Yuki Spiegel Kronika escrita por Petit Ange


Capítulo 2
Capítulo 2: A Mensagem Dourada da Bruxa




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YUKI Spiegel Kronika
Petit Ange

 

 

Capítulo 2.

 

[ ... ].

A cena não podia ser mais atípica: num minuto, cada qual estava vivendo sua vida, seus próprios fantasmas. Agora, três desconhecidos, dois no meio de uma apresentável sala totalmente branca e outro tocando na porta que levava à mesma, encaravam uma silhueta parada bem em frente deles.

Aquela pessoa fechou os olhos para reabri-los com um suspiro no instante seguinte, e passou a encará-los, um por um. Perscrutou a face de cada um; do rapaz loiro de capa rubicunda, do homem de branco com um cajado e do garoto militar de olhos que misturavam o âmbar e o mel. Os três também ficaram estáticos, devolvendo o olhar. Aquela pessoa que os encarava era uma mulher baixa, que devia medir no máximo 1m60cm, com longuíssimos cabelos verde-escuros que ondulavam até o fim e seus olhos eram tão verdes que pareciam até ter roubado a clorofila das plantas que ali haviam, totalmente brancas.

Depois de momentos que pareceram uma eternidade, ela ajeitou a capa de sua vestimenta melhor sobre os ombros alvos e um novo sorriso breve apareceu na face.

Sejam bem-vindos ao meu refúgio.”

Seu refúgio...? Quem é você, hein? Por que estamos aqui?” – foi o que aparentava ser o mais jovem que perguntou.

Uma pergunta pela qual eu esperava, jovem Souma.”

Você... Você sabe nossos nomes...?” – o homem de longa capa branca que balançava como as cortinas teve um piscar surpreso de olhos ao notar o fato.

É claro que sei, senhor Nami...” – ela permitiu-se ficar olhando-o, parecendo deveras intrigada com ele, antes de inclinar a cabeça para o lado. – “O senhor pretende ficar aí, Mausi?”

O rapaz, até aí quieto, não acreditando na situação que estava vivenciando, sobressaltou-se brevemente ao ouvir a voz dela chamando-o. Não tinha memórias de ter-lhe dado o nome, mas então lembrou-se da própria pergunta do outro desconhecido, que sanava essa sua dúvida: de alguma forma, aquela mulher sabia seus nomes. O de todos eles estavam corretíssimos, pelas caras que faziam.

Não. Você tem razão, não pretendo ficar aqui.”

O loiro caminhou até ficar ao lado do outro garoto dos cabelos dourados, e olhou de relance para os outros dois estranhos, tão intrigado quanto os mesmos.

Permita-me perguntar-lhe, por favor... A senhorita, por acaso, seria ou conhece a Arael Magister...?” – Nami arriscou.

Esta é minha alcunha, senhor Nami, Arael Magister.” – ensaiou uma mesura afetada. – “Entretanto, podem chamar-me pelo meu nome, Mitiko Denwa[1], se desejarem.”

Oh...!” – ele exclamou, em pura surpresa. – “Eu estava procurando a senhorita! Tenho-lhe um pedido a fazer... Um grande favor!...”

Eu sei. Vocês todos têm um grande pedido a fazerem. Apenas não sabem disso.”

Ela voltou a olhar nos olhos de cada um deles, individualmente, como se os sondasse, analisasse de alguma forma; encarou orbes douradas, outras da cor do âmbar reluzente e outras igualmente áureas.

Deixe-me adivinhar...” – começou. – “Certamente, vocês estavam cuidando de suas vidas, quando pessoas que prezavam caíram por terra de repente. Vocês, então, viram um brilho tênue e azulado em seus peitos, algo que parecia um caco de vidro. Então, elas pararam de respirar, esfriaram rapidamente, como se tivessem subitamente morrido. Foi isso que aconteceu, não?”

Um choque elétrico passou pelas espinhas dos três ali presentes. Parecia que aquela mulher de longos cabelos esverdeados e esvoaçantes sabia exatamente o que acontecera com todos eles. Como se, de alguma forma, ela estivesse bem ao lado deles, uma presença etérea no ar, invisível, presenciando o acontecido.

Vo... Você sabe...?!” – o menino loiro foi o primeiro a pronunciar-se verbalmente depois do susto da revelação.

Eu sei. Estive observando-os. Eu sabia que isso iria acontecer com vocês.”

Não havia um meio de...?” – Mausi parecia temeroso de pronunciar o resto de sua pergunta, contido por uma repentina onda de acanhamento.

Infelizmente, não. Isso estava predestinado a acontecer, sem possibilidade de interferência.” – e ela entendeu-o e até lhe respondeu do jeito que ele não queria ouvir.

A mulher afastou uma mecha de cabelo que caía-lhe pelo ombro.

Graças à este destino, entretanto, três seres distintos puderam hoje encontrarem-se. Isso também estava predestinado.”

Ao ouvir a referência à ‘seres diferentes’, Nami encarou os outros dois que o acompanhavam naquela agonia. Agora que a Arael Magister falava, de fato, eles emitiam uma aura que ele nunca havia sentido antes. Aura de um ser vivo, mas ao mesmo tempo, diferente das que estava acostumado a sentir.

Um tritão, um vampiro e um humano... O Destino traçou um caminho que estreitou neste instante. Ele os uniu através desta desgraça abatida em suas vidas.” – olhou para Souma, Mausi e Nami, em seqüência, para em seguida cruzar os braços. – “Vocês três, senhores, têm mais em comum do que podem imaginar.”

Os três continuaram quietos, como que absorvendo aquela torrente de informações. Pelos seus rostos, começavam a sentir-se tentados em acreditar que aquilo, de fato, estava acontecendo naquela sala hialina.

Entre suas semelhanças, encontra-se essa: seus entes queridos estão sob o domínio de uma maldição.”

Maldição...?!” – foi Mausi que parecia não acreditar. Só via diante de si o rosto sorridente de Amin, e aquela palavra rondando-lhe a mente pareceu mais uma sentença de morte para ele.

Sim.” – sua voz foi fria, como a de alguém que anuncia a destruição e nada sente com isso. – “Uma maldição extremamente antiga e poderosa, que vocês, sozinhos, não poderão destruir.”

Antes que qualquer um deles abrisse a boca, ela fez um sinal que calassem-se.

Mas, por isso, o Destino fez com que encontrassem-se os três aqui. Sozinhos, seriam nada. Mas juntos, há uma remota possibilidade de conseguirem.”

Alguns pensariam que uma remota probabilidade e nada também eram a mesma coisa. Mas isso não aplicava-se à Souma; ouvir aquela declaração foi como presenciar o sol abrir-se de repente no meio de uma tempestade que há meses assola o interior. Precipitou-se de imediato, atravessando a distância que o separava daquela pequena estranha.

Isso já é alguma coisa... O que eu faço para ajudar a minha onee-san? Onde você e essas pessoas entram nisso?”

É aqui que todos entramos, jovem Souma.”

E estendeu-lhe um punhal de ouro. O desenho de duas asas esplêndidas no cabo do mesmo inspirava a sensação de que aquele objeto fosse animar-se do nada e voar. Havia uma delicada pedra azulada nele, como um diamante colorido.

