Perfection escrita por Misu Inuki


Capítulo 4
Sobrevivendo no avião




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/158943/chapter/4

Minhas mãos tremiam, e estavam completamente suadas.
Tinha chegado o grande dia, e aos poucos a minha ficha ia caindo.
Eu estava mesmo no aeroporto, com passaporte e visto em mãos, e três malas pesadas num carrinho do meu lado.
Iria sair do país, ficar longe da minha família, e dos meus amigos durante três meses.
Seria muito pior se Jack e Ana não estivessem comigo, mas além delas, estaria cercada por completos desconhecidos, sendo vigiada 24 horas por dia.
E o pior, nem eu nem minhas amigas sabíamos falar uma frase que seja, em coreano.
Mal arranhávamos o inglês.
Numa das ligações que fizeram para nós, eles nos informaram que não teríamos que nos preocupar com isso. Mas era inevitável.
Eu tentei comprar um livro com frases básicas em coreano, mas eu simplesmente não encontrei em lugar nenhum.
 Ou seja, estava rezando para que todo o ano que eu gastei na minha infância brincando de mímica mostrasse bons resultados.
Uma voz do além, porque não dá pra saber de onde vem a voz dessas mulheres, avisou que era a hora do embarque.
-Então...Acho que vou indo...- comentei olhando para meus pais e meu irmão.

O garoto me abraçou, e sorriu me desejando boa sorte.
Abracei meu pai, mas quando abracei minha mãe ela não me soltou e disse.

-Tenha muito cuidado, minha filha.

Aquilo era uma frase comum de qualquer mamãe, mas me deixou completamente nervosa.
Como se dentro de mim algo me disse que eu realmente precisaria ter muito cuidado.
Sem que eu pudesse evitar, me lembrei dos meus constantes pesadelos... De estar sendo congelada viva, e daquele lugar escuro.
Balancei a cabeça para apagar essas imagens da minha mente e forcei um sorriso para eles.

-Não se preocupe. Tudo vai dar certo!- disse, mas me senti como se estive mentindo descaradamente.

-Aghata!- Jack me gritou já indo para o portão de embarque.

-Já vou!-gritei de volta.

Apertei as mãos no carinho e corri até ela sem olhar para trás.
Se o fizesse, sabia que não conseguiria ter coragem te subir no avião, pois nos olhos da minha mãe estavam uma minha mesma certeza e que ambas tentavam ignorar.
Algo daria errado... Muito errado mesmo.

*****************************************************************************

O avião era bem maior do que eu imaginava, e por sorte sentávamos uma ao lado da outra.

Eu na janela, Jack no meio e Ana na ponta.
As duas estavam conversando sobre alguma coisa desde que entraram no avião, mas eu não fazia ideia sobre o que era.
Estava completamente absorta em meus próprios pensamentos desde a entrada do aeroporto.

Estava nervosa, assustada e extremamente ansiosa.
Se meus sonhos estiverem certos, valeria mesmo a pena arriscar minha vida só para conhecer eles, só para conhecer Kyuhyun?

Muita coisa passava na minha cabeça naquele momento, enquanto olhava para a janela do avião.

-ACORDAAAAAAAAAAAA “MUIÉÉÉÉÉÉ´”!- Jack gritou me assustando.

-Eu pretendo chegar viva na Coréia, obrigada- coloquei a mão no peito tentando me recuperar do atentado.

-Você anda muito estranha Agatha...-Ana comentou enquanto fazia carinho no seu ursinho de pelúcia branco.


-É verdade! –Jack concordou-Antes, você seria a primeira a colocar “Rokkugo” no ultimo volume, pularia da cadeira e começava a dançar junto com as aeromoças.

-Também não é pra tanto né meninas...- falei rindo.

-Verdade... Você também chamaria o piloto, roubaria o chapéu dele, ai o avião ia ficar sem controle, bater no chão e todos nós morreríamos! -A ruiva insistiu-Fala sério, nega! Você sempre foi a mais drogada do grupo, mas agora anda aí toda quietinha.

-Era pra você estar pulando de alegria amiga!-Ana falou- Estamos indo pra Coréia, tem noção? Seja o que for que você esteja pensando aí, não pode estragar esse momento!


-Querem saber de uma coisa? Vocês estão certíssimas!-falei animada

Realmente, não valia a pena ficar me preocupando. Meus pesadelos foram apenas sonhos, como todo mundo tem. Era para eu ter assaltado uma loja de fogos de artificio e fazer um Ano Novo fora de época.
Dentro de poucas horas estaria junto dos meus ídolos. E nenhum sonho bobo iria me fazer perder isso.


Aranquei o celular da mão da Jack, e comecei a mexer na playlist.

-Acho que já passou da hora da gente começar a ensaiar nosso show, não?

As meninas entenderam de cara o recado, e eu apertei play em A-cha.
Não estávamos nem ai para o resto dos passageiros.
Começamos a assassinar a letra da música com uma mistura bizarra de coreano, português e um idioma não identificado.

Obviamente, a aeromoça pediu para que nós usássemos os fones.
Obedecemos como boas meninas, mas não paramos de cantar para tristeza de nossos ouvintes nada felizes. E ainda fizemos a proeza de dançar toda a coreografia sentadas.

Modéstia a parte, nenhuma de nós cantava mal.
E até mesmo eu, que era a mais atrapalhada do trio, conseguia aprender as coreografias com um pequeno grau de esforço.
Estávamos querendo dar nos nervos da galera, mesmo.

Mas devo admitir que fiquei muito surpresa por termos sido chamadas.
E juntas.

