Entrei na biblioteca hesitante, não tinha a mínima idéia do que poderia ocorrer lá. Procurei-os entre as mesas e facilmente encontrei, a biblioteca estava cheia, a maioria das pessoas eram do mesmo ano que eu, todas fazendo o seu trabalho. Afinal, não seria muito difícil encontrar uma pessoa ruiva, uma loira na mesma mesa.

Sentei-me rapidamente, notando que estava um clima tenso, Ron fuzilava Draco com os olhos e Hermione parecia um pouco triste, seus olhos brilhavam, talvez tentando conter as lágrimas. Harry ainda não havia chegado e eu podia ver Caroline andando pelos livros, provavelmente querendo sair daquela situação.

– O que houve? - perguntei alarmada, me sentando ao lado de minha mãe e a abraçando automaticamente.

– Nada - Hermione falou com a voz entrecortada, olhando ameaçadoramente para Ron, como se o desafiasse a contar algo.

Virei-me para Draco em busca de respostas, mas este parecia disperso, fazendo faíscas com sua varinha.

– Me falem! - eu exclamei irritada, era de minha mãe que estávamos falando, mesmo ela tento a minha idade.

– Malfoy - Ron cuspiu o nome, como se com essa simples parava eu fosse entender. É, eu entendi.

– O que você fez Draco? - eu perguntei irritada, ele tinha dito que iria colaborar!

– Só falei a verdade - ele respondeu sem me olhar, ainda brincando com a varinha.

– O que eu te pedi? - eu falei triste, o que custava eles se darem bem pelo menos um pouco?

Ele me olhou, parecendo surpreso, depois desses meses eu aprendi a ler os olhos dele, pois a expressão nunca mudava.

– Eu... - ele parecia incerto em responder, como se estivesse em uma luta interna - Desculpe Granger - murmurou entre dentes, com a voz contida.

Ela o olhou surpresa, e depois me fitou, como se não acreditasse.

– Obrigada - eu agradeci a Draco, apenas mexendo a boca.

– Desculpe a demora - Harry chegou afobado - As escadas acabaram me confundindo.

Eu ri fracamente, só ele para se confundir com as escadas, mesmo depois de anos nessa escola.

– Vamos começar - eu falei e me levantei junto com Mione a procura de livros igual à Caroline.

–*-

– Draco - eu chamei incerta, não poderia esperar mais, teria que falar com ele.

Ele me olhou sem expressar nada, esperando eu continuar a falar.

– Preciso falar com você - eu estava nervosa e não era pouco.

– Já está falando - ele abriu um sorriso cínico.

– É serio - eu falei e a expressão dele voltou a ser a fria.

– Fala - ele murmurou, olhando para as estrelas.

Estávamos nos jardins, eu não sabia o que, mas alguma coisa havia me atraído para lá, me fazendo sair de minha cama, colocar uma capa e ir para lá. Aparentemente era o destino.

– Eu... - eu não sabia direito o que falar, estava confusa, assustada e nervosa, principalmente nervosa - Tenho que te contar uma coisa. Na verdade, eu preciso de sua ajuda, quer dizer, você tem que me responder uma coisa...

Eu me embolava nas palavras e ele soltou uma risada fria ao notar meu nervosismo.

– Fale logo Rose - ele disse, se aproximando e colocando suas mãos em meu rosto, me obrigando a olhá-lo. O espaço era pequeno, de modo que eu podia sentir a respiração gelada dele bater em meu rosto, me inebriando.

– Não... Está ajudando - minha voz estava entrecortada e eu tentava controlar as fortes batidas do meu coração, que parecia querer sair pela boca.

Ele soltou uma risada rouca e sarcástica, parecia se divertir ao ver os efeitos que causava em mim.

– Fale - ele murmurou baixo, chegando um pouco mais perto.

– Primeiro, - eu tentava organizar meus pensamentos - preciso fazer isso, talvez seja minha última chance.

Eu não deixei que ele tivesse tempo para entender minha palavras, acabei com o pequeno espaço que nos separava, selando nossos lábios. O beijo era estranhamente calmo, algo me dizia que eu teria que aproveitá-lo, pois seria o ultimo e eu não estava a fim de pagar para ver. Eu tentava passar todos os meus sentimentos para ele com aquele beijo, em uma atitude desesperada talvez.

Minhas mãos foram direto para seus cabelos, se acomodando lá e ele ainda possuía as dele em meu rosto, agora me puxando, se possível, para mais perto. Eu não queria ter que partir o beijo, não queria ter que contar a verdade, queria ficar ali, beijando-o para sempre. Mas então, a imagem de Scorpius veio em minha mente, me lembrando que eu tinha que me decidir e eu sabia que só decidiria isso pela reação de Draco, e eu estava disposta a contar tudo, só esperava que ele ouvisse. Com esses pensamentos me separei dele, mesmo relutante.

