Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 17
Dia 8, terça-feira, 9 de agosto. (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu, saí mais cedo da aula hoje :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/159744/chapter/17

   - Está se sentindo bem? – Felipe me perguntou pela terceira vez enquanto estávamos no carro.

   - Sim. Não. Não sei – respondi, olhando pela janela.

   Ainda não podia acreditar naquela situação. Felipe tinha se acalmado um pouco e estava visivelmente embaraçado pelo modo como gritou comigo mais cedo, mas mesmo assim, eu continuava sem entender nada.

   Felipe me segurou pelos ombros muito suavemente e me fez encará-lo.

   - Eu vou cuidar de você enquanto estiver na minha casa. Nada de ruim vai te acontecer, eu prometo. – ele disse, e parecia sincero.

   Apenas assenti com a cabeça. Tinha desistido de tentar entender as nuances do humor de Felipe. Era coisa de outro mundo.

   Transtorno bipolar, oi?

   - Por que você fez todo mundo pensar que era meu namorado? – perguntei de repente. Ele ainda não havia me soltado e eu sentia o calor agradável das mãos dele através do tecido da minha blusa.

   - Essa situação será bem mais fácil se as pessoas pensarem que nós temos algum tipo de envolvimento – ele disse, indiferente.

   - Envolvimento? – ecoei, soltando-me dele.

   - É.

   - Eu não entendo aonde você quer chegar. Me explique tudo do início. Em primeiro lugar, por que eu estou aqui e não na minha casa?

   - Porque sua mãe fez um acordo comigo.

   - Um acordo? – perguntei horrorizada. – Que espécie de acordo?

   Felipe respirou fundo, como se estivesse entediado de ter que explicar as coisas para mim.

   - Ela está desempregada, infelizmente para ela e felizmente para mim – ele começou. – Eu apenas me aproveitei um pouco da situação. Lembra daquele emprego que eu lhe ofereci?

   Assenti, cautelosa.

   - Pois é. Eu disse para sua mãe que ela teria o salário que eu havia lhe prometido se você ficasse na minha casa sob responsabilidade minha e – ele engoliu em seco antes de completar – de minha família.

   Eu. Vou. Matar. Esse. Garoto.

   E a minha mãe também.

   - O QUÊ?! – gritei, chocada, controlando cada músculo do meu corpo, já machucado, para não voar no pescoço do Felipe. – Minha mãe literalmente me vendeu para você?! Eu não acredito que vocês fizeram isso! É ilegal!

   - Não seja tola, Lidia. Ela não vendeu você. Foi só um acordo. E você deveria me agradecer, afinal, será tratada muito melhor na minha casa do que na sua. Ainda mais agora que sua mãe pensa que dormimos juntos...

   - Claro, porque você convenientemente abriu a boca. Seu idiota! A culpa é toda sua! Meu Deus, eu não sei nem por onde começar a acusar você! Por que você foi contar a ela sobre aquela noite? Ela nunca ia descobrir e, além disso, não aconteceu nada entre nós! E eu não vou ficar na sua casa!

   - Você não tem escolha!

   - Você é um teimoso!

   - E você é uma ingrata! Se não fosse por mim, você poderia estar morta agora! E tudo porque essa sua cabeça escolhe as piores horas pra esquecer de funcionar!

   É, Sr. Albert, ele conseguiu me calar.

   Virei o rosto para o outro lado, para que ele não pudesse ver a expressão em meu rosto. Ele estava certo. Eu poderia estar morta agora se não fosse por ele e nem mesmo agradeci, aliás, eu o estava tratando como a um inimigo. Mas é o que ele é, ou não?

   Estava com tanto remorso que nem me toquei que ele estava me ofendendo.

   Ai, Sr. Albert, me diga o que fazer!

   - Olhe, eu não quis dizer isso, eu... – Felipe disse, parecendo sem palavras pela primeira vez na vida. – Droga, Lidia! Por que você sempre torna as coisas mais difíceis? Eu estou tentando ajudar você!

