Wanted Dead Or Alive escrita por ALima


Capítulo 18
Capítulo 17 - Pague pra ver


Notas iniciais do capítulo

Tá vendo como sou uma pessoa boa? Graças a pedidos e o tempo que tenho tido, mais um capítulo pra vcs em menos de uma semana! Semana que vem vejo vocês de novo. Reta final da fic. Espero que gostem.



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Era domingo. Isso era a única coisa da qual ela se lembrava. Acordou devagar, espreguiçando-se na caminha de solteiro na qual tinha que dormir. Ficou um tempinho olhando para o teto, analisando as coisas, pensando, mas logo se levantou. Ainda era muito cedo. O sol nem havia saído direito ainda. Decidiu tomar um banho de mar para começar bem o dia. Estava exausta com tudo o que vivera na última semana, a conturbada semana em que aquele cara resolvera aparecer e acabar com toda a diversão.

Na verdade, ela não se importava muito com sua presença. Fazia dele como se fosse qualquer pessoa, um ser totalmente desprezível, por ter acabado com sua vida. Mas secretamente também o agradecia por ter aberto seus olhos para ver que existia uma vida de verdade além daquele mundinho fútil da elite. Tentou apagar esses pensamentos, sentindo cada vez que as solas dos seus pés entravam em contato com a areia, arrepiando-se quando a água gelada tocou-lhe o corpo. Mergulhou de cabeça, sentindo o sal arder na pele. Aquela era uma sensação da qual jamais iria se cansar.

Ela não viu que por uma pequena fresta na janela, Stefano acompanhava toda a cena, completamente admirado, sorrindo a toa. Alicia mal sabia o quão reconfortado Stefano sentia-se só de vê-la, mesmo que de longe. Ele ficou ali, olhos fixos na janela, observando, quase se deixando levar pela vontade de estar lá com ela. Depois de algum tempo sentiu o cheiro de comida vindo da cozinha. Supôs que Giovanni estivesse cozinhando o café da manhã. Pelo visto, Alicia também sentira o cheiro. Saiu correndo do mar, pegou a toalha que deixara na varanda de madeira da entrada. Entrou na casa, cumprimentou Giovanni e pegou as chaves na bancada da cozinha. Stéfano ouviu o barulho da fechadura do quarto se abrir, e Alicia com os cabelos molhados, enrolada naquela toalha sem dizer nada, abrir a porta e fazer um gesto com a cabeça. Depois disso, ela saiu e trancou-se no banheiro. Stefano levantou-se e foi direto para a cozinha. Tomou seu café falar nada e depois foi sentar-se no sofá para assistir o jornal matinal.

Alicia saiu do banho com os cabelos molhados e de longe cheirando lavanda. Ela vestia uma camiseta preta de alguma banda e um short jeans. Stefano jamais pensara que um dia poderia vê-la vestida daquele jeito, uma vez que Alicia sempre fora conhecida pelo seu bom gosto invejável. Ele sorriu, disse um bom dia que ela respondeu naturalmente. Ele percebeu que a situação entre eles não estava nada boa, e que muito provavelmente não iria melhorar muito. Ele confirmou suas suspeitas assim que ouviu Alicia falar com Giovanni na cozinha.

- Saia hoje, Giovanni. Vá fazer as compras da semana no mercado local, pegue uma praia, passeie com a Patricia... Aposto que ela vai amar a idéia! Vocês formam um casal tão bonitinho. Vai lhe fazer bem. Você fica enfurnado aqui a maior parte do tempo...

Giovanni deu uma risadinha.

- Não conhecia essa sua habilidade de cupido, senhorita Alicia.

- Existem muitas outras que você nem imagina! –disse ela rindo também.

- Estou com minha sanidade mental intacta por não imaginar essas suas habilidades. Mas vou seguir seu conselho. Nós estamos aqui há mais de dois meses e eu nem conheci a cidade direito!

- Tome as chaves, vá de carro. Pegue Pati na casa dela. Eu sei que ela vai amar.

- Ok, mestra. Addio. Qualquer coisa, você sabe, é só ligar.

