Virgin Of 16 escrita por Hazy


Capítulo 2
Now, the virgin of 16 is me.


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada às lindas que leram a fanfic, e agradecimentos especiais às que comentaram.

(:

Fiquei bem feliz em ter leitoras. GaaHina não é um pairing que muitas gostam, mas como é um que eu adoro e o proposto pelo desafio, é ótimo que vocês gostem também.

Não demorei muito, não é?

Então, chega de enrolações, aqui está a segunda e última parte da fanfic.

Espero que não os decepcione, e que eu vá bem nesse desafio. o/



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Capítulo 02 - Final -

Now, the virgin of 16 is me. 

...

Era apenas uma...


Cueca.

Uma simples e pacata cueca.

Agora eu me perguntava se quem tinha problemas ali era eu ou ela.

Ainda fiz o esforço de olhar em volta da minha velha peça íntima pra ver se não havia algum bicho escondido, mas não. Havia apenas ela.

Olhei para a garota, e logo depois para o tecido, esperando explicações.

- O que houve? A cueca te atacou ou algo assim? – Perguntei ironicamente, vendo a garota começar a tremer, provavelmente de frio. Eu tentava focar o olhar no rosto dela, e não no corpo seminu.

- N-n-não é s-só a c-cueca... – Ela falou – ou tentou -, apontando o dedo indicador para o tecido que eu ainda tentava decifrar a todo custo. Nunca ensinaram que é feio apontar?

Mas o que será que a cueca tinha de mais?

...

.....

Ah.

Então era aquilo.

Tive a decência de corar, admito.

- Como você pôde deixar essa cueca suja de sêmen no banheiro, sabendo que ia ter visita feminina em casa? – Mas o quê...? Os surtos de bipolaridade estão começando a se tornar comuns na garota. Eu mereço mesmo. – Isso é... falta de educação! E de higiene! Você poderia parar de espalhar suas intimidades por aí? Imagine se outra pessoa entra no banheiro e...

Puxei-a e colei nossas bocas, sem mais. Ah, não dava mais. Ela realmente fala demais quando tem esse tipo de surto. Ou eu batia nela ou eu a beijava.

Porém, as coisas saíram do controle. Era para ser apenas um selar de lábios, mas os meus instintos masculinos falaram mais alto e eu acabei tendo de aprofundar o ósculo. A garota estava atônita, não se mexia, não correspondia mas também não me afastava. Quando me separei dela, pude observar sua face surpresa.

- Cale a boca. – Falei, sem obter qualquer reação. Ela parecia uma estátua de cera, segurando a toalha em seu corpo com tanta força que os nós de seus dedos já estavam brancos. – O banheiro é meu. Eu não sabia que eu teria ‘visita’ feminina na casa, e muito menos que essa cueca ainda estava aqui. Aliás, ela já está aqui há uns seis dias. Porém, como sou o proprietário do lugar, acho que posso deixar as minhas ‘coisas’ aonde eu quiser.

...

O clima estava realmente tenso na sala. As luzes estavam apagadas, mas eu conseguia visualizar a face emburrada da minha acompanhante de relance. Lembram quando eu falei que o colchão de casal seria só para mim? Pois então, eu estava enganado. A garota simplesmente se apossou de dois terços do colchão enquanto eu limpava o banheiro, deixando um espaço mínimo para mim.

Seus olhos estavam focados na tela da televisão, onde cenas de pessoas sendo mortas das piores formas por criaturas fantasiosas percorriam. E, incrivelmente, ela não parecia estar com medo, e muito menos se agarrou em mim quando cenas mais fortes apareciam, como qualquer garotinha – ou até mulheres – medrosa.

- Não está com medo? – Perguntei, tendo as palavras abafadas pelos gritos de dor da protagonista.

- Não. Por que eu deveria estar?

- Porque noventa e nove por cento das garotinhas virgens de dezesseis anos tem medo desse tipo de filme.

Ela me olhou espantada, como se eu houvesse dito algum absurdo. Fiquei feliz em despertar alguma reação dela, porém, logo sua máscara de indiferença voltou.

Heh.

