Agora minha vida mudou um pouco: acordar, escola, FeitiçoTec e a noite eu estudo e faço alguns feitiços no meu quarto, escondida da Jane, lógico.

Com a ajuda do Jenk eu aprendi a controlar melhor meus dons, e agora sei o que eles realmente fazem. Posso mover qualquer objeto usando somente a força da mente e se eu não tomar cuidado acabo explodindo as coisas sem querer, acabei com uns cinco lápis meus desse jeito; posso tirar a voz de uma pessoa por quanto tempo eu quiser, e sem que ela perceba.

Tenho um escudo mental que quando eu uso pode me proteger de tudo e de todos, ninguém chega perto de mim se eu não quiser, mas esse é o meu dom mais difícil de controlar, ainda não consigo usa-lo quando quero, ele muitas vezes falha enquanto eu estou treinando e estou aprendendo a expandi-lo para longe de mim para proteger outra pessoa.

Se lembra de quando eu 'apaguei' do nada na noite em que Jane tinha me batido? Descobri o que aconteceu comigo, é mais um dom que eu tenho: o dom da cura.

Quando eu me machuco gravemente meu corpo entra em um tipo de adormecimento e enquanto isso eu me curo sozinha das feridas, ainda bem. Eu odeio hospitais. Mas quando eu me machuco apenas superficialmente, tipo cortes ou arranhões apenas tem uma leve tonteira e cansaço. Descobri isso em um acidente que eu tive nos meus primeiros treinamentos de luta, nada muito grave.

É horrível perder os movimentos do corpo, mas pelo menos o processo não é doloroso. E isso eu não posso dizer de uma outra coisa.

Eu já sei que minha mãe foi uma feiticeira. Mas e o meu pai? Antes de ontem descobri que ele era um transfigurador. Como é que eu sei disso? Ora, é bem fácil! É porque eu sou uma transfiguradora. E olha que foi bem doloroso descobrir isso. Aconteceu antes de ontem durante uma de minhas aulas na FeitiçoTec.

...

Eu estava treinando luta junto com um dos treinadores, tinha vários alunos na sala que em horário vago vão para as salas de treinamento para verem os outros em suas aulas.

Eu estava indo muito bem, desviava dos golpes rapidamente e já partia para o ataque. No meio de um dos meus golpes de repente senti uma forte dor de cabeça que só foi aumentando paralisei no meio de um movimento. Jenk que também estava presente na sala percebeu que tinha alguma coisa errada comigo e deteve o meu treinador antes que o mesmo me atacasse.

Minha cabeça doía tanto que cai no chão, fechei os olhos com força e comecei a me contorcer no chão de tanta dor. Jenk conversor rapidamente com o treinador e ambos começaram a tirar todos que estavam na sala, em seguida Jenk também retirou o treinador e trancou a sala, ficando apenas eu e ele lá dentro.

Cada parte, cada célula do meu corpo doía e eu gritava em desespero. Pelo menos a sala é a prova de som. Se alguém mais me ouvisse iriam achar que eu estava morrendo ou coisa parecida.

Senti meus dentes ficarem mais finos e os meus caninos maiores, começou a nascer pelos pretos por todo o meu corpo e escutei o som de minhas roupas sendo rasgadas. Na mesma rapidez que a dor apareceu, ela foi embora.

Abri os olhos sem nada entender. No meu corpo só pude ver pelos, minhas mãos e pés eram agora patas, meus braços ficaram mais compridos e minhas pernas mais curtas. Todo o meu corpo ficou completamente mudado, me senti mais forte e pude ver um pouco de músculos em minhas pernas, braços e no peito. Eu custei para convencer a mim mesma de que aquela coisa atrás de mim era mesmo a minha cauda.

Olhei em volta e vi o Jenk parado perto da porta me olhando com uma expressão indecifrável. Tentei lhe perguntar o que tinha acontecido comigo, mas da minha boca só saiu granidos e até mesmo rosnados.

Jenk se aproximou devagar, não sei se ele estava com medo de mim ou com medo de me assustar. Ele se agachou na minha frente e percebi pelos seus olhos que ele estava tão assustado quanto eu. Ele pousou uma mão em meu ombro e tentou me acalmar. Ele disse que parecia ter feito algum tipo de transformação, deu uma olhada em volta e eu acompanhei o seu olhar e vi o que tinha restado das minhas roupas espalhado pelo chão. Eu teria corado se pudesse.