E Giovanni saiu pela porta da frente. Alicia acenou pra ele da varanda enquanto ele sumia em direção à cidade. Ela entrou, suspirando e fechou a porta com um estalo. Stefano pôde ouvir a chave virar duas vezes na maçaneta. Subitamente entendeu que estavam trancados. Ela veio a passos longos até a sala, com toda sua graciosidade.

- Acho que nós precisamos conversar. E podemos fazer isso de uma maneira fácil ou de uma maneira difícil... Qual das duas você vai escolher?

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Ele fazia questão de conversar olhando para a paisagem de Palermo. Mesmo com a chuva caindo lá fora e o céu pintado de cinza, não havia nada que lhe confortasse mais do que a visão de sua cidade, seu território, seu lar.

Daniel Bellucci estava sentado na varanda de seu duplex no centro de Palermo tomando uma xícara de cappuccino. Ao seu lado, o velho amigo Pedro mantinha-se calado, mesmo que houvesse tanto a ser dito.

Há duas semanas os dois vinham se encontrando secretamente, sem a presença de nenhum outro mafioso. Existiam assuntos muitíssimo importantes dentro de uma organização que só o Don e seu conselheiro poderiam compartilhar. Dessa vez era um caso sério. Tudo podia mudar dessa vez... Só não sabiam se pra melhor ou pra pior. Era isso que aqueles dois senhores tentavam descobrir. Daniel passou a mão pela barba que começava a ficar grisalha, após colocar a xícara na pequena mesinha da varanda.

-É, meu caro conselheiro, parece que temos novas informações. Cheguei onde eu queria, finalmente. –disse ele.

-Fico contente, Daniel. Agora tudo pode se resolver e nós saímos de cena antes mesmo de aparecermos...

-Sim. Você não perde por esperar pra saber das novas descobertas... Agora acho que estamos devidamente preparados para compartilhá-las.

-Claro. Pode falar, estou pronto.

-Nós temos traidores em nosso meio, Pedro. Eu disse no plural.

-Mais um foi descoberto, senhor?

-Temos dois informantes dentro da nossa organização, e eu temo que foram esses dois que prejudicaram Alicia, conseguindo provas contra ela pra exterminá-la. A única coisa que me falta saber é o porquê.

-Sabemos que o Franco está mentindo. E que muito provavelmente ele conhece a localização de Alicia.

-Sim. A novidade é que temos outro informante, meu caro. Paolo.

-Paolo? O próprio namorado da Alicia? Isso é loucura, aquele garoto cresceu com a gente, Daniel.

-Mas eu já descobri tudo. Tenho meus próprios métodos, que em hora mais oportuna acabarei dividindo com você, uma vez que eles serão bem úteis se você acabar no meu lugar.

-Certo... Mas estou estarrecido, Daniel. Não acredito que aquele cretino está nos traindo, traindo Alicia bem debaixo dos nossos narizes.

-Sim, está. Já sei que foi ele que passou as coordenadas do “trabalho” da Alicia naquela noite das fotos. O que não sei é quem é essa pessoa com quem ele se comunica e nem qual é o objetivo dele em fazer isso.

-Nem eu... Mas devemos investigar.

-E iremos meu caro. Essa história, infelizmente está longe de acabar. A única coisa que quero é que a justiça seja feita com a minha sobrinha. Ela é uma garota fantástica, não merece nada disso.

-Concordo. Nós não podemos deixar nossa “filha” na mão desses sanguessugas. Ela é esperta, Daniel. Se não morreu até agora...

-Veremos meu caro, veremos.

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Diana passava o dia deitada na cama com mal estar e enjôos. Luis não sabia do que se passava com a moça, pois a deixou sozinha no apartamento dele, agora dos dois, para ir a uma reunião com os acionistas do Jornal. A moça pensou em ligar para algum amigo, mas acabou descobrindo que não tinha nenhum, uma vez que seu melhor amigo e amor, Stéfano, estava longe. Não só de Mondragone, mas também de sua vida. Assim que ela se lembrou disso, uma lágrima correu-lhe pelos olhos.

Nem tudo estava bem no relacionamento dela com Luis. Ele era um cavalheiro, muito gentil, mas principalmente, muito misterioso. E isso não agradava Diana, uma mulher bem resolvida, que encarava a vida como um livro aberto. Muitas vezes ele atendia o celular longe da moça, não falava nada sobre ele mesmo e seu passado, nem para onde iria sair. Além dos pesadelos noturnos que insistiam em aparecer todas as noites para atormentá-lo. Diana já não dormia mais. Olheiras profundas se formavam debaixo dos seus olhos. Quem conhecia a jovem linda, loira e cheia de vida, se surpreenderia se a encontrasse na rua qualquer hora.

