A Menina e a Bicicleta escrita por Mad_Madchen


Capítulo 10
Yohanna's Tears


Notas iniciais do capítulo

Eu gostaria de fazer um pouco de auto-propaganda aqui... (hehe)
Acabei de postar os dois primeiros capítulos da minha nova fic, Hideaway. Estão com alguns errinhos, pois estou escrevendo direto no Nyah, mas assim que possível eu reviso e conserto.
A história é bem diferente de A Menina e a Bicicleta, na verdade. Embora o estilo seja parecido (leitura leve, divertida), é um passeio viajante sobre vida e morte, com muito mais fantasia e mistério. Como toda história minha, há um romance... e, dessa vez, seguindo o estilo de filmes como A Viagem de Chihiro ou O Labirinto do Fauno.
Se quiserem, dêem uma passada lá :3
obrigada!



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-- Onde está você? -- Blue tentava, frustrada, telefonar para a amiga da bicicleta vermelha. -- Atende, atende! -- Nada. -- Ah, quer saber, que aquele idiota fique esperando a noite toda. Não gostei dele, mesmo.

Mas é claro que Matt não ficou esperando a noite inteira no banco. Passada meia hora ali, ele se levantou, deu uma última olhada na casa e partiu para a rua comercial mais próxima. Entrou em uma lonja com um letreiro bem grande e luminoso que dizia: "BAR".

-- Alô, Brian? Brian, você pode sair agora? Aconteceram umas paradas muito estranhas, eu preciso falar com alguém. Estou num bar aqui perto do metrô... então eu posso ir à sua casa? AAAH, sua mãe nem vai notar. É, eu sei, ela me odeia. Tudo bem, deixe o portão dos fundos aberto. Estou indo.

***

Yohanna não estava chorando (ainda). Estava sentada no chão, de pernas cruzadas, calada. A menina da bicicleta vermelha a fitava, curiosa.

-- Me diga, Yohanna, o que foi? -- ela disse, com a voz tão gentil que, se saísse de outra pessoa, não pareceria natural. A menina falava pouco, mas o pouco que falava já era o suficiente para fazer brotarem lágrimas nos olhos de Yohanna.

-- Eu amo alguém -- ela finalmente disse. -- Amo muito, há muito tempo, e eu não sei o que fazer, porque ele não me dá atenção. Quer dizer, nós somos muito amigos, e ultimamente temos andado muito juntos, eu realmente achava que fosse dar certo, mas... -- ela começou a chorar de verdade, deixando cair a fita que enrolava nos dedos. -- ... ele gosta de muitas garotas, menos de mim.

A menina pousou a mão no ombro de Yohanna que, por sua vez, deu logo um abraço forte na menina e chorou até não poder mais. Na verdade, a menina não tinha ideia do que dizer, mas se estava ali para ajudar, tentaria fazer o melhor.

-- Ele tem uns problemas, sabe -- Yohanna parou de chorar, e entre soluços dizia umas palavras. -- Ele... ele usa drogas, extase, acho... e ele bebe muito também, eu não gosto disso... e fica com muitas garotas, aposto que não conhece a metade delas... ou ficou conhecendo num bar medieval que ele adora ir...

Nossa, que pessoa estranha, a menina pensou. Não parece o tipo de garoto apaixonável.

-- Ele toca gaita de foles, sabe, e de vez em quando se apresenta lá. Mas sempre que isso acontece... vem um milhão de garotas atrás dele... dizem até que ele já embebedou e foi para a cama com uma só para lhe vender drogas...

-- Yohanna, acorda! -- a menina não resistiu à tentação de dar um tapa na cara de Yohanna. Mas foi fraco. -- Que garoto estranho! Vocês não combinam, você é uma santa! Merece coisa melhor!

-- Mas você não entende -- Yohanna continuou, passado o susto do tapa. -- ele é muito mais que isso. As coisas boas compensam as ruins, e ele não é assim... eu sei que não, ele só está assim...

-- Então me fale das coisas boas!

-- Ah, ele é lindo! Talvez esteja um pouco menos agora, porque parou de cuidar do cabelo e ele ficou grande agora, mas ainda é lindo! E ele é muito legal, amigo, companheiro, verdadeiro... e apesar da bebedeira, eu sei que ele é fiel, sei! Ele é consciente, não é como esses idiotas que amam os EUA, não mesmo. Ele gosta muito de natureza também, sabe. Mas deixe eu te contar uma coisa muito estranha que está piorando tudo.