Um punhal...?” – Mausi pareceu descrente, tanto quanto o outro loiro.

No que ele nos ajudaria, senhorita Mitiko?” – Nami parecia um pouco mais a dentro da situação. Talvez porque só havia em si, além da total escuridão de seu passado, aquele pedido desesperado daquela mulher que mexia com todo seu ser. – “Como salvaríamos as pessoas que desejamos reaver com isso?”

E Mitiko Denwa sorriu abertamente.

Isto aqui não é um punhal dourado qualquer. É o instrumento de viagem de vocês. Este lugar, meu refúgio, está situado em algum lugar muito distante... Neste universo e em lugar nenhum. Como uma dimensão à parte. Fui incumbida pelo Destino de trazê-los aqui para que possam mudar o rumo dos acontecimentos, acreditando na pequenina possibilidade de vocês três de fazê-lo. Mas preciso que prestem muita atenção no que lhes direi.”

Somos todos ouvidos!...” – mais uma vez, o homem dos cabelos prateados parecia o mais esperançado, segurando nervosamente o cajado nas duas mãos.

Não há motivos para assustá-los indevidamente e o tempo não está conosco neste momento.” – sua voz teve uma entonação dúbia nesta hora. – “Este punhal tem efeito de 24h. Vocês têm este tempo para cravá-los em seus corações. Não irão morrer, apenas cairão em um sono, como suas pessoas preciosas o fizeram, e serão transportados para cá novamente. E então, se escolherem seguir este destino obscuro, eu explicarei o que de fato acontece.”

Dizendo isso, ela estendeu o primeiro punhal à Souma, que estava mais perto dela, para dar outras duas facas douradas de asas perfeitas aos outros dois, Nami e Mausi, que continuavam tentando entender a tudo.

Ah... Por favor, me explique mais coisas agora...” – pediu o humano.

Sinto muito. Não posso mais exercer influência a partir daqui.” – sacudiu a cabeça delicadamente, numa negativa. – “Agora, a decisão é exclusivamente de vocês, meus caros. Guiem-se com sabedoria.”

Ao fechar os olhos, a Arael Magister permitiu que aquelas fumaças perfumadas, que antes pareciam tão inofensivas, criassem novos pequeninos redemoinhos que serpenteavam por toda a sala. Eles pareciam engrossar, tornar-se uma espessa névoa que impedia-os de verem aos outros, ela e até eles próprios.

Espere, por favor!...” – pediu o vampiro, no que foi totalmente ignorado.

A última coisa da qual teve noção antes de parecer ser tragado para a inconsciência foi um par de olhos verdes, brilhantes como olhos de um felino no escuro, que parecia enxergá-lo lá no âmago de seu ser.

 

oOoOoOoO

 

[ Reino de Feuer ].

Um som esparso fê-lo abrir os olhos rapidamente, o corpo retesado pronto para algum ataque que nunca veio. Estendeu instintivamente as mãos, mas sentiu assim o toque metálico contra a pele. Pousou os olhos sobre o punho e teve uma surpresa. Achou que tudo aquilo fosse ruim; alguma parte de si teve a breve esperança de acordar e ver-se deitado na ampla cama com Amin ao seu lado. Mas não foi exatamente isso que encontrou. Em vez disso, divisou a exata adaga que aquela mulher lhe entregou em mãos.

Os mesmos detalhes, o mesmo dourado frio, como o de seus olhos... Lá estava a faca, anunciando, chamando como se quisesse sentir-lhe a carne. Respirou fundo, sentindo-se tentado a obedecer aquela vontade repentina. E então, como se tivesse sido ligado numa tomada, veio-lhe o que aquele sonho anunciou: seu companheiro estava em perigo. Como? Por causa de quem? Não sabia. Mas, sinceramente, não fazia questão de saber. Tudo que tinha na cabeça era sua própria voz lhe dizendo ‘Amin pode morrer... Amin está em perigo...’. Sentiu o estômago embrulhar só de pensar na possibilidade.

Ouviu o som daquela voz feminina em sua cabeça, passando pelos ouvidos como flechas invisíveis: ‘24 horas... Sem desespero desnecessário...’ e outras coisas que o fizeram a acreditar que aquela mulher tinha absoluta noção do que estava se passando e, seja lá o que fosse, não era nada bom.

Ao lembrar-se disso, rapidamente virou-se, lembrando a mente do que acontecera antes daquela estadia inesperada na sala cheirando a florais: o vampiro moreno havia desmaiado em seu peito, vítima de alguma coisa que o fez congelar instantaneamente, como se tivesse, de repente, morrido. Lembrou-se também do medo e daquela sensação de angústia que sentiu quando tentou reanimá-lo, mas ele não respondia à nenhum estímulo externo, embebido em seu sono. A cada tentativa frustrada, o pânico de Mausi aumentava, mas o outro continuava imóvel.

Ele também estava daquele mesmo jeito agora. Deitado na cama, com uma mão sobre o peito quase imóvel e a outra sendo envolvida pelas mão do outro. Lembrou-se repentinamente de tê-lo trazido às pressas para ali depois daquilo e depois, ficou com ele o tempo todo, como se de algum jeito, estando com aquela mão nas suas, fosse arranjar uma solução milagrosa. Ficou pensando até adormecer, exausto. E então, acordou com aquela adaga dourada na mão.

Sua solução milagrosa. Só podia ser isso.

Havia dois sentimentos distintos em si: um deles dizia-lhe para não ter esperanças vãs. Por algum motivo, seu companheiro caiu num sono terrível, estava morrendo aos poucos ali em suas mãos e ele não conseguia fazer nada para impedir. Essa mesma parte de si lhe mostrava seu futuro: o ex-príncipe morreria, deixando-o na completa solidão novamente. E, desta vez, a dor seria tanta que ele iria até preferir nunca ter sentido o amor queimar-lhe o peito.

O outro sentimento, entretanto, acreditava que aquela adaga e as 24h que tinha (talvez, devido ao sono, tivesse menos agora) fossem a solução definitiva para salvá-lo. Queria jogar-se naquela probabilidade incerta de corpo e alma. Apenas pensava que não podia permitir, de forma alguma, que Amin morresse. Se houvesse alguma coisa para fazer, qualquer coisa, ele iria tentar. Do jeito que aquele garoto loiro que ele viu no sonho também fez. Precisava ignorar aquele pessimismo que nascera com ele e concentrar-se na ínfima possibilidade de reaver aquele sorriso cristalino.

Decidindo-se como numa inspiração divina em atender o pedido louco daquela mulher, ele ficou encarando aquela adaga minimamente trabalhada, pensando em como e o que faria depois que a cravasse no peito. Morreria? Desmaiaria como o moreno? Nem tinha idéia, mas uma ansiedade apoderava-se de seu corpo quando pensava que, quanto mais perdia tempo com aquelas conjecturas, mais Amin morria silenciosamente.

Mausi, então, teve um lampejo: como faria enquanto estivesse fora? Em hipótese alguma podia deixá-lo sozinho ali naquela cama. Se por acaso sumisse daquele país, seus poderes e influências sobre o castelo do Lorde acabariam imediatamente, fazendo do moreno de roupas negras um alvo fácil para bandoleiros, assassinos ou até mesmo o rei de Feuer. Mas se levasse-o junto, tinha a impressão de que acabaria por feri-lo desnecessariamente. E, talvez, não suportasse ficar encarando aquele corpo imóvel e morto sendo sempre carregado por si.

