- Pode apostar que quando eu puder me levantar desta maca eu vou nocautear todos vocês, sem excessão! – era basicamente isso o que o meu pai ficou dizendo durante todo o caminho até o hospital.

           Fala sério, que coroa chato.

           Quando chegamos, os médicos correram com a maca de meu pai até a emergência e eu resolvi caminhar até uma cafeteria alí perto.

Qual é, eram 4 da manhã, eu estava morta.

We all came out to Montreaux

On the Lake Geneva shoreline

To make records with a mobile

We didn't have much time

Eu olhei para a tela do celular.

Eu sabia que era a Lindsay me ligando, porque quando toca Smoke On The Water, da Metallica no meu celular, quer dizer que é ela na linha.

- Alô? – eu disse.

- Ora, ora. Veja se não é a Senhorita Taylor Momsen, fora de casa, uma horas dessas.

- Ora, ora. Veja se não é a Senhorita Lindsay Lohan me ligando à uma hora dessas.

- Me desculpe se eu me preocupo com a saúde da minha melhor amiga. E com a do pai dela.

- Quem te contou?

- John.

- Ah, é claro.

              John. É óbvio. John era o maior fofoqueira daquela rua. Ele parece um agente da CIA, ele sabe de tudo, sobre todo mundo.

Ele é muito estranho, e eu acho que tenho medo dele.

- Você precisa que eu vá? – ela me perguntou.

- Não, obrigada, eu vou ficar bem.

- Tudo bem. Qualquer coisa, ligue.

- Tá bom. Obrigada. Beijo Lilo.

- Beijo Tay, se cuida.

Desliguei.

           - Um café com leite desnatado, sem espuma. – pedi a caixa da cafeteria.

Dei-lhe o dinheiro e então ela me deu uma notinha, a qual eu entreguei no balcão, em troca do meu café.

           Havia uma mesinha no canto, e eu me sentei nela.

Pensei no meu pai por um segundo. Levantei os olhos da propaganda no copo de café, e vi um cara.

Tinha pouco menos de 40 anos, era forte, bonito. Muito, muito lindo.

OK, eu sou suspeita.

Sempre gostei dos caras mais velhos.

Ele se virou, me olhou de relance, e olhou o resto das mesas.

Lotadas.

O cara então caminhou até mim, e eu parei de olhar.

- Com licença, jovem?

Levantei os olhos.

- Sim?

- Eu posso me sentar com você? Todas as mesas estão lotadas e...

- Claro. – eu lhe interrompi. – Senta aí.

Ele abriu um sorriso.

- Obrigado.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

- Então... quanto é?

- Quanto é o que? – perguntei, sem entender nada.

- A hora.

- Eu... opa. Opa, opa, espera aí. Você não acha que eu sou uma...

- Não é? Desculpe, mas é que não é sempre que se vê uma garota jovem e bonita como você, usando roupas justas como essas na madrugada de Nova York. Quando se vê, normalmente elas são... profissionais do sexo. – ele disse, sem cerimônia.

Bom, eu não podia fazer nada, além do que eu fiz.

Tirei a tampa do copo e joguei o café nele.

O cara gritou de dor.

- É muito triste pra mim ter que jogar café nesse seu rostinho lindo e correr o risco de estragá-lo. – disse. – mas, bom, isso pode servir de lição pra você.

                Voltei para o hospital, não queria tomar mais nada. Como aquele idiota me confundiu com uma prostituta? Minhas roupas eram normais: short jeans e camiseta do Iron Maiden, nada demais.

Ao chegar lá, fiquei um tempão sentada em uma das cadeiras na secretária da emergência, rodeada de revistas velhas só de matérias sobre famosos e suas vidinhas fúteis e fabulosas.

                Até que ouvi o meu nome ser chamado no balcão.

Fui até e me dirigi a uma das mulheres que estavam atrás do balcão.

- Sou eu.

- Senhorita Momsen, o médico de está a sua espera no quarto de seu pai, 405.

- OK, obrigada.

Peguei o elevador e corri até o quarto.

A porta estava entreaberta, então eu a abri por completo e entrei.

Meu pai estava numa cama, e parecia dormir.

E havia um homem num jaleco branco ao lado da cama.

Tirei os olhos do meu pai e encarei o médico.

- Ah, merda. – eu disse. – Eu devo ter jogado pedra na cruz.