-Você acredita no amor? – perguntou ela de repente. O garoto de olhos azuis a fitou por um instante, esperando que ela olhasse para ele, mas ela não o fez. A loira apenas deu uma tragada em seu cigarro e continuou à olhar para o céu, seu olhar, como sempre, vago.

-Bem, eu... Sim... E você? – perguntou ele curioso.

-Não – ela disse rindo levemente. Isso chocou o rapaz. Como alguém era capaz de não acreditar no amor?

-Porque não? – ele indagou, sua voz saiu baixa, um tanto decepcionada.

Demorou um instante para que ela respondesse, já estava amanhecendo. O céu tingido com um tom claro de azul e cinza.

-Ora, quantas provas de amor eu presenciei em minha vida? Fora as babaquices que vejo em filmes, não há nada que prove que essa merda exista.

Ela colocou o cigarro na boca novamente, dando uma tragada extremamente exagerada e com vontade. Ela parecia tão tranquila naquele momento, mesmo que houvesse uma pontada de raiva em sua voz.

-Mas... E o amor da família? – o garoto queria que ela dissesse que acreditava em amor, mesmo sabendo que ela não diria.

-Que família? – ela gargalhou – Não sei se percebeu, mas eu nunca tive uma, na verdade.

Ele não respondeu, olhou para o chão e puxou um pedaço de grama amassando-a em suas mãos.

-Algumas coisas, Logan, não existem – ela disse baixinho, brincando com o cigarro nas mãos – As pessoas só tem essa necessidade ridícula de acreditar em algo para dar algum sentido à suas vidinhas vazias. Por exemplo, Deus, onde diabos ele foi? Por que quando eu precisei, ele não estava aqui... É a mesma coisa com o amor. O que diabos é o amor? Eu nunca senti, e ninguém sentiu o mesmo por mim.

O garoto abaixou a cabeça, o impulso de dizer que ela estava errada era mais forte agora, e ele precisou morder a língua para não falar o que queria.

-O que te faz pensar assim? – perguntou ele com falsa indiferença, que a jovem pareceu não notar.

-Olha, eu vou te contar uma história – ela disse deitando-se na grama seca, sem se importar com o fato de que estava de saia – É a história de uma garota muito fodida, ela nasceu em Julho... O pai dela, a vendeu pro tráfico quando ela tinha apenas seis anos...

-Você... O quê? – o garoto dos olhos azuis disse assustado, tropeçando em suas próprias palavras. A loira riu secamente:

-Shhiu, me deixe contar a história... – ela deu outra tragada no cigarro, dessa vez a última, jogando-o fora – Ela foi abusada sexualmente pelo próprio tio... Ela teve um ano ruim, mas conheceu um cara legal, que era meio caladão, mas era legal – ela sorriu para o nada, sem olhar para o rapaz ao seu lado – Ela agora tem dezoito anos e nada a perder... Sabe qual era o nome dela? – disse finalmente fitando o garoto nos olhos. Azul com azul, ambos se encontrando.

-Q-qual? – gaguejou ele já sabendo a resposta.

-Angel.