Alugando Hermione Granger escrita por da_ni_ribeiro, thysss


Capítulo 2
Capítulo Dois




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Capítulo Dois

- Pode entrar.

Draco Malfoy permaneceu sentado em sua poltrona, não iria se dignar a ir até a porta e abri-la para dar de cara com o mordomo que certamente iria trazer sua sentença de morte. Conhecia muito bem sua mãe, era provável que há essa hora ela já havia feito a cabeça de Lucius. Havia sido apenas uma questão de tempo.

Tempo este que ele deveria ter considerado razoável, a questão é que não imaginara que se aproximar de Hermione Granger seria tão difícil... Havia sido um mês em que ficara a espreita, um mês em que dissera que iria conquistá-la, mas em realidade não havia conseguido mais que poucas palavras trocadas com ela, sempre ele de um lado do balcão e ela do outro. Aquela castanha era realmente mais difícil do que constava em seus planos, qualquer outra garotinha – como as amigas de sua irmã – já estariam aos seus pés com apenas uma semana, mas não, justo a garota que lhe parecera interessante o suficiente para talvez tentar algo mais se fazia de durona e não lhe dava bola.

Isso só fez sua frustração aumentar.

- O que você quer? – perguntou o loiro de mal humor.

- Desculpe incomodar, senhor Draco – disse a empregada em um murmúrio. – Sua mãe e seu pai o aguardam no escritório.

- Era o que eu estava esperando – resmungou o loiro. – Vá até lá e os avise que em instantes eu irei aparecer.

                Era o momento que no último mês Draco esperava a cada dia, todos os finais de semana ele fazia o que podia para se manter afastado da casa de campo da família, afinal Lucius passava os dias da semana no parlamento, em Londres, e não se dava ao trabalho de voltar para casa. Mas agora, já estando bem de saúde e, como Draco podia imaginar, ainda mais disposto a vê-lo casado logo, Lucius e sua mãe não iriam mais adiar este momento.

- Como quiser.

Quando a empregada fechou a porta do quarto, Draco se levantou abruptamente da poltrona e andou a passos largos de um lado para o outro. Precisava reorganizar os pensamentos, ter argumentos muito bons perante seus pais. Conhecia Narcisa bem, sua mãe era uma lady em muitos aspectos, mas sempre fora uma mulher de pulso forte e a última a dar a palavra dentro da casa dos Malfoy – e neste caso ele tinha certeza de que ela seria ainda mais exigente. Draco sempre soubera reconhecer uma causa perdida, só que dessa vez iria tentar convencer a mãe. Era a única saída para que eles não tentassem arranjar um casamento dele com Pansy Parkinson.

                Draco entrou no escritório de Lucius sem bater. Sua mãe e seu pai o esperavam com uma impaciência disfarçada.

- Que bom que você chegou – disse Narcisa séria. – Agora podemos começar.

                Não houve resposta por parte de Draco, o loiro apenas se sentou na poltrona que estava estrategicamente colocada de frente para os pais. Com uma rápida avaliação da situação, Draco pôde perceber que seu pai não parecia nada contente e por um breve instante se sentiu uma criança de apenas cinco anos de idade sendo pega em uma travessura. Aquela conversa, definitivamente, não seria agradável.

- O que você quer da sua vida, Draco? – perguntou Lucius passando as mãos pelos cabelos meticulosamente cortados. – Sinto lhe informar, mas você não é mais um adolescente. Você já tem 25 anos.

- Eu e seu pai conversamos muito seriamente sobre o seu futuro – Narcisa estava inquieta, já havia cruzado e descruzado a perna uma par de vezes. – E chegamos a seguinte conclusão.

- Você deve casar, Draco – informou Lucius.

- Isso eu sei desde que eu nasci. – informou o loiro casualmente. – Se eu não me casar, não posso assumir o meu lugar no parlamento...

- Nós já sabemos com quem você vai se casar.

Em um primeiro momento, Draco sentiu vontade de dar risada, mas seu humor inglês não permitia, no segundo momento teve vontade de sair correndo como um adolescente revoltado. Não podia optar por nenhuma das opções, deveria ser frio o suficiente para manter a pose com a qual havia entrado naquela sala. Devia esperar por uma decisão como aquela.

- E com quem vocês estão pensando em me casar?

- Pansy Parkinson – respondeu Narcisa com um sorriso no rosto.

- Definitivamente não – respondeu Draco tranquilamente. – A Srta. Parkinson não é uma pessoa que eu quero para minha mulher.

- Você não está em posição de escolher – lembrou Lucius. – Eu não posso mais permitir que você esteja nas primeiras páginas daqueles malditos tablóides.

- Eu vou me casar em breve, mas com a pessoa que eu escolher – disse Draco tranquilamente. – Eu só preciso que vocês me dêem algum tempo.

