Mirrors And Shadows - Sequel To Ls escrita por Laradith


Capítulo 1
UM


Notas iniciais do capítulo

- São as papeladas sobre decreto.

Não sabia se ficava mais surpresa por ele ter me respondido ao invés de arrumar uma desculpa e dizer que aquilo não era da minha conta ou que os papéis se tratavam sobre o decreto da idade.



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- Guardiã Hathaway - eu praticamente saltei da cadeira quando ouvi meu nome sendo chamado. Yeah, isso que dá você ficar imersa em pensamentos e baixar a guarda, eu percebi.

O dhampir que tinha acabado de me chamar parecia familiar. Estatura mediana, olhos cor de amêndoa, idade próxima aos trinta. Eu já o tinha visto nos cofres da Corte há um tempo enquanto cumpria meu castigo que consistia em organizar algumas fichas por supostamente ter ido a Las Vegas para um ‘final de semana selvagem’ com meus amigos, apesar de que essa desculpa não estava nem próxima do real motivo por termos ido pra lá.

Ele me chamou novamente, semicerrando os olhos de impaciência quando eu lentamente me levantei e o segui.

Entramos por uma porta que havia uma placa escrito o nome de Hans Croft, o chefe dos guardiões da Corte. Era ele quem comandava os guardiões do nosso mundo, além de ter uma enorme influência nas designações de cada um de nós, até mesmo na guarda da rainha.

Hans estava sentado na mesa, me olhando como se soubesse que era apenas uma questão de tempo até que eu aparecesse ali. E ele não estava errado.

- Não é nenhuma surpresa ver você aqui outra vez.

Sorri em resposta. Cerca de um mês atrás, eu considerava Hans um velho idiota e irritante. Nunca nos dávamos bem, obviamente porque eu aprontava e ele me punia por desobedecer às regras. Mas quando as coisas complicaram e nosso dever falou mais alto, eu passei a considerá-lo uma boa pessoa. Não era só porque nós usávamos as mesmas estratégias imprudentes e suicidas para salvar aquelas pessoas que nos importavam, mas porque ele fez coisas que me fizeram a passar a ter respeito e certa admiração por ele. Como ter me ajudado a dizer para o mundo que Dimitri não era mais um Strigoi.

Puxei uma das cadeiras e sentei na sua frente. - Suponho que você saiba o motivo de eu estar aqui.

Um sorriso sarcástico apareceu nele. - Mas é claro! E a resposta vai ser a mesma de ontem e dos outros dias: Não.

- O que diabos te impede de me dar logo uma autorização para eu voltar a trabalhar normalmente? Eu já estou recuperada há dias!

- Não foi isso o que notei enquanto você andava – ele disse apoiando os braços na mesa. – Além disso, você não está cem por cento recuperada. A rainha vai precisar de guardiões dispostos a protegê-la. E não uma guardiã que vai dar trabalho como uma criança por estar com a saúde fragilizada se acontecer um ataque.

Eu comecei a dizer a ele que era praticamente impossível acontecer um ataque de Strigoi ou Moroi enfurecidos contra Lissa porque ela tinha uma escolta de quase trinta guardiões que eram os mais fodões que existiam – exceto que eles não eram tão fodões como Dimitri – e porque a Corte estava totalmente segura e que eu estava pronta para protegê-la de qualquer um que a atacasse quando uma teoria maluca sobre o motivo dele estar me negando essa autorização.

- Ah meu deus – incredulidade tomou conta de mim enquanto eu tentava reprimir minha agitação. – Foi a minha mãe, certo? É por causa dela que você está tão fixado em não me dar uma autorização!

- Não sei do que você está falando - ele franziu as sobrancelhas grisalhas, mas eu não notei a sinceridade de suas palavras porque eu estava ocupada demais imaginando o que Janine Hathaway tinha dito a Hans quando deixou claro para mim que eu estava sob licença médica.

- Ela deve ter te ameaçado e dito graficamente com todos os detalhes sórdidos sobre o que faria com você caso você não me deixasse três semanas e meia afastada do trabalho ...

