qual agradeço a Deus todo dia por ter, estava cheia de marcas de lençol e estava com olheiras catastróficas embaixo dos olhos. Meu cabelo, normalmente ondulado, tinha a aparência de quem acabou de passar por um tornado.

   Eu sinceramente não estava nem aí. Queria que tudo se danasse. Minhas olheiras, meu cabelo, tudo.

   Tomei banho, mas nem me preocupei em passar corretivo em minhas olheiras nem em secar meu cabelo. Deixei-o escorrer molhado pelas minhas costas, molhando o uniforme novo que Alfie havia deixado no meu quarto ontem.

   Era certo que eu ia pegar um resfriado, mas, quem se importava?

   É, Sr. Albert, estou num momento de depressão intensa.

   É o que acontece depois de uma noite inteira rolando no colchão, pensando em como você é estúpida por gostar de um cara que, obviamente, não te dá a mínima.

   Ok, eu vou parar de me lamentar por aí. Me preocupo com o senhor, Sr. Albert, já que qualquer pessoa que ler este diário pode pensar em suicídio como uma possibilidade plausível.

   Vesti-me com uma lentidão impressionante, penteei (pelo menos isso) meus cabelos encharcados e escovei os dentes. Não passei nem um brilho labial nos lábios. Eu estava numa fossa.

    Saí do quarto antes das 7 da manhã. A casa parecia abandonada, sabe como é, tipo aquelas casas de filme de terror, cujo único ruído são os passos da protagonista desavisada, até que um zumbi pula da escada e mata todo mundo de medo.

   Hm, pelo menos não vi nenhum zumbi até o caminho para a sala de jantar, onde tinha sido servido o café da manhã ontem.

   Havia duas empregadas colocando a mesa do café da manhã. Uma era a mesma que entrara com o telefonema para Felipe ontem e a outra era uma coisinha bonitinha e loira que eu ainda não tinha visto.

   Até as empregadas daqui são bonitas, que injustiça...

   - Bom dia, senhorita – a que eu já conhecia falou. Não me pergunte o nome dela, não tenho a menor ideia. – O café ainda não está na mesa e –

   - Ahn... – interrompi, desconfortável. – Não tem ninguém em casa?

   - Ah, estão todos em casa, mas ainda não levantaram.

   - Ótimo – disse, pegando uma maçã que estava numa cesta de frutas perfeitamente arrumada em cima da mesa. – Avise Felipe que eu não pude esperar por ele.

   Ah, a vingança é doce!

   Saí rapidinho de lá, com um sorrisinho nos lábios. Atravessei a enorme porta e fui atingida pelo ar gelado da manhã. Adorei.

   Meu humor melhorava à medida que meus passos me levavam pra longe daquela cela luxuosa que era a casa de Felipe para mim.

   Eu não sabia se o ônibus da escola passava por aquele bairro. Provavelmente não. Bom, não era o fim do mundo.

   Liguei para Renata.

   - Renata, sou eu – disse, quando ela atendeu.

   - Oi Lidy – ela disse, meio surpresa. – Não vai me dizer que você não vai pra aula de novo?

   - Não, não é isso. É que eu tô precisando de uma carona.

   - Como assim? Felipe não vai te levar para a escola?!

   - É que eu quero chegar cedo hoje e ele ainda estava se vestindo quando eu saí. Você não pode pedir para o motorista do ônibus passar por aqui?

   - Pedir eu posso, mas ele só vai rir da minha cara.

   - Droga! Eu não tenho um centavo furado pra pegar um ônibus e vou chegar só amanhã se for a pé.

   Renata suspirou.

   - Sempre dramática. Te acalma aí, vamos dar um jeito. Onde você tá?

   Dei o endereço.

   - Acho que tem um lugar aí perto por onde o ônibus passa, mas você vai ter que dar uma pernada.

   - Tá falando sério?

   - Aham, mas você vai ter que esperar um pouco. Quando o ônibus da escola chegar aqui em casa, eu pergunto para o motorista o lugar e te digo.

   - Mas quanto tempo ele ainda vai demorar para chegar?

   Ouvi um barulho de buzina.

   - Acho que hoje é seu dia de sorte, garota, ele acabou de chegar.

   Depois de pegar a informação com o motorista e me passar o endereço, Renata me mandou correr e desligou o telefone.

   Eu teria de correr, e literalmente. O lugar não ficava assim tão pertinho do bairro de Felipe e o ônibus estaria passando por lá em mais ou menos meia hora.

   Maravilha.

   Bom, eu não poderia correr, isso é lógico. Tinha torcido o tornozelo há apenas dois dias e, se a minha capacidade de recuperação não tivesse se desenvolvido maravilhosamente devido a anos de prática (minha falta de coordenação começou no momento em que nasci, provavelmente) eu ainda estaria presa àquelas malditas muletas.

   Que diabo eu ia fazer?

   Pense, Lidia, pense.

   - Lidia!

   Alguém chamou meu nome, mas não consegui identificar nem a voz nem a direção de onde ela tinha vindo.

   - Lidia, aqui!

   Olhei para a esquerda e vi que quem havia me chamado. Um cara alto, forte e loiro. Ele estava parado em cima de uma moto enorme do outro lado da rua. Vestia calças jeans justas que não deixavam muita coisa para a imaginação, e uma camiseta cinza. Christian era um cara muito lindo.

   Atravessei a rua e fui até ele.


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Notas finais do capítulo

A parte 2 sai já já :)