Voltei os olhos para o filme, entretanto, pouco tempo depois, senti um peso sobre o meu ombro direito. Hinata tinha dormido, e meu ombro começava a pesar.

Sacudi-a sem a menor delicadeza, vendo-a acordar meio dispersa. Logo percebeu a situação e voltou a se ajeitar, bocejando.

- Ei, garota...  – Chamei, vendo-a voltar o rosto em minha direção.  – Por que está agindo assim? Onde está aquela timidez toda? Aquelas palavras gaguejadas? Você costuma ter esses surtos de bipolaridade, sempre? – Despejei todas as perguntas. Estava me irritando, ué.

Ela me encarou, séria, parecendo analisar o meu rosto. Depois, desviou o olhar e corou.

- Primeiro beijo.

- O quê?

- Foi o meu primeiro beijo. – Repetiu.

Ah.

Coisa de mulher, que saco. Primeiro beijo? E o que é que tem? Isso lá é importante, por acaso?

- E você não gostou por ter sido comigo? – Ironizei, vendo-a ficar mais vermelha do que já estava – eu conseguia enxergar pela claridade da televisão.

E o interessante é que ela não respondeu.

Passaram-se alguns minutos, e o filme já havia sido esquecido por ambos. Ela constrangida, e eu pensativo.

 É.

- Me desculpe, então. Mas era melhor do que te bater. – Ela me olhou, indignada e confusa. – Foi só pra te calar, garota.

- O quê? – Agora ela estava mais indignada ainda. – Quer dizer que o meu primeiro beijo foi pra me calar?

- Vai me desculpar ou não? – Perguntei, impaciente.

Alguns segundos de silêncio depois, ela respondeu.

- Tudo bem.

- Finalmente.

O filme já estava no final, então resolvi voltar a prestar atenção. Porém, Hinata não. Pelo canto do olho, consegui vê-la esticar o braço e pegar um porta-retrato que estava abaixado, em uma estante perto dela.

Senti meu corpo se retrair ao lembrar qual foto estava nele, e porque ele estava abaixado. Ela pareceu perceber.

- Quem é? – Perguntou, indicando a mulher na foto.

Era uma foto antiga, de cinco anos atrás.

- Era a minha melhor amiga. – Respondi, frio.

Eu não sei por que ainda guardava aquela foto, depois de tanto tempo.

- Era? Por quê? Vocês brigaram?

Respirei fundo, triste ao lembrar daquela época.

- Ela está morta.

Tsumi era minha melhor amiga, e também, uma antiga paixão. Foi a única mulher a quem eu respeitei e, também, a única por quem me apaixonei. Depois de sua morte, não consegui me apaixonar de novo. Na verdade, eu não queria. Por mais que eu nunca tivesse me envolvido sentimentalmente com ela, para mim, foi a única.

Eu havia conseguido superar a sua morte, por mais que não houvesse sido nada fácil. Confesso que minha personalidade era muito diferente da atual quando eu podia vê-la todos os dias.

- ... Me desculpe. – Hinata logo guardou o porta-retrato onde estava anteriormente.

Continuei observando-a, percebendo como ela parecia hesitante. Brincava com os dedos, olhando para as próprias mãos.

- Meus pais nunca se importaram realmente comigo. – Começou, atraindo a minha atenção. Ela estava disposta a contar algo de sua vida pessoal para mim? – Parece que... me evitam. Quando não estão ocupados com a minha irmã, com o cachorro ou com o trabalho, tiram o tempo para me criticar.

“Desde quando eu era menor. Eu não ia muito bem na escola, então, criticavam minhas notas. Eu comia demais, então, me chamavam de gorda. Criticavam a minha aparência, o modo como eu agia, e não se importam comigo a ponto de me deixarem na casa de um estranho...”

“ Se importam tão pouco que nem perceberam que, agora, minhas notas estão entre as melhores da escola, e que eu parei de comer tanto...”

“Pareceram tão simpáticos conversando com você, não foi?”

Deveria ser complicado. Eu não podia dizer que a entendia, pois atenção dos meus pais nunca me faltou. Até hoje, minha mãe me ligava toda semana para ver como eu estava, de Hokkaido, onde ela mora.