- O quê? – exclamou ele finalmente entendendo.

- Qual é Hans, você me conhece. Sabe que eu sou dura na queda e que um ferimento de bala dificilmente iria me manter afastada do dever. No máximo alguns dias, apenas isso. Janine Hathaway com certeza fez um ótimo trabalho ao te convencer que eu precisava de mais folga.

Sua expressão, que antes era de choque, se tornou irritada. – Você ficou maluca, Hathaway? Que tipo de remédio andaram te dando? Um alucinógeno?

- Eu não tomo meus medicamentos há três dias – isso era uma meia verdade. Eu ainda tomava os antiinflamatórios, mas mesmo assim me livrar dos outros medicamentos era uma grande vitória para mim. Medicamentos que eu não necessitava, mas que eu estava sendo obrigada a tomar.

E bem, eu deveria ter respondido ao comentário de Hans com uma resposta igualmente espertinha, mas eu estava feliz demais para me importar.

Uma batida na porta fez aquela expressão incrédula de Hans desaparecer e meus olhos desviarem dele para o guardião que entrava na sala com uns arquivos com capa azul. Eu conhecia esse guardião, ele era um dos amigos de Dimitri e seu nome era Martin.

- Já estava passando da hora. – murmurou Hans empurrando seu cinzeiro, que tinha um cigarro ainda soltando uma fraca fumaça, para deixar Martin por os arquivos lá. Quando ele saiu da sala, voltei minha atenção para Hans que abria a capa de um dos arquivos.

- O que é isso?

Isso rendeu uma reação dele: fechar o arquivo e voltar a me encarar como se fosse agora que eu tivesse entrado na sala. E o tirado de uma leitura importante, motivo pelo qual ele tinha um olhar sério e frio.

- Você quer saber – começou ele abrindo uma gaveta e puxando uma folha em branco antes de começar a escrever – Pode voltar a trabalhar e fazer o que quiser. Sua designação para ser guardiã da rainha já foi autorizada.

Ele carimbou o papel, antes de me entregá-lo. Eu estava surpresa com sua repentina mudança de ideia, mas eu sabia que havia algo por trás daquilo. Hans estava me dispensando porque queria ler aquele arquivo urgentemente, percebi.

Mas não era qualquer tipo de arquivo para ele estar com uma cara amarrada como agora. Alguma coisa ali o incomodava e eu tinha uma sensação de que essa era uma coisa grande.

Uma coisa grande o suficiente para mudar o nosso mundo e o sistema dos guardiões. Algo como o decreto da idade, em que os dhampirs se tornariam guardiões com apenas dezesseis anos de idade.

Essa lei foi decretada no governo da antiga monarca, Tatiana Ivashkov. E foi a gota d’água para os guardiões e muitos Moroi, tanto que resultou no assassinato da própria e a culpa caindo em cima de mim, porque eu tinha desafiado Tatiana e mostrado a ela o quão irritada fiquei com aquela decisão e por ter me usado. E honestamente, eu ainda estava, mesmo sabendo que ela tentou proteger nossa raça de algo pior: o uso de compulsão para recrutar mais guardiões.

O motivo de tudo isso eram os ataques de Strigoi que estavam ficando cada vez mais freqüentes. Famílias inteiras eram massacradas por esses vampiros imortais sem alma que vagavam por aí, causando destruição e morte por onde passavam. Era trabalho de nós, guardiões, protegerem os Moroi contra os Strigoi. Nossos genes, que eram a mistura dos humanos e dos Moroi, nos proporcionava as melhores qualidades das duas raças: éramos mais fortes e não tínhamos problemas com o Sol, assim como tínhamos sentidos aguçados, além de não precisarmos beber sangue. Essa combinação nos fazia mais forte que os Moroi e os humanos, nos fazendo sermos os protetores perfeitos para um Moroi indefeso. Era por isso que aprendíamos a lutar e a proteger nas academias. Nós seguíamos um mantra: Eles vem primeiro.