Foi então que, num repente, uma imagem trespassou-lhe a mente: o rei Ehre. Ele, que tanto batalhava pela volta de seu irmão, seria o único mais qualificado para ficar com o pequeno. Não que essa idéia agradasse ao loiro, mas não tinha outra opção no momento. Era isso ou arriscar a morte (ou coisa pior) do companheiro.

Mausi respirou profundamente, tentando convencer os próprios braços a erguerem o corpo leve do outro da cama.

 

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[ Reino de Velikean ].

Ergueu a cabeça na mesma hora em que a sentiu pendendo para qualquer lado, abrindo os olhos cor-de-mel e encarando algum ponto em linha reta da parede do quarto. De imediato, sentiu uma dor espalhando-se pela espinha e pescoço, e só então foi associá-la ao fato de que dormiu de extremo mau jeito na noite anterior. Ainda devia estar tonto de sono, porque ouviu um breve som pronunciando-se no chão.

Pôs os olhos no local de onde veio o barulho e viu algo que alertou todos seus sentidos, fazendo serpentear livremente pelo corpo um choque. Lá, descansava uma adaga dourada, com uma delicada pedra azulada no cabo. Teve medo de tocá-la, imaginou que ainda estivesse sonhando, e só então algo em si o despertou para a realidade: aquilo não era um sonho nem uma ilusão. Havia uma adaga que ele recebeu de uma mulher bizarra e agora em sua mão jazia a impressão de que estava até então segurando alguma coisa fria.

Virou o rosto, horrorizado, para dar de cara com Nezumi na cama que ela sempre ocupava naqueles anos todos morando ali. Estava pálida e imóvel, e ele soube só de olhá-la que não estava dormindo normalmente. As pernas falharam quando quis aproximar-se dela, tocar-lhe, tirar da mente a impressão ruim de que tudo aquilo que passou na noite anterior, de vê-la despencar em seus braços, adormecida, de não reagir a mais nada pelo resto do tempo, fazendo-o entrar num profundo desespero... Que, enfim, tudo aquilo fosse bastante real.

Ela não reagiu quando ele tocou-lhe. Geralmente, quando alguém fazia isso, ela pulava imediatamente, agarrava os pulsos do dito cujo, com um olhar ameaçador. E se reconhecia o invasor, soltava-o com um palavrão ou um resmungo. Mas isso não aconteceu dessa vez. E ela continuava gélida. “Onee-san...”, quis murmurar. Quis pedir para ela acordar e tirá-lo daquele desespero, mas nada disso aconteceu. Ficou mudo, tocando-lhe no braço, ainda sem acreditar. E então, aquele sonho pareceu fazer todo o sentido: realmente, a jovem estava sob força de alguma coisa maior. Nada mais explicaria aquele desmaio repentino do qual ninguém mais soube tirá-la. Nem lembrava mais quem o havia ajudado depois do seu grito; agora, só pensava naquela mulher.

Lembrava-se vagamente de dois homens junto com ele, mas sua atenção ficou focada estritamente na mulher dos cabelos esverdeados. Ela sabia, tinha cara de quem sabia de muita coisa e falou muito pouco. Aquela adaga, então, como ela tinha dito, podia ser a chave de salvação. Ninguém poderia salvar sua onee, não é? Então, ele próprio tinha de tomar uma atitude. Tudo que menos queria era perder, mais uma vez, alguém que lhe fosse importante. Já haviam perdas demais, de coisas demais, na sua vida. O que pudesse fazer para tirar a jovem loira daquele sono ele faria, sem pestanejar.

Na verdade, parte de si achava até maluca aquela súbita decisão ‘vou salvar minha irmã disso aí, nem sabendo por onde começar’. Como não podia deixar de ser, mais uma de suas idéias impulsivas. Sinceramente, devia começar a pensar duas vezes. De qualquer forma, mesmo ele não tendo consciência de nada daquilo ainda, ele sabia que aquela tal Arael Magister tinha plena noção por onde começaria aquela missão: ou seja, aquela adaga seria usada em menos de 24 horas, sem dúvidas.

Souma suspirou, decidindo-se ao menos assistir aos treinos da manhã (provavelmente, estava atrasado já... Incrível o rei não ter enchido-lhe a paciência até agora). Estralou o pescoço, ecoando o som de seus ossos por todo quarto semi-escuro. E depois dos treinos, muito a contragosto, falaria com o rei sobre algumas coisas antes da sua partida, coisa que certamente ninguém além dele estaria apto a entender (talvez saísse ileso, além de uma ou duas piadinhas a respeito). Uma nova onda de raiva, misturada até com uma certa impotência de rebelar-se contra o fato, veio à tona com essa decisão, como era típico com qualquer coisa que se relacionava ao homem dos olhos vermelhos. Entretanto, era (infelizmente) ele ou ninguém.

 

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[ Reino de Feuer ].

Era uma gloriosa manhã onde os pássaros cantavam, as árvores sacudiam-se graciosamente e todas as pessoas do reino estavam cuidando de seus problemas, fossem eles alegres ou infelizes. O próprio rei também tinha assuntos pendentes; sua vontade era de tentar mais uma vez naquela manhã atravessar a Floresta das Brumas atrás do vampiro e seu irmão, mas os deveres burocráticos prendiam-no na cadeira de sua mesa do escritório, repleta de papéis e um globo azulado para o qual, naquele momento em especial, ele ficava olhando sem de fato interessar-se.

Havia uma brisa fresca que entrava pela janela e aliviava um pouco o calor que estava fazendo. Naquela época, esporádicas ondas que deixavam o clima quente eram bem corriqueiras. Suspirou pesadamente, tencionando girar aquele globo e ver se o tempo passava mais rápido assim; coisa que não aconteceu, tal era seu enfado no simples ato de erguer o braço.

Olhava para aquele amontoado de letras espalhadas pelas folhas que estavam sobre sua mesa, olhava para a caneta que tinha em suas mãos e não fazia idéia de por onde começar, nem achava a animação para começar. Em outros dias, entregar-se-ia de corpo e alma àqueles deveres, como se eles pudessem tirar-lhe brevemente da cabeça as preocupações diárias com a integridade física e mental do irmão. Tanto tempo preso naquele castelo... Sabe-se lá quanto já havia sofrido, pobre Amin! Pensar no mesmo dava-lhe vontade de saltar daquela cadeira imediatamente, selar o cavalo lá embaixo e trotar pela vila até chegar à Floresta mais uma vez. E neste tempo, algo lhe dizia, iria conseguir trazer seu irmão de volta para casa.

Uma besteira, declarou por fim, porque todas as vezes que lá aparecia acreditava que iria dar certo. Essa idéia lhe dava certo poder, mas era frustrada e despedaçada todas as vezes que chegava no castelo da criatura e ela lhe recebia com flechas e espadas. E assim ficavam, esquecidos naquela briga que talvez tenha até perdido o real sentido, até que alguém a desse por encerrada (geralmente, o loiro).

Feuer Ruhm-Reich[2]! Senhor!” – uma voz o acordou.