-- Diga então.

-- Esses cartazes... -- Antes de continuar a fala de Yohanna, imagine só a menina dos cartazes na cena, em um fundo preto. Seus olhos se arregalam de leve. -- Não sei quem foi o maluco que teve essa ideia, mas esses cartazes são o desenho dele! 

Agora imagine a cena com a menina num ângulo visto de cima, bem de perto. Daí a "câmera" vai se afastando dela, para cima, ela estende os braços para o alto e grita: "NÃÃÃÃÃÃÃÃO"

-- Jura? Não é só alguém parecido?

-- Não tem como ser, o Matt é único, e está idêntico ao desenho!

-- Matt. O nome dele é Matt!

-- Você está bem? O que aconteceu?

Difícil era não notar o pânico da menina. Ela começara a suar, e seus olhos pareciam saltar do rosto, mas ela tentou disfarçar:

-- Nada, erm, nada não. É que meu avô está internado no hospital, ele tem.. câncer... no fígado. Acabei de me lembrar que ele pode morrer a qualquer momento, pode estar morrendo agora mesmo, olha que ruim. Você tem uma foto do Matt aí?

Yohanna não sabia se consolava a menina ou se mostrava a foto do Matta gora, mas a menina não parecia muito preocupada com a situação do avô. Então, pegou um caderno que estava em cima da escrivaninha e o folheou, procurando uma foto.

-- Er, tem certeza de que você está bem? Não precisava ter vindo até aqui, com essa história do seu avô e tal.

-- Não, está tudo bem. Tudo bem mesmo. Ele já é bem velho, ia morrer qualquer dia desses mesmo.

-- Então olha aqui.

O que a menina sentiu quando pegou a foto e olhou bem para ela é indescritível. Foi como uma bomba silenciosa explodindo em seu coração, e ela estava de volta ao cenário de fundo preto, sozinha, a "câmera" girando em torno dela, até que para em frente aos seus olhos, a menina encara a ''câmera'' e diz:

-- OMFG, EU NÃO ACREDITO! (se você não sabe o que é OMFG, vai pesquisar no Google. Ele está aí pra isso, não para pesquisar "own3d" em "estou com sorte".)

Mas é claro que ela não disse isso na vida real; foi só algo que se passou pela sua cabeça. Na vida real, ela apenas encarou a foto, suando frio, e Yohanna percebeu que havia algo bem errado naquilo.

-- O que foi? Você está passando mal, quer água?

-- Quero, quero -- a menina não parava de olhar a foto. -- Por favor.

Enquanto Yohanna ia buscar água, a menina olhava mais cautelosamente o garoto na fotografia. Sua pele tão branca que deixava as bochechas rosadas, seu cabelo cor de mel que começava a se confundir com as costeletas em um ponto, sua camisa xadrês esverdeada, sua calça jeans azul e as botas de trilha. Céus, ele só usa essa roupa ou a menina deu muita sorte?

-- Matt -- ela murmurou.

-- Aqui está -- Yohanna entrou no quarto com um copo vermelho cheio de água, e a menina jogou a foto para o lado o mais rápido possível.

-- Obrigada -- ela pegou o copo e devolveu a foto, que havia ido parar de baixo da cama. -- Ele... ele mora onde?

-- Mora na parte sul da cidade, bem longe daqui. Por quê?

-- Não -- a menina bebeu mais um gole. -- Por nada. 

***

O taco atingiu a bola em cheio, mas a menina que o segurava caiu do cavalo. Sua longa trança loira não enganava: era Yohanna, em um dos seus treinos de pólo sem professor. Hoje não era dia de aula.

-- Yohanna, se machucou? -- Matt perguntou, montado no outro cavalo, o cinzento.

-- Um pouco -- ela se levantou gemendo. -- Mas nada que eu não encare. É normal cair.

Matt riu e desceu do cavalo, sentando-se ao lado de Yohanna.

-- Será que alguém sempre vai cair do cavalo quando estivermos juntos? -- ele indagou, e Yohanna sorriu. Dali a alguns segundos, ela foi falar algo para Matt e por acaso seus olhos se encontraram com os dele. Os olhos azuis como o céu de Yohanna encontraram o verde acastanhado dos olhos de Matt, e paralisaram ali.