- Já te demos tempo o suficiente, Draco – disse Narcisa séria. – Nossa decisão está tomada.

- Eu peço 6 meses, então – Draco endireitou a postura. Aquela era o momento do tudo ou nada. – Caso eu não fique noivo e marque a data nesse tempo, eu aceito a decisão de vocês.

Narcisa a Lucius trocaram olhares cúmplices, enquanto Draco esperava impaciente pela decisão final dos pais. Estava apostando que seu plano fosse dar certo, que aquela garçonete fosse aceitar sua proposta. Era tudo ou nada. Melhor arriscar do que casar com Pansy Parkinson.

- Certo, Draco – disse Lucius antes que Narcisa pudesse falar qualquer coisa. – Eu te dou esses 6 meses que você nos pediu, mas em troca, eu não quero ver você aparecendo nos tablóides, não quero saber que você anda frequentando bares, casas noturnas ou bordéis. E não quero ver você bêbado.

- Tudo bem.

- Eu vou estar no seu pé – Narcisa mostrava-se claramente desapontada pela decisão do marido. – Ainda acho que Pansy é a mulher perfeita para você, filho.

- Eu não vou dar o meu parecer quando a isso, mãe. Mas saiba que Pansy Parkinson é a última mulher com quem eu pretendo me casar, mas caso eu não arranje ninguém nesses meses, eu vou aceitar a decisão de vocês sem qualquer objeção.

                Hermione tinha grandes olheiras sob os belos olhos castanhos. No dia anterior havia ido até o banco e pegado com a gerente de sua conta o extrato de sua conta corrente e de sua poupança. Passara a noite fazendo contas e mais contas, mas não havia encontrado nenhuma maneira de pagar a faculdade. O dinheiro que tinha mal dava para pagar os primeiros meses do curso. Maldita falta de dinheiro!

- Mais um ano trabalhando, Gina!

                Hermione olhou para a vizinha de apartamento desolada. Virginia Weasley sempre seria o que Hermione gostaria de ser: Bonita, educada e rica.

- Só mais um ano, Herms! – Sorriu a ruiva. – Ano que vem você vai estar realizando seu sonho! Só mais um pouco.

- Gina, isso é desanimador. Faz 3 anos que eu estou trabalhando, todos os dias, não importa se está fazendo sol, se está chovendo, nevando... Eu só trabalho!

- Eu e o resto do mundo já sabemos disso! Mas pensa pelo lado bom, você está quase lá!

- Eu preciso de um milagre – Hermione juntou todos os papéis em um único bolo.

- Você está precisando de um príncipe encantando, Herms.

- A única coisa da qual eu não estou precisando agora é de um homem na minha vida!

- Toda mulher precisa de um homem na vida, Hermione – disse Gina como se estivesse ensinando o ABC para uma criança pequena.

- Não preciso de um homem na minha vida, isso é um fato!

- Se você diz quem sou eu para discordar?

                Gina era por demasiado teimosa quando queria. Hermione admirava a determinação da amiga, mas detestava sua teimosia, principalmente quando ela insistia em se meter na vida amorosa da castanha. A castanha não via necessidade de ter um homem em sua vida, nunca tinha namorado e não era naquele momento que pretendia começar a procurar um relacionamento. Estava bem daquele jeito.

- Eu não quero um namorado agora, Gina. Você precisa entender isso.

- Eu compreendo, mas não entendo – Gina sorriu. – Você precisa conhecer novas pessoas, Herms. A vida não é só trabalho.

- Te prometo que irei conhecer novas pessoas.

- E quando isso vai acontecer?

- Quando eu entrar na faculdade. Aí sim, eu terei todo o tempo do mundo para conhecer novas pessoas. – Hermione organizava o pequeno bloco com suas anotações metodicamente. – Além do que, sempre vejo pessoas novas no pub – isso a fez se lembrar do loiro de olhos acinzentado que estava se tornando um cliente regular, mas logo maneou a cabeça, estava decidida: não precisava de um homem em sua vida naquele momento!

- Você é teimosa por demais, Herms – disse a ruiva levantando-se da mesa. – O que você acha de ir comigo na primeira festa da faculdade?

- Sem chance.

- Por favor! – disse Gina levando alguns pratos sujos para a cozinha. – Eu quero que você conheça alguém.

- Não vou mesmo!

                Hermione pôde escutar a amiga rindo da cozinha, levantou-se da cadeira e suas costas doeram. Não tinha ideia de que horas havia sentado na frente da mesa para fazer aquelas malditas contas que não a levaram a lugar nenhum. Abriu a porta do quarto, colocou os papéis dentro da única gaveta do seu criado mudo.