- Não perceberam também como você é bonita? – Deixei escapar, porém, não me arrependi do que disse ao ver o sorriso que ela me lançou.

- Gaara...

Mas o que era aquilo? Por que passei a sorrir também, ao ver aquela expressão contente em seu rosto? E por que estou agindo como um adolescente virgem de dezesseis anos?

- Vem cá – puxei-a, sem saber direito o que estava fazendo.  –Parece que você está... etto... precisando de  um abraço. – Falei, desconcertado.

Não, eu não era assim, tão... carinhoso e preocupado com as pessoas a minha volta. Bem, talvez eu fosse, mas tinha me esquecido disso na época em que Tsumi se foi.

E, agora, enlouquecendo de vez, foi que eu fiz uma coisa realmente estranha. Levantei seu rosto e, sem pedir permissão, a beijei. Novamente.

Porém, dessa vez ela correspondeu, tímida e desajeitada. Típico de primeiros beijos.

O motivo? Não sei bem. Talvez fosse o... momento?

Bem, não sei. Porém, quando rompemos o beijo, ela me olhou, constrangida, e ao mesmo tempo, pedindo explicações.

- Hm... etto...  Esse foi porque eu quis.

E sua única ação foi esconder o rosto corado em meu peito.

E, daquela forma, abraçados, em algum momento, nós dormimos.

Mas que diabos, mesmo.

...

No dia seguinte, que por sinal era domingo, acordei me sentindo realmente muito leve. Leve e gelado, livre de cobertores. Foi quando olhei pro lado e percebi que o ser de cabelo azul que havia dividido o colchão comigo esquecera-se de dividir, também, os cobertores.

Chovera durante a madrugada, constatei ao observar pelas cortinas entreabertas da sacada. Que foi? Era um edifício humilde, mas tinha sacada. Chuva significava frio, ou não, porém, logo percebi que a temperatura havia mudado bastante. Mesmo com duas cobertas, Hinata tremia.

Tratei de acordá-la, para que pudesse tomar um banho e se vestir, pois aquele pijama era realmente curto. Eu mesmo tinha que fazer isso, pois estava apenas com uma bermuda larga e uma camiseta.

Quando a garota despertou, e me encontrou ali, deitado ao seu lado, logo corou e desviou o olhar.

Mas qual o motivo de tanto constrangimento, minha filha?

...

...

...

Ah.

Lembrei.

E corei também, logo me levantando e impedindo-a de perceber isso.

...

Naquela manhã, levei-a para almoçar fora, por mais que ela tenha insistido que tentaria cozinhar alguma coisa. Não, eu não a deixaria tocar na minha cozinha novamente, não depois de ela quase destruir o meu estoque de comida.

Durante o almoço, me avisou que pela tarde iria na casa de um colega fazer um trabalho para a escola.

- Colega, hm? – Perguntei, incomodado. Por que não poderia ser uma colega, em vez de um colega?

- Sim! – Declarou, parecendo entusiasmada, felizmente não percebendo a minha irritação com o tal colega. – Kiba-kun é muito inteligente. Provavelmente iremos tirar uma boa nota, já que o trabalho é em dupla.

- Que horas você vai? – Indaguei, resolvendo sair do assunto ‘colega’.

- Assim que sair daqui, se eu quiser chegar a tempo.

- Espere! – Me exaltei. Mas do que ela estava falando, Kami-sama? – Vocês não haviam marcado para as quatro horas da tarde? Agora é uma hora, Hinata.

- Bem...

- Onde é?

- É em Adachi... – Parecia constrangida, desviando o olhar.

Respirei fundo, me perguntando até onde iria a cabeça daquela garota.

-Hinata... entenda. Estamos em Shibuya. – Declarei, observando-a me fitar, esperando. – Você tem ideia de quantos quilômetros de distância ligam Shibuya à Adachi?

Parecia calcular.

- Hum... uns quinze?

- NÃO! – Gritei, chamando a atenção das outras pessoas que estavam no estabelecimento. Que se danem, os outros, afinal. – São vinte e três quilômetros, Hinata. Vinte e três. E mesmo se fossem quinze, ainda seria muito longe para ir a pé.

