Mirrors And Shadows - Sequel To Ls escrita por Laradith


Capítulo 9
NOVE




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/156615/chapter/9

Respirei fundo.

Ao meu redor, quase cem pessoas aguardavam, apreensivas e ansiosas, imaginando o que aconteceria nesse julgamento. Embora, é claro, estivesse claro que Tasha seria condenada. Nos últimos dias – e meses, na verdade - a fofoca mais quente na Corte foi o julgamento da assassina de Tatiana, finalmente trazida perante a justiça. Ouvi meu nome constantemente, como a garota acusada injustamente, mas me lembrava de como essas mesmas pessoas, que agora me defendiam, haviam me condenado no passado.

Falsidade à flor da pele, isso sim.

Como era uma Guardiã Real, meu lugar era em um lugar bem próximo de Lissa, mas Dimitri, sendo responsável por Christian – acomodado na primeira fileira da sessão direita do tribunal -- praticamente estava do outro lado da sala. A distância me incomodava. Embora parecesse calma e controlada, nervosismo me devorava por dentro, pensamentos sobre tudo que eu sabia sobre Tasha – ou achava que sabia – passando pela minha mente como balas de um fuzil. Estar perto de Dimitri me ajudaria um pouco, sua presença sempre sendo um conforto. Mas eu sabia que estar próximo a mim enquanto Tasha era julgada, alguém considerada sua melhor amiga por anos, seria difícil.

Além disso, eu também daria meu depoimento, e todas as evidências contra mim, plantadas por Tasha, seriam apresentadas ao tribunal, para que o Juiz e todos os Moroi da realeza pudessem ver o quão longe o réu foi.

Estando na sala do tribunal, lembrei do julgamento de Victor. Naquela época, eu também estava nervosa, já que os procedimentos me envolviam. Mas eu estava mais com medo do que ansiedade. Tanto Dimitri quando eu havíamos ficado com medo de Victor revelar a verdade por trás do feitiço lançado em nós.

Agora, a única coisa que passava por mim era ansiedade pelo o que ia acontecer. E culpa, principalmente, ao pensar em Christian, que ficaria mais sozinho. Tasha era sua única família, e agora, ele só não seria ridicularizado publicamente por causa do seu envolvimento com Lissa. Se antes, com o histórico dos seus pais se transformando em Strigoi voluntariamente, ele já era excluído... Bem, com a sua tia assassinando a Rainha? Digamos que ele nem seria considerado um indivíduo, se dependesse dos nobres.

Olhei atentamente para cada rosto no tribunal, imaginando se entre elas, estaria a pessoa que mandou aquela carta para Lissa. Entre elas estava Jill e Mia. Porém, só de pensar nas ameaças que aquele pedaço de papel continha, e a insegurança que despertava em Liss... Fechei os punhos, me focando e tentando discernir uma feição facial da outra, me perguntando quem ali era contra a Rainha.

Suspirei. Meus pensamentos estavam correndo a mil por hora, e olhei para Dimitri, tentando absorver um pouco da força que ele emanava, da segurança que me passava. Ele estava quieto no seu lugar, e pelo olhar distante que tinha, podia adivinhar que estava perdido em memórias. Sobre Tasha ou mais alguém, quem sabe.

O juiz estava em seu lugar, no centro do tribunal, organizando papeis e ocasionalmente trocando palavras sussurradas com uma Moroi que ia e voltava da sala várias vezes. Finalmente, ele bateu o martelo uma vez na mesa, e chamou os membros do Conselho, um por um. Somente onze lugares estavam tomados, já que Jill era menor de idade, e Lissa a rainha. Logo depois Tasha entrou no tribunal, acompanhada por um guarda, que a levou ao lado esquerdo.

Lissa veio em seguida, real e majestosa usando um vestido verde de cetim, e todos se ajoelharam perante a rainha, como de costume. Não nos levantamos até ela se sentar, e no meio dos meus sentimentos, uma onda de orgulho passou por mim. Ela parecia tão serena, mas tinha certeza de que, se o laço ainda existisse, eu captaria uma explosão de emoções. Lissa era muito boa em esconder o que sentia.

Um homem estava sentado ao lado de Tasha – seu advogado, eu presumi – e ele estava calmo, assim como sua cliente. Não sabia o que ele ia usar para defendê-la. Evidência contra mim, talvez? Jogar a culpa para cima de mim com as antigas evidências? Não fazia sentido, mas eu não duvidava de mais nada quando o assunto era Tasha.