- Eu já desisti de arranjar um namorado para você, pode ficar tranquila – disse Gina entrando no quarto da castanha. – Na realidade é pra mim.

- Pra você? – Perguntou Hermione com interesse. – E desde quando você quer que eu conheça um cara que você está afim?

- Desde o momento que eu estou apaixonada por esse cara.  

- Você, Gina Weasley, apaixonada por alguém? – Hermione ajeitou a cama rapidamente. – Desde quando milagres acontecem?

- Ta me chamando de galinha?

- Não foi isso que eu quis dizer – Hermione riu ao ver a amiga tentar fazer-se de ofendida. – Tudo bem, eu apareço por lá, mas você sabe, eu não tenho hora para sair do pub.

- Não se preocupe, a festa não tem hora para acabar.

Hermione suspirou, ainda não sabia se iria aparecer. Sempre saía cansada demais do pub para pensar em outra coisa qualquer que não fosse sua cama. Dobrou as roupas que já estavam se amontoando na única cadeira que tinha no quarto, tirou o pó dos poucos móveis que conseguiu comprar desde que chegara a cidade, sem prejudicar seu orçamento para ir para a faculdade.

No pequeno criado mudo que tinha ao lado da cama, havia um livro que Hermione tinha ganhado há muito tempo atrás, eram contos de fadas que a sua avó, morta há alguns anos, gostava de ler. Ela sorriu ao pegar o livro, sentia uma falta absurda do carinho e da segurança que seus avós passavam. Talvez, se eles tivessem vivos, nada disso estaria acontecendo, e, quem sabe, ela não fosse parecida com Gina?

- Pensar no passado não vai resolver o presente, Hermione! – a castanha se censurou.

A castanha olhou no relógio, já estava quase na hora do pub abrir. Hoje o movimento seria grande, primeiro dia de aula, tanto para os calouros quanto para os veteranos. A cidade estaria extremamente movimentada até o final da noite.

Só em pensar no movimento que teria de aguentar, Hermione já se sentia cansada. Esses eram sempre os piores dias, alunos animados por voltarem a se encontrar, calouros festejando por finalmente estarem saindo de casa... E ela estacionada naquele lugar, sem dinheiro para ser igual a qualquer um deles e seguir em frente com a faculdade.

Era sempre nesses dias que se sentia mais desanimada, percebendo que teria mais um ano pela frente. Gina tentara lhe animar dizendo que seria por só mais um ano, mas Hermione tinha noção de que caso não encontrasse um trabalho que pudesse lhe oferecer um salário melhor, levaria mais que doze meses para conseguir pagar a faculdade.

Principalmente porque se conseguisse entrar na faculdade, teria de dar adeus – provavelmente – ao seu trabalho no pub, afinal trabalhar durante toda a noite a deixaria exausta demais para as aulas da manhã seguinte. Pensar nisso só fez sua cabeça doer, a verdade é que se encontrava em um beco e não via saída, a menos que um milagre acontecesse.

E sendo cética, Hermione não acreditava em milagres.

Mais uma vez naquele dia ela se sentiu mal por culpar os pais pela situação desagradável em que vinha vivendo, mas não podia evitar, vendo Gina tão bela e pronta para as aulas Hermione não podia não ficar com inveja e desejar estar no lugar da amiga, se ao menos o dinheiro da família Granger não houvesse acabado.

Draco Malfoy praguejou ao abrir a porta de casa, estava pronto para dirigir novamente dezenas de quilômetros para ver Hermione Granger mais uma noite, mas assim que abriu a porta deu de cara com Annelise parada ali, e ao seu lado a garota que Draco queria evitar a todo custo: Pansy Parkinson.

- Olá Draco – ela lhe disse com um sorriso nos lábios, os olhos escuros pareciam brilhar, estava vestida impecavelmente e seu cabelo não possuía um fio desalinhado. Essa visão fez o estômago de Draco girar, se com sua aparência ela já era tão metódica e sem graça, ele não queria nem imaginar em coisas mais íntimas.

O pensamento o fez sentir repulsa. Mas pelo menos serviu para que voltasse a ter em mente o seu objetivo: não se casar com Pansy Parkinson. Mesmo que Hermione lhe desse um fora, ele encontraria alguém.

Quando se deu conta, os braços de Pansy já se encontravam ao redor de seu pescoço e ela o beijava no rosto, um beijo demorado e seco, que não despertou nada nele. Como sempre era quando estava com Pansy.

Afastou-se dois passos, sentindo-se tonto pelo perfume excessivamente doce da garota, e virou sua atenção para a irmã, uma loira de cabelos tão loiros quanto os seus e olhos muito azuis. Abraçou a irmã e sorriu ao ouvi-la rir, Annelise estava sempre rindo – ao contrário dele que não via tanta alegria assim em coisas sem sentido.