Ela foi arrumar umas coisas no guarda-roupa pra fazer o tédio passar. Sentia-se gorda e fraca, sua autoestima nunca estivera tão em baixa como nessas últimas semanas. Tomada de curiosidade, foi dar uma olhada no guarda-roupa de Luis. Abriu todas as gavetas, procurou por qualquer coisa, mas não achou nada. Estava aproveitando pra arrumar umas camisas no cabide, quando percebeu que uma parte do fundo do guarda-roupa era oca. Ela pegou o celular pra tentar iluminar lá no fundo. Achou uma discreta fechadura, com a chave no trinco. Girou a chave e abriu o pequeno compartimento. E dentro deste, ela encontrou uma enorme pilha de papéis, que ela tirou de lá.

Sentou-se na cama para ler. O primeiro papel era assinado por Stéfano e era basicamente um relatório sobre as atividades mafiosas da Cosa Nostra. Ela gelou. Rapidamente ela chegou à conclusão de que Stéfano tinha se ligado à Máfia italiana, por isso tantos segredos e desaparecimentos... Não acreditou que Luis pudesse ter colocado Stéfano nessa emboscada. Eles iriam matá-lo!

Foi então que ela ouviu um barulho vindo da sala. A porta se fechara e Luis acabara de entrar. Ela pegou os papeis rapidamente organizando-os da mesma maneira que encontrara e colocou rapidamente no cofre, trancando-o.

- Diana, meu amor, você está aí?

Ela fechou a porta do guarda-roupa correndo e foi até a sala.

- Sim, meu amor, eu estou aqui. Você chegou cedo...

- Pois é hoje os acionistas estavam apressados, para a minha sorte. Você parece pálida, assustada... Aconteceu alguma coisa?

- Ahn... Não, não aconteceu nada. Eu estava dormindo e nosso bebê me chutou com força... Hahaha... Que coisa! Eu me assustei.

- Já tão pequeno e se mexendo desse jeito! Será um bebê agitado, não é mesmo? –disse ele acariciando a barriga da mulher.

- E como!

- Estive pensando em levá-la para passear um pouco. Faz um lindo dia lá fora. Vista um biquíni, iremos à praia.

- Ótima idéia. Estou realmente com muita vontade de ir à praia. Já vou me arrumar.

- Vamos então, querida.

E nada, nada mesmo conseguiu tirar de sua mente as palavras que ela lera mais cedo.

--------x-----------

Alicia e Stéfano se encararam por mais tempo do que perceberam. Ela tentava não demonstrar, assim como Stéfano, o nervosismo que carregavam naquele momento cheio de tensão. De uma hora para outra, Alicia começou a andar pela sala, pensativa. Ela se aproximou de Stéfano sentado no sofá.

- Você vai colaborar por livre e espontânea vontade ou eu terei que amarrar você? – ela perguntou.

- Olha, eu não sei o que você quer de mim! Eu já te contei tudo, tudo o que aconteceu e...

- Calado. Eu só perguntei se você ia colaborar ou não.

- Eu vou colaborar, Alicia. É claro, óbvio que eu vou colaborar.

- Bom mesmo que não esteja mentindo, ou as conseqüências não serão tão agradáveis. Agora, eu quero que você me conte quem foi que mandou você escrever essa... Matéria sobre a nossa instituição.

Stéfano suspirou. Temia que ela perguntasse isso. Mas iria responder, mesmo que isso custasse muito a ele depois. E também, ninguém iria descobrir que foi ele que contou, em primeiro lugar.

- Meu chefe, o Sr. Luis Felippe Bergamo.

- Certo. E ele estipulou algum prazo para a publicação da revista?

- Ele queria que a edição saísse daqui dois meses.

- Ele tem conteúdo suficiente pra isso?

- Tem. Eu tinha escrito grande parte da história, já.

- E ele sabe... Da minha existência?

- Sim, ele sabe.

