Um Homem de Requinte escrita por Patricia S


Capítulo 1
Um Homem de Requinte




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UM HOMEM DE REQUINTE

É possível ter fama, poder e ainda assim tranquilidade? O Barão de Hertfordshire acreditava que sim. Tão crente era que conseguiu transformar a resposta a esta pergunta na sua própria vida.

Todos adoravam o Barão de Hertfordshire, fosse pela sua personalidade singular ou pelas suas obras ao vilarejo. Camponeses beijavam-lhe as mãos cheias de anéis pesados e reluzentes quando ele passeava pelas ruas estreitas do vilarejo no final das tardes de primavera. Era de seu agrado o cheiro do final de tarde; um misto de essência floral, chuva e, é claro, o perfume de sua amada, a qual visitava todos os dias.

O coração de Helena Ravenclaw era seu, e disso ele não tinha dúvidas. Helena o aguardava todos os dias na janela de sua casa, a maior dentre aquelas do vilarejo. Lá residia com sua mãe, a sábia Rowena, admirada e temida, que por meses se ausentava da casa para administrar uma tal escola que ajudara a construir.

Helena Ravenclaw era bela, mas nada se igualava a beleza de sua mãe, assim como sua inteligência. Um boato que Rowena, outrora, havia construído um diadema que aumentava a inteligência de quem o usasse, corria pelo vilarejo, mas o Barão era cético demais para acreditar em tal conto de fadas de tão plurais camponeses.

Helena, de fato, amava o Barão de Hertfordshire, no entanto, era ambiciosa demais para contentar-se com uma vida de Baronesa de um vilarejo imundo como aquele, e era uma vida assim que ele poderia oferecer e mais nada. Mas por hora, era o melhor que conseguia.

O Barão lhe trazia flores todos os dias; tulipas cor de rosa, no geral, ou amarelas. Ele as considerava as mais belas que podia-se encontrar pelas redondezas, e julgava o perfume semelhante à essência que Helena exalava. Por outro lado, Helena as julgava simplórias demais e as deixava secar em algum canto da casa. As flores secas jaziam pelos cantos até que a pouca competência de suas criadas as jogassem fora.

O Barão pediu sua mão quando, em mais um verão, Rowena Ravenclaw retornou ao vilarejo. Rowena não era casada, e o Barão nunca questionou sua Helena sobre seu pai. Ela nunca falara dele, e seus modos lhe guiavam a não fazer perguntas tão pessoais a uma moça da qual não firmara compromisso. Qualquer deslize podia denegrir sua imagem, e o Barão de Hertfordshire era um homem de requinte.

Helena mostrou-se emocionada e de quase imediato aceitou seu pedido. Quase, porque não era certo aceitar um pedido de casamento como quem aceita um pedaço de bolo. Rowena deu sua benção e o Barão, de prontidão, anunciou ao vilarejo o seu matrimônio com Helena e iniciou os preparativos.

Mas Helena não contentar-se-ia com aquele destino simplório. Roubou o diadema de sua mãe e fugiu. Rowena adoeceu com a fuga de sua filha tão amada, e pediu, implorou ao Barão de Hertfordshire que a trouxesse de volta, porque Rowena acreditava que sua filha tivesse sido raptada.

O Barão não tardou a peregrinar em busca de Helena, só localizando-a meses depois, na Albânia. Helena estava instalada em um albergue de uma vila, mas fugiu quando soube que o Barão havia chegado ao local. Porém, o cavalo que usou para a fuga deixou rastros e o Barão a encontrou, exausta, dentro de uma floresta.

Ele insistiu para que ela retornasse junto a ele, mas Helena estava decidida: não iria voltar. Ela sorriu ao vê-lo e derramou lágrimas de felicidade por sua presença, mas não podia ceder a ele. Helena o esbofeteou com insultos e mentiras que ao seu ver eram as mais puras verdades e ainda, para o completo nocaute, alegou que não o amava.

O Barão enlouqueceu a rejeição. Seu intuito era causar-lhe um ferimento no braço, algo não muito grave, mas grave o bastante para que Helena tivesse que sair daquele lugar, mas o reluzir da faca afiada fez Helena correr, e ao correr, tropeçou e caiu, e o Barão, que corria ao seu encalço, caiu sobre ela e a faca perfurou-lhe o peito.

Helena deu seu último suspiro.

Ele tentou de todos os modos reanimá-la, mas era tarde. A noite escura e sem estrelas envolveu sua aura até o Barão, exausto, clamar pela aurora, mas ela havia o deixado em companhia a sua Helena.

A sombra do homem que outrora havia sido ergueu a mesma lâmina que perfurara o amor do peito de Helena e cravou-a em seu próprio estômago. Agonizou até além do último suspiro e sua alma amaldiçoada e oca vagou até encontrar sua moradia: um castelo às margens de um rio suntuoso.

Encontrou sossego no alto de uma torre e por lá ficou como pagamento da dívida com Rowena. Não havia lhe trazido a filha de volta, mas sua alma pertenceria a ela pela eternidade, porque o Barão, mesmo sangrento, era um homem de requinte e cumpria com sua palavra.


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