   - Você escolhe os jeitos mais estranhos para isso – ok, eu precisava dizer isso.

   Para minha surpresa, ele riu. E me puxou para ele até minhas costas encostarem em seu peito. Passou os braços pela minha cintura e apoiou seu queixo no topo da minha cabeça.

   - Vamos tentar começar de novo, Lidia. Não temos que brigar o tempo todo, isso me deixa exausto. Podemos tentar ser amigos.

   Olhei para ele e comecei a rir descontroladamente.

   Ele me olhou, consternado.

   O que só me fez rir mais.

   - O que há de tão engraçado no que eu disse? – ele perguntou.

   - Eu não sabia que você estava tão carente a ponto de fazer tudo o que você fez desde que me conheceu só para ficar meu amigo! – disse e me pus a rir. – Eu sei que eu sou legal demais, você não teve como resistir.

   Eu só estava provocando-o, é claro, mas ele ficou visivelmente irritado e teria dito alguma coisa desagradável se nesse momento o motorista não tivesse dito:

   - Chegamos.

   Olhei a casa de onde havia fugido com tanto ímpeto alguns dias atrás. Naquele dia ela me parecera assustadora, mas não era nada comparado ao que eu sentia agora.

   Como seria morar ali? Como seria a família de Felipe? Isso estava realmente acontecendo?

   Só agora a ficha estava caindo. Eu ia morar com Felipe Madson.

   O garoto que eu conheço há pouco mais de uma semana.

   O garoto que representa tudo que eu abomino.

   O garoto que fez de meus últimos dias um inferno.

   O garoto por quem eu estou perdidamente apaixonada.

   Preciso realmente dizer o quanto eu estou ferrada?

   Felipe ajudou-me a descer do carro e entregou-me as muletas que eu precisava para andar, ainda mal-humorado por causa do meu comentário sobre sua carência. Como se algum dia eu pudesse imaginar Felipe Madson carente, estava apenas provocando-o.

   Meu tornozelo continuava inchado e enfaixado, mas eu não sentia nenhuma dor, cortesia do médico que me deu analgésicos suficientes para uma vida. Fiquei parada por um momento na frente do carro, apenas olhando a magnífica construção que era a casa de Felipe. Eu já havia estado lá, eu sei, mas era impossível não me admirar com a grandiosidade e a beleza da casa vitoriana. Perguntei-me se conseguiria viver ali e por que, aliás, eu deveria viver ali. Apesar de bela, aquela casa tinha uma aura misteriosa que, assim como seu ocupante, me atraía e assustava ao mesmo tempo.

   Felipe deve ter reparado que eu hesitava em entrar novamente naquele lugar e ficou ainda mais irritado do que já estava.

   - Qual é o problema agora? – grunhiu ele, empurrando-me sem muita consideração em direção à entrada. – Você olha para a minha casa como se fosse a toca do lobo.

   - Talvez porque seu morador se pareça muito com – murmurei, contrafeita.

   Ele riu, áspero, antes de abrir a porta e colocar-me para dentro bruscamente. Bati meu tornozelo na porta e senti uma pontada de dor, mas ele não reparou.

   Quanta delicadeza, namorado.

   - “Você deveria me agradecer, afinal, será tratada muito melhor na minha casa do que na sua.” – resmunguei baixinho, mas não tenho certeza se ele ouviu ou não.

   Felipe me conduziu até um quarto exatamente ao lado do dele. Era branco e inumanamente limpo, um pouco menor que o dele, com uma grande cama coberta por uma colcha verde, um armário enorme, uma cômoda e uma mesa de madeira antiga.

   Felipe colocou minha pequena mochila na mesa e voltou-se para mim, que estava encostada na porta.

   - Eu...- ele começou, parecendo olhar para todo canto menos para mim. – Eu espero que...quero dizer, eu gostaria que...