Como se ele fosse uma criança que foi pega fazendo algo indevido, Ehre voltou-se com a velocidade de um raio a executar maquinalmente suas tarefas. Só então percebeu o quão tola era aquela sua ação, e com um pigarreio, ergueu os olhos para o que lhe chamou.

O que aconteceu, soldado?” – ergueu-se de pronto ao ver-lhe o rosto transtornado, agradecendo mentalmente aquela providência do destino para tirar-lhe do tédio. – “Que alarde todo é este?”

Estamos sob ataque, senhor!”

Como?!” – e o homem dos olhos castanhos retesou-se no mesmo instante, amaldiçoando aquela providência, agora. – “Eu não ouvi um som, como pode...?!”

É um homem só! Mas é forte demais!”

Ouvir tal argumento fez o rei largar de imediato tudo que estava fazendo. Por mais que aquela afirmação parecesse ilógica, ele sabia de quem se tratava. Em seu íntimo, algo ainda quis lhe avisar que aquilo podia ser mentira, uma coincidência infeliz: mas a maioria avassaladora de si sabia que era um par de olhos dourados que o esperava do outro lado.

Saltou de imediato da cadeira, pronto para dar de cara com seu destino.

 

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[ Reino de Velikean ].

O frio da noite anterior havia amenizado um pouco, de forma que agora, apenas uma camada muito fina de gelo e neve puríssimos cobrisse os lugares por onde ele pisava. Sentia seu pé escorregar vez ou outra pelo branco imaculado do chão, e pegou-se observando aquelas pegadas hesitantes que deixava. Depois de uma noite de puro desespero, olhar para aquela paisagem, nem que estivesse sempre recordando que ela fazia parte dos domínios daquele cretino, era algo muito relaxante.

Enquanto andava, ensaiava tudo: a cara que faria ao encontrá-lo, o que ia dizer, as desculpas que daria quando ele perguntasse da irmã... Em suma, tinha na ponta da língua, na teoria, tudo que tinha de fazer no momento seguinte ao que pusesse seus olhos nele. Entretanto, sabia ser difícil controlar o desgosto exponencial que era ficar em sua presença. Só de pensar ter de agüentá-lo uma manhã toda antes de, de fato, partir para o ‘ataque’ propriamente dito, mais uma vez tinha ganas de chutar a primeira coisa que aparecesse.

A área onde os soldados treinava era um pouco afastada, nos fundos do castelo. Ele ouvia de longe o ruído abafado de vozes, e soube instintivamente que levaria um ralo e que, provavelmente, estava atrasado.

Ei, Souma! Você chegou tarde, cara!” – sua surpresa foi perceber que ele ainda não havia chegado, como imaginou. Lá estavam muitos dos soldados, mas nenhum chefe da guarda presente.

Hã... Onde é que tá o rei, hein?” – coçou a cabeça, confuso.

O senhor Nikolaievich? Tá certo que ele chega cedo, mas nem tanto assim!” – o homem riu, batendo amigavelmente nas costas do rapaz.

Ouvir aquilo fez o jovem loiro olhar para os lados, como que extremamente desconfortável naquela situação. Esperava encontrar o militar dos olhos vermelhos quando chegasse; tinha até mesmo a sensação de que acordara horrivelmente tarde, mas para sua surpresa, a vida estava normal por demais até ali, mesmo com a irmã adormecida sem reação e causa aparente. Esperava encontrá-lo, mas não havia treinado para fazer alguma coisa caso chegasse cedo, era esse o fato.

Que que houve? Tá dormindo ainda, é?!” – sentiu outro tabefe nas costas.

É, talvez eu esteja mesmo...’, pensou, mas o olhar que dignou ao soldado não dizia nada disso. – “Oras, até parece que eu tô com sono ainda! Mas é um idiota!”

Vou aproveitar que você não tá assim sempre e pegar a sua irmã, tá?” – ele riu.

Não fala isso nem de brincadeira!” – ele socou o ombro do outro, meio brincando, meio sério, afastando-se. – “Parto a sua cara como um espelho se você tentar algo!”

Uma hora você vai ter de se distrair!”

Ele riu de forma forçada e olhou atravessado para o dito soldado que fingiu tremer de medo e encolher-se (cenas ridículas que ele sempre via no começo da manhã... Talvez fosse o sono que estivesse fazendo aquilo com os já naturalmente idiotas). Por algum motivo (se bem que o mesmo estava muito na cara), ali naquele antro de homens em particular era onde o trabalho de proteger a integridade da primogênita mais se tornava árduo.

Quis distrair-se até o outro chegar, mas não foi preciso, porque no mesmo instante ouviu seus passos. E Souma viu aquele amontoado de soldados, como todos os dias, colocarem-se em suas posições, atrapalhando-se no meio do processo. Não foi uma vez apenas que levou um encontrão, mas não ouvia o que diziam. Sabia que tinha que ir para seu lugar, mas algo lhe firmava naquele ponto do chão. Era para falar com o rei... Sobre o quê mesmo? Tinha mesmo ensaiado tantas vezes aquelas frases?

O punhal guardado em algum de seus bolsos parecia querer sair dali e ir ele próprio implorar. Tanto que o garoto engoliu em seco, pondo a mão ali para segurá-lo. Por um momento, toda sua decisão das 24h foi totalmente ignorada; talvez fosse esse o preço por ter decidido-se rápido demais. Meneou a cabeça, tentando afastar os pensamentos inoportunos. Tinha a impressão de que alguém estava chamando-o, mas...

Algum problema, soldado?” – entretanto, foi aquela voz quem lhe despertou. – “Por que não está no seu lugar?”

Ergueu os olhos para dar de cara com uma figura pálida de cabelos negros. Como esperava que fosse, o rei Andrei estava bem na sua frente, jogando todo o abismo que os separavam naquelas palavras. E, diferente do que achou, o loiro não sentiu raiva disso. Houve até um certo alívio que não soube explicar o motivo.

Os olhos vermelhos e os da cor do mel encontraram-se quando ele falou:

Preciso trocar umas idéias depois, viu?” – e foi tão baixo que o outro só ouviu porque tinha uma audição privilegiada. – “Desculpe, senhor Nikolaievich. Eu estava distraído, não o vi chegando. Peço mil desculpas por isso.” – seu tom voltou ao normal.

Afastou-se com um cumprimento afetado. Não sentiu mais nada depois disso.

 

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[ Reino de Feuer ].

A capa farfalhava no chão, com um som fofo, enquanto os sapatos marchavam sem mudança de ritmo. Havia um conjunto de sons que previam uma desgraça; seu coração batendo descompassado, o som que sua passada causava no chão do castelo, e aquele som que pronunciava-se cada vez mais: seu alvo vindo até si, sem precisar fazer esforço algum. Já sentia nas mãos a vontade trêmula de sacar a espada e cravá-la no pescoço do infeliz.

Controlou-se, entretanto. Era incrível como que, quando ele aparecia em sua vida, sua pose impecável simplesmente desaparecia, dando lugar àquele desejo assassino que o fazia parecer um garotinho ansioso de doze anos.