Cada uma de nós enviou um vídeo.
Uma filmou a outra, e deu dicas, obviamente, mas enviamos de forma individual.
A filmagem era basicamente, um breve perfil; dizendo um pouco da própria personalidade; e , a outra parte era cantando e dançando uma música deles.
Até então, eu acreditava que era para saber o nosso grau de “fangirl”.
Mas depois, vimos que o premio seria uma bolsa de estudos em música moderna, e tudo mudou de figura.

A comissária de bordo voltou novamente, e quase faltou implorar para que parássemos de fazer baderna. Como nenhuma de nós queria ser jogada pra fora do avião em movimento_ se bem que seria uma morte bem legal_ igual nos filmes; e nem queríamos que a pobre moça perdesse o emprego, ficamos quietas.

Acho que a mulher ficou desconfiada do nosso silêncio porque pouquíssimos instantes depois, ela voltou com kits para dormir, que vinham com protetores auriculares.
Achei bem bonitinho, pois veio tudo organizada numa bolsa plástica em tom azulado, minha cor favorita. Além dos abafadores, vinha um travesseiro ultra macio,  um tapa-olho duplo(ou sei lá o nome que dão para aquele troço preto que se põe nos olhos pra dormir)e lençol.

Faltava muito tempo para chegarmos à Coréia, então seria melhor dormir e tentar conter os ânimos para a grande hora. Mas depois de rolar de um lado para outro no acento, não consegui pregar os olhos.

Então, peguei na minha mochila um livro que eu estava lendo antes de chegar no aeroporto.
Não gostava de ler esse tipo de livro, com muito suspense e terror, e descobri pouco tempo depois que não deveria ter tentado mudar de gosto.

A historia era envolvente, e logo eu cheguei na parte em que a protagonista entrava no avião, para fazer uma longa viagem com duas amigas.
“Coincidência”-pensei.

Cada uma delas fazia alguma coisa pra passar o tempo, uma assistia um documentário, outra escrevia os dados que faltavam pra a pesquisa cientifica, e a ultima lia.
Porém, pouco tempo depois, a protagonista sente um arrepio e descobre que a garota que estava ao seu lado estavam sem expressão e não respirava, porém a caneta continuava correndo pelo papel em uma velocidade acima do normal.
Ela se esticou pra saber o que eu estava ali escrito, e havia inúmeras profecias.
Então a garota começou a gargalhar maleficamente, e seus olhos ficaram completamente brancos.

A protagonista começou a gritar, assustada.
Olhou para trás de sí, e só encontrou a janela do avião em pleno voô.
Não tinha saída.

Arrepiada, parei de ler e olhei pra o lado para saber o que as meninas estavam fazendo.
Ana estava assistindo um filme no DVD portátil com fones de ouvido, e Jack estava com escrevendo loucamente no caderno com uma mão na testa e sem nem piscar.

Engoli a seco.
Desde quando minha melhor amiga recebia mensagem direta do além?! Seria legal se fosse algum tataratatarataraavô meu que morreu de dor de barriga no meio da guerra da Farroupilha, mas e se fosse alguma entidade do mal tentando deixar a sua maldição escrita para o fim dos tempos?


Ainda com medo, bem devagar, estiquei a cabeça pra ler o que ela estava escrevendo:

“Sobre a terra que sustenta meu corpo, rogo minha maldição.
Os pertences que foram por mim usados selam o pacto...
A minha vida se esvai e aos objetos será transferida,
Encantando o lugar até que minha vingança seja cumprida...”

-AI, MEU SÃO LONGUINHO APARECIDO DA SILVA!!!- segurei os ombros da minha amiga sacudindo-a com força- SAI DESSE CORPO QUE NÃO TE PERTENCE!!

-PÁRA DE ME SACUDIR, CARAMBA!- a garota empurrou as minhas mãos.


-Amiga, eu sei que você está aí, em algum lugar então fica fria! Não vou deixar essa coisa jogar nenhuma macumba em você!

-Que raios você está falando, criatura?- a ruiva me encarou se entender nada.

Peguei o caderno e arranquei da mão dela, pensando que assim o bicho não ia conseguir terminar o feitiço.
Então, Jack começou a rir.
Primeiro baixinho, e do nada começou a gargalhar escandalosamente.

“Agora possuíram ela de vez!”- pensei desesperada e quase chorando. “Cadê o Constantine quando a gente precisa dele?!”

-Agatha, você é definitivamente a pessoa mais noob do mundo.- e continuou gargalhando.

-Como você sabe do meu nome criatura from hell?_olhei pra ela assustada.

Tudo bem, não era a pessoa mais boazinha do mundo.
Já colei um chiclete no cabelo da garota que ficava implicando comigo na quinta série.
E também as vezes comia a sobremesa antes do almoço escondido... E sempre esquecia de falar com Papai do céu, na hora de dormir.
Será que fui tão má, a ponto de os capetinhas já souberem meu nome?


-Eu não sei qual é a erva que tu anda usando, mas podia dividir com os amigos né?- ela zombou, e depois apontou para o caderno.- Essa é a minha fic.

Olhei para Jack, em seguida para a folha. E fiquei intercalando os olhares por uns trinta segundos.
Depois é claro, caímos na gargalhada.

Mas rimos tão, mais tão alto, que se tivesse algum defunto escondido na mala de alguém, ia se levantar só pra xingar a gente.
Porque todo o resto do avião estava fazendo isso.

Foi bem... instrutivo.
Pois, aprendemos como xingar em espanhol, inglês, francês, alemão, russo, e até alguns novos em português que nunca tinha ouvido antes.

E no meio da confusão, Ana tirou os fones do ouvido olhando par gente uma cara de dúvida.

- Já chegamos?

Eu e Jack nos entreolhamos, segurando a risada...

-Perdi alguma coisa?

... Ou não.

Resumindo, foi uma viagem tranquila, e bem divertida.
Quero dizer, pelo menos para algumas pessoas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perfection" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.