Wanted Dead Or Alive escrita por ALima


Capítulo 20
Capítulo 19 - Daddy's little girl


Notas iniciais do capítulo

como prometido, cá estou eu atualizando a história. Espero que gostem do novo capítulo. o//



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Ele segurava a garotinha no colo na saída da maternidade. Giovanna tinha mandado-o escolher o nome. Ele se lembrou de sua tão amada mãe, com a qual a bebê tanto se parecia e pensou na hora: Alicia.

Ninguém sabia que esse era o nome de sua mãe, que morrera tantos anos antes, vítima de um câncer. Mesmo sem querer, ele já amava aquele pequeno ser e achou legal essa homenagem à sua heroína. Pelo menos sempre se lembraria dela.

A esposa veio em sua direção, dando-lhe um beijo. Os dois caminharam pelo hospital. Eles irradiavam felicidade. Pelo menos Giovanna sim.  Luís tinha um olhar de pesar, como se estivesse se culpando por ser tão feliz. Ele sabia por que não poderia ser feliz ao lado daquela mulher, por que não devia ter se apegado tanto à ela, amado-a, gerado nela uma filha, que amava ainda mais. Ele lutava contra as lágrimas, lutava contra si mesmo, em busca de uma coisa: poder.

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Aquela noite fora a pior que a Alicia já vivera em toda sua vida. Depois que Stéfano lhe contou a história, ela friamente abaixou a cabeça e caminhou para se quarto. Trancou-se por dentro, jogou-se em sua pequena cama e chorou. Chorou até que não houvesse mais lágrimas. A cada dia que se passava ela via que sua vida tinha sido uma farsa completa. Seu pai, aquele por quem ela passou vinte anos da vida chorando em um túmulo estava vivo. E o pior: queria sua morte. Era ele por trás disso o tempo todo. O homem por quem ela entrou na Máfia, querendo vingar o sangue das pessoas que ela mais amou em toda sua vida. Era tudo um erro, tudo em vão. Ela não conseguia parar de pensar nisso. Teve várias vezes a vontade de se matar. Ela sabia qual era o método mais rápido, não ia doer quase nada. Só queria paz, viver livre desse tormento que a perseguira por toda sua existência. Ela estava conseguindo construir uma vida em Mondragone, ela estava sendo alguém que sempre quisera ser, mas nunca fora.

Agora todos aqueles sonhos que ela tinha faziam sentido. Desde criança ela sonhava com seus pais levantando da sepultura, enquanto ela estava num cemitério escuro. Seu subconsciente estava lhe mostrando o tempo todo, mas ela não havia visto. Sempre avisava.

Ela não sabia quanto tempo tinha passado naquele quarto escuro. Só soube que alguém misteriosamente entrou lá, e tirou-a do torpor no qual se encontrava, encolhida na cama, como um bebê. Era Stéfano.

-Alicia, já é hora de sair daí. –disse ele numa voz rouca.

- Não é não, me deixa em paz!

- Já chega. Você tem que agir. A garota que eu... admiro, ela não ficaria assim. Ela lutaria. – ele disse, dando graças por não ter pronunciado o verbo amo, ao invés de admiro.

Ela não respodeu. Ele abriu a janela, deixando a luz da tarde entrar, iluminando o quarto. A luz, a princípio incomodara Alicia, e quando seus olhos se ajeitaram, ela percebeu que Stéfano parecia tão acabado quanto ela imaginara estar agora. Muito provavelmente ele não dormira enquanto ela esteve presa ali.

- Quanto tempo eu passei aqui? – ela perguntou quase sem voz.

- Cerca de um dia.

Ela tapou o rosto com um travesseiro, ficando assim por um tempo. Stefano, vendo que ela não sairia dali, pegou-a no colo e levou-a para fora. Ela começou a se debater.

- Me coloca no chão, não preciso que ninguém me carregue! – dizia ela, batendo as pernas. Mas ele só a soltou quando colocou-a debaixo do chuveiro frio, com roupa e tudo.

- Agora seja uma boa menina e se arrume. – Ele saiu e fechou a porta.

Alicia não estava acostumada a receber ordem, mas simplesmente obedeceu. Depois que o primeiro jato de água fria caiu sobre sua cabeça ela reagiu, e seu cérebro começou a trabalhar a mil por hora. Depois de uns quinze minutos ela saiu do banheiro enrolada numa toalha. Vestiu uma de suas melhores roupas. Maquiou-se lindamente, tentando esconder o rosto inchado do choro. Saiu do quarto num de seus vestidos remanescentes, um Versace for H&M florido na altura dos joelhos. Os cabelos foram secados e alisados. Stéfano não acreditava no que via.

- Estamos indo a alguma festa? – ele perguntou, quase rindo.

- Não exatamente. Aprenda uma coisa, Stefano: Quando eu caio, é pra valer, mas quando eu volto, eu sempre volto por cima.

- Então, no que você está pensando?

- Gostei da idéia da festa, pra ser sincera. Acho que vou mandar o Giovanni convidar alguns amigos para uma festa na praia hoje a noite.

- Não, eu digo... sobre o outro assunto.