Ela agora olhava com olhos injetados de sangue. Não queria perder o controle, mas simplesmente pegou a primeira coisa que viu e jogou contra a parede, fazendo o vidro estalar fazendo um grande barulho quando se chocou com o concreto.

- Droga! Minhas chances estão arruinadas. Esse cara vai publicar a matéria, todos vão saber, acabou minha vida. Não demora muito e a polícia me acha aqui. Droga!

Ela estava visivelmente alterada, e ele não sabia o que fazer. Nunca pensara que veria Alicia daquele jeito.

- Calma Alicia. Calma! No que depender de mim, ele nunca mais terá nenhuma palavra, eu já disse.

- Por que você está do meu lado? Por que perdeu sua grande chance de ouro como repórter da década e veio parar nessa cidade? Por quê?

A resposta que ele queria dar, infelizmente ele não podia. Amor, ele diria. Meu amor por você. Mas contentou-se com o silêncio.

- Não agüento mais tudo isso, Stéfano. Não agüento. Não é fácil pra mim. Não consigo mais manter essa máscara de “está tudo bem comigo” enquanto tudo ao meu redor está desmoronando. Eu fui traída, traída pela minha própria família. Eu durmo todas as noites com medo de morrer. Eu nunca tive medo de morrer! Nem quando eu matava aqueles bandidos de colarinho branco super poderosos de merda. Nunca! E agora eu durmo com medo todas as noites. Sempre esperando que alguém vá me trair, vá tentar tirar de mim o pouco que eu consegui aqui. Eu nunca tive uma vida de verdade.  – ela dizia. Já não conseguia controlar as lágrimas que caiam do rosto involuntariamente. – E eu nem sei por que raios eu estou falando da minha vida pra você, um estranho que foi a razão pela qual minha vida desmoronou.

Ela abraçou os joelhos, sentando no chão de madeira. A respiração estava descompassada e o rosto vermelho. Stéfano logo se lembrou de quando ele a vira em situação semelhante no cemitério. Ambos não agiam mais com racionalidade.

- Não fica assim, Alicia. – disse ele se ajoelhando ao lado dele. – No que depender de mim, ninguém nunca vai colocar as mãos em você.

Ele segurou o rosto dela, ela não sabia como reagir. Ele então encostou seus lábios nos dela e por um momento esqueceu-se de quem era.  Ele esperava que a qualquer momento ela fosse dar-lhe um soco ou algo do tipo. Mas para contrarias suas expectativas, ela o beijou de volta, deixando que os instintos tomassem conta de seu corpo pelo menos por alguns minutos.

---------x-----------

Enquanto passeavam animados pela cidade, Giovanni e Patrícia conversavam sobre tudo. Os dois pareciam feitos um para o outro. Entre um beijo e outro, Patrícia comentou:

- Vem cá, a Alicia nunca mais encontrou aquele cara estranho da livraria de novo?

- Acho que ela se encontrou com ele uma vez depois daquilo. Ele é um cara legal. Mas foi embora faz pouco tempo.

- Nunca vou me esquecer daquele dia... Foi estranho. Ele a chamouela com tanta convicção de ser a pessoa que ele procurava...

- Meio louco, né? Achei-o um pouco impulsivo. Deve ser por isso...

- Não sei... Eu sei que eu me arrepiei na hora. Não gosto daquele nome... Alicia.

- Por quê?

- É estranho...  Esse nome é o mesmo nome da assassina do meu pai. A razão por eu ter me mudado pra essa cidade aqui no meio do nada. O pior é que ninguém nem sabe quem é essa garota. Ah, deixa isso pra lá. Se eu não tivesse me mudado pra cá, eu não teria conhecido você, não é mesmo? Vem, vamos embora. Quero te mostrar aquele novo Box dos Beatles que eu comprei.

- Vamos. Deixa eu só pagar a conta.

- Não precisa, eu tenho cadastro aqui. Eles me deixam pagar no fim do mês. Hey, garçom! – ela gritou. Na mesma hora um senhor apareceu com a bandeja na mão. – Marque a conta dessa mesa para Patrícia Buricelli.

- Identidade, signorina.

- Aqui.

- Correto. Tenham um bom dia.

- Obrigada.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Chocados? comentem. Até sexta que vem. xoxo