   - Que o quê? – perguntei, achando graça da maneira como ele estava desconcertado. Nunca pensei que viveria o suficiente para ver o Madson com vergonha.

   - Lidia... – ele disse, finalmente olhando para mim, ainda estava aborrecido, dava para ver, mas também parecia meio encabulado. – Eu tenho uma família um pouco estranha e eu realmente gostaria que você se sentisse bem na minha casa, então é melhor não ligar para minha mãe e minha irmã. Principalmente minha irmã.

   - Eu nem sabia que você tinha uma irmã – disse, surpresa, enquanto me sentava na beira da cama. – Aliás, eu não sei quase nada sobre você enquanto que você sabe muito sobre mim.

   Ele me olhou nos olhos antes de sentar na cama ao meu lado.

   - Sei mais do que pensa.

   - Está vendo? – disse, tentando não pensar no que ele queria dizer com essa declaração. – Não é muito justo.

   - Eu sei.

   Só faltou ele dizer que o mundo não é justo. Eu realmente mereço isso?

   Respirei fundo. Pelo visto ele não ia me dizer mais nada sobre si próprio. Resolvi mudar de assunto.

   - Então, seus pais concordam em me manter aqui? Por um tempo, é claro.

   - Sim, meus pais concordam em mantê-la aqui – respondeu passando os dedos de leve nas costas da minha mão, que estava apoiada na cama, fazendo com que um arrepio perpassasse meu corpo todo. – Por um tempo, é claro – acrescentou.

   - Hum...Felipe? – comecei, meio incerta, tirando minha mão do alcance dele.

   - O que é?

   - Eu queria, você sabe, agradecer por... por ontem, quando....quando você me achou... – senti minhas bochechas pegarem fogo, pois todo esse acontecimento me lembrava dos beijos, maravilhosos, diga-se de passagem, que havíamos trocado.

   Mas o negócio é que eu não devia estar pensando nesses beijos. Eu não sei o que levou Felipe a me beijar, talvez para eu me sentir melhor, não sei. Só sei que pensar nesses beijos vai me deixar vulnerável e se eu ficar vulnerável Felipe vai me afetar ainda mais do que me afeta, e se isso acontecer é capaz de ele descobrir meus sentimentos por ele e não sei que reação seria pior: o escárnio ou a pena.

   Qualquer um dos dois acabaria comigo.

   Eu ia morar com ele agora, meu Deus! Estaria mais exposta do que nunca! Teria que fazer de tudo para ele não perceber como eu tinha amado aqueles beijos e como estava completa e loucamente apaixonada por ele a ponto de fazer qualquer coisa por uma migalha de afeição. Como tremia cada vez que ouvia sua voz e como meu coração pulava no peito ao menor toque de sua pele na minha.

   Sr. Albert, só lhe faço uma pergunta: por quê?

   Por que essas coisas só acontecem comigo?

   Tomei um susto quando percebi a mão de Felipe no meu queixo, virando meu rosto para ele.

   - Você está me agradecendo por ter te salvado ou é por outra coisa...? – perguntou, com voz baixa, olhando nos meus olhos.

   - E-eu – gaguejei, estava ficando mais difícil respirar cada vez que ele aproximava mais seu rosto do meu. Filho da.. – É claro que...bem...eu...

   - Por que nós não tentamos de novo?

   - T-t-tentar? Tentar o quê? – gagueira, já pode ir embora, por favor.

   - Lidia, não seja cansativa. Eu sei tão bem quanto você que nenhum de nós dois tirou aqueles beijos da cabeça.

   Minhas mãos estavam apertando a barra da minha blusa, meus olhos completamente dominados por aqueles orbes verdes, que começaram a baixar para a minha boca. Eu sabia que ele ia me beijar de novo, Sr. Albert, mas não fiz absolutamente nada!