A cada passo que dava, parecia que menos ouvia as coisas ao seu redor, como se houvesse atravessado a linha que separava o mundo real de um mundo feito apenas para ele e aquele dos cabelos loiros. Ironicamente, era a mesma sensação que tinha quando entrava na Floresta das Brumas, muito longe de seu castelo. E essa era a prova derradeira de que, de fato, aquele maldito estava entre os residentes do castelo. A mensagem desesperada do soldado narrando aquele ataque silencioso e mortal era apenas mais um lembrete para aquele fato desconcertante.

Uma melodia de tom firme e continuo, como num crescendo, foi alastrando-se pelos corredores daquele pedaço do recinto. Ehre sabia estar próximo da entrada, onde poderia ver de camarote quem era o invasor. Tinha a mão posta sobre a espada, pronto para sacá-la e saciar sua ânsia em ver aquela pessoa em especial morrer por seu golpe. E aqueles sons não cessavam, apenas aumentavam de intensidade. Era o barulho que alguém fazia ao caminhar, mas diferente do normal, os passos eram suaves e fugidios, como o de um felino experiente.

Se virasse aquele último corredor, poderia enfim encontrá-lo. Mas os membros cessaram a vontade de correr quando ouviu aquele som. Porque soube que, de alguma forma, a presa estava vindo até ele.

Antes que pudesse virá-lo, alguém o fez primeiro. E tudo na anatomia do rei parou.

Uma silhueta alta e esbelta que ele conhecia muito bem pôs um par de orbes douradas como as jóias de sua esposa fixas nos seus olhos. Ehre estava relativamente longe daquela figura, mas sentiu um calafrio disfarçado, como se naquela simples troca de olhares um mundo misterioso e totalmente endurecido fora-lhe mostrado. A pele pálida daquele homem chegava a contrastar com o branco das paredes, como se fizesse parte daquele ambiente de um branco imaculável. Aquele, então, era o invasor silencioso. Sorriu. Sempre soube que era ele.

O sorriso, entretanto, sumiu no exato instante que seus olhos castanhos baixaram para o peito do loiro. Ele carregava algo. Não, não era algo. Ele carregava Amin, seu irmão caçula. O ex-príncipe de Feuer estava desacordado no colo dele, à deriva como um boneco de pano, muito mais pálido do que naturalmente era. Parecia mais um cadáver, com seus cabelos displicentemente enroscando-se nos braços do homem que segurava-o, cuja capa balançava num compasso delicado como o rosto do pequeno adormecido.

Amin...?!” – foi o que conseguiu murmurar, como se aquelas palavras estivessem sustendo-o de uma queda assustada.

Me desculpe, Ehre.”

O rosto do vampiro era sério. Muito sério. Aquela situação, seja ela qual fosse, era muito mais preocupante do que aquela que enfrentavam todos os dias (ou quase): aquela eterna rivalidade, com o príncipe como prêmio.

Amin...” – o rei precipitou-se, instintivamente, um passo. – “O que... O que aconteceu com ele, Mausi...?”

Eu não pude fazer nada, por mais que fosse meu desejo.” – respondeu, apertando mais o corpo inerte nos braços. – “Foi muito repentino, Ehre.”

Seu...” – ele tentou falar algo, mas a voz não parecia mais querer sair.

As ações falaram pelo pobre humano corroído pela incredulidade. O vampiro de cabelos loiros esvoaçantes olhava a cena e tinha em si sentimentos contraditórios. Tinha vontade de ir embora dali, apertar seu amante nos braços e fugir, porque mantinha uma réstia de voz que dizia que, de alguma forma, as coisas não seriam mais as mesmas se confiasse aquele corpo adormecido àquele humano. E, ao mesmo tempo, chegava a ter pena daquela cena. Se pudesse, faria a mesma coisa (se é que até já não a fez, em algum lugar de seu desespero).

Fechou os olhos, tomado de um profundo reconhecimento, parecendo sentir em si próprio a dor do humano que ele chamava de ‘inimigo’. Ouvia claramente, graças à seus sentidos aguçados, os passos cambaleantes do mesmo, o farfalhar da capa, o som de sua respiração descompassada... E a cada retumbar de seu coração, seu próprio corpo parecia falhar, como que preso pelo poder do pesar dele.

Mausi sentiu os braços serem puxados por alguma coisa e abriu os olhos, assustado. Viu o que jamais achou que fosse ver: o desespero puro estampado nos olhos de Ehre. Ele agarrava a mão inerte de seu irmão com tamanho desespero que ele próprio sentiu-se perturbado.

Ehre...” – sussurrou.

Como pôde permitir que isso acontecesse...?!” – os olhos castanhos dele fixaram-se nas douradas orbes do outro. – “Me responda, Mausi, como pôde...?!”

Eu gostaria de ter impedido, juro-lhe.”

Eu achei que ele estivesse seguro... Ao menos com você...” – engoliu em seco. – “Amin sempre me pareceu tão desprotegido... Tão... Eu achei que estaria seguro, ao menos com você... Como ousou não cuidá-lo para que isso não acontecesse?”

Ehre... Não há mais tempo.”

O rei dos cabelos castanhos e sedosos sentiu uma mão firmemente posta em seu ombro trêmulo. Ergueu os olhos, incrédulo, e só o que viu foi uma profusão em cores douradas, o mundo girando ao seu redor, os cabelos escuros de seu irmão Amin confundindo-se com o dourado penetrante dos olhos de seu inimigo, o negro das vestes girando e misturando-se com o vermelho da capa deles dois, tornando-se uma massa indelével de algo escuro, com aquela claridade rosada e vítrea dos raios de sol que já começava a querer se pôr dispersos pelo corredor, como um vitral imaculado de igreja.

O estômago girou, sentindo a própria dor do nervosismo. Lembrou-se de que a última vez que sentiu-se assim foi, talvez, na sua coroação. Ou foi o nascimento da princesa? Teria sido qualquer outra coisa senão a notícia de que o irmão que ele tanto procurava estar ali, um corpo inerte e entregue à alguma morte bizarra?

O que quer dizer com isso...?” – entretanto, mesmo com aquela sua confusão interna, o orgulho foi forte o bastante para parecer impenetrável ao sussurrar isso, voltando à toda sua pose austera que demonstrava nas batalhas.

Alguma coisa está consumindo o Amin e uma mulher me disse que tenho 24h para decidir salvá-lo.” – declarou, não querendo maiores detalhes para não perder tempo. – “Não preciso dizer o que escolhi.”

Essa sua recusa em contar-me detalhes é o tempo se passando?”

Sinto muito.” – uma resposta que podia ser qualquer coisa.

Quanto tempo você tem...?” – passou a mão pelos cabelos nervosamente.

De sobra, admito. Não hesitei quando ela me ofereceu esta proposta. Mentira ou não, se for pelo seu irmão... Se for pelo Amin... Por favor, eu quero tentar.”

Quando foi que deixou de notar aquele sentimento?

Deixe-me adivinhar.” – continuou sério, mas algo dentro de si irradiava uma certa felicidade (mesmo não admitindo). – “Você, então, veio aqui no meu castelo, batendo nos meus homens, apenas para me entregar o Amin para você ir sabe-se lá onde, acreditando numa mulher que sabe-se lá se fala a verdade também?”

Mausi sorriu ao puxar uma adaga dourada da capa.

Isto é verdade.”

O que...?”

Eu salvarei o Amin com isso.”