Ainda estávamos bem próximos eu podia ver seus brilhantes olhos prateados, me fitando com emoções difusas e incompreensíveis.

– Vou te contar a verdade - eu murmurei, finalmente me afastando e me virando para o lago, que refletia a grande lua cheia, como se fosse um grande espelho.

Vi que Draco ficou rígido, antecipando, talvez, o que eu falaria. Ele pegou minha mão, me puxando para mais perto do lago, se sentando perto da borda e me puxando junto. Mesmo sendo lua cheia, eu só conseguia ver os contornos dele, e seus olhos, que refletiam a lua, os deixando ainda mais brilhantes e misteriosos. Ele me olhava atentamente, esperando eu continuar.

– Eu... Não sei como falar isso - cada vez que eu tentava, eu me confundia mais e não sabia por onde começar.

– Você vai voltar - ele concluiu depois de um tempo, ainda me analisando.

– Não! Quer dizer, eu não sei... Estou confusa - eu conseguia sentir as lágrimas em meus olhos, esperando um pouco para depois saírem continuamente.

Ele nada falou, apenas me olhava, sem expressão e eu não conseguia interpretar seus olhos pois minha visão já embaçava.

– Eu não quero mais esconder nada de você - eu falei com a voz embargada - Vou te contar tudo - esperei ele dizer alguma coisa, porém ele continuou parado, me encarando - Eu sou uma Weasley. Filha do Ron e da Hermione, sobrinha do Harry e... - eu não conseguia terminar, mas teria que fazer isso, era necessário - E namorada do seu filho.

Ele se levantou repentinamente, me olhando transtornado.

– C-como? - ele perguntou incrédulo, balançando a cabeça.

– Você é meu sogro Draco - eu murmurei baixo, as lágrimas já escorriam livremente pelo meu rosto e eu sabia que aos poucos eu não conseguiria controlar os soluços.

Meu coração doía, como se alguém o estivesse esmagando, não conseguia entender como aquilo poderia ser o certo, se fosse o certo não deveria doer tanto, deveria?

Eu me levantei também, cambaleando.

– Você... - ele não conseguia formular uma frase e repentinamente riu, riu! - Não acredito nisso - riu mais um pouco - Você é uma vadia! Me usou esse tempo todo, em pensar que eu estava... Esquece - sua voz era carregada de dor, desespero, uma mistura que eu nunca vira antes, não nele.

– NÃO! - eu gritei - Claro que não! Eu nunca te usaria, eu... - não conseguia continuar, afinal, talvez ele estivesse certo, talvez eu só estivesse o usando.

– Não consigo acreditar que você fez isso, não você Rose - seus olhos estavam mais brilhantes ainda e ele se aproximou novamente, me fazendo recuar rapidamente, ele possuía uma expressão feroz, destruída sim, mas feroz, assustadora.

– Você é igual a todas... Uma vadia que só pensa em si mesma, vai fazer o que agora? Voltar para seu namoradinho como se nada tivesse acontecido!? Para meu filho! - ele segurou meu braço, me impedindo de recuar mais.

– Eu não sou assim - eu já soluçava, mal conseguia ver algo pois a minha vista estava banhada por lágrimas - Eu nunca te usaria... - repedi novamente - Eu estou confusa! Não consigo entender... É diferente de tudo o que eu sinto por você, diferente do que eu sinto por ele - eu tentava explicar, me embolando ainda mais.

Ele riu mais uma vez, apertando ainda mais o meu braço, que eu tinha certeza que ficaria roxo.

– Você está me machucando - eu murmurei entre soluços, tentando me soltar.

– E você acha que você está fazendo o que? Acha que não me machuca? Que tenho um coração de pedra? Talvez eu até tivesse, mas agora... - ele apertou mais forte - Nem sei mais se tenho um coração, o que restava dele você destruiu Bennet, ou melhor, Weasley.

– Não, por favor - eu implorava - Não faça isso - minhas pernas estavam bambas e eu sabia que se ele me soltasse eu cairia no chão, sem forças - Eu te...

– NÃO OUSE COMPLETAR ESSA FRASE! - ele gritou, me jogando no chão - Mesmo que fosse verdade, não adiantaria de nada, não tenho coração, não mais...

– Eu posso ficar! Nós podemos ficar juntos, se você pedir, eu ficarei - eu implorava, tentando consertar as coisas.

– Você acha que é assim? Você fica, pede desculpas e vivemos felizes para sempre? Desculpe estragar seus sonhos Weasley, mas isso não é um conto de fadas - ele murmurou, se afastando - Adeus Rose...