Metamorfose escrita por Mia Elle


Capítulo 7
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

Meninas, estou meio sem tempo, por isso não vou responder os reviews, mas obrigada por lerem e comentarem, sim? Desculpem-me a demora na atualização.



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“Acho que te amava, agora acho que te odeio,

São tudo pequenas coisas e tudo deve passar.”

- Meninos e Meninas – Legião Urbana

Quinn não parecera ter se convencido de que fora apenas algum tipo de ilusão de ótica ver Frank saindo do carro de Gerard, visto que quando passaram pelo pequeno, o maior reparou que o loiro não tirou os olhos do menino. Mas não tocou mais no assunto.

Ele falava sobre alguma festa que tinha ido no fim de semana e que Gerard deveria ter ido também, mas o moreno não estava realmente ouvindo. Ele sentia uma coisa que jamais pensara que Frank poderia causar-lhe: culpa. Ele quase podia sentir o nó na garganta de Frank na hora em que ele fez aquele comentário, mas droga, o pequeno esperava o que, afinal?

Ele estava confuso, não sabia o que estava acontecendo com ele. Ele, sem dúvidas, não podia ter feito aquilo com Frank, mas não é como se ele tivesse escolhas, afinal. Não podia deixar que os outros soubessem da convivência pacífica entre ele e a bicha do colégio, simplesmente por que seria suicídio. Todos passariam a fazer especulações, ele não queria isso! Ele prezava sua “amizade” com Frank, mas prezava mais seu estilo de vida, e escolhera protegê-lo, mas não previra toda aquela culpa dentro dele, quase o fazendo explodir. Estava tentando não olhar para Frank, e tinha que se segurar muito para não ir até o menor pedir desculpas. Metade dele dizia que era o certo a se fazer, e a outra metade queria que Frank se fodesse. E, bem, até o momento a segunda metade estava ganhando, embora a primeira estivesse lutando com unhas e dentes.

E isso estava incomodando pra caramba.

Ele não saberia dizer muitas coisas sobre as aulas de segunda feira, ou de terça. Os dias daquela semana foram quase que inteiramente vividos dentro de si mesmo, e ele só acordava para o mundo lá fora quando via Frank pelos corredores. O pequeno estava ignorando-o completamente agora, e ele sabia o porquê, mas não queria admitir que a culpa fosse sua. Era de sua natureza culpar outras pessoas, então culpava Frank por ser incompreensivo.

O pequeno, por sua vez, quando voltara para casa no dia anterior - e finalmente conseguira entrar, pois sua mãe já estava de volta – prometera a si mesmo que iria convencer-se que não precisava de Gerard para nada. Ele iria sair mais vezes com Bob, conhecer gente nova e quem sabe conhecer alguém especial. Ele precisava desesperadamente viver em função de algo do qual ele pudesse esperar coisas boas, e não apenas chutes e coices, como sempre fora com Gerard.

Mas, na prática, não estava sendo fácil. Ele queria passar o tempo todo sozinho, e quando Bob o chamava para sair ele arranjava uma desculpa qualquer, até para enganar a si mesmo. Ficava apenas no quarto, evitava falar com as pessoas, e até mesmo com os pais – que pareciam ter piorado a situação do casamento no fim de semana que passaram fora, visto que agora eles discutiam o tempo todo e por tudo.

Naquele sábado, e nos outros seguintes, Frank e Gerard trocaram apenas as palavras necessárias, evitando até se olharem nos corredores. Gerard por que não sabia muito bem como agir, e Frank por que ao menos estava tentando cumprir a sua promessa, e não ser legal com Gerard era parte dela. A Sra. Lee perguntava desesperadamente o que estava acontecendo, bem como alguns dos moradores com quem Frank tinha um pouco mais de contato, mas ele dizia que não era nada, e era meio que uma forma de convencer a si mesmo de que não era mesmo.

Parecia que as coisas tinham voltado a ser como eram antes do julgamento. Não, melhores, visto que agora as provocações tinham parado. Ou talvez piores, se você for daqueles que considera a indiferença um sentimento pior do que o ódio.

Com o passar dos dias, Gerard foi realmente voltando a ficar indiferente a Frank, e assim, sua confusão mental foi passando. Estava convencido de que, se aqueles momentos em que quisera bem Frank passaram tão rápido, é por que eles foram apenas um lapso. Semanas depois, era como se eles nem sequer tivessem existido, e ele voltara a sua vida normal. Apesar de que desaprendera a tratar mal as pessoas como fazia antes; era quase impossível para ele não sorrir ou ser simpático com os moradores da St. Martin, ou ficar fazendo brincadeiras de mal gosto com Frank.