   Pelo contrário! A esperta aqui ainda facilitou, levantando o rosto para ele. Eu até podia sentir a respiração quente dele na minha bochecha, a mão dele passando do meu queixo para a minha nuca...

   - Felipe, mamãe está na sala esperando você e a sua... –

   Felipe largou-me no mesmo instante e eu quase perdi o equilíbrio.

   Empertiguei-me e olhei a garota que havia entrado no quarto sem bater e interrompido aquela....aquela besteira que nunca devia nem ao menos ter chegado perto de acontecer!

   A garota parada na porta era alta, loira, com os grandes e profundos olhos verdes do Felipe e estonteantemente bonita. Estava usando um vestido de algodão azul, que marcava a cintura, e sapatilhas. Seu cabelo era curto e fino, não chegava nem aos ombros e era cortado de modo irregular. Só podia ser a irmã de Felipe.

   - Bem – ela disse, com uma risadinha. – Eu vim para dizer que mamãe está na sala esperando você e a sua...bom não sei se digo hóspede ou namorada.

   Engoli em seco muitas vezes, mas não fui capaz de falar nada.

   - Não seja estúpida, Paula – Felipe disse, levantando-se bruscamente. – Esta é Lidia. Diga à mamãe que já estamos indo para a sala.

   - Hum, e você acha que eu vou deixar vocês dois sozinhos aí e correr o risco de fazer mamãe continuar esperando um bom tempo até que as coisas esfriem por aqui? – Paula disse com uma expressão divertida. – Nem pensar, irmãozinho. Venha Lidia, vamos deixar o garanhão aqui e conhecer a sua sogra.

   Quase engasguei. A loucura é de família? Olhei Felipe pelo canto do olho e percebi que ele estava tremendo de raiva. Paula se adiantou e me ajudou a levantar, mas Felipe a tirou de perto de mim e ele mesmo me ajudou a chegar até a sala.

   No corredor, sussurrou no meu ouvido:

   - Eu quero você o mais longe possível de Paula, entendeu? Se eu souber que as duas estão por aí de amizade, você está ferrada.

   Não disse nada, afinal, o que poderia dizer? Não me entenda mal, Sr. Albert, eu estava totalmente planejando fazer amizade com a irmã dele, só não ia bancar a estúpida e fazer isso na frente dele. Felipe é muito mandão, a maior parte das vezes. E detesta ser contrariado. E eu realmente estava pensando que se eu não o irritasse talvez nós pudéssemos continuar o que estávamos fazendo...

   Ok, parei.

   Paula foi na frente e, como eu sou um pouco lenta com as muletas, quando chegamos na sala, ela já estava sentada ao lado da mãe. Uma mulher elegante, de meia-idade, com cabelos tão loiros e curtos quanto os da filha, os olhos parecendo duas piscinas azuis, adornados por sobrancelhas finíssimas.

   Sério, tem algo errado com essa família! Por que todos eles são tão atraentes?

   - Oh, você deve ser Lidia – disse a mãe de Felipe, levantando-se para me cumprimentar.

   - Olá Sra. Madson – eu disse, meio envergonhada. – Muito obrigada por me receber.

   - Por favor me chame de Eliza – ela pediu, sorridente. – E é um prazer tê-la aqui.

   Paula se levantou e se posicionou ao lado da mãe.

   - Eu estava para contar as boas novas para a mamãe, Felipe – disse Paula, sem conter uma risada ácida. – Parece que Lidia não é só uma amiga, não é Lidia?

   - Ahn? E-eu... quer dizer, não é isso... – gaguejei.

   Felipe de repente colocou a mão no meu ombro e declarou:

   - Queríamos fazer uma surpresa para mamãe, Paula, mas você, como sempre não consegue controlar a sua língua.

   - Do que vocês estão falando, crianças? – Eliza perguntou, mas com um sorrisinho nos lábios.