-- Matt, eu... -- ela não conseguia falar. Não conseguia pensar. -- Eu falei com uma amiga muito legal ontem, ela foi lá em casa no meio da noite só para me ajudar com a lição de casa.

-- Ahm, sei -- Matt deu uma cotovelada em Yohanna. -- Ela é lésbica.

-- Não! -- Yohanna pareceu espantada. -- Não, eu também não sou! Idiota. Eu falei de você pra ela, mostrei uma foto sua.

-- E o que ela achou?

-- Ela achou idiota.

Matt riu, mas não demorou para ele ficar sério e com o olhar distante. Yohanna percebeu.

-- Sabe, Yohanna... -- ele disse, sem olhar para ela. -- Eu preciso te contar uma coisa. Desde o mês passado, eu não fico com nenhuma garota. É, desde o começo do mês passado, já faz quase dois meses.

-- Por quê? 

-- Eu não sei... perdi a vontade. É como se eu não quisesse mais essa vida. Me sinto estranho, sabe, como se o meu eu verdadeiro não fosse meu eu verdadeiro... de agora. Tipo, como se eu não fosse o que eu sou. Eu sou o que eu sou?

-- Bem, er... -- Yohanna não sabia se havia entendido direito. Acho que não. -- Acho que é, porque se você não fosse o que é, o que você seria?

Matt demorou um pouco para responder, mas respondeu:

-- Eu seria o que sou agora. 

-- E você... quer outra vida, Matt? Você quer... tentar algo diferente? -- Yohanna abraçou os joelhos.

-- Como assim? 

-- Não sei, talvez você queira tentar algo novo, do tipo... ver de quem você gosta de verdade, ou algo assim...

Matt ficou pensativo por um tempo, e depois pousou a mão sobre o ombro de Yohanna.

-- Yohanna, eu acho que amo alguém invisível. 

E então Yohanna soube do que ele estava falando. "Eu vou matar quem quer que esteja fazendo esses cartazes", pensou.

-- Mas essa pessoa é invisível, talvez nem seja uma pessoa só. Podem ser muitas. Podem ser homens. Já pensou, você é gay?

-- Não, Yohanna, eu já sei que a pessoa existe. Eu já fui na casa dela. E é mulher.

-- O que? -- Yohanna arrancou a mão de Matt de seu ombro. -- Você já foi na casa dela? Quem é?

-- Eu não sei quem é, porque eu não a vi, ela não estava lá... mas eu falei com uma amiga dela, e essa noite eu vou lá de novo para ver se encontro a menina que me desenhou...

-- Eu vou com você -- Yohanna ficou de pé. -- Eu quero ir com você.

-- Não, é perigoso -- Matt se levantou também. -- Eu sou irresponsável comigo mesmo, eu faço mil besteiras, mas não vou deixar você fazer também, porque não quero você metida nesse tipo de vida. 

-- Mas eu quero ir!

-- Yohanna, me escuta, eu já sei o que você está pensando. O Brian me contou tudo. Me desculpe. Mas a gente nunca daria certo junto, você é uma santa, você é incrível, e é muito mais do que eu, Yohanna -- Matt viu os olhos de Yohanna se encherem de lágrimas, e a menina se encolher de vergonha. -- Olha, eu não queria te falar nada, eu esperava que você fosse perceber isso por conta própria, mas... você é de um mundo muito acima do meu. Eu te adoro, é verdade, e eu já fiquei muito em dúvida se te amava ou não, mas eu percebi que não adianta te amar porque isso só te machucaria, e eu me apaixonei por outra pessoa.

-- Você não se apaixonou, Matt -- Yohanna falou, sombria. Lágrimas já escorriam pelo seu rosto. -- Você não sabe quem ela é! Ela não existe! Você nunca falou com ela! E se ela for mais santa que eu, hein? O que você vai fazer?

E Matt não soube responder. Ele olhava para o chão.

Yohanna bufou, subiu no cavalo e galopou para fora do campo, em direção aos estábulos. iria embora. Matt, então, se sentou ali no chão mesmo e apoiou a cabeça na mão. Ele mesmo não conseguia se entender. O que ele fez foi certo? Esperava que sim.

Na noite seguinte, ele e Brian iriam à casa da menina da bicicleta vermelha... 


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