O que irá fazer?”

Ela disse para cravar esta adaga no peito e encontrá-la. É o que pretendo fazer atualmente, Ehre. Ou melhor... O que pretendo que você faça.”

Se fosse possível, o rei podia dizer que um buraco abriu-se sobre seus pés, mas ao invés de cair, ele o fez flutuar. Havia um misto de incredulidade e uma vontade doida de tomar aquele instrumento dourado reluzente e fazer valer as palavras do vampiro.

Você quer que eu crave isso em você?” – um sorriso incrédulo brotou.

E cuide bem do Amin enquanto isso.” – completou, deixando um igual sorriso de incredulidade diante de suas próprias ações nascer de si.

Eu fazia isso muito antes de você. Dê-me a adaga.”

Tomando novamente as rédeas da situação, o homem alto dos cabelos castanhos pegou o instrumento reluzente das pálidas mãos do outro, enquanto fixamente olhava ora seu irmão, ora seu inimigo. Decidiu-se, por fim, fixar-se nas ações do outro enquanto, delicadamente, tirava um desacordado Amin dos braços de Mausi.

Você sabe que eu voltarei para pegá-lo assim que tudo acabar, não é, Ehre?”

É, eu sei, Mausi.”

Tudo estava tão bom que temia ser um sonho. E, se fosse um sonho, mesmo não sendo real, era tudo o que sempre queria; cravar uma espada, alguma coisa, até mesmo uma pequena adaga no coração daquele infeliz e vê-lo esvair-se em sangue. Poder até, se pudesse, pisar em seu rosto e humilhá-lo até o fim, fazê-lo pagar por todas as noites em que dormiu mal, por todos os dias que não viveu por culpa de seu rapto.

O que se seguiu foi tão rápido e indescritível que nenhum deles soube quando começou ou quem teve o primeiro pensamento. O vampiro achou que seria mais dramático, mas só sentiu uma dor pungente no peito, sem nenhum som ou lamento, tão rápida que mal teve tempo de preparar-se. Via os olhos do rei de Feuer fixos nos seus, como que aproveitando cada grito silencioso de seus poros. Via o rosto desacordado e branco de Amin, toda sua pessoa imaculada, e de repente, tudo ficou grande demais.

 

oOoOoOoO

 

[ Reino de Velikean ].

Até aquele momento, ele realmente não ouviu nem sentiu nada. Esparsos fragmentos de vozes e situações passavam por seus ouvidos sensíveis, mas ele não as fixava em si. Tudo passava por suas mãos como água, como areia numa peneira, e simplesmente voltava ao seu estado normal de torpor auto-imposto, feito especialmente para pensar e repensar em coisas que sabia que seu pensamento não seria suficiente para apaziguar (teimosia sua, apostava).

Provavelmente haveriam mais pessoas curiosas com aquele seu silêncio mórbido. Afinal, o próprio rei veio, ao fim de tudo (como entardeceu rápido, foi seu primeiro pensamento quando o ouviu), e lhe disse ‘vamos conversar lá em cima, Souma’, sem pôr o prefixo ‘soldado’ no seu nome. Ou ouvira muito errado (o que esperava sinceramente que fosse) ou seu estado de afastamento do mundo estava avançado (o que, em todos os casos, não era tão ruim. Podia pensar direito, ao menos).

Lá em cima’ significava, como imaginou, o escritório impessoal do rei daquele reino gelado. Como sempre, quando abriu a porta e ele pôde ver seu interior, haviam estantes e mais estantes repletas de livros de todos os tipos, todos abandonados naquele esquecimento indiferente. A sala toda em si era embebida nesta espécie de indiferença. Imensa e extremamente organizada, mais assemelhava-se à alguma casa do terror, afinal, bons sentimentos nunca saíam dali. Saía apenas... O nada, o garoto dizia. Ao menos, era o que pensava e o que sentia quando estava ali.

E então? Queria me falar alguma coisa, não?” – a pergunta era óbvia, mas sentia que era para encorajá-lo a falar (apesar desta não ser uma política empregada pelo rei Andrei. No mínimo, estava louco).

É. Tinha alguma coisa sim...” – acompanhando-o com os olhos até vê-lo sentar-se no seu lugar, silenciosamente, a coisa automática que saiu da garganta foi aquela. Não teve consciência de que não entrara no ‘jogo’ do outro.

Tem a ver com sua irmã Nezumi?”

Até então, o loiro pensava em como eles podiam estar ali, um deles um pouco sujo e o outro impecável como sempre, recém saídos de um treinamento, simplesmente papeando, nem que fosse de uma forma impessoal (até então, pelo menos), e de repente, o foco muda para o assunto que ele mais evitava...

E o que isso importa?” – resmungou, olhando para qualquer outro lugar.

Para você vir mendigar uma hora comigo daquele jeito em que se encontrava, só pude presumir que tivesse algo a ver com ontem.”

Por que diabos ele sempre tinha de estar certo?

É... Não vou mentir, tem sim.” – entregou o jogo.

E então? A senhorita Nezumi ainda não melhorou? Ah, presumo também que posso chamá-la assim, não?”

E por que, sempre quando ele dava um dedo (mesmo que mentalmente), o cretino já vinha pedindo a mão inteira?

Prefiro que chame-a pelo sobrenome.”

Ah, claro... Não sou digno de pronunciar seu santo nome, não? Mas... Geralmente, muitas pessoas pronunciam-no, sabe? São bichinhos bem comuns e irritantes...[3]

Ora, seu...!”

Sua mais genuína ação era pular sobre aquela figura arrogante e ‘amassá-la de tanta porrada’, como diziam por aí. Mas quando ouviu em algum lugar de suas vestes o som metálico daquela adaga de asas douradas, tudo em si parou. Lembrou-se repentinamente da irmã falando-lhe sobre respeitar o rei, sobre ninguém negar nada à ele, sobre como suas ações estarem envergonhando-a... E, principalmente, sobre...

Desculpe-me.” – o soldado cerrou o punho com força, contendo-se ao máximo.

Meu caro Souma...” – e, por algum motivo, havia todo um mundo escondido naquelas simples palavras, algo do qual ele não gostou. – “Cada segundo que está perdendo aqui é tempo que deixa sua irmã sozinha lá embaixo.”

(Não que gostasse deste tipo de estratagema, mas pareceu o único viável para ele falar de uma vez.)

Ao menos, pareceu dar certo. Os olhos, marca registrada do casal de irmãos, eternamente indecisos num cor-de-mel puro ou na cor de um âmbar precioso, faiscaram numa consciência recém adquirida.

...Tá certo, tudo bem, cê venceu, rei cretino! Preciso da sua ajuda!”

E para quê?” – apesar de ter uma vaga idéia, esboçou um sorriso cínico.

Droga de homem. Espero sinceramente que não tenha uma morte tranqüila’, pensou o soldado, assassinando-o com os olhos.

...Preciso que... Bem... Na verdade...” – entretanto, a raiva deu lugar à vergonha por pedir aquele favor, bem como ao temor.

Precisa que?” – Andrei chegava a achar engraçada aquela cena, mesmo que aquele sorrisinho cínico não deixasse o rosto.

Eu... Eu preciso que o senhor...”