Isso às vezes o incomodava um pouco, mas ele conseguira convencer-se de que era apenas por que estava com medo, visto que coisas como essas já haviam lhe custado uma ficha na polícia.

- Vamos, Frankie, qual é o problema? – Bob perguntou, insistindo para que o pequeno saísse com ele naquela noite. O loiro estava sentado na mesa da cozinha de Frank, enquanto este lavava a louça do almoço para a mãe.

- Não tenho nada não, Bob, já disse. Só não estou muito afim de dançar hoje – explicou com um tom cansado na voz, enquanto esfregava uma panela relativamente suja.

- E quem foi que falou em dançar? – Bob comentou, dando nos ombros – podemos ir a um lugar diferente hoje. Quem sabe um barzinho?

Frank grunhiu, não achando uma desculpa, enquanto colocava a panela, finalmente limpa, no escorredor.

- Então vai, não vai? – Frank abriu a boca para responder que não, mas Linda entrou na cozinha no momento, carregando uma bacia de roupa limpa. Bob pulou da mesa e prontamente foi ajudar a mulher.

- Vão sair hoje meninos? – ela perguntou alegre, pousando a bacia sobre a mesa com a ajuda de Bob – isso é ótimo, filho. Faz quase um mês que você não sai de casa.

- Era o que eu dizia a ele – Bob suspirou, dando um impulso com as mãos para voltar ao lugar em que estava antes.

Frank amaldiçoou-os mentalmente. Será que não podiam deixá-lo em paz? Ele só estava cansado; queria ficar em casa, ler, dormir, olhar para o teto ou qualquer outra coisa que se pode classificar como não fazer nada. Não estava afim de socializar, conversar, ver gente. E estava certo de que isso não tinha nada a ver com Gerard. Já fazia algum tempo desde que eles haviam se falado da última vez, e desde então ele estava conseguindo não pensar o tempo todo no mais velho, nem falar com ele quando o via pelos corredores.

Ele achava que Gerard parecia querer dizer alguma coisa para ele, e vira algumas vezes o outro quase começar a falar, mas conseguira se convencer de que era apenas o que ele queria pensar; o que ele queria que acontecesse.

- Por que, querido? Não quer ir? – Linda perguntou olhando-o de canto de olho enquanto começava a dobrar algumas roupas – eu acho que deveria ir. É claro que você vai.

- Vamos Frank, termine logo com isso e vamos – concordou Bob, sabendo que com Linda ao seu lado, não teria como não fazer Frank sair aquela noite.

Frank uniu as sobrancelhas e projetou o lábio inferior para frente, numa espécie de bico involuntário, como uma criança que não ganhou o que queria no natal. Ensaboou e enxaguou o último copo, arrastando os pés atrás de Bob em seguida. Sabia que não seria deixado em paz a menos que fosse.

Bob o levou a um barzinho pequeno, com uma banda ruim tocando ao vivo e mesas de sinuca rodeadas de caras estranhos vestindo couro. As paredes eram pintadas de preto, mas visivelmente percebia-se que quem as pintou deveria ter dado mais uma mão de tinta, devido às falhas acinzentadas perceptíveis até mesmo no escuro.

A música era alta e as pessoas sentavam-se próximas para que pudessem ouvir o que as outras falavam, e logo Bob avistou um aglomerado de conhecidos seus, e foi alegremente até eles, que quando o avistaram, começaram a sorrir e chamar. Frank suspirou e contou até dez antes de seguir o amigo, visto que não estava muito afim de conhecer aquelas pessoas, mas pensou que, já que estava ali, era uma boa oportunidade para cumprir sua promessa. Aproximou-se da mesa, dizendo um ‘oi’ baixinho e tímido a todos.

- Gente, esse é o Frank – Bob esclareceu para aqueles que não conheciam o pequeno, e depois puxou uma cadeira da mesa ao lado e entregou ao amigo, pegando uma para si mesmo em seguida.

As pessoas voltaram a conversar entusiasticamente e incluíram os dois no assunto, que logo estavam muito enturmados com todos ali.