Ao aceno de Lissa, o juiz pigarreou, e em uma voz alta o bastante para ecoar pela sala. – Esse julgamento tomará lugar para que seja decidido se há evidência o bastante contra Natasha Ozera, e caso haja, qual será sua sentença.

Com isso, o assassinato de Tatiana foi repassado, todas as imagens daquela noite mostradas para o público. Elas eram do jeito que eu lembrava: sangue, o olhar de choque no rosto de Tatiana, minha estaca saindo do peito dela... Desviei o olhar, e me deparei com olhares de surpresa e medo. A visão não ajudou, mas era melhor que encarar a antiga Rainha morta.

Depois das imagens, o juiz chamou todas as testemunhas, uma por uma. A primeira pessoa foi Ethan Moore, o guardião de Tasha, que aparentemente havia deixado-a entrar nos aposentos de Tatiana. Depois de jurar que diria somente a verdade, ele se ajeitou em seu lugar, respirando fundo.

– Sr. Moore, - Iris Kane, a advogada de acusação, começou - relatos dizem que você estava guardando os aposentos de Tatiana na noite do assassinato.

Ela esperou até que ele assentisse. – Relatos também dizem que você tinha um... Relacionamento próximo com Natasha Ozera. Isso é verdade?

O advogado de defesa interferiu. – Meritíssimo,esse é o tipo de pergunta que Sr. Moore não precisa responder.

- Tecnicamente, isso influencia no julgamento. Então prossiga, Sra. Kane. – O juiz murmurou. Iris voltou sua atenção para Ethan, o tribunal inteiro aguardando sua resposta.

Se eu estivesse no lugar de Ethan, também hesitaria. Mas ele só o fez por um momento breve. – Eerr... Sim, eu era próximo de Natasha.

Iris assentiu, como se essa fosse exatamente a resposta que ela esperava.

– Eu só vou perguntar isso uma vez, Sr. Moore, e tenha em mente que todos nesse julgamento estão cientes de que mentir só te prejudicará. Também tenha em mente que-

- Com licença, Sra. Kane - o advogado de defesa disse, levantando uma mão. – Você está tentando intimidar a testemunha?

- De maneira alguma, - Iris disse, erguendo uma sobrancelha - só estou estabelecendo fatos, Sr. Prites.

Sr. Prites suspirou. – É claro que está - ele disse. – Por favor, faça sua pergunta rapidamente, sim?

A sobrancelha de Iris se ergueu mais, como se demonstrando sua incredulidade, e ela se virou para a testemunha. – Sr. Moore, você deixou Natasha Ozera entrar nos aposentos de Tatiana?

Um silêncio perturbador tomou conta do tribunal. Ethan umedeceu os lábios, e com claridade, respondeu - Sim.

Senti meus olhos se arregalando. Essa era a última coisa que eu esperava. Ethan admitindo seu crime? Olhei para Dimitri, e vi em seu rosto uma expressão parecida com a minha. Entretanto, um olhar na direção de Ethan, e eu percebi que ele parecia mais calmo... Como se soubesse que não haveria saída dessa situação.

Iris suspirou, mas quando abriu a boca para falar, Ethan a interrompeu. – Porém, - ele continuou. – Eu não tinha ideia dos planos de Natasha. Como eu podia saber que Tatiana seria... Assassinada? Não ouvi nada de estranho, não vi nada de estranho... Foi uma visita, como qualquer outra.

- O que me leva à conclusão - o advogado de defesa disse - de que, se a visita de Natasha foi como qualquer outra, então outra pessoa ter assassinado a Rainha, sem o Sr. Moore ter percebido. Afinal de contas, Natasha não era a única contra os métodos governamentais de Tatiana Ivashkov.

- E quem mais incriminaria Rose Hathaway, eu presumo? – Iris perguntou em uma voz propositalmente fina, como se sarcástica. Muitas pessoas não gostavam de mim na Corte, mas me odiar o bastante para usar minha estaca no assassinato? Era muito pessoal. E nesse quesito, Tasha era a única que se encaixava.

Sr. Prites não pareceu perturbado pela pergunta de Iris. – Qualquer um, também. Guardiã Hathaway não é exatamente conhecida pela sua amabilidade entre o público. Como tantos Guardiões por aí, ela certamente tem inimigos. – Eu reprimi a vontade de mandá-lo calar a boca.

- Devo lembrar a ambos - o juiz interrompeu, sua voz profunda e alta, mesmo com os procedimentos acontecendo - que mencionar outras testemunhas não faz parte do interrogatório. Prossiga, e quando for a vez de Srta. Hathaway depor, compararemos os fatos.