Infelizmente, a queda no número de guardiões estava prejudicando ainda mais as coisas. E foi por isso que a elite da realeza decidiu que já estava na hora de dar um basta em tudo isso, arrumando vários jeitos de conseguirem mais guardiões. E eles conseguiram.

Mas eu sentia que uma mudança estava acontecendo. Séculos atrás, os Moroi costumavam lutar ao lado dos guardiões em grandes batalhas usando os quatro elementos: fogo, ar, terra e água. Hoje, os guardiões arriscavam suas vidas para protegerem os Moroi, enquanto estes viviam como bem queriam e em segurança, o que era ridículo, é claro.

 Ainda sim, existiam grupos de Moroi aprendendo a usar magia ofensiva e a lutar com os guardiões. Era proibido, mas muitos estavam decidindo entrar para esses grupos, a fim de saberem se defender. Especialmente depois que Lissa se tornou rainha. E eu tinha uma leve impressão de que em breve teríamos uma reunião com o conselho a respeito disso, especialmente porque Lissa já estava planejando em anular o decreto.

Eu repeti a pergunta ao Hans e dessa vez ele me respondeu de verdade.

- São as papeladas sobre decreto.

Não sabia se ficava mais surpresa por ele ter me respondido ao invés de arrumar uma desculpa e dizer que aquilo não era da minha conta ou que os papéis se tratavam sobre o decreto da idade.

Hans me olhou atentamente, compreendendo meu choque e continuou como se aquilo não passasse de um simples negócio. – Tenho que dar uma última olhada antes de enviar as academias sobre o novo sistema. Ele vai entrar em funcionamento assim que as aulas retornarem.

- Como é? – juntei todo o meu pouco auto-controle para não gritar com ele. Eu estava ultrajada demais para pensar em algo civilizado para dizer. – Mas já? E Lissa sabe que esses papéis já estão indo para as academias?

Eu não me lembrava de Lissa me falando que o novo decreto já estava sendo cumprido. Se ela tivesse alguma informação, com certeza contaria para mim ou tentaria esconder, mesmo que isso fosse impossível. Eu saberia logo no instante em que olhasse para ela, mesmo que suas expressões fossem meio confusas para mim em certos momentos.

E isso não era algo que devia manter em sigilo.

- Isso eu não sei – disse soando sincero. Ele coçou seu bigode grisalho que mostrava que ele já estava em seus cinqüenta e poucos anos. – Vasilisa não é obrigada a saber exatamente de tudo que se passa no Conselho. Algumas coisas, coisas como essa, são passadas despercebidas. Só depois que tudo fica complicado, é que ela vai ter conhecimento disso.

- Então você está me dizendo que os membros do conselho, especificamente aqueles que querem manter esse decreto e que são contra Lissa que estão fazendo isso? E quanto aos outros?

- E eu tenho cara de quem sabe alguma coisa? – rebateu ele secamente. – Eu sigo as ordens do Conselho, não as formulo. Eu tenho vontade de atirar fogo nessas pastas e me recusar a obedecer? Sim, mas não posso. Eu quero ir ao conselho e dizer a eles que suas atitudes vão nos levar a extinção mais rápido? Sim, mas novamente eu não posso. Espero que você entenda isso.

- Claro, eu entendo perfeitamente. – eu sabia que estava sendo mesquinha com ele. Hans tinha se aberto e foi sincero comigo, mostrando até onde ele poderia ir com tudo isso. E eu o estava desprezando.

- Então seja esperta o suficiente para não causar problemas no meio de uma reunião do Conselho. Você já escapou de ser punida por muitas coisas e eu não vou tolerar outro comportamento selvagem vindo de você.

- Claro, claro – peguei o papel e já estava me dirigindo a porta quando ele me chamou novamente.

Eu tive que engolir a minha raiva ao ver a expressão no rosto de Hans. Ele se sentia como eu, mas sabia como controlar sua raiva. Quer dizer, eu não estava exatamente com raiva. Para falar a verdade, eu estava em pânico. Era um pesadelo saber que dhampir que nem viveram suas vidas iriam estar em campos de batalha em breve totalmente despreparados mesmo com muito treinamento.