- Vocês não vão beber nada? – um garoto com o cabelo curto e castanho e cavanhaque que Frank se lembrava de se chamar Brandon perguntou quando o silêncio se instalou sobre a mesa.

- Hm, é, vou buscar uma bebida – Frank disse, pensando em como as coisas ficam melhores quando se tem álcool na veia – alguém mais quer? - Quase todas as pessoas da mesa disseram que sim. Frank riu – ok, mas vou precisar que alguém me ajude.

- Eu!... Vou – ouviu-se a voz de um dos outros garotos, com quem Frank estivera conversando desde então. Era alto e magro tinha os cabelos castanho-escuros meio compridinhos e vestia uma jaqueta de couro por cima de uma camiseta branca.

- Hm, obrigada Julian – Frank murmurou constrangido; pensara ter percebido que este menino estava interessado nele, e, apesar de não se incomodar com isso, era tímido o bastante para ficar vermelho ao conhecer alguém novo.

Os outros na mesa também acharam estranho o entusiasmo de Julian e trocaram olhares significativos, para só depois que os dois deixassem a mesa, um seguido do outro, começassem a comentar sobre o assunto, tentando arranjar uma maneira de facilitar as coisas para eles.

Atravessaram o pequeno salão com dificuldade até o bar, onde Frank pediu seis cervejas, uma para cada um na mesa. Enquanto o bar-man, que estava um tanto ocupado no momento, atendia a seu pedido, encostou-se no balcão. Julian fez o mesmo.

- Frankie, você já saiu com a gente antes? – Julian perguntou próximo ao seu ouvido para que ele pudesse ouvir, uma vez que agora a banda tocava alguma coisa com muitos gritos, que era totalmente inidentificável, já que o som era totalmente desafinado e a voz estava muito mais baixa do que os instrumentos.

- Hm, o Brandon e o Bert eu já conhecia, mas apenas de vista – o pequeno explicou, forçando a memória para ter certeza do que dizia.

- Bem, espero que possa vir mais vezes – Julian disse, sorrindo simpaticamente. Frank sorriu de volta, meio constrangido, e para sua salvação, o bar man os chamou para entregar as bebidas no momento, ao que eles voltaram à mesa, se equilibrando com tantas garrafas na mão.

Entregaram uma para cada um e sentaram-se novamente em seus lugares, logo voltando a conversar animadamente com os outros. Os minutos foram passando e as garrafas de cerveja vazias foram sendo substituídas por novas, cheias. Quando o assunto já havia mudado mais do que eles pudessem se lembrar, Frank ergueu-se levemente na cadeira, tateando o bolso traseiro de seu jeans rasgado e, com dificuldade, retirando a carteira de cigarros e o isqueiro.

Quando ia acendê-lo, Bert, o cara dos olhos azuis e cabelos compridos, segurou sua mão para impedi-lo.

- Sei que é um saco isso, doce, mas é proibido fumar aqui dentro – e fez uma cara estranha, contraindo os lábios e balançando a cabeça negativamente.

Frank deixou escapar um ‘tsc’ involuntário e empurrou a cadeira para trás, levantando-se, para ir fumar do lado de fora do bar. Julian levantou em seguida, dizendo que aproveitaria a companhia para fazer o mesmo, e arrancando sorrisos maliciosos dos outros, que sabiam muito bem para que é que o garoto queria companhia.

Dirigiram-se à parte de trás do bar, um pequeno pátio com alguns caixotes de madeira e lixeiras grandes. Algumas pessoas também fumavam ali, e outros se encostavam às paredes as duplas, parecendo apenas uma pessoa só. Frank ignorou os ofegos vindos destes, e acendeu finalmente o cigarro com cuidado, protegendo-o do vento que cortava sua face exposta. Tragou longamente, sentindo o bem estar invadir seu corpo e fechou os olhos para soltar a fumaça.

Quando os abriu novamente Julian estava muito próximo. Próximo demais. Frank sorriu de canto de boca e deu um passo para trás encostando-se na parede, ao que o outro colocou uma mão de cada lado da cabeça do pequeno, aproximando-se mais. O menor abaixou a cabeça, agradecendo a penumbra por esconder suas bochechas levemente rosadas.

- Você não tem um compromisso, não é mesmo? – Frank ergueu a cabeça novamente, soltando uma risada curta e balançando a cabeça brevemente em um sinal negativo.