Ela pegou um copo e colocou uma boa dose de uísque e despejou tudo de uma vez pela garganta.

- Estive pensando... Porque eu não posso me aproveitar um pouquinho do fato de saber invadir computadores pessoais? Espero que você tenha o e-mail daquele canalha.

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Em Palermo, no escritório de Daniel, o novo ponto de encontro dos velhos amigos, Daniel e Sr. Cunha repassavam o plano e checavam o equipamento.

- É, meu caro, estamos prestes a descobrir as coisas... Preparado? – perguntou Cunha,

- Sempre. Eu preciso saber o que aconteceu com a minha sobrinha.

Tudo foi ligado. Cunha estava no computador analisando tudo. Daniel digitou os números e fez a ligação. Após três toques, a voz apareceu do outro lado da linha.

- Franco? - ele perguntou. Mas acabou se concentrando noutra coisa. Uma voz feminina ao fundo,bem baixinha, quase abafada. Mas que ele nunca esqueceria. Ela cantava Laura Pausini. Como um anjo. Alicia.

- Don Daniel. Que surpresa sua ligação. – Stéfano disse do outro lado da linha. A voz simplesmente se calou.

- Então, meu jovem. Só queria saber se encontrou as informações que estava procurando.

- Duas pistas deram certo, mas na terceira me perdi. Olha, vou dizer, aquela menina sabe mesmo se esconder. Mas já encontrei outra pista. Em Roma. Devo partir pela manhã.

- Roma, sim? Interessante. Está demorando um pouquinho, mas não posso negar que Alicia realmente seja uma ótima fugitiva. Confiamos em você. – disse ele enquanto olhava para o monitor. Um radar emitia um sinal na tela. Uma localização.

Mondragone, Nápoles. Rua Bertinonni Cinninato, Praia Régia. S/n.

- Ok, então, senhor. Mais alguma coisa?

- Não,não. Faça uma boa viagem. Addio.

- Addio.

Ele desligou o telefone, pasmo. O que sempre pensara estava certo afinal: Franco estava escondendo Alicia. E ele precisava desesperadamente ver a sobrinha. Precisava fazer alguma coisa. Mas tudo estava confuso demais. Tantas vezes ele pensara que ela estava morta, que algo tinha acontecido. Ela era sua família, tudo o que sobrava no meio daquela merda toda. A emoção era demais.

- Eu sabia! –ele gritou. – Sabia que aquela garota é realmente uma Belucci!

- Mas e agora, o que você vai fazer? Entregá-la? Escondê-la? –perguntou Cunha, também exaltado.

- Entregá-la? Jamais. Ela é a única coisa que me resta nesse mundo podre. Eu preciso vê-la, é a única coisa que eu sei. Eu preciso, e eu vou.

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Diana estava sentada no chão do quarto revirando mais um monte de papéis escondidos no fundo falso do guarda-roupa. Ela lia, horrorizada todos aqueles documentos que comprovavam cada vez mais que ela está casada com um vigarista. E que ela espera o filho de um vigarista. Esse pensamento foi capaz de causar-lhe um enjôo, e ela correu para o banheiro. Recentemente ela estava passando muito mal. Nada parava no estômago, ela tinha constantes ataques de tremedeira e taquicardia e muita sonolência. Sua vida estava sendo um verdadeiro inferno, enquanto ela quase morria de tanto passar mal e ainda tinha que fingir amor por aquele canalha. Não que ela não o amasse, ela amava, mas seu senso de justiça sempre falou mais alto dentro de si do que qualquer coisa. Ela jamais poderia conviver com uma farsa. Ela ouviu o celular tocar e foi logo atender. Era Luis.

- Meu amor, como você está? –ele perguntou docemente do outro lado da linha.

- Razoável. – ela respondeu.

- Espero que melhore até a noite. De última hora fomos convidados para um coquetel de um amigo meu. Muito influente na Sicilia. Coisa de alto nível.

- Nem tenho vestido nem nada, meu amor. E não posso sair senão vou me cansar muito. –disse ela, implorando mentalmente que ficasse livre daquela festa.

- Isso não é problema. Lêda está indo levar alguns vestidos deslumbrantes para você experimentar, e eu mesmo mandei uma equipe de um SPA ir até aí cuidar de você e fazer algumas massagens.

Ela gelou. Era realmente uma festa muito importante. Provavelmente tinha alguma ligação com os negócios obscuros de Luis.

- Tudo bem então, meu amor. Não precisava ter gasto tanto comigo assim. Irei fazer o meu melhor para estar linda essa noite.

- Você não vai estar linda. Você é linda. Não vai ter nenhuma competição para você lá. Beijos

- Beijos.

Ela desligou o celular. Foi correndo recolher todos os papeis e os colocou de forma bem organizada onde os tirara. Assim que fechou a porta do guarda-roupa, a campainha tocou. A chata da vendedora da boutique estava lá, sorrindo para ela com as mãos cheias de sacolas. Ela não podia pedir uma manhã pior.