Mesmo assim, o otimismo que vi nos olhos dele me acalmara um pouco.

- Eu acredito que Vasilisa vá anular esse decreto. É só uma questão de tempo para que ela se ajuste e faça isso. Muitos não vão aprovar, mas depois que ela fixar a ideia deles lutarem conosco,bem... – ele deu um daqueles sorrisos típicos dele – Nós vamos ganhar no final. Mas até lá, vamos piorar antes de melhorar.

Eu assenti e voltei para a área dos comuns, ainda remoendo as palavras de Hans: Mas até lá, vamos piorar antes de melhorar. Yeah, ele estava certo. Até Lissa estabelecer a ordem em nosso mundo, ela teria que enfrentar muitos problemas. Ela tinha conquistado poucos da realeza Moroi com suas idéias, mas praticamente todos os comuns junto com todos os guardiões. Eles tinham se encantado com seu carisma e suas idéias e eu tinha absoluta certeza de que eles lutariam para mantê-la no trono se algum grupo da alta elite da realeza quisesse destroná-la.

E eu tinha a minha própria lista de suspeitos que provavelmente queriam Lissa fora do trono. Assim como aqueles que queriam apenas ganhar poder sendo puxa-saco dela. Era esse o meu trabalho: mantê-la longe do perigo e neutralizar a ameaça.

Um farfalhar perto de uma árvore me fez parar minha caminhada e procurar a fonte do ruído. Estava amanhecendo, o que significava que era começo da noite para nós. E a pouquíssima claridade combinada com a minha visão mais aguçada me deixou enxergar uma figura alta e masculina caminhando até onde eu estava.

Não esperava encontrar Christian Ozera – ou melhor dizendo, Lord Ozera - numa hora dessas vagando pela Corte. E pela cara que ele fez quando viu que era eu, ele também não me esperava ver aqui.

- E eu achando que você estava cumprindo seu juramento de proteger a Rainha todo o momento – ele tinha um daqueles sorrisos cínicos bem típicos dele.

- Eu jurei protegê-la com toda a minha vida, mas não vinte e quatro horas por dia – eu apontei para meu peito. – Além disso, a licença meio que reduziu mais ainda esse tempo. Mas não mais.

- Ah, então Rose Hathaway voltou á ativa? – ele cruzou os braços, mantendo o sorriso. – O quanto precisou para subornar Hans Croft? Ameaças de morte ou você realmente o matou?

Admito que fiquei surpresa com sua menção a assassinato. Depois de tudo o que aconteceu, eu esperava que ele quisesse ficar longe dessas palavras. Como resposta, eu apenas fiz uma careta.

- Agora me diga você Ozera, por que Dimitri não está te acompanhando?

Isso rendeu uma reação dele. Aqueles olhos azuis gelo se tornaram vazios de repente e eu já tinha entendido o motivo antes mesmo dele me falar.

- Eu o dispensei. Precisava resolver um assunto importante.

O importante assunto, pela cara dele, devia ser Tasha Ozera. Ela era sua tia e tinha o protegido de seus pais quando estes resolveram se transformar em Strigoi, quando ele era uma criança. Tasha impediu que seus pais o levassem embora para transformá-lo quando ele estivesse mais velho. Christian passou praticamente toda a sua vida como um anti-social por causa do preconceito que os Moroi nutriam pelo que houve com seus pais. Ele passou a ganhar um pouco de respeito quando começou a sair com Lissa.

Apesar disso, sua família voltou à decadência quando descobrimos que Tasha havia assassinado Tatiana por causa da lei e tentado atirar em Lissa. Como eu, ela tinha ficado insatisfeita com o decreto. Ela queria que os Moroi lutassem ao lado dos dhampir para combater os Strigoi, não que eles se escondessem mais ainda atrás dos guardiões. Foi por isso que ela decidiu que estava na hora de dar um basta em tudo e estaqueou Tatiana com minha estaca, deixando-a no peito da rainha para que os guardiões me prendessem no dia seguinte e me mandarem para julgamento. Para ser executada por alta traição.