Ambos os advogados assentiram e Ethan continuou. – Entendam, eu não tinha ideia de que Natasha estava planejando um assassinato. Se soubesse, nunca teria permitido sua entrada. Eu não sou aliado de assassinos.

Mesmo do outro lado do tribunal, ouvi o arfar de Tasha, e sua voz se elevando enquanto ela murmurava, ultrajada - Como ousa...

Um olhar do seu advogado foi o bastante, e ela se calou, apenas lançando olhares fulminantes na direção de Ethan.

Eu tinha que admitir, Tasha estava mostrando mais controle do que eu pensei. Se fosse eu sentada naquela posição humilhante, teria xingado Ethan com a primeira palavra que ele falasse contra mim. Não sabia a extensão do relacionamento entre Tasha e Ethan – e se Tasha só tinha mostrado interesse nele por causa de seus planos --, mas era óbvio que Ethan não estava perdidamente apaixonado por ela. Óbvio, é claro, porque ele estava defendendo a sua pele na frente de todas essas testemunhas, e pouco se importando com Tasha.

Não pude evitar comparar isso com o que eu sentia por Dimitri. Eu morreria por ele, e não importasse a situação, prezaria a vida dele antes da minha. A mesma coisa acontecia com ele, tendo em vista o tanto de coisas que Dimitri já fez por mim. Só de pensar em nosso relacionamento sendo tão superficial e podre como o deles...

Ethan não tinha muito mais o que falar, oferecendo alguns detalhes à visita de James e Tasha aos Alquimistas, e novamente alegando sua inocência e ignorância sobre os planos de Tasha. Se Ethan for inocente, eu sou um anjo, pensei, enquanto observava a segunda testemunha ser chamada: Joe Sop, o zelador do meu prédio que deu acesso a Tasha. Tentei ignorar a ironia do seu nome enquanto um oficial acompanhava-o ao seu lugar.

Ele deveria ter mais ou menos a idade de Abe, com cabelos castanhos caindo sobre a testa, já passada a hora de um corte, e olhos escuros e nervosos. Embora soubesse que meu nome tinha sido limpado, uma onda de raiva passou por mim. Afinal, foi esse o homem que permitiu à Tasha acesso a minha estaca, a maior evidência que Iris Kane tinha contra mim. Joe fez o juramento, levantando a mão direita – que tremia delicadamente com cada respiração sua – e se focou no juramento.

Ele, diferentemente de Ethan, tentou se livrar completamente da culpa, e até alegou ter dormido em serviço e que qualquer pessoa poderia ter passado por ele. Pelo jeito, ser demitido era bem melhor do que ser mandado para Tarasov. – Levando em conta a falta de atenção de Sr. Sop - murmurou Sr. Prites - um indivíduo com intenções de incriminar Guardiã Hathaway poderia ter passado por sua vista.

- Se for assim, - Iris disse - Guardiã Hathaway pode muito bem ter tido um álibi na hora do assassinato. Se levarmos em conta cada possibilidade... bem, desse jeito, então, pode ser provado que até o mais educado Moroi pode ter entrado nos aposentos de Tatiana. O que importa não é o que pode ter acontecido, e sim o que aconteceu. E de acordo com o que claramente vemos aqui, Senhoras e Senhores, há evidência o bastante para que se tenha certeza de que Natasha Ozera subordinou Sr. Sop. Motivos, meios, e recursos. Sra. Ozera tinha todos eles. Sem mencionar a-

- Basta. – O juiz disse, levantando uma mão. – Você provou o seu ponto, Sra. Kane. Para a próxima testemunha.

Droga. Só existia outra pessoa envolvida o suficiente para ser questionada nesse julgamento: Rose Hathaway. Porque é claro, fui eu a acusada, quem Tasha quis derrubar desde o inicio com o assassinato de Tatiana.

Arrumei minha postura e me sentei ao outro lado do juiz. Depois de jurar dizer a verdade e somente a verdade – promessa que eu cumpriria dessa vez, já que, no julgamento de Victor, fui obrigada a omitir o que realmente aconteceu na noite que Lissa foi raptada, ou tanto Dimitri quanto eu estaríamos com sérios problemas – respirei fundo e repassei tudo o que sabia. Antes que pudesse abrir a boca e falar o meu relato, porém, Iris me interrompeu:

- Guardiã Hathaway - ela começou. – Se não se importa, gostaria de começar te perguntando algumas coisas. Você respondeu essas perguntas antes, mas as circunstâncias mudaram.