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5 meses atrás

de: Luisbergamo@italian.com

para: paolomezzi@zipmail.com

Olá, Paolo, como vai? Temos mais detalhes preparados: O meu repórter está cada vez mais envolvido nessa história. Vai ser mais fácil do que pensei. Acho que de uma certa forma, ele desenvolveu uma certa obcessão pela Cosa Nostra. Será bem útil. Ainda mais agora que já chegou na Alicia. Ele já tem as fotos que nós precisávamos para incriminá-la. Elas seguem em anexo. Só preciso do seu aval para a nova etapa.

Aguardo a resposta,

Luis.

de: paolomezzi@zipmail.com

para: luisbergamo@italian.com

Olá, Luis. Tudo vai bem. Vejo que escolheu muito bem esse seu ajudante... Fez um ótimo trabalho. Agora é só mandar pra Máfia. Pode ter certeza que o Daniel, mesmo amando aquela vadia mais do que a própria vida, não vai desonrar o juramento... Ele é quase incorruptível. Pode ter certeza. Eu votarei a favor, muito indignado com tudo isso (pelo menos eles pensarão), e no final, por unanimidade, vão declarar morte à ela. Em pouco tempo, ela será apenas um cadáver. Totalmente esquecido e debaixo de sete palmos de terra. E assim, viverei em paz. Não suporto mais abraçá-la ou sequer ouvir o som da sua voz. Nem sei como agüentei todos esses anos. Nós iremos vencer, meu caro, pode apostar.

Atenciosamente,

Paolo.

Alicia leu espantada, o primeiro e-mail que relacionava Luis à qualquer mafioso. E esse mafioso era, nada mais nada menos que seu ex namorado. O homem que ela um dia amou, o homem que ela achou que era a sua válvula de escape daquele mundo louco. O único que ela achou que a entendia.

- Até tu, Brutus? – ela exclamou, com lágrimas nos olhos.

- É, não é fácil pra ninguém. Agora eu consigo ver que fui tratado como um mascote, como um nada. Isso dói. Mexe com meu ego de jornalista. Pensar que entrei nisso tudo por um simples capricho de um idiota. Poderia estar com minha vidinha em Palermo, fazendo algumas matérias de vez em quando, fazendo meu mochilão pela América do Sul...

- Você ainda pode. Eu sou a única presa sem saída aqui. Eu já matei. Se eu quisesse pensar em contar o que sei, eu mesma seria condenada. Você não. No máximo falsidade ideológica, mas em nome da informação. Um infiltrado. Conseguiu tantas informações que seria logo logo o herói nacional. – ela se levantou, indo se recostar na janela.

- Eu disse que poderia, Alicia, não que vou. Eu não vou deixar esse maldito do Luis acabar com a vida de mais um monte de gente e sair ileso disso. Ele vai ter que pagar. Eu vou nessa com você até o fim. Minha vida já era. Querendo ou não, também perdi tudo o que tenho. Você não sabe que eu sou órfão, sabe? De mãe. Ela morreu de fome num pequeno vilarejo aqui na Sicilia. A polícia me achou e me levou pra um orfanato. Meu pai ninguém sabe quem é. E ninguém reconheceu o corpo da minha mãe quando ela morreu. Não tenho ninguém no mundo. Somos nós dois, os desafortunados sicilianos. E vamos mudar isso tudo. – ele disse se levantando. Foi encontrar Alicia.

- Por que você insiste tanto nisso, hein? Eu só empaco sua vida. Nada disso precisa acontecer. Estou começando a achar que talvez só a morte seja a solução.

- Nunca repita isso. A morte não alivia nada. É  única saída que os fracos e covardes encontram. E você não se encaixa em nenhuma dessas categorias. A vida lhe foi cruel, sim, lhe foi. Mas existem milhões de pessoas lá fora que dariam tudo pra terem sido ferradas como você foi. Pessoas que vivem situações piores que essas. Então nunca, nunca mais repita isso. – ele disse, quase gritando.

Olhou nos olhos dela, ela parecia que ia chorar. Transformava-se numa menininha com medo de escuro, segurando o choro, a cabeça baixa. Engolindo o orgulho.

- Você tem razão. Desculpe-me. Você tem sido um ótimo amigo, tem me ajudado em tudo, e eu aqui, falando besteira. É que é bem duro ver que tudo e todos em quem confiava na verdade te odiavam e te enganavam o tempo todo, e você nunca percebeu.

Ele a abraçou naquele momento. Ela correspondeu. Sentiu-se segura. Pensou no quanto aquele homem deveria amá-la para defendê-la desse jeito. Mas agora era tudo de verdade. Não tinha mais nenhuma obrigação social, não era por status nem por sua beleza. Era pura e simplesmente amor. Ela não sabia o que pensar sobre aquilo. Mas de repente, sentiu-se melhor.

- Vai dar tudo certo, você vai ver. Aquele cara um dia vai pagar. – ele disse.

Vai pagar. Caro, muito caro.

Ele vai pagar sim.

Ele me fez sofrer por toda vida, tem que sofrer também.

Ele. Vai. Pagar.

Alicia só podia pensar nessas palavras.


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Notas finais do capítulo

Eai? O que podem esperar da história? Reviiiiiiews