Arregalou os olhos, percebendo o absurdo que estava prestes a fazer. Ora essa! Andar quase vinte e cinco quilômetros a pé? Ela era maratonista, por acaso?

- É realmente longe...

Bufei, pedindo a conta, que por sinal não fora nada baixa. A garota era magra e bonita, mas comia feito um trator. Kami-sama...

- Eu te levo.

...

Durante o caminho, pouco nos falamos. Apenas quando chegamos em Adachi, Hinata começou a me explicar as coordenadas para que encontrássemos a casa do tal colega.

Quando finalmente chegamos à moradia, antes de Hinata sair, lhe avisei:

- Hinata, vou sair com alguns colegas de faculdade hoje. Não sei se vou poder vir te buscar, então, de qualquer forma peça para alguém te levar, está bem?

- Não se preocupe. – Ela sorriu. – Akemi-san provavelmente me levará, como sempre faz quando venho aqui.

Ah é?

Então, ela sempre ia ao tal colega?

Hm...

- Ah! – Pareceu lembrar-se de algo, olhando-me, indagadora. – Como vou entrar, caso chegue antes que você?

Verdade. Eu não tinha uma chave reserva – na verdade, nem me lembrara de tal detalhe.

Pensei. Fiquei uns bons minutos pensando, e ela apenas esperava, paciente. Após muito tempo, cheguei a uma conclusão, e enraiveci ao perceber que demorei muito. Eu não era tão burro, porcaria.

- Eu vou deixar a chave embaixo do tapete de entrada quando sair. Já que é moradora do prédio, consegue entrar facilmente na portaria, então, quem chegar primeiro usa a chave e abre a porta para o outro.

Ela sorriu, e eu fiquei meio... desnorteado. Mas o quê? Que porcaria era essa? Estou encantado pelo sorrisinho da garotinha virgem de dezesseis anos?

Kami-sama...

- Hai. – Concordou, abrindo a porta do meu velho Camaro, que fez um rugido tão alto que me lembrou um casal selvagem em plena relação sexual. – Ja nee.

Heh.

Resolvi ficar ali, só pra ver a fuça do tal colega.

E me surpreendi ao ver que pareciam fuças mesmo. O garoto que abriu a porta parecia um cachorro, e aquele sorriso gigante era igual aos dos pobres animaizinhos quando o dono chegava em casa. Parecia mais animado que um homem que acabou de ganhar na loteria.

Colega... heh.

...

Eram quase nove horas da noite quando estacionei a minha lata velha na garagem. Realmente, o dia havia sido cansativo, e a temperatura havia dado voltas.

Quando finalmente parecia que ia esquentar com o sol de fim de tarde, ventos fortes começaram acompanhados de uma chuva nada modesta. O temporal que caía e o vento que fazia só me davam mais impulsos para adentrar o meu apartamento e me enfiar na cama.

Foi com esses pensamentos que chamei o elevador, ansioso.

Sasuke e Itachi eram realmente dois idiotas. Durante a tarde, fomos parar num barzinho e ambos passaram da conta na hora de beber. Itachi acabou dando um discurso sobre a corrupção nos preços da cachaça em cima da mesa em que estávamos, enquanto Sasuke chorava desesperadamente no ombro de uma mulher por ter perdido seu filme favorito que passara na noite passada, alegando ter caído no sono antes de começar.

Realmente, a bebida mexia com as pessoas. Eu não bebi, tomei refrigerante. É melhor assim, principalmente quando se tem uma garotinha virgem de dezesseis anos, bonita, para cuidar em casa.

Ah, falando em Hinata... eu estava com inveja dela nesse exato momento. Deveria estar largada no sofá, ou na cama, com uma roupa quente, longe desse temporal.

Inveja.

Inveja que se dissipou com a cena que visualizei ao chegar no meu andar.

Mas eu sou um estúpido mesmo.

A morena estava sentada ao lado da porta, abraçando os joelhos, o rosto apoiado sobre os braços, tremendo de frio. As roupas molhadas denunciavam que havia pegado chuva, e ela parecia estar dormindo, naquela posição completamente desconfortável.