Assenti hesitantemente, e roubei um olhar na direção de Dimitri, que me encarava com sua máscara de guardião. Somente eu, provavelmente, poderia ver o amor que havia ali. Christian estava ao seu lado, pálido e quieto. Ele praticamente não havia se mexido até agora, somente observando tudo que estava acontecendo. Assistir enquanto evidências contra sua tia eram apresentadas não deveria ser fácil, pensei. Lissa, como é esperado de uma Rainha, estava quieta e majestosa em seu trono, mas se ajeitou quando fui até o meu lugar.

- Guardiã Hathaway, onde você estava na hora do assassinato?

- No meu quarto - respondi. – Fiquei lá parte do dia, inclusive na hora do ocorrido.

Iris assentiu, e o advogado de defesa entrou. – Alguém sabia que você estava indo para o seu quarto antecipadamente? Ou, se a resposta for não, alguém viu você entrando no prédio?

Balancei a cabeça, já que as chances de alguém dizer que me viu entrando no prédio eram muito pequenas. Além disso, minha cabeça estava tão cheia naquele dia que não tinha prestado atenção ao que acontecia ao meu redor. – Não. Ninguém me viu entrando... Ninguém que não tenha sido subornado, quero dizer.

- Srta. Hathaway - o juiz avisou, e pelo canto dos olhos, vi a expressão de pedra de Tasha.

- Peço desculpas, Meritíssimo - respondi, educadamente. Essa era uma nova Rose Hathaway, e eu estava fazendo o máximo para ser educada, sensata e responsável. Um crescimento de personalidade impressionante, se você me perguntar.

- Devo lembrar a todos que assumir fatos não ajudará ninguém nesse tribunal - Sr. Prites murmurou.

- Como se o que eu tivesse acabado de dizer não fosse verdade. - disse tão baixo que ninguém ouviu. Bem, eu ainda era Rose Hathaway, afinal de contas.

Sr. Prites resolveu continuar com a sua linha de interrogação, para um assunto que eu não gostava muito. – Se, aparentemente, ninguém viu você entrando no seu quarto ou em algum lugar qualquer no momento em que Tatiana Ivashkov foi assassinada, devo assumir que poderia muito bem estar no quarto da Rainha, colocando sua estaca em seu coração. Seria, afinal de contas, uma visita qualquer, não é? De acordo com o que o Sr. Moore alegou, ninguém pareceu de interesse malicioso em relação a Sra. Ivashkov. Estou certo?

- Sim - respondi, tentando não demonstrar minha desconfiança.

- Sendo assim, Srta. Hathaway, devo assumir que você não tem um álibi, como foi dito na audição ocorrida no dia seguinte ao assassinato. Sem um álibi, não existem provas o suficiente que possam deletar a possibilidade de um segundo suspeito.

Respirei fundo, e respondi o mais calmamente possível, embora meu estômago se revirasse furiosamente. – Na verdade, Sr. Prites, eu tenho um álibi. Sr. Joe me viu entrando no prédio, mas, como foi dito há menos de uma hora, ele foi subornado pelo réu.

- Qualquer um poderia tê-lo subornado a dizer isso em tribunal, até mesmo você, Guardiã Hathaway.

- Oh, por favor, - murmurei. – Devo lembrar ao senhor que assumir fatos não ajudará ninguém nesse tribunal?

Sr. Prites pareceu ofendido, somente por um segundo, até sua compostura profissional entrar em jogo. Ele ergueu uma sobrancelha, e se inclinou na minha direção, embora estivesse a metros de distância. – Srta. Hathaway, - ele disse, deixando de lado meu título - não estava assumindo nada. Estava dizendo o óbvio.

A isso, preferi ficar calada.

O óbvio, na verdade, era que o advogado de Tasha estava se apegando a qualquer coisa que pudesse para defendê-la, e todos sabiam disso. Não valia a pena desperdiçar tempo com esse tipo de pessoa. Embora, é claro, fosse o trabalho dele, ainda achava repugnante a vontade que Sr. Prites tinha de defender uma assassina.

- De qualquer modo, - Iris retomou, prevendo outra interrupção do juiz. – Você não tem um álibi, certo, Guardiã Hathaway? Ninguém que possa provar a sua inocência na hora do assassinato?

Antes que pudesse dizer que não, eu não tinha nenhum álibi – o que era uma mentira, porque meu álibi estava fora de alcance e eu duvidava que ele fosse cooperar - ouvi protestos do lado de fora do tribunal, e segurei minhas palavras.

Um segundo depois, o juiz murmurou - Guardiã Hathaway?

- Não, Meritíssimo - respondi - não tenho um álibi.