Ah. Eu entendi.” – meneou a cabeça de repente, os olhos vermelhos com uma clara compreensão do fato. – “Claro. Eu já entendi, pode deixar.”

Verdade...?!” – o loiro sentiu-se extremamente agradecido por isso.

Mas, me perdoe, Souma-kun, eu sou hetero. Não posso te fazer o favor de abençoá-lo com minha presença deste jeito que deseja.”

Souma Kyoku jurava a partir de então uma coisa com todo fervor para si próprio: não importava quantas camadas sociais os separassem, quantas hierarquias a mais ele tinha, em todos os sentidos, militar e social, nem importava o enorme abismo de forças que o separassem ou o que a irmã mais velha diria... Um dia, ele jurava, um dia o mataria lentamente, aproveitando o êxtase da vingança por cada frase cretina que ele proferia. Como aquela ali, principalmente.

QUEM DISSE QUE EU QUERO ISSO, MALDITO CRETINO?!”

Ah, não é isso? Ainda bem... Por um momento, achei que estivesse prestes a me declarar sua sexualidade recém descoberta.” – sorriu distraído, como se falasse sério.

Por que diabos eu a declararia pra você?!” – totalmente desgostoso. – “Aliás, EU NÃO SOU GAY!”

Calma, Souma-kun, os outros serviçais não precisam ouvir isso.” – brincava displicentemente com um globo terrestre, como se nem estivesse prestando atenção de fato naquelas palavras.

O que eu quero, maldito, é que fique de olho na minha onee-san enquanto eu estiver fora! É só isso!”

(Psicologia infantil. Funciona até mesmo em marmanjos, afinal.)

Eu ouvi direito? Quer que eu, o ‘maldito rei cretino, bastardo manipulador’ e outros apelidos bonitos do tipo, a ameaça-mor à pureza da senhorita Nezumi, ‘fique de olho’ na mesma?” – de fato, o favor foi, no mínimo, inusitado. – “Você andou delirando demais no treino de hoje, Souma?”

Ah, cale a boca!” – ‘homem irritante!’, bradou em pensamento. – “Não tenho tempo a perder... Vai fazer ou não?!”

Bem, até posso fazer...” – o rei Andrei falava num tom capaz de fazer parecer um grande sacrifício, ao mesmo tempo em que deixava totalmente transparente seu agrado ao ouvir que ele ficaria no encargo daquela ‘missão’. – “Mas diga-me... O que o fez decidir isso tão rápido? Tem noção de que, talvez, possa ser apenas conversa furada, seja lá o que for isso que irá fazer?”

Se há algo que o rei está cansado de saber é que eu vou atrás do que escapa das minhas mãos, mesmo sendo pequenas as chances de reaver.”

E em se tratando da primogênita, o que quer que estivesse ao seu alcance para ajuda-la, mesmo que só um pouco, ele iria até o fim do mundo para isso.

Mas... Quando eu voltar (coisa que vai acontecer muito em breve, já que cê quem vai ficar com a onee-san) eu vou dar uma boa olhada e, se eu ver qualquer coisinha errada com ela, juro que acabo com você, entendeu?!” – falou a última parte com um sadismo e um sorrisinho assustador convincentes o suficiente.

Pode vê-la o quanto quiser. Você sabe muito bem que eu...”

Não quero saber!” – cortou-o no meio da frase. – “Não toque nela, entendeu? Só fique olhando-a. À distância, na porta do quarto ou até mais longe. Não toque nela, falo sério, majestade. Para o seu bem e o meu.”

Os olhos de Souma mostraram o que muito pouco se identificava: alguma coisa que parecia contê-lo de alguma forma. Algo tão imperceptível que somente um bom observador que conhecia as nuances dos olhares dos irmãos Kyoku era capaz de identificar. E, por sorte, não havia ninguém mais capaz disso, ao menos ali.

Vá logo, Souma, ou eu não vou poder ir lá vê-la.” – provocou, ainda com o dedo displicente brincando com o globo terrestre e aquele sorrisinho cínico no rosto, emoldurando uma cena feita para o deleite da raiva borbulhante do loiro.

Antes que desse meia-volta e pulasse em cima dele pra valer, o soldado fechou a porta com força, soltando um resmungo para aliviar aquela tensão e praguejando o rei, como de costume, até a quinta geração.

Seus ouvidos captaram o som metálico da adaga. E, de suas vestes, ele a puxou e encarou-a firmemente.

 

oOoOoOoO

 

[ ... ].

Abram os olhos, caríssimos.”

Ao ouvir aquela voz conhecida, Mausi imediatamente retesou-se ao abrir os olhos, por instinto. Estava de novo, pelo que viu, naquele ambiente ebúrneo e totalmente imaculado, mais parecendo algum suspiro de anjos, algum quadro transformado em realidade por habilidosas e desconhecidas mãos... Apesar da situação ser séria, o que estava presente ali, por algum motivo, com aquela pureza silenciosa, tinha o poder de dissipar brevemente aquelas preocupações.

A-Arael Magister-san!...” – o humano das vestes brancas como o ambiente com aqueles detalhes azulados foi o primeiro a pronunciar-se.

Eu achei, sinceramente, que iriam ficar mais indecisos. Sois muito corajosos por decidirem tão rápido aceitarem este ensejo, mesmo ele sendo totalmente desconfortável para suas certezas.”

Isso não importa agora...” – Mausi pronunciou-se, incerto ainda sobre o que fazer agora. – “Seja lá como viemos parar aqui, por transporte ou qualquer coisa... Você nos disse que não restava muito tempo, senhorita Mitiko.”

De fato, não resta.”

O que está acontecendo? A senhorita disse-nos que Amin e os outros estão sob uma maldição e prometeu-nos explicações. Queremos sabê-las agora, por favor.”

Mitiko Denwa, com seus olhos verdes e penetrantes, entreabriu os lábios e deixou-os naquela posição imóvel muito tempo, encarando os três alternadamente.

O Espelho do Tempo.”

A surpresa nos olhos dourados do homem alto de roupas esvoaçantes e brancas demonstrava, no mínimo, que ele tinha um certo conhecimento do que se falava.

Conhece-o, senhor Nami?”

...Apesar de não lembrar de quase nada, algo me diz que já ouvi este nome antes.”

Ele é bem conhecido no meio, não me surpreende que lembre disto.” – a maga comentou. – “É um item mágico extremamente poderoso criado por Vinshuthal do Vale do Tempo[4], uma demônio primordial.”

O que isso tem a ver com as pessoas que vimos adormecer?!” – Souma achava, apesar de tudo, que a história estava, no mínimo, viajante demais.

Por algum motivo, o Espelho quebrou-se e seus pedaços dispersaram-se deste jeito, indo parar em lugares diversos. Tentei contatar Vinshuthal em sua área, mas ela simplesmente desapareceu. O que sobrou foi isso: pessoas adormecidas, pegas pelo estrondoso poder de um simples fragmento.”

Estes fragmentos... Fizeram-nos dormir?”

Exato.”

Senhorita Arael Magister, o motivo do Destino ter-nos escolhido...”

Mitiko, imóvel como de costume, apenas olhou no fundo das orbes douradas, como duas jóias, do homem vestido de branco. Seu rosto demonstrava alguma coisa que nenhum dos presentes podia dizer com exatidão o que era, mas só souberam que a reação do observado foi estremecer de leve.

