Eu, sinceramente, não sinto culpa. Por nada do que fiz, disse, ou obriguei-a a fazer. Até porque, agora, ela estava feliz. Muito, muito feliz. Eu também, por ela. Essas são as conseqüências se um grande amor, acredito eu: Rebaixar os próprios sentimentos aos da pessoa amada. Ela era mais importante que eu, para mim mesmo. O bem-estar dela era mais importante que o meu. A felicidade dela tem que ser maior do que a qualquer outra felicidade já vista, incluindo a minha. Eu fico feliz por isso. Porém, o amor dela tinha que ser menor do que o meu. Bem, bem menor. Eu trabalhei nisto, e como disse, não me sinto culpado, arrependido.

  Criei medo, confesso. Criei medo nela para comigo, quando percebi que nosso relacionamento era impossível, era perigoso. Eu era perigoso. Tenho consciência de que não vivo em um conto de fadas, de que a vida não é um filme, de que a realidade é cruel, e que o caminho que escolhi para mim mesmo tem como conseqüência um futuro sozinho, solitário. Já estou conformado, juro.

  Quando reconheci pela primeira vez o amor nos pequenos olhos de minha vida, de minha amada, de minha Jurema, tive que providenciar que ele não crescesse, que fosse esquecido, morto, enterrado. Então, plantei a verdade nela. Cultivei o medo. Ela não poderia sentir algo por mim, eu não era uma pessoa boa.

  Eu era um assassino. Matava por dinheiro. Matava pessoas que não conhecia, sem motivos, só pelo dinheiro que outras pessoas me davam. Não podia, não devia amar. Mas amo. E logo uma pessoa tão pura como Jurema.

   Ah, minha doce Jurema. Incontáveis vezes eu já observei-a andar na rua, tomando sorvete de limão. Linda.

  Enfim, nosso amor acabou no momento que começou. Quando a afeição dela aumentou por mim, disse-lhe a verdade sobre mim. Ela saiu correndo, esqueceu-me. Ótimo! Ela sentiu medo, era bom, muito bom.

  Ela não foi uma covarde. Foi realista! Até porque, o medo salva mais vidas do que muita gente consegue imaginar.