O advogado de Tasha parecia satisfeito com a resposta. Droga, pensei. Iris Kane não demonstrou muita emoção. Eu não estava muito preocupada com a minha situação, porque meu nome já estava limpo o suficiente para que Tasha fosse a única suspeita. Mas mesmo assim, ter as luzes viradas para mim era desconcertante. Sim, sempre fui extrovertida, mas um tribunal cheio de pessoas no meio de um julgamento não é exatamente-

- Na verdade, Meritíssimo, - uma voz murmurou do fundo da sala, e todos se viraram. – Guardiã Hathaway tem sim um álibi.

Acho que minha boca bateu no chão. Não é possível, foi a primeira coisa que passou pela minha mente. Não era possível mesmo.

Adrian tirou seu casaco preto e depositou-o na maçaneta das portas duplas. A discórdia que ouvimos, a que interrompeu minha resposta, era o barulho de fora do tribunal enquanto Adrian entrava na sala, e eu estava tão perturbada pelo o que ia dizer que não prestei atenção.

Mesmo a essa distância, os olhos de Adrian brilhavam, como duas piscinas verdes sem fim. A última vez que o vi foi quando levei um tiro no coração, e ele jogou na minha cara tudo o que tinha feito com Dimitri, e como eu tinha arruinado sua vida. Ouvir aquilo de Adrian basicamente acabou comigo, também, e desde então, tenho tentado não pensar muito nele, tendo em vista a dor que preenchia meu coração.

- O que significa isso? – O juiz perguntou, claramente frustrado.

- Desculpe o atraso. Eu sou muito popular entre as multidões.

Revirei meus olhos, mas não perdi o olhar ilegível de Dimitri enquanto ele encarava Adrian. Mal podia pensar o que Dimitri estaria pensando de tudo isso.

- Se me permite, isso é uma ofensa a esse decoro. Por favor, retire-se desse tribunal - Sr. Prites disse, como se tivesse a moral de um presidente.

Adrian parou no meio do corredor, e olhou para o advogado. – Não acho que fomos apresentados. Adrian Ivashkov - ele murmurou, e foi claro a ênfase em seu sobrenome real. – Estou aqui porque posso provar que Guardiã Hathaway é inocente das atrocidades que você está falando. Então, com todo o respeito, deixarei que o juiz decida se eu sou permitido ou não aqui.

Tive que me segurar para não rir, embora exclamações de surpresa varressem pela sala. Adrian foi extremamente educado e claro, e nenhuma ofensa foi dita diretamente. Ele só deixou isso nas entrelinhas, é claro.

- Embora tenha expressado isso de maneira errada - o juiz murmurou - Sr. Prites tem razão. E a não ser que suas explicações para estar aqui sejam muito convincentes, Sr. Ivashkov, terei de pedir que se retire.

- Como disse antes, - Adrian disse, erguendo elegantemente uma sobrancelha - estou aqui porque tenho como provar que a Guardiã Hathaway é inocente. Ela tem um álibi.

Iris Kane franziu o cenho. – E posso perguntar que álibi é esse?

Adrian esticou os braços, suspirando. – À sua disposição.

Exclamações de surpresa e desdém encheram a sala, em parte porque a maioria aqui sabia do meu antigo relacionamento com Adrian. Era difícil não notar, já que eu era uma dhampir rebelde prestes a se formar, e ele, um nobre levemente revoltado.

- Isso não é justo, Meritíssimo - a voz de Tasha parecia uma lâmina, afiada e pronta para matar. – Se a Guardiã Hathaway tivesse algum álibi, vocês não acham que ela teria dito? Por favor, é óbvio que o Sr. Ivashkov está fazendo isso por outras razões.

Ela realmente vai apelar para isso? - pensei, me forçando a ficar parada.

 – E que razões seriam essas? – Iris perguntou.

- Todos na Corte estão cientes do caso que Rose Hathaway tinha com Adrian Ivashkov. Na verdade, esse era um relacionamento que a Rainha Tatiana mais desprezava - Tasha disse, parecendo mais confiante a cada instante. – E esse relacionamento ser condenado desde o começo é um dos principais argumentos do meu advogado, já que, se eles queriam ficar juntos e não podiam...

Ela deixou sua voz cair de tom a cada palavra, e eu bufei, mesmo sendo deselegante em um lugar como esse. Ah, foda-se os bons modos. Eu estava completamente surpresa com o comportamento de Tasha em relação ao dia em que a conheci em St. Vladmir e quando eu a desmascarei

– Sinceramente, Meritíssimo, não sou uma mulher que recorre à violência para conseguir o homem que quero - murmurei, e percebi com satisfação o olhar que Tasha enviou na minha direção. Tente entender o que eu disse nas entrelinhas, vadia, pensei. E pelo jeito que Dimitri se ajeitou onde estava, ele também percebeu a indireta.