Vejo que sabe mais do que aparenta, senhor Nami.”

Mas eu... Eu não sei como fiz...” – sussurrou.

O que você sabe? Por favor, diga-nos.” – Mausi só tinha, como imaginara, a decisão de salvar Amin o mais rápido possível na cabeça.

Por algum motivo, nos é permitido ir além da influência normal.”

Como é que é?” – o segundo loiro, vestido de militar, não entendera nada, aparentemente.

O que o senhor Nami quis dizer, senhor Souma, é que eu lhes darei o meio de viajarem e colherem esses pedaços de Inferno, porque minha influência só me permite ir até aí, diferente da dos senhores. Devolvida a harmonia ao Espelho, quando recuperarem-no completamente, os efeitos negativos de seu poder cessarão, o que providenciará despertar imediato dos sob seu poder.”

Despertar imediato’ pareceu causar, basicamente, os mesmos efeitos: um brilho efêmero de esperança nos olhos de cada um.

Por favor, nos ajude a fazer isso!” – Souma foi o primeiro a precipitar-se desta vez.

Só tem um porém...”

Com um rápido movimento de sua mão pálida, uma luz tão ou mais branca que aquele ambiente em si surgiu como uma espécie de buraco-negro em sua mão, fazendo a mesma coisa que aqueles estranhos redemoinhos que permeavam todo aquele salão cheirando à incenso, de usar aquela estranha poeira brilhante que aquele vento insensível carregava como uma magia totalmente nova.

Os cabelos verdes da feiticeira sacudiram-se de leve, mostrando que aquele vento ricocheteante e brilhante em suas mãos era apenas perigoso de vista.

...A influência normal é aplicada aos três quando separados. Só se viajarem juntos é que poderão atravessá-la.” – e em suas mãos, ao término daquele espetáculo bizarro, uma esfera escarlate repousava.

O preço parecia até barato demais: viajar com outras pessoas em troca da possibilidade de recolher o tal Espelho do Tempo.

Senhor Nami, estenda-me seu báculo.”

Com um breve estremecer pela abordagem repentina, ele murmurou um ‘sim’ ao estender o báculo dourado. A esfera vermelha desprendeu-se da mão dela, como mágica (basicamente, como tudo que estava acontecendo ali), e com um único momento sem som algum, fixou-se naquele desenho de uma asa que o báculo possuía, bem no meio, perfeitamente, como se sempre houvesse estado ali. Como se, de alguma forma, aquele desenho fosse feito para abrigar aquela peça.

O que seria isso, Arael Magister-san...?”

É uma esfera carregada do meu poder mágico que permitirá que vocês viajem pelas diferentes dimensões paralelas onde os pedaços do Espelho do Tempo possam ter ido. Quando isso acontecer, o próprio báculo avisá-los-á.”

E depois de breves segundos, emendou:

Qualquer outra pessoa iria avisá-los dos imensos perigos que irão enfrentar para recuperarem este objeto. Entretanto, tenho plena consciência de que suas pessoas estão perfeitamente cientes disto, assim como preparadas. Se não fosse assim, jamais teriam cravado uma adaga em seus peitos.” – um meio sorriso brotou-lhe nos lábios. – “Antes de mandá-los para a primeira dimensão, dar-lhes-ei mais um item mágico.”

Mitiko estendeu os braços envoltos naquelas vestes pretas contrastando com o ambiente branco puro e fechou suas mãos na de Mausi. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa (como seria seu habitual), uma fraca luz escapou por entre seus dedos, mas nenhum calor ou qualquer coisa do tipo saiu dali, sobressaltando o vampiro das madeixas loiras.

Este objeto lhes permitirá manter contato com este lugar.” – olhou-o atentamente, como que gravando sua fisionomia. – “Parece-me ser o mais confiável para guardar isto.”

Mausi olhou para sua mão aberta para dar de cara com uma espécie de broche com um brasão inscrito na delicada superfície. Uma espécie de flor-de-lis.

Guarde isto com cuidado, meu caro. Poderá ser-lhe de valia em algum momento.”

Ei, e eu, moça Arael Magister?! Vou ganhar algo também?!” – o tritão parecia animado para ter seu próprio presentinho, como os outros estranhos e atuais companheiros da viagem que nem havia iniciado.

Sinto muito, senhor Souma... Receio não ter sobrado nada para você.” – permitiu-se sorrir ao ver a cara de desgosto dele.

Ao terminar de entregar os itens planejados, ela afastou-se consideravelmente dos três mais uma vez.

Receio que esta senda irá ensiná-los mais do que qualquer uma de minhas palavras, assim como também receio que minha influência neste momento acaba aqui. Não há mais tempo, por isso, sejam rápidos. A partir deste momento, tudo está em suas mãos. O sucesso ou o fracasso desta jornada... Tudo depende de todos vocês. Os itens mágicos que lhes concedi irão ajudá-los, bem como sua própria coragem e suas forças.” – a feiticeira pôs seu dedo indicador nos lábios, como se estivesse pedindo silêncio ou segredando algo. – “Infelizmente, poderei ajudar-lhes muito pouco nesta senda, mas acredito que, juntos, esta missão incumbida somente a vocês será extremamente mais fácil.”

Os dois rapazes altos e loiros não tinham ciência alguma de magia, mas Nami tinha a cabeça enevoada apenas quando tentava lembrar-se de seu passado. Lembrar-se dos princípios mágicos era tão fácil quanto piscar os olhos. E ele admirou-se por não enxergar nenhum círculo de magia no chão quando uma forte rajada de vento atravessou-lhe o corpo, sacudindo sua capa branca.

Desejo boa-sorte aos viajantes. Encontrem os pedaços do Espelho do Tempo e restaurem a harmonia habitual desta existência.”

Os olhos verdes de Mitiko Denwa misturados à estranha luz vermelha que emanava da jóia agora presa em seu báculo foram as últimas lembranças do mago naquele mundo bizarro. Aquela rajada de vento cuidou para que nenhum dos três pudesse fazer mais nada.

 

Continua...

 

 

Notas:

[1]Personagem da fanfic “Entre os Céus e os Mares” (Darkrose&Ziegfried). No original, também uma feiticeira.

[2]‘Glorioso Reino de Feuer’, numa tradução aproximada, em alemão. Originalmente e na própria fic, o sobrenome do rei (agradecendo a correção à Akane-ou ^^).

[3]Nezumi significa, ao pé da letra, ‘Bela Criança’. Também, ao pé da letra, a leitura do nome devia ser ‘Nemi’ ou ‘Tsugumi’. O primeiro kanji serve tanto para ‘Criança’ quanto para identificar o Rato do horóscopo chinês. Logo, o nome é uma espécie de trocadilho: ao invés de ler-se ‘ko’ ou ‘ne’, lê-se ‘nezu’. Daí as imensas ironias com seu nome. Vale lembrar que o ‘ma’ de Souma é o kanji do signo do Cavalo.

[4]No original, “Toki no Tani no Vinshuthal”. Designação de personagem oriunda do RPG “Akai Hana” (Petit Ange). Originalmente, também é a alcunha de uma demônio que veio do ‘Vale do Tempo’.


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