   - Lidia e eu estamos juntos – Felipe disse, com uma careta. Tive que me controlar pra não soltar um “olha aqui, meu filho, quem inventou todo esse papo foi você, então não vem com careta pra cima de mim”, até porque queria que a mãe dele achasse que eu sou normal.

   Apesar de não ser mesmo.

   - Juntos? – Eliza ecoou, parecendo indignada. – O que você quer dizer com isso, Felipe?

   - Significa que Lidia e eu –

   - Eu sei perfeitamente o que significa – ela interrompeu. – Mas que absurdo! Quero saber o que você tem nessa sua cabeça. Essa não foi a educação que eu lhe dei. Pelo amor de deus! “Estamos juntos”, que expressão mais vulgar! Sua namorada merece mais respeito.

   Eu estava boiando no meio da confusão. Ainda não tinha me acostumado com esse papo de ser a namorada.

   - Desculpe mamãe – Felipe disse, contrariado. – Lidia é minha namorada.

   - Bem melhor – exclamou. – Oh, Paula, não é maravilhoso? Felipe finalmente escolheu uma garota decente para namorar!

   - Decente? – ecoei, chocada.

   - É – Paula respondeu. – Felipe saía com cada tipinho que eu vou te dizer...

   Imagino.

   - Paula, mãe, chega! – Felipe gritou, zangado. – Venha Lidia.

   Felipe me carregou escada acima antes que eu pudesse protestar e me levou para a biblioteca.

   Ele me fez sentar numa poltrona e sentou em outra, ao meu lado.

   - Que palhaçada foi aquela lá embaixo? – perguntei.

   - Você ouviu – ele respondeu apenas.

   - Então agora eu sou sua namorada, é?

   - É.

   - De verdade ou de mentirinha?

   Ai. Meu. Deus. Sr. Albert me dê um tiro! Como eu não fui controlar minha língua? A pergunta saiu sem eu nem perceber e eu quis poder engoli-las de volta na mesma hora.

   Felipe me olhou com um sorriso torto.

   - Você prefere de que jeito? – perguntou.

   - De nenhum – menti, com voz firme. Ou pelo menos rezei para que ela saísse firme.

   - Você não sabe mentir, Lidia.

   - O que você está insinuando?

   - Eu não estou insinuando nada, estou afirmando.

   - Ah é? Afirmando o quê?

   - Você talvez não queira ser minha namorada, mas certamente quer os benefícios que isso traz.

   - O quê? O que você está tentando dizer com isso?

   - Lidia, nem adianta tentar me enganar. Eu nunca vi uma garota gostar tanto de um beijo como você.

   Engasguei de verdade e comecei a tossir. Felipe riu.

   - Por acaso eu fui o primeiro a fazer isso? – perguntou curioso.

   - Claro que não! – respondi sem pensar. – Não que seja da sua conta.

   Felipe me olhou um pouco mais sério.

   - Ah é? – disse. – E quem você andou beijando antes de mim?

   Ri. Esse garoto existe mesmo?

   - Como se eu fosse mesmo ficar fazendo uma lista dos meus namorados só para contar para você.

   Tudo bem que eu exagerei um pouco. Namorado era a palavra certa, já que eu só tive um, mas Felipe não precisava ficar sabendo disso né? Nem que os beijos dele superavam os de Leo de todas as maneiras possíveis.

   - Namorados? – Felipe perguntou, sem nenhum vestígio de sorriso no rosto. – Quantos foram?

   - Ah, até parece que eu vou me lembrar, quanto mais te contar – respondi, com um dar de ombros. E tudo bem, eu estava meio que contando uma mentira, mas ei, eu não ia deixar que Felipe pensasse que eu era um bebezinho. Não que eu fosse, é claro, mas se ele soubesse que eu só tive um namorado na vida e que nunca beijei ninguém além do Leo, e dele mesmo é claro, eu ia ser zoada pelo resto da vida.

   - Lidia, você vai me contar quantos foram agora – ele ordenou.