Eu havia esquecido de deixar a chave.

Maldição.

Senti uma pontada gigante no peito ao vê-la daquele jeito, e a primeira reação que tive foi correr até ela e despejar meu casaco sobre seus ombros, por mais que não adiantasse muito, enquanto procurava a maldita chave.

O que era aquilo? O que era aquela maldita sensação de peso na consciência, de que fiz algo realmente imperdoável, deixando-a daquele jeito?

A que horas ela haveria chegado? Há quanto tempo estaria esperando?

O que era essa vontade de tirá-la dali o mais rápido possível? De me desculpar e cuidar dela, de protegê-la?

Após abrir a porta, cutuquei levemente seu ombro, na tentativa de acordá-la. Ela logo despertou, me olhando e sorrindo.

- F-finalmente você chegou.

Mas que droga! Não faça com que eu me sinta pior! Me xingue, me bata, me jogue pela janela, mas não sorria desse jeito! Não me trate como se eu não tivesse esquecido de deixar a porcaria da chave, droga!

Não me faça pensar como um adolescente apaixonado!

Puxei-a por um dos braços, fazendo a andar para dentro de casa. Antes, ela relutou, dizendo que molharia o chão daquele jeito, porém, ignorei-a. Levei-a direto para o banheiro, procurando por roupas limpas e obrigando-a a tomar um banho quente, antes que contraísse um resfriado, se já não tinha o feito.

Enquanto ela se banhava, sentei no sofá e comecei a me xingar mentalmente. Eu havia esquecido a chave. Não tinha como ela me contatar, pois eu não havia passado o número do meu celular. Bem, ela poderia ter esperado em algum vizinho... Mas a culpa era toda minha, afinal.

E, além disso, tinha aquilo.

Havia toda aquela gama de sentimentos que senti quando a vi daquela forma.

O que estava acontecendo comigo, afinal?

...

Eu já estava me preparando para dormir. Não havia me desculpado com Hinata. Sequer havia falado algo com ela que não fosse mandá-la comer alguma coisa, porém, estava disposto a fazer isso agora.

E não teria hora melhor para eu entrar no quarto de hóspedes.

Cheguei a tempo de ver a menina deitar na cama, e, ao mesmo tempo, o móvel desabou.

E fiquei encantado com a cara confusa que Hinata fez, olhando para baixo procurando o que havia acontecido ali.

Estava quase explodindo em risadas, e quando ela me fitou, parecendo sentir-se culpada, não aguentei e comecei a rir descontroladamente, como há muito tempo não fazia.

A cama era velha, e ela não tinha culpa, mas fora engraçado ver aquela expressão confusa em sua face.

Adorável.

...

As luzes estavam apagadas, porém, eu não estava dormindo. E a minha acompanhante de quarto também não, pelo que eu podia perceber.

Havia arrumado um colchão para ela ao lado da minha cama, e enquanto colocava os cobertores, lembrava de seu tombo e de sua cara ao cair, começando a rir constantemente e recebendo tapas nos ombros ou na cabeça, de uma Hinata irritada.

Porém, agora, eu estava a mais de meia hora deitado naquela cama, olhando para o nada, sem conseguir pregar os olhos. Eu estava com frio, e como havia cedido um de meus cobertores para a morena, estava mais difícil de me esquentar. Eu imaginava a situação em que ela estaria: deitada no chão, num colchão fino, tremendo incontrolavelmente...

- Gaara?

Surpreendi-me ao ouvir sua voz, por mais que soubesse que ela estava desperta.

- Hm. – Murmurei.

- Está frio, nee?

Nossa, não me diga! Nem percebi.

- Hm.

- Ou melhor, eu estou com frio.

Ela iria puxar papo, então? Ah, Kami-sama. É madrugada, e por mais que eu não esteja conseguindo dormir, eu quero dormir.

- Eu... posso dormir aí, com você? – Perguntou inocentemente, a voz saindo trêmula devido ao ranger de dentes. É, ela estava com frio mesmo.