- Esse não é o ponto dessa discussão - Sr. Prites disse - e sim que Adrian Ivashkov pode mentir aqui, dado o seu relacionamento com a testemunha. Sendo assim, ele não pode agir como um álibi.

- Sendo assim, se me permite dizer, Meritíssimo, eu seria considerada uma suspeita de novo, e toda a culpa e questões sobre o envolvimento de Natasha cairia em cima de mim? Eu achava que meu nome estava limpo - disse. Mantive minha expressão o mais neutra possível, deixando claro o quão sincera estava sendo.

- E seu nome está limpo - veio a voz clara e suave de Lissa. Olhei alarmada para cima, onde ela sentava quietamente, absorvendo tudo que era apresentado. Ela se inclinou levemente para frente. – Seu nome está limpo, Guardiã Hathaway, e como a presença de um álibi não alterará a sua situação perante a lei, permito que Adrian Ivashkov aja como tal.

Tasha abriu a boca para protestar, e um olhar de Sr. Prites a calou. Aparentemente, não era certo o réu ficar dando opiniões. Lembrava-me perfeitamente bem que Victor não falou quase nada no julgamento, exceto quando foi chamado para depor.

Adrian andou até seu lugar – já vazio, pois eu havia voltado ao lado de Lissa -  e jurou dizer somente a verdade, como era o usual. Sua postura estava confiante, já que sabia que tudo falado ali tinha sido provado. – Sr. Ivashkov - Sr. Prites começou, com a voz levemente petulante - onde você estava na hora do assassinato?

- Com a Guardiã Hathaway - Adrian murmurou. – No quarto dela, onde ficamos o resto da noite.

- Você tem algum álibi, confirmando o que acabou de dizer? – Sr. Prites perguntou.

- Na verdade... não, se você deixar de fora o zelador subornado. De qualquer jeito, Excelência, não tenho por que mentir.

- E posso saber suas razões? – Iris ergueu uma sobrancelha delineada. Ela parecia curiosa.

Adrian revirou os olhos. – Simples. Por que defenderia a Guardiã Hathaway com mentiras? Isso só se viraria contra mim, e não tenho vontade de passar o resto da minha vida em Tarasov ou ser executado. De qualquer jeito, eu estava com ela na hora do assassinato. E por muitas horas depois disso, com certeza.

Não tive coragem de saber o que Dimitri estaria pensando, mas quando olhei para ele, seu rosto estava cuidadosamente neutro. Meu relacionamento com Adrian tinha sido uma grande muralha entre Dimitri e eu quando ele voltou a ser um dhampir. Eu não tinha ideia do que ele sentia por mim, e ele não roubaria a mulher de outro homem.

- Muito bem - Iris murmurou, e se virou para Sr. Prites. – Isso muda muita coisa. O nome da Guardiã Hathaway está absolutamente limpo perante a lei, mesmo sem um álibi. E agora que o Sr. Ivashkov se apresentou e deu o seu depoimento, creio que a Guardiã Hathaway deverá continuar com o seu próprio relato dos fatos. Por favor, Guardiã Hathaway?

Assenti e, assim que Adrian saiu e se colocou perto dos Guardiões do lado direito da Corte, voltei ao meu antigo lugar e, o mais detalhadamente possível, contei a todos ali presentes – ignorando o olhar de Tasha e Adrian – o que fiz no dia do assassinato, como fiquei no quarto a noite toda, e só sai de lá no outro dia. Justifiquei minha fuga com Dimitri alegando minha inocência, e mesmo Tasha portando uma expressão desdenhosa, pude ver que todos acreditavam no que eu estava falando. Afinal, o júri estava julgando Tasha, e não a mim. Minha época de acusada já tinha acabado há muito tempo.

Embora parecesse um século – assim como no julgamento de Victor – se passaram somente uns dez minutos até eu voltar para o meu lugar. Nem o Sr. Prites nem Iris fizeram mais perguntas, e assumi que eles simplesmente não sabiam o que perguntar. Eu não estava envolvida no assassinato, estava claro isso.

Finalmente, foi a vez de Tasha, o réu, depor. A sala inteira prendeu a respiração quando ela começou a falar. E é claro, foi para alegar sua inocência. Até ai, nenhuma surpresa, pensei. Ela havia se defendido fortemente quando acusei-a de assassinato na frente de toda aquela multidão.