   - Ah Felipe, chega. – ele não ia mesmo parar com isso? – Eu só tive um namorado, está bem?

   - Só um?

   - Só um.

   - Como é o nome do infeliz?

   - Você não pode estar falando sério.

   - Lidia, me diga o nome dele.

   Suspirei e então disse:

   - Leo. Satisfeito?

   - Não até que você me diga que ele está morto.

   Por que, você vai querer matá-lo? Ainda bem que o Leo vazou da cidade há muito tempo.

   - Ele está num lugar bem longe daqui, isso basta?

   - Eu não quis dizer morto de verdade. Eu quero saber se ele está morto aqui.

   Felipe tocou com delicadeza meu coração.

   Olhei para a mão dele e pensei no que ele quis dizer. Fiquei muito confusa na hora, mas Felipe continuava sem se mexer, esperando uma resposta.

   Eu poderia mentir, é claro, mas algo me disse que seria melhor que Felipe soubesse a verdade.

   - Não, ele não está morto.

   Felipe levantou-se e virou de costas para mim.

   - Eu não diria que você é minha namorada se isso não fosse para ser de verdade – disse.

   Como é que é?

   Fiquei totalmente parada, sem saber que sentido dar as suas palavras.

   Felipe virou-se para mim e se abaixou até seus olhos estarem no mesmo nível que os meus.

   - Eu vou tirar esse Leo e quem quer que seja do seu coração – disse. – Não me importa o que você quiser, só há lugar para um aí dentro. Eu.

   Ele me deu um rápido beijo nos lábios e saiu.

   Depois de alguns minutos eu fui mancando para o meu quarto, ainda chocada com suas palavras.

   Então ele quer que eu me apaixone por ele?

   Deitei-me de costas na cama. Em que confusão eu fui me meter, Sr. Albert!

   Ainda não consigo acreditar em tudo o que ouvi. Será que eu estou delirando? Ok, eu sei que não, mas é que... é tudo tão irreal.

   Como Felipe pode ser tão egoísta? Como ele pode querer que eu o ame sem me dar nenhuma migalha de amor em troca?

   Bom, pelo menos posso tirar duas coisas boas de tudo isso. A primeira é que, se Felipe quer que eu me apaixone por ele, é porque ainda não percebeu que eu já o amo. E a segunda é...bom, ele me quer como sua namorada de verdade. Sei que vai contra o bom senso mas...o fato é que eu o quero também.

   Deve ser o excesso de analgésicos.

   Ok, estou mentindo para mim mesma. Dopada ou não, o que eu sinto por ele não muda.

   Sabe, Sr. Albert, você devia ver como é bonita a noite na casa de Felipe. A luz da lua reflete na alvura dos aposentos e ilumina tudo com uma luz azulada e suave. É lindo. Talvez eu peça para a mamãe pintar meu quarto de branco quando eu voltar. Vou querer ter uma lembrança do que é viver aqui quando eu for embora, eu sei.

   Eu queria tanto ver Felipe agora, mesmo sabendo que ele é um egoísta sem coração. Contar para ele que Leo ainda está no meu coração, mas apenas como um grande amigo e uma lembrança doce. E que o único dono do meu coração é ele, Felipe.

   Sou masoquista, mas eu não serei tola a ponto de fazer isso, Sr. Albert, eu juro.

   Tudo bem, eu posso aproveitar o que Felipe quer me dar agora, mas eu não sou estúpida a ponto de pensar que ele gosta de mim como eu gosto dele. 

   Eu sei que qualquer coisa que aconteça entre nós, vai ser linda, pois cada batida do meu coração grita por ele e quando o amor é verdadeiro, cada momento juntos é especial.

Mas eu também sei que, o que quer que aconteça entre nós, será efêmero.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ficou meio grandinho, mas espero que vocês gostem. Como disse, não gosto muito desse capítulo...Beijos e até amanhã :)