- Você roubou minhas cobertas ontem a noite. – Comentei, tentando fazê-la entender aquilo como um não. Ora, poderia estar me sentindo culpado, mas não queria ter que ceder espaço na cama e mais cobertores a ela. Me poupe.

Senti o espaço ao meu lado afundar. Ela havia ignorado meus protestos e, carregando um travesseiro e o cobertor que estava com ela, deitou-se.

Passou-se mais um tempo. Eu estava de costas para ela, e podia sentir sua respiração batendo contra a minha nuca, sentindo arrepios.

Droga, estou parecendo um garotinho de colegial apaixonado, novamente. Que é isso, Gaara que é isso...

Por fim, ao perceber que ela ainda não dormia, resolvi fazer o que tinha em mente mais cedo.

- Me desculpe. – Pedi, por fim.

Me desculpar estava se tornando um ato comum nesses dois dias. Eu não posso me acostumar a ser gentil, não mesmo.

- Pelo quê? – Ah, vai dizer que não sabe?

- Por ter esquecido a chave, e lhe deixado esperando naquele frio, com as roupas molhadas. – Resolvi responder educadamente, sem ironizar.

- Iie.

- Mas bem que você poderia ter esperado em algum vizinho. – Não pude deixar de comentar.

E, por mais um bom tempo, o único barulho que era capaz de se ouvir era o da chuva batendo nas janelas.

- Você... se parece com o seu gato. – Sua voz sonolenta sussurrou contra o meu pescoço, fazendo-me perguntar a mim mesmo em que gandaia o meu gato deve estar nesse momento.

- Por que sou lindo e charmoso? – Perguntei, sorrindo divertido ao interpretar o que ela quis dizer.

- Não... Porque você é arrogante, frio e antissocial.

Meu sorriso morreu, e eu bufei, afastando-me um pouco dela.

Quem ela pensava que era, afinal?

- Mas... você também tem seu lado gentil e carinhoso, e que necessita de atenção. E... é muito bonito também. – Completou, e eu podia imaginar seu sorriso constrangido ao proferir aquelas palavras, sentindo algo se aquecer dentro de mim ao perceber a sinceridade presente nelas. – Sim, você é igualzinho a um gato.

- Hinata...

- Essa é a minha última noite aqui... – Me interrompeu, e seu tom de voz parecia um pouco... triste. – Provavelmente meus pais venham me buscar pela manhã.

E aquelas palavras me atingiram de um modo que eu não poderia imaginar que aconteceria. De alguma forma, durante esses dois dias eu me acostumei com ela. Me acostumei a comer acompanhado, a ter mais alguém na casa, a ter alguém com quem discutir ou apenas para me fazer companhia. Acho que passei tanto tempo da minha vida sozinho, que o fato de ter outra pessoa por perto fez com que eu não quisesse mais... me separar dela.

- É. – Concordei, mostrando-me indiferente, porém, completando logo em seguida. –  Etto... você pode vir me visitar, se quiser. Afinal, você mora aqui do lado mesmo.

- Não sei se você vai querer que eu venha – Falou, rindo logo em seguida. Mas não era um riso verdadeiro, eu conseguia perceber. Sempre fui muito analítico. – Afinal, eu desperdicei sua comida, encharquei o seu banheiro e o resto da sua casa, quebrei sua cama...

- Você pode vir me visitar quando quiser. – Declarei, colocando um ponto final no assunto.

Porém, me surpreendi ao sentir os braços femininos envolvendo a minha cintura, pousando a testa em minhas costas e sussurrando, baixo.

- E se... eu não quisesse ir? E se eu quisesse ficar aqui, com você?

Exaltei-me com aquelas palavras, ao mesmo tempo em que senti novamente aquele calor no peito. O que ela queria dizer?

- Hinata...?

Porém, não recebi respostas. Não naquela noite.

Só pude dormir, finalmente livre do frio.

E não era por causa da coberta adicional, e sim, pelo abraço acolhedor que me envolvia.

...

Hinata estava cabisbaixa, colocando suas roupas cuidadosamente na mala. Desde que acordou, não falara nada. Nem uma palavra.