Eu nunca esperei aquilo vindo dela, especialmente porque eu gostava de Tasha e apoiava suas idéias. Claro que mais tarde eu descobri que ela ainda era apaixonada por Dimitri e para tê-lo, ela deveria me ter fora do caminho. Fora o fato de que meu comportamento animalesco com Tatiana no dia em que ela aprovou o decreto ajudou a aumentar a suspeita de que eu era a assassina.

Quando descobri que ela era a real assassina, foi um tremendo desafio desmascará-la na frente de todos, especialmente porque ainda havia buracos na acusação – buracos que desapareceram enquanto eu estava me recuperando do ferimento de um tiro que eu recebi dela – e porque ela era nossa amiga. Lissa e eu gostávamos dela e ela era praticamente a mãe de Christian, fora que ela era uma amiga de longa data de Dimitri. Foi um choque para todos nós.

Tasha agora estava presa, junto com seu guardião e cúmplice Ethan Moore, aguardando o julgamento que eu achava que seria logo. Eu nem queria pensar em como esse dia seria, cheio de sofrimento para aqueles que foram traídos por seus atos.

- Como está ela?

Se Christian já estava sofrendo agora e conseguindo disfarçar toda sua angustia por causa de tudo, eu não conseguia imaginá-lo no dia do julgamento.

- Como você acha? Faminta, enjaulada. E ainda assim não se sente arrependida pelo o que fez -  ele disse, passando a mão pelos cabelos. Eu percebi que eles estavam desarrumados, como se Christian já tivesse feito esse gesto muitas vezes essa noite.

- Eu acho que ela está pensando sobre tudo isso. Eu sei que ela se arrepende de muita coisa. – depois que Tasha descobriu que Tatiana tinha reunido um grupo secreto de Moroi, apenas os da mais alta elite, para aprenderem a lutar, Tasha tinha ficado histérica. Especialmente depois de descobrir que a antiga Rainha foi forçada a fazer esse decreto numa tentativa de evitar os dhampir a serem compelidos.

Christian não disse nada, e em seus olhos eu pude ver que ele não tinha palavras para proferir, ou para se desculpar. Não que tudo fosse sua culpa, mas Christian se sentia mal pelo o que tinha acontecido comigo, e a reação dele me lembrou de como fiquei depois de Spokane. Também tinha me culpado pela morte de Mason. Claro, eram proporções diferentes, mas o sentimento não era o mesmo.

- O que você acha de entrarmos? Eu estava afim de comer alguma coisa – sugeri em uma tentativa de apagar aquela tristeza de seus olhos.

Christian deu de ombros.  - Eu não ia a lugar nenhum mesmo.

Entramos no prédio dos guardiões e eu fui direto para uma cafeteria onde eu quase sempre comia. Havia alguns guardiões espalhados pelas mesas conversando, assim como alguns Moroi. Todos pararam para observar minha entrada com Christian, seus olhos em nós.

Eu detestava admitir, mas depois de todos esses acontecimentos, por onde andávamos éramos saudados e desprezados pelos olhares das pessoas. Alguns iam falar conosco, na maioria das vezes perguntando sobre Lissa, enquanto outros murmuravam todo tipo de comentário ofensivo. Tínhamos que nos acostumar que isso aqui era a Corte Real, onde havia todo o tipo de gente e onde circulava os piores boatos que podia se imaginar.

Christian pegou um refrigerante enquanto eu preferi um hambúrguer junto com um pacote de donuts e um copo de café que eu iria levar para Dimitri. Nós nos sentamos em uma mesa que ficava perto de um pequeno chafariz.

- E então, como vai Lissa? - Eu perguntei, dando uma mordida no meu hambúrguer. Ia comer os donuts com Dimitri.

Christian revirou os olhos. - Você me diga. Ela é sua melhor amiga.

O que era verdade, mas depois da quebra do laço entre nós, eu não conseguia ler as emoções de Lissa com tanta facilidade. Claro, seu rosto era como um livro aberto, mas ela estava ficando melhor em esconder coisas das pessoas, e embora isso seja bom em uma posição de rainha, era péssimo para mim. - Estou com a antena quebrada, lembra? Não capto nada dela - eu disse.

