Ele estava acabando de tomar o café com os Wafles sozinho na cozinha, Talinda tinha ido visitar umas amigas e os garotos estavam na escola, a casa estaria em silêncio se não fosse pelo leve barulho que seus dentes faziam ao morder os crocantes Wafles. Tomou o último gole do café e se jogou no sofá com o notebook em mãos. Ele adorava esses momentos em que ficava sozinho, tanto quanto os momentos em que estava com toda a família reunida.

Abriu o twitter, falou algo sobre um show dali há alguns dias, um monte de fãs mandaram replys confirmando presença, elogiando, dizendo que ele era um filho da puta, dizendo que ele era foda. Não pode deixar de sorrir. Não twittou muito, logo foi olhar os e-mails “Propaganda, propaganda, vírus, as correntes idiotas que o Mike manda e...” Um e-mail diferente, pensou um pouco nas iniciais do remetente, não se recordou de ninguém. O interfone tocou, colocou o note sobre a mesa, abriria o e-mail mais tarde, e foi atender o interfone.

- Hey Chaz, sou eu, Mike

- Vindo me ver de madrugada só podia ser

Ouviu o amigo sorrir do outro lado enquanto ele apertava o botão pra destravar o portão pra que ele entrasse com o carro na garagem. O jovem, com suaves traços asiáticos, ouvia um CD que o rapper Jay-Z tinha lhe dado de presente no último aniversário enquanto entrava na garagem da casa de Chester. Quando estacionou desligou o carro e entrou na casa do amigo. Chester estava apenas com a calça do moletom, deixando o peito tatuado à mostra, o rosto ainda tinha as marcas do lençol.

- Parece que alguém caiu da cama!

- Isso lá é hora de aparecer na casa do outros, Spike?

- Qual é cara, olha pra sua janela, o dia lindo que ta fazendo hoje!

- Nossa, que coisa gay

Depois de abrir a porta pra Mike, Chester voltou para o balcão da cozinha para dar um jeito na bagunça do café e Mike se jogou no sofá. O notebook estava sobre a mesinha de centro, ele o colocou no colo e começou a mexer. O Twitter e o e-mail de Chester estavam abertos, saiu do twitter do Chester e entrou no seu, aproveitou e abriu um outro site, enquanto carregava ele clicou na aba do e-mail de Chester e encontrou o tal e-mail.

- Hey Chaz, quem é AB?

- Não sei cara, ta vendo o e-mail?

- Vou abrir agora

Ele clicou e uma mensagem não muito grande apareceu na tela, e antão começou a lê-la em voz alta pra o amigo na cozinha ouvisse:

“Hey priminho, que saudades man, como vão as coisas?

Soube que largou as drogas, casou. Coisa boa. Fez sucesso né? Quem diria.

Olha, a sua mãe insistiu pra que eu entrasse em contato com você, na verdade estava com um pouco de vergonha, mas enfim, vou passar um semestre aí na sua cidade e queria saber se posso passar uns dias na sua casa, só enquanto me organizo, juro que não vou incomodar.

Preciso de uma resposta rápido

Abraços

Anita Bennington”

Chester encarava o chão atônito

- Não pode ser

Mike abriu um sorriso

- Priminho é? Não sabia que você tinha uma prima Chaz

- É, a gente foi meio que criado juntos, quando eu morava lá em Phoenix.

- Aah, tem tempo que você não vê ela?

- Sei lá cara, deve ter uns quinze anos que eu não vejo ela

- Quinze cara?

- Mais ou menos isso

- Mais e aí? O que você vai responder?

- Também não sei, isso me pegou de surpresa, acho que vou esperar a Talinda chegar.

Mike deu de ombros, e apesar de que notou que Chester ficou estranho depois que ele leu o e-mail, achou melhor não falar nada. Ele conhecia seu amigo, e sabia que as vezes a cabeça dele demorava refletindo em alguma coisa, sabia que logo ele tomaria uma decisão.

******

A jovem loira ainda estava na frente do seu computador, nenhuma resposta até agora. Tinha mandado o e-mail há quase 24 horas e nada. “Mas o que eu estava pensando? Ele é um cara ocupado e famoso, nem deve ser ele que abre o e-mail, eu não devia estar tão preocupada com isso”. Levantou da cadeira e foi até a janela do quarto, algumas crianças brincavam de pique esconde na rua, o sol já estalava, e eram apenas 9h da manhã.

Anita Bennington, loira, olhos castanhos, magra, metida a independente. Meio problemática, mas muita gente gostava dela. Era meio excêntrica, mas isso não a impedia de ser gentil e amável com as pessoas. Deu muito duro pra conseguir tudo o que queria e acabar a faculdade de Design foi uma de suas maiores conquistas. Tinha talento pra coisa, gostava de desenhar, criar, apesar de ser meio desorganizada, tinha uma mente que faltava explodir de tanta criatividade.

 Voltou-se para o interior do próprio quarto, boa parte das suas coisas já estavam encaixotadas, o novo emprego tinha vindo em boa hora, estava precisando de dinheiro pra dar uma boa manutenção na Charlotte, sua moto. Tinha dado o próprio sangue pra pagar aquela moto, mas tinha valido a pena, adorava o vento batendo no rosto e a liberdade e rebeldia que aquele veículo lhe proporcionava. Depois de tantos anos sendo tratada como lixo pelos chefes enquanto ainda não tinha seu diploma, sem fazer a menor ideia do que fazer das suas economias, ela ainda se lembrava claramente de vê-la em exposição, era daquilo que ela precisava, de liberdade, e aquela moto a proporcionaria tudo isso.

Acendeu um cigarro e desceu as escadas do pequeno apartamento. Sentou-se na escadaria da frente e ficou observando as crianças brincarem, aquilo a fez lembrar-se dele.

******

- Prima?

- É

- E como você nunca me falou nela?

- Faz muito tempo que nem tenho noticias dela, Tall. E de acordo com o e-mail dela é só enquanto ela se organiza por aqui.

- E como ela é?

- Sinceramente, faz tanto tempo que eu não a vejo, ela costumava ser magrela, loira, irritante, mas nem sei.

Talinda olhou para Chester, ela confiava nele, apesar de ele ser meio fechado e meio zangado as vezes, ela o conhecia, ele não iria colocar alguém dentro da própria casa para fazer qualquer coisa de errado.

- Tudo bem Chaz, ela pode ficar aqui.

Ele sorriu para ela e lhe deu um beijo nos lábios.

- Vou responder o e-mail dela então.

- Tudo bem, mas não demora, o almoço é daqui a pouco

Ele subiu as escadas e ligou novamente o notebook, abriu os e-mails e olhou para o espaço em branco onde ele deveria escrever a resposta para Anita. Pensou um pouco, estava um pouco sem jeito de escrever para ela.

“Hey Annie

Quanto tempo garota!

Ainda continua pele e osso como antes?

Brincadeira

Você pode vir passar uns dias aqui sim, sem nenhum problema. Só espero que não se importe com a bagunça das crianças.

Quando você chega?

Abraços

Chazy”

Pronto, não era nada muito grande, na verdade ele não sabia exatamente o que dizer para ela. Tanto tempo longe um do outro. Ele lembrava de muitas coisas, lembrava bem dela na adolescência, a doce priminha Annie e o louco e revoltado primo Chester. Tinha muita coisa no passado deles dois que ele achava que era melhor Talinda nem imaginar.