Seus pais ligaram para o telefone fixo – que eu não sabia de onde haviam tirado o número – e quando eu atendi, avisaram-me de que estariam chegando em meia hora e que era para que Hinata ficasse com as coisas prontas.

Eu me sentia mal pela sua partida. Não sei por que, mas havia algo em mim que não queria que ela deixasse meu apartamento, por mais que sua casa fosse a menos de três metros de distância. Uma coisa era ter ela morando comigo, outra, era tê-la como vizinha.

A convivência, por mais que tenha sido por muito pouco tempo, envolveu situações pelas quais eu nunca havia passado antes e me fez aprender a gostar dela. A gostar de ter alguém na minha vida, fazendo-a deixar de ser tão monótona e sem graça, como se tornou após a morte de Tsumi.

Hinata fazia a diferença, e eu sentiria sua falta.

Agora, estávamos sentados no sofá da sala, lado a lado, num silêncio constrangedor, esperando pela chegada de seus pais.

Eu queria dizer que sentiria sua falta, mas meu orgulho ainda era muito grande para isso.

- E se... – Ouvi sua voz pela primeira vez naquela manhã, saindo baixa e hesitante. – E se eu estivesse apaixonada por você?

Estanquei. Ela já havia me pego desprevenido, me dito várias coisas sem cabimento em outros momentos, mas dessa vez, ela realmente me pegou de surpresa.

Pensei ser brincadeira, mas desisti dos meus pensamentos ao fitar seu rosto determinado.

- Heh? Como assim, Hinata? – Perguntei, rindo nervosamente. Por mais que eu tenha sentido uma pontada de alegria ao ouvir tais palavras, eu ainda achava um absurdo. – Você só pode estar confundindo algo! Não tem como se apaixonar por alguém em dois dias e...

- Não são dois dias, são trezentos e sessenta e sete.

- Hã?

Ela respirou fundo, e eu também, ansioso para ouvir suas próximas palavras.

- Desde que você se mudou, Gaara... eu tenho o observado sempre. Diferente de você, que nunca me notou nos corredores, a ponto de pensar que eu estava o seguindo... – Abaixou a cabeça ao proferir tais palavras, parecendo triste. – Eu sempre o notava. E eu acabei... me apaixonando por você. E esses dois dias e três noites... foram o necessário para que eu pudesse confirmar tudo isso. Quando perguntei seu nome no elevador, era para puxar conversa. É claro que eu sabia o seu nome...

- Hinata...

- Bem, mas agora o fardo vai embora. – Falou, e eu podia ver lágrimas escorrendo por sua face alva, me atingindo em cheio. – Eu só te falei porque não aguentava mais guardar isso para mim. Mas agora, apenas volte a não notar a minha existência, e tudo vai ficar bem, vai voltar ao normal. – E eu percebi que cada palavra que ela dizia a machucava, cada vez mais.

Aquele sentimento a machucava, e era um sentimento extremamente verdadeiro.

Kami-sama.

Se prepare.

- Como eu poderia me esquecer da sua existência, Hinata? – Comecei, vendo-a me encarar, confusa. Toquei seu rosto, secando suas lágrimas, enquanto prosseguia, sorrindo levemente. – Você tornou a minha vida muito mais divertida nesse pouco tempo que passamos juntos, Hinata. Me colocou em situações que eu nunca imaginaria passar. Me fez perceber como pode ser bom ter alguém ao seu lado... e não ficar remoendo lembranças passadas. – Lembrei-me de Tsumi, mas a lembrança já não parecia dolorosa como era. – Você é tão... doce. Totalmente o contrário de mim. Eu posso dizer que você me encanta, Hinata. E posso dizer também que, talvez, apenas talvez, eu esteja apaixonado por você, essa garotinha virgem de dezesseis anos que me fez feliz por dois dias. E você vai ter que me dar alguma oportunidade para confirmar isso, Hinata.

Quando se pensa em dois dias e meio, parece muito pouco tempo para se apaixonar. Mas, se pensarmos em sessenta horas, bem... já não parece tão absurdo assim.