– Tente se acalmar, eu vou lá fora lhe arranjar algumas roupas novas, mas não vou deixar ninguém entrar aqui. – ele disse se levantando e indo em direção a porta, seu rosto continuava indecifrável.

Quando ele saiu eu tentei pelo menos me levantar já que eu não sabia como voltar ao normal mesmo. Pelo o que pude constar, eu virei algum tipo de felino, eu acho. Caí no chão algumas vezes antes de manter o equilíbrio e ficar de pé, de quatro na verdade.

Depois de alguma demora Jenk finalmente apareceu, trancando a porta assim que entrou com uma sacola nas mãos.

– Me desculpe à demora, mas eu tive que fazer uma rápida pesquisa. – ele disse se aproximando. – Todos os sinais indicam que você pode ser uma transfiguradora. Não descobri muita coisa ainda, apenas li que você deve se concentrar para poder voltar ao normal e que quando você voltar vai estar completamente sem roupas. Acredito que prefira privacidade não é?

Como não tinha como lhe responder falando, concordei com a cabeça, movendo pra coma e pra baixo.

– Assim que voltar ao normal venha a minha sala. Vou pesquisar o que puder para lhe dar mais explicações. – completou e saiu novamente.

Acredito que eu tenha ficado a tarde inteira presa naquela sala tentando me transformar de volta, acabou que eu consegui, ainda bem. Se bem que como o Jenk disse, eu voltei completamente nua, minhas roupas foram completamente destruídas quando eu me transformei.

Peguei a roupa nova na sacola e a vesti rapidamente, catei os trapos da minha antiga roupa e a coloquei na sacola vazia e fui de cabeça baixa e assustada para a sala do Jenk.

...

E foi isso.

De acordo com as suas pesquisas, ele me contou o que eu sou realmente, uma mestiça. Meio feiticeira e meio transfiguradora. Ele me contou que os transfiguradores são pessoas, humanos que se transformam em um animal.

Ele teve dificuldades para achar mais detalhes para mim, pois eu faço parte de uma espécie rara, não são muitos transfiguradores que existem por ai.

Apesar de ter ficado assustada no começo, fiquei super feliz logo depois. Sempre amei animais, principalmente os felinos, imagine a minha euforia quando descobri que posso me transformar em pantera. Posso te garantir que foi muita, quase que tive um treco.

Jenk também me disse que é normal sentir tanta dor na primeira vez que se transforma. É na primeira vez que o corpo faz todas as transformações precisas para a nova forma e que depois eu não vou sentir dor alguma.

Ontem, meus treinamentos de transformação começaram, é o Jenk quem me dá essa aula. Na verdade todas as aulas que tenho, tirando luta, me é dada pelo próprio Jenk. Ao me transformar meus olhos ficam azuis e eu sempre rasgo minhas roupas ao mudar de forma, por isso Jenk me deu uma grande ajuda.

Depois de muito procurar ele achou um feitiço e o lançou em mim, para que quando eu virar pantera, minhas roupas desapareçam e quando eu voltar a ser humana elas reaparecem. Até hoje não entendo como isso acontece e não faço ideia de pra onde vão e de onde vêm minhas roupas, mas mesmo assim amo esse feitiço.

Durante as aulas de hoje vi uns panfletos espalhados pela escola, falavam de estarem contratando novos punidores? Perguntei ao Jenk sobre isso e ele me disse que alguns dos feiticeiros, se quiserem, são treinados para matarem os que prejudicam a vida dos humanos ou os que expõem o nosso segredo.

Ninguém, humano, jamais pode saber da existência de seres místicos. Vampiros, lobisomens, feiticeiros, transfiguradores (que não são muitos), entre vários outros.

Mas é apenas com 18 anos que eu poderia me tornar uma punidora. Temos que arranjar um nominho melhor!

Eu simplesmente quis e muito esse serviço! E depois de muito, mais muito custo mesmo consegui convencer o Jenk a me treinar. Ele diz que eu sou a única mestiça que ele já viu. E eu insisti nisso, sendo eu duas espécies de uma vez, posso ter mais vantagens de me sair melhor e ser mais 'poderosa', como ele diz.

O trabalho de um punidor é saber identificar qualquer ser místico e mata-lo sem chamar atenção de algum humano qualquer. Pode me chamar de louca, não ligo. Mas eu sei que vou amar esse serviço.

Essa minha transformação pode me ajudar bastante. E eu espero ansiosamente a minha primeira vitima.