- Eu não vou mentir aqui - Tasha murmurou - admito que não apoiava Tatiana em muitos aspectos, mas por que diabos a assassinaria? Isso é baixo, e muitos de vocês me conhecem o bastante para saberem que não faria isso.

- E mesmo assim, existem diversas evidências contra você - Iris disse - muito coincidente, não acha? Seu relacionamento com o guardião Ethan, por exemplo, já foi provada que te ajudou a entrar nos aposentos da Rainha.

- Isso não foi provado - Tasha retrucou - e meu relacionamento com Ethan era, como vocês dizem, temporário. Além disso, não sou baixa o bastante para seduzir um homem com esses objetivos.

Oh, com certeza, pensei. Ela só tentaria matar a mulher que ele ama, não seduzi-lo. Por mais que eu quisesse falar isso em voz alta, me mantive quieta.

- O ponto crucial aqui - Tasha murmurou - é que não existem provas concretas contra mim, e me considerar culpada seria injusto. E eu sei que a Rainha Dragomir é justa. Existem mais provas contra ela – Tasha apontou um dedo na minha direção – do que contra mim.

Ela continuou se defendendo, e seu advogado fazia perguntas objetivas, sempre buscando limpar o nome de sua cliente, e de algum modo me incriminando – mesmo imperceptivelmente, Tasha sempre direcionava sua resposta a mim.

Não estava preocupada com meu status perante a lei, e todos ali sabiam que Tasha só estava cavando seu buraco mais a fundo, e eu comecei a ficar cada vez mais entediada ao ouvir as mesmas justificativas, e as mesmas frases. Isso mudou, entretanto, quando Iris Kane suspirou e disse - Muito bem. Acredito que vocês tenham uma posição clara a respeito do réu?

Os jurados assentiram, mas assim que Lissa se levantou para participar da discussão, Tasha ergueu uma mão - Espere. Eu ainda não acabei.

- Acredito que sim, Sra. Ozera. Mesmo com as inúmeras provas da sua envolvência, você continua se declarando inocente. Sendo assim, os jurados agora se reunirão e votarão.

- Não acabei de falar - Tasha disse, estreitando os olhos. – Os jurados precisam saber disso antes de votarem.

Uma inquietação crescente tomou conta da Corte, e eu mesma fiquei curiosa. O que Tasha teria a dizer agora?

- Se fosse tão importante assim, por que não mencionou o assunto antes? – Iris questionou.

- Me permita lembrá-la que o depoimento da minha cliente não terminará até que ela diga. Portanto, ela tem todo o direito de prosseguir. Estou certo, Meritíssimo?

O Juiz suspirou. – Sim, vá em frente, Sra. Ozera.

- Vocês disseram tudo o que podiam contra mim, e eu aceito isso - Tasha começou. – Porém, tais acusações são idiotas, porque só quero o melhor para nossa raça. E o único jeito disso acontecer é se os Moroi lutarem. Várias pessoas deram esse discurso, mas tudo o que eu fiz, e o que não fiz, como nesse caso, se resumi a minha vontade de ajudar os Moroi e Dhampir. Eu luto por essa causa há muito tempo - seu olhar se fixou em Dimitri, que rapidamente desviou o olhar, e eu quis matá-la por se dirigir a ele depois de tudo. - e mesmo assim, aqui estou eu, sendo julgada.

- Sinceramente, - ela continuou - me defendi o máximo possível, mas nem argumentos com sentido podem ultrapassar a ignorância de alguns. Agora, uma coisa que eu não admito, é a vida de outro ser prejudicada por isso, por uma acusação sem limites. Não ficarei aqui sentada, observando enquanto vocês machucam o que já me é precioso. Então, jurados, pensem nisso, - ela colocou a mão em sua barriga - antes de dar seus respectivos votos.

Exclamações de surpresa ecoaram pela Corte, e até eu arfei. Então essa era a cartada de Tasha? Primeiro se defender, e se desse errado, dizer que estava grávida? De Ethan?

Gritos de “mentira!” foram ouvidos, até o juiz bater na mesa e gritar, - Ordem!

Mesmo assim, todos estavam muito abalados para obedecer. O rosto de Dimitri era uma máscara de incredulidade. Já Christian mal conseguia se conter. Ele estava pálido, com olhos chocados, e eu não sabia se ele explodiria. Caso isso acontecesse... Seria o caos.

A bagunça prosseguiu por alguns segundos, até que Lissa se levantou elegantemente porém com agilidade. – Calem-se!  - A multidão não proferiu nenhum outro som, e ali, de pé e furiosa, ela parecia uma deusa. – Um tribunal com caos não é melhor do que um debate público, e um julgamento não é publico exatamente por esse motivo. Se não se importa, - ela se dirigiu ao juiz - falarei por você. – Ele assentiu graciosamente, e Lissa continuou. – Essa... Descoberta... será levada em conta, mas nenhuma mudança drástica será feita nas decisões. Portanto, continuaremos com as votações.