- Em resposta a sua pergunta, ela está bem... Mas sabe, às vezes acho que Lissa está bem no limite, e não sei como ajudá-la.

- Eer... Eu preferiria não dar sugestões ao que fazer a ela no seu tempo livre - brinquei, mas rapidamente fiquei séria de novo. - Eu era assim também... O espírito estava sempre ali, me tentando, e eu tinha que lutar com todas as minhas forças para não sucumbir.

Christian suspirou. - Então o que eu faço?

- Converse com ela, dê algo bom para ela se apoiar. Não vai mudar o elemento, mas vai fortalecer a mente de Lissa.

- Ás vezes eu não acho que é apenas o espírito que a esteja afetando. Essa coisa toda da Jill ser meia-irmã dela... bem, é incrível e ao mesmo tempo aterrorizador.

- Isso vai levar um tempo para ela se recuperar – admiti dando outra mordida. Descobrir que Eric Dragomir havia traído a esposa com uma dançarina em Las Vegas ainda chocava Lissa. Ela não sabia como agir perto de Jill depois de tudo isso. Pobre Jill, ela tinha que pagar o pato por tudo agora. Eu sentia pena dela por causa daquele jeito desajeitado e tímido dela ter piorado toda vez que ela falava com Lissa, que parecia um robô.

O hambúrguer já estava no fundo do meu estômago, mas não queria que o café esfriasse, por isso me levantei, e bati nas minhas coxas com a mão direita para tirar os farelos do pão. - Foi muito falar com você, Lord do fogo, mas eu tenho uma entrega para fazer. - E então, ignorando todas as regras que já segui na minha vida, coloquei uma mão em seu ombro. - Não se estresse. Vai dar tudo certo com Lissa. Eu estou lá com ela, não estou?

- Convencida - ele murmurou baixinho.

- Só sincera - eu respondi. Me virei, e marchei em direção ao palácio.

Após a minha recuperação, muita coisa tinha mudado. Uma delas foi que Lissa conseguiu uma suíte para mim no palácio, tanto que foi lá que eu acordei depois de dias apagada. Eu tinha surtado no início, dizendo a ela que eu não poderia morar lá, já que aquele era o lugar onde a família dela deveria estar. Quer dizer, não necessariamente, mas uma dhampir problemática como eu recebendo acomodações de luxo era estranho até para mim. Mas eu acabei me acostumando.

Como era de se esperar, encontrei Dimitri no quarto sentado em uma dos sofás de couro lendo um dos seus romances de faroeste. Eu sabia que ele tinha uma enorme queda por faroeste desde que nos conhecemos, mas ele ler e reler os mesmos livros ainda era um mistério para mim.

Ele abaixou o livro quando me viu entrando. Só de ver aqueles maravilhosos olhos castanhos brilhando em completa afeição por mim me fazia pensar que eu tinha morrido e ido para o céu. Dimitri largou o livro sem marcar e veio até onde eu estava pondo seu café e o pacote de donuts.

- E então, camarada? - Eu disse enquanto ele se aproximava, ignorando o meu coração, que tinha começado a palpitar - Trouxe café e donuts. Eu sei como você adora cafeína.

Eu me virei quando ele ficou bem atrás de mim, e coloquei uma mão no seu ombro, enquanto a dele ia até a minha cintura.

- Humm... - foi tudo que ele disse antes de encostar seus lábios nos meus. Esse era geralmente o cumprimento que eu recebia. Dimitri sempre me beijava antes de dizer uma palavra sequer, como se não conseguisse se segurar toda vez que ficávamos a sós. Não que eu fosse reclamar. Seus lábios se movendo contra os meus com ternura enquanto sua mão apoiava minha cabeça era muito melhor que um "olá".

O beijo acabou muito cedo, mas Dimitri não se afastou imediatamente. Ele passou a mão pelo meu cabelo, acariciou meu rosto, e só depois olhou para a mesa, onde o café estava esfriando, e os donuts pediam para serem devorados.