E, finalmente, eu percebia o que estava sentindo. Era um sentimento forte, não tanto como o que sentia por Tsumi na época da minha adolescência, mas eu pensava que, com o tempo, talvez pudesse se tornar até maior, mais forte.

Hinata era especial, e eu admitia isso.

E o sorriso que ela abriu ao ouvir aquelas palavras me aqueceu completamente por dentro. E o beijo que se seguiu apenas me fez perceber o quanto eu parecia um adolescente de dezesseis anos apaixonado. E me fez perceber também, o quanto isso era bom.

...

- Muito obrigada, Sabaku-san, por ter cuidado da nossa filhinha por esses dois dias. Deve ter se comportado muito bem, não é? Sempre tão querida, tão educada...

E, a mulher que antes eu olhava como uma louca, agora eu olhava com repugnância. Agora eu percebia como aquele sorriso e aquelas palavras eram ambos falsos.

- Então, Hinatinha, meu amor, se despeça de Gaara-san e vamos voltar logo. Você pode vir visitá-lo quando quiser, não é mesmo?

Hinata assentiu, aproximando-se de mim e me envolvendo num abraço apertado e aflito, murmurando um agradecimento no meu ouvido.

“E se... eu não quisesse ir? E se eu quisesse ficar aqui, com você?”


Lembrar-me daquelas palavras fez com que eu tomasse uma atitude completamente impensada, porém, da qual eu não me arrependeria depois.

- Vamos, Hinatinha! – Ouvi a voz irritante daquela mulher idiota chamando-a.

Aprecei-me em segurar seu braço quando ela se afastou.

- Hinata não vai. – Declarei, recebendo dois olhares completamente surpresos em minha direção.

Abracei-a pela cintura.

- Vocês deixaram sua filha nas mãos de um completo estranho enquanto iam viajar, sem dar quaisquer satisfações. Então, agora, eu não a devolverei, e, também, não lhes devo satisfações. – Falei, olhando para a mulher e para o homem que acabara de aparecer na porta. – Gostei do presente, muito obrigado. – Sorri sarcasticamente, ouvindo a morena ao meu lado rir baixinho.

- Mas o que é isso, meu filho? – A mulher começou, o sorriso falso estampado em seu rosto. – Somos os pais dela e...

- Pais? – Repeti, perplexo. – O que eu vejo são apenas duas pessoas que a sustentam financeiramente, importando-se pouco ou quase nada com ela para deixá-la nas mãos de um completo estranho, que poderia fazer qualquer coisa de errado com ela. Duas pessoas que se preocupam mais com o cachorro, e não percebem a filha maravilhosa e esforçada que tem. Onde a palavra ‘pais’ se encaixa aí?

- Garoto, espere... vamos socializar e...

- Me desculpem, mas eu sou um cara extremamente antissocial. – Dei um fim à conversa, batendo a porta na cara daqueles dois velhos repugnantes.

- Gaara, o que foi isso? – A morena perguntou, divertida com a situação.

- Eu também não devo satisfações a você, Hinata. – Cortei-a, sorrindo sarcasticamente, puxando-a pelas mãos em direção ao quarto. – Vamos, agora me ajude a levar esses colchões para a sala. Vamos assistir à segunda versão do filme de sábado. Tenho certeza que, dessa vez, você vai ficar com medo, e eu quero estar lá para você ter em quem se agarrar.

A morena riu, concordando.

Ótimo, eu tinha uma nova namorada.

E ela era uma garotinha virgem de dezesseis anos.

E  eu tinha certeza que aprenderia a amá-la com o passar do tempo.

Ah, muito linda ela, por sinal.

Fim \o/


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Notas finais do capítulo

Beem pessoal, novamente, espero não ter decepcionado, e espero também que o tamanho não tenha deixado o capítulo entediante. -q

Eu me empolguei. q

Me desculpem caso tenham encontrado algum erro de gramática ou concordância, eu revisei, mas talvez tenha passado alguma coisa.
(:

Bem, concluo a minha participação no desafio agora, e não espero que apenas a Fran tenha gostado, e sim todas que estão lendo.
o/

Obrigada por tudo, logo responderei aos reviews.

Mata nee :*