Julian sorriu pequeno e em seguida colou seus lábios nos do menor, que não ofereceu resistência nenhuma. Deixou cair o cigarro, que ali ficou esquecido, pousando então a mão que o segurava na nuca do maior. Algum tempo depois eles também pareceriam um só a quem olhasse de fora.

- ...e então é por isso que nós tivemos a crise de 29, que quebrou a bolsa de Nova York... – o som do sinal pode ser ouvido em todo o colégio, indicando que começava o intervalo, e fazendo com que ninguém ali prestasse atenção às próximas palavras do professor, que foram – ok, façam os exercícios das páginas quinze e dezesseis para a próxima aula.

Frank respirou fundo e fechou seu livro, espreguiçando-se em seguida. As suas três primeiras aulas de quinta-feira eram Geografia, o que tornava o dia super cansativo. Levantou de sua carteira, arrumando a calça muito justa que se acumulava nas canelas, e seguindo para o pátio, junto com Hayle e Lily, que tagarelavam alguma coisa que ele não estava prestando atenção.

As meninas foram direto ao banheiro, como sempre faziam, e Frank esperou na porta, mesmo que não visse um porquê explícito nisso. O pátio pululava de alunos mais novos brincando e correndo, e mais velhos conversando em círculos fechados, como se dissessem: “você não é bem vindo aqui”. Pode ver Gerard conversando animadamente com alguns amigos a alguns metros dele, como se não o visse, e ignorou-o também.

Respirou fundo e decidiu dar uma passada no banheiro dos garotos para dar uma checada no cabelo, quando sentiu o celular vibrar na parte de trás de seu jeans. Franziu o cenho, pensando se teria acontecido algo de grave para ligarem-lhe àquela hora, visto que a maioria das pessoas que tinha seu telefone sabia que ele estaria no colégio.

O visor do celular informava um número que Frank não conhecia. Imaginando que seria engano, atendeu.

- Alô?

- Frank? – uma voz levemente conhecida disse do outro lado.

- Hm, sim – respondeu tentando reconhecer de quem seria.

- Ah, oi, é o Julian, estive pensando se queria almoçar comigo. Está ocupado?

Julian, é claro, pensou Frank. Depois riu.

- Estou no colégio, Julian – informou com a voz divertida.

- Poxa, você ainda está no colégio? Quantos anos tem? – estava quase palpável o tom de espanto em sua voz.

- Estou no ultimo ano – Frank informou, ainda rindo um pouco – tenho dezoito, você sabe.

- Ah, reprovou, imagino – Frank riu e Julian o acompanhou – mas então, que horas saí daí?

- Hm, três horas, normalmente – o pequeno respondeu, pensativo.

- Ok, está livre depois? – Frank murmurou afirmativamente – então me explique como chego aí que vou te buscar.

O menino ofegou. Não sabia ao certo se queria levar o lance com Julian para frente. Ele gostava de estar com o outro e tudo mais, mas não era algo realmente empolgante. Mas no momento em que ia soltar a sua desculpa, viu Gerard passar rindo bem a sua frente e num impulso, explicou como chegar ao colégio para o outro. Precisava cumprir a maldita promessa e esse era um bom começo.

- Frank? Quem era? – Lily perguntou divertida, depois de sair do banheiro. O pequeno piscou e não respondeu, arrancando risinhos bobos das duas garotas.

 As aulas passaram mais rápido do que deveriam para Frank, e logo o outro sinal já tocava, indicando ser a hora da saída. Guardou todo o seu material e saiu da sala em meio à massa de alunos que se apertava na porta, parecendo quererem ver-se livres daquilo tudo de uma vez. Pode ouvir um comentário de mau gosto e risinhos vindo de trás de si e não precisou se virar para saber de quem se tratava.

Engoliu em seco e ignorou, atravessando o mais rápido que pode os corredores. Assim que deixou o prédio do colégio pode ver Julian encostado em seu carro no estacionamento, vestindo a mesma jaqueta de couro e tragando um cigarro. Sorriu para ele de longe e caminhou a passos largos em direção ao carro, onde, ao encontrar o outro, selou seus lábios nos dele; deu a volta no veículo e sentou-se no banco do passageiro.

Antes que Julian arrancasse o carro, pode ver, de relance, Gerard o encarando com os olhos semicerrados.


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Notas finais do capítulo

Assim que possível eu posto o próximo capítulo, ok? :3