- Vocês condenariam à morte uma mulher grávida? – a voz de Tasha soou alta e histérica, e Sr. Prites pigarreou.

- Não - Lissa respondeu com um olhar penetrante - mas condenaríamos uma mulher culpada de assassinato que usa falsa gravidez como último recurso.

Na sua cara, pensei, olhando para Lissa com respeito. O recado foi entendido na hora, já que alguns sussurros surgiram, e os olhos de Sr. Prites se arregalaram. – Isso é uma ameaça?

- De maneira alguma - Lissa respondeu - só estejam cientes de que serão feito testes de gravidez.

- Estou ciente disso - Tasha disse, e acariciou sua barriga. Pela minha visão periférica, vi Adrian revirar os olhos do outro lado da sala, e eu mesma fiquei com vontade de fazer isso. Era um absurdo o tamanho da mentira que Tasha conseguia criar para escapar da prisão. E era óbvio que Lissa e os jurados não estavam caindo.

- Dentro de quinze minutos anunciaremos o resultado - Iris Kane anunciou, e todos os jurados se retiraram em uma sala adjacente para votarem. Em julgamentos normais, demoraria horas para que o resultado saísse, mas o assunto era muito sério, e assumi que tanto os jurados quanto Lissa quisessem que isso acabasse rapidamente.

Esses quinze minutos foram uma tortura. Tentei falar com Dimitri, mas mesmo sem Lissa estar presente, todos os Guardiãs deveriam permanecer nos seus lugares, e o máximo que consegui foi uma troca de olhares angustiada. Ainda não sabia como ele estava reagindo à descoberta da gravidez de Tasha, por mais falsa que ela fosse, e ao depoimento de Adrian.

Não duvidei por um segundo que teríamos uma conversa sobre isso depois do julgamento. Por favor, que o meu passado com Adrian não nos influencie de novo, torci. Com o resto do tempo, fiquei observando Tasha trocar palavras sussurradas com seu advogado, e ela permaneceu com a mão em sua barriga o tempo todo. Fiquei com medo de que estivessem planejando uma fuga ou algo assim, mas fazer isso no meio do julgamento seria estúpido.

Olhando no meu relógio constantemente, vi que se passaram exatos quinze minutos quando os jurados e Lissa entraram na Corte, cessando qualquer conversa restante. Tanto o advogado de acusação quanto o de defesa ficaram tensos, assim como Tasha e o resto da multidão.

Iris Kane leu os resultados. 9 votos apoiando a condenação, e 2 votos contra a condenação. Como Lissa era a Rainha e não havia nenhum outro membro da família Dragomir que pudesse votar, somente 11 das 12 famílias reais votaram. Um voto contra a condenação de Tasha seria da família Ozera, sem duvidas. Mas o outro voto me pegou desprevenida.

Mesmo com a votação, quem dava a palavra final era Lissa, assim como Tatiana tinha condenado Victor. De novo, Sr. Prites lembrou Lissa da condição de Tasha, e sua cliente ficou calada, ouvindo pacientemente, mas com uma expressão aflita. Se eu não a conhecesse melhor, diria que estava preocupada com seu filho.

Com a pressão de toda a Corte em cima de seus ombros, Lissa ergueu-se quando chegou a hora certa, e em uma voz clara, pronunciou uma única palavra:

- Culpada. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vocês não tem ideia de quão infernal a minha vida anda nesse mês e vai estar no próximo x_x é só prova,estudar mais e mais,enem,vestibular.... e olhem que eu to ainda no segundo ano!
Eu queria ter postado o julgamento antes,mas não deu. Mas espero que vocês gostem apesar da grande revelação que teve nele! Ela vai ser fundamental pros acontecimentos seguintes! O capítulo 10 não está pronto ainda porque a Bia está ocupadíssima com a escola,assim como eu. Mas eu tenho uma ceninha hot romitri prevista pro capítulo 11 se vocês forem expressar sua opinião sobre a fic! quem sabe eu não largue um trechinho pra vocês no próximo capítulo...
Enfim,obrigada por tudo pessoal! E desculpem essa falta de atualização!
Comentem e recomendem e nos deixem felizes hehe (povo que lê mas não comenta,vamo fazer esses dedinhos trabalharem e fazerem o dia de 2 escritoras junto com os outros?)
beijos ;*