- Você sempre acerta, Roza - Ele disse.

Abri o saco de donuts e comemos juntos. De vez em quando, Dimitri levava um pedaço do doce até minha boca, como se eu fosse uma criança, mas eu sabia que ele me considerava bem mais do que uma quando seus olhos se encontravam com os meus. Não contei sobre a conversa com Hans imediatamente. Queria aproveitar esse momento de paz o máximo que pudesse.

- Como foi o seu dia? - Eu perguntei enquanto lambia um dedo.

- Bom, mas ficou ainda melhor no momento que você entrou no quarto. - Ele disse, com um meio-sorriso. Um daqueles que ele costumava me dar em St. Vladimir. - E o seu?

- A mesma coisa de sempre. Olhares, sussurros, blá blá. - Eu dei um suspiro, que foi ecoado por Dimitri.

- Vai melhorar. Você vai ver. Lissa tem punho firme no trono, mesmo sendo jovem como é. 

Não podia discutir com ele, então apenas assenti. Lissa estava se mostrando uma líder capaz, mesmo tendo alguns surtos de indecisão. Mas uma boa rainha devia ser uma líder com sentimentos, e nada melhor que Lissa para ocupar o cargo.

- E falando em ser punho firme - Dimitri disse - tenho ouvido rumores de que uma certa guardiã vai até o escritório de Hans todo dia, tentando pressioná-lo a lhe dar uma autorização. - Seu olhar ficou menos sério enquanto inclinava a cabeça e me dava um olhar confuso. - E você, Rose, é claro que não sabe nada sobre isso?

Coloquei uma mão no peito - ironicamente, em cima dos curativos -, e disse com uma inocência falsa, - É claro que não, Guardião Belikov. Como você pode acreditar em tamanha bobagem?

Dimitri balançou a cabeça, e seus olhos ficaram relaxados - com uma pontada de tristeza. - Roza, você sabe que não deve fazer nenhuma atividade física. Mal se recuperou do ferimento, e deve ficar em repouso. - Ele colocou uma mão no meu ombro, gentilmente. - Não quero que você fique trabalhando enquanto se recupera de um tiro no coração.

Cobri sua mão com a minha e apertei-a. - Olhe, Liss precisa de mim, e não sou feita de cristal.

Ele suspirou. - Não, não é, mas ainda tenho medo que se quebre. Me prometa que não vai trabalhar até se sentir melhor.

Estava prestes a discordar, mas ele continuou falando. - Só até os pontos serem retirados, e a pele se cicatrizar superficialmente. Por favor.

Hesitei. Eu queria estar de volta o mais rápido possível, meu corpo ansiando por uma luta. Mas o que Hans havia dito fazia sentido. Liss precisava de uma guarda, não de uma dhampir incapacitada, e mesmo que cada instinto meu lutasse contra isso, sabia que o melhor a ser feito, por mim e por ela, era esperar um pouco. É claro que não passaria de três dias, a pele cicatrizando ou não, mas aderiria às vontades de Dimitri e de Hans por um tempo. Então concordei e disse - No máximo três dias. Nada mais que isso, ok?

Ele beijou meu cabelo e murmurou - O.K

Me afastei de Dimitri e deixei minha mão cair do meu lado. - Vou tomar um banho. A não ser que queria me acompanhar? - Perguntei, e para colocar bastante ênfase, fiz um biquinho.

Eu praticamente pude ver o desejo ardendo nos olhos dele, mas Dimitri conseguiu manter a compostura e fez um gesto vago. - Vá. Preciso ligar para Thomas e acertar os turnos de vigilância da Corte.

A mentira era óbvia. Estava claro que Dimitri estava voltando para o trabalho porque se fosse para o chuveiro comigo, não sairia desse quarto por mais de duas horas. Então, ele escolheu o caminho mais seguro, longe do meu corpo. Eu conseguia lidar com a situação, e amava o fogo que crepitava nos olhos dele quando eu mencionava alguma coisa sutil. Mas de verdade? Água quente, sabonete, e as mãos de Dimitri pareciam uma combinação maravilhosa, com ou sem fogo no olhar.

