Finalmente!

Pensou Hermione Granger, quando sentava em uma cadeira de frente a uma janela, sem se preocupar em amassar seu sofisticado vestido. Já fazia uma hora que tentava fugir da festa mas com todos aqueles repórteres aguardando a chegada do “menino-que-viveu-que-derrotou-Voldemort-mais-uma-vez” ficava difícil sair sem ser notada. Finalmente, quando Harry chegou com Gina, toda a atenção em Hermione e Rony se dissipou. Rony, esse já era outro assunto, mas de igual frustração: Desde o beijo dos dois, nada parecia ter mudado. Talvez tivessem agido como um casal por duas semanas, mas quando voltaram no ano seguinte pra Hogwarts (afinal, nunca tinham tido a chance de concluir seu último ano) ele agiu como se fossem apenas amigos. Constantemente xingava o ruivo mentalmente por fazê-la criar esperanças anteriormente, mas uma vez que aceitou que os dois iriam continuar como amigos, parou de sentir tanta raiva dele. Não podia, no entanto, deixar de se sentir frustrada com aquela situação: Era a única garota que conhecia que nunca teve um verdadeiro namoro, Até mesmo Luna, que nunca tinha demonstrado interesse por ninguém, estava com Neville agora. Mesmo que a maior parte do tempo fingisse não ligar pra isso e se ocupar lendo livro, não eram raras as vezes que se pegava pensando se não era bonita, ou ao menos chamava atenção dos olhares alheios.

- Fugindo, Granger? Isso não é nada grifinório.

Uma voz na escuridão a fez pular na cadeira, despertando a mesma dos pensamentos. No entanto, conhecendo o dono da voz não se surpreendeu quando não conseguiu ouvir o mesmo se aproximando. Severus Snape era assim: Amigo da escuridão, sempre chegando sorrateiramente quando não se espera e surpreendendo até mesmo o mais atento dos bruxos com um comentário sarcástico aparentemente vindo do nada. Antes que se pudesse perceber, lá ele estava. Surgido da escuridão.

- Só estou cansada de tanto assédio. Como entrou aqui com a porta trancada, Severus?

Hermione não se deu o trabalho de se levantar e ir falar com o professor. Ele deu um passo para fora da escuridão e levantou uma sobrancelha ao ouvir a garota o chamar pelo primeiro nome, mas a mesma já não sentia medo do mestre de porções. O que ele poderia fazer agora que a garota não era mais uma aluna? Tirá-la dez pontos por ter sido “desrespeitosa” com o professor? Impossível. Aquela era a noite que marcava oficialmente o fim de sua infância, pois não mais pertencia a Hogwarts.

-  Alohomora. Também não queria ficar perto de toda aquela gente.

- Porque veio justo aqui, então?

- Não sabia que a senhorita estaria aqui, Granger. Se soubesse teria escolhido outra sala.

- Tenho certeza que sim – a castanha deu um suspiro – Pode, por favor, me dizer porque sempre me odiou?

Ele levantou a sobrancelha mais uma vez com a pergunta inesperada.

- Porque a pergunta, Granger?

E ela, também repetindo um gesto, suspirou cansada. Olhou para janela e viu que só conseguia ver o céu escuro por ela. Deveria ter subido algumas escadarias quando estava indo pra sala, não sabia ao certo. Estava de fato muito cansada, sua cabeça ainda pulsava com os flashes de tantas câmeras. Não estava em seu estado mais paciente. Levantou-se da cadeira e olhou pro mesmo, imensamente irritada.

- Por Merlin, Severus! Não sou mais uma aluna, não precisa me tratar por “Granger”.

- Vejo que está um pouco alterada, Granger. O que seu namoradinho Weasley pensa disso?

- Não responderei a suas provocações até que me chame de Hermione.

O professor tinha a raiva nítida no olhar, até que suspirou se dando por vencido.

- Assim seja, Hermione.

Algo na forma como o homem a sua frente pronunciou o nome dela a fez sentir arrepios, fato que obviamente não deixaria que se tornasse do conhecimento dele. Resolveu ignorar aquilo e se focar na última pergunta.

- Rony não é meu namorado.

- Então suponho que aquele beijo...

- como sabe sobre o beijo?

- Suponho também que não saiba sobre a facilidade em como os boatos correm por Hogwarts.

Um silêncio caiu desconfortavelmente na sala, junto com a repentina pressão onde Hermione, antes convicta de que não era mais uma aluna, sentia como se tivesse acabado de ser repreendida por seu professor. Era um sentimento vergonhoso e amargo. Ela tinha a impressão que a sala tinha se tornada fria pelo silêncio, de repente Hermione sentiu seus pelos se arrepiarem de frio.

- Porque ainda está aqui?

Hermione falou quebrando o silêncio.

- Está me expulsando?

- Não, é que normalmente não passa mais do que o tempo necessário das aulas na minha presença. E geralmente não conversa comigo, também.

- Realmente, eu não deveria estar conversando com uma criança a sós. Adeus, Granger.

Mas algo dentro de Hermione rugiu em fúria. Algo desconhecido que gritava por atenção. A castanha correu na direção do homem antes que conseguisse abrir a porta e lhe puxando o pulso disse transbordando raiva, quase gritando:

- Eu não sou mais uma criança, Severus.

E em um impulso inesperado, antes que o mais velho pudesse argumentar Hermione o puxou em um beijo, projetando os lábios contra os deles furiosamente. Tamanha foi a surpresa da mesma quando ele não a empurrou, mas ao contrário: Trouxe-a pra mais perto dele, colocando a mão que não era segurada na cintura da mesma. A língua dele invadiu a boca da garota causando arrepios. Ela soltou a mão do mestre e entrelaçou os dois braços no pescoço dele, sem se preocupar com nada além de estar cada vez mais perto do corpo de Snape. As vestes longas dele aqueciam Hermione que ao sentir as mãos do mesmo acariciar suas costas, não conseguiu evitar os choques por todo o corpo. Continuaram assim até que o ar obrigou os dois a pararem. Ofegantes, os dois se olharam. O tom carmim ocupando as bochechas de Hermione.

- Eu não sou uma criança. Não me trate como tal, Severus.

Ela pensou que deveria pedir desculpas, mas nem ao menos se arrependia do que tinha feito. Porque de repente a razão de ter sentido arrepios quando ele falou seu nome e o porquê de nunca ter namorado Rony seriamente estava clara.

Ela nunca foi destinada a Rony, Victor Krum ou qualquer outro estúpido garoto de Hogwarts. Era Snape, Severus Snape o homem para ela.

E para ele também ficou claro porque Lily nunca tinha sido sua. Era Hermione, a aluna sabe-tudo que sempre odiou, quem deveria estar ao seu lado.

- Você não é criança, Granger. Tampouco minha aluna.

Ela sorriu vitoriosa com o comentário e então se inclinou para beija-lo mais uma vez. Pouco importava a formatura, ali com Severus era a noite que marcava oficialmente o fim da sua infância.