Demorei um pouco no banho, e deixei minha mente vagar enquanto esfregava os cabelos gentilmente e lavava minha pele. O curativo grudou no meu peito, bem sobre o coração, e eu o tirei assim que me enxuguei.

Com o pente desembaraçando os fios rebeldes da minha cabeça, me dei conta de quanto minha vida tinha mudado desde que voltei para St. Vladimir. Tantas reviravoltas, tantas loucuras, e se alguém me contasse tudo o que aconteceria quando ainda era uma caloura, eu riria na cara dele, e ainda tiraria sarro depois. Me apaixonar pelo meu professor? Ser presa e condenada pelo assassinato da Rainha? Um absurdo. E se cada absurdo que acontecesse na minha vida me arrecadasse uma moeda, eu estaria bilionária.

Quando voltei para o quarto, Dimitri estava sem seu sobretudo, e uma camiseta preta justa deixava a mostra todos os seus músculos por baixo do tecido. Seu cabelo estava solto, e meus olhos estavam tão atentos à sua aparência que mal notei o kit de primeiros socorros ao seu lado. Ele estava separando gaze, esparadrapo e antiinflamatório em spray. Como sabia que ele não queria perder o foco, voltei ao banheiro e vesti um sutiã.

- Vai bancar a enfermeira? - Eu disse a ele enquanto arrumava as alcinhas. - Sabe, eu posso fazer isso sozinha, camarada. Não precisa se preocupar com isso.

- Eu não perguntei se você sabe ou não – ele bateu num lugar ao lado dele, na cama. – Venha aqui.

Eu tive que obedecê-lo porque eu sabia que ele não cederia. O processe demorou cerca de três minutos, senão menos. Depois de terminado, Dimitri guardou tudo que sobrou no kit, e jogou o resto em uma pequena lixeira no banheiro.

No momento que ele voltou, eu deixei a toalha cair, e dei um beijo delicado no canto da sua boca. Seus braços envolveram a minha cintura e seus lábios estavam em todo lugar. Ele me levantou cuidadosamente, por causa do curativo recém-feito, e me levou para a cama.

Era como estar no paraíso. Aliás, num lugar muito melhor do que o paraíso. Estar com Dimitri significava que minha alma estava completa e em paz.  E qualquer vontade de ficar sério e profissional se evaporou com a nossa paixão, e nem Dimitri nem eu nos importamos.

Nossas roupas saíram com uma velocidade inexplicável e quando eu me dei por mim, nossos corpos se moviam em um movimento que a cada segundo acelerava conforme nossa fome pelo outro aumentava. Se a nossa química já era altamente inflamável, o sexo era uma verdadeira explosão. Especialmente quando seus lábios beijavam toda a minha pele, diziam que me amava e falavam meu nome russo enquanto ele me tocava.

Quando terminamos, não estávamos nenhum pouco cansados. Meu corpo estava disposto e ansiava por mais, assim como minha mente. A única coisa que me importava naquele momento era Dimitri. E eu sentia que também queria mais, pois quando passei meus braços em volta do seu pescoço e deixei minhas unhas arranharem levemente parte do seu ombro, ele agiu.

- Roza... você me enlouquece... - Ele disse com a respiração entrecortada enquanto me abaixava nos lençóis.

Bem. Eu gostava de vê-lo perder o controle.


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Notas finais do capítulo

É,esta é uma nova fanfic.
Digamos que eu fiquei muito revoltada depois de ler Last Sacrifice (eu li só partes antes,sabe?) com aquele final sem graça e muitos problemas a ser resolvidos eu decidi fazer uma continuação. E a Bia Lins, uma excelente escritora que escreve de verdade como a Richelle está comigo nessa!
E sinceramente,espero que gostem da fic ^^ Adoraria receber reviews de vocês dizendo o que estão achando e o que esperam da fanfic!
- Feeh P.
OBS: me avise se virem partes confusas ou com erros,porque eu não cheguei a revisar.