- Surpresa – ela disse ao se afastar e voltou a rir, agora acompanhada de Pansy.

E Draco poderia definir a aparição de Pansy como uma grande surpresa, agora seus planos de se aproximar de Hermione naquela noite estavam fora de cogitação.

- Mamãe disse que nos queria para o jantar, parece que tem algo importante a dizer – Annelise continuou falando, as bochechas de seu rosto estavam coradas e ela continuava a sorrir. Totalmente oposta a Pansy, que mantinha uma expressão mais séria e seus olhos pareciam sem brilho.

Olhá-la mais uma vez fez Draco se perguntar o que sua mãe tanto via em Pansy, ela era mesquinha e sem graça, não tinha atitudes próprias... Foi então que então, isso resumia tudo. Pansy seria fácil de ser manipulada pelos joguinhos que a família Malfoy era famosa por fazer, Narcisa poderia moldá-la como uma nora perfeita, poderia induzi-la a falar sempre bem da família Malfoy e ainda usar a influência da família Parkinson para glorificar o nome da família Malfoy – que graças a Draco vinha cada vez mais sendo posto em questionamento.

Seria através de Pansy que ele se tornaria um grande homem.

Não – Foi o pensamento seguinte de Draco, se negava a se deixar manipular pela família que dizia ter sangue azul, mas que no fundo não passavam de uns hipócritas querendo se mostrar sempre melhores que todos.

Não que não lhe agradasse se vestir bem, ser reconhecido e ter seu sobrenome sendo valorizado, mas se para continuar assim significava que teria de se casar com Pansy, Draco preferia desistir já. Era um preço muito alto a se pagar.

- Ia mesmo falar com ela – Draco se virou deixando a irmã e a convidada sozinhas do lado de fora, queria saber o que sua mãe pretendia com esse jantar.

Com passos rápidos ele logo encontrou Narcisa Malfoy sentada em sua sala íntima, tinha um catálogo em mãos, procurando por novos modelos para gastar o dinheiro da família Malfoy.

- O que Pansy Parkinson faz aqui? – ele perguntou sem cerimônias, fazendo Narcisa encará-lo com uma sobrancelha erguida. Ela também podia ser fria quando queria, e Draco sabia disso. Vinha provando desse distanciamento nos últimos dias.

- Eu disse que vou lhe mostrar como ela é a mulher ideal para você – Narcisa respondeu ficando de pé. – Seu tempo está correndo Draco, e Lucius pode ter concordado com você encontrando uma noiva para si próprio, mas aposto que não vai estar nem aos pés de Pansy. Ela sim foi educada e criada como deve ser, não essas garotas que você encontra em qualquer lugar.

Hermione não era qualquer uma, Draco sentiu vontade de lhe gritar. Definitivamente ela não era, caso contrário já teria se jogado para cima dele, mas vinha fazendo exatamente o contrário, mesmo sabendo de sua fortuna e tendo um empreguinho miserável, Hermione Granger parecia querer fugir dele como o diabo foge da cruz.

E mal sabia ela que isso só o atiçava ainda mais.

- Você nem sequer sabe com quem tenho me encontrado, mas não seja por isso, em breve ela virá aqui e você irá se arrepender do que vem falando – Draco disse apontando um dedo para sua mãe. – E já disse, com Pansy Parkinson eu não me caso tão fácil!

Virando-se com brusquidão, Draco saiu da sala pisando pesado, passou acelerado pelo corredor e nem se despediu da irmã, tinha que sair daquela casa, já se sentia sufocado. Maldita ideia de voltar a passar os dias com sua mãe, deveria mesmo ter ficado no apartamento que tinha em Cambridge na época em que fora a universidade.

Dirigindo com rapidez e agilidade, a estrada passava e Draco sequer notava, só parando realmente quando chegou em frente ao pub que Hermione trabalhava. Ficou surpreso com tamanho movimento, afinal nos últimos dias havia estado ali constantemente e nunca tivera tanta gente assim, foi ao ouvir alguns rapazes encostados na porta lamentando pelo fim das férias que Draco compreendeu o porque do movimento.

Revirou os olhos tendo certeza de que havia perdido a viagem, afinal, se o pub estava assim cheio certamente Hermione não iria querer acompanhá-lo a lugar algum quando saísse. Mas já que havia ido até ali, tinha de pelo menos tentar convencê-la.

Espantou-se ao vê-la carregando uma grande badeja repleta de copos com cerveja, tão cheia que parecia pesada demais para alguém como ela, tão magra e delicada, e antes que desse por si, já tirava a bandeja das mãos dela, dando uma piscadela que a fez corar.

- Eu posso dar conta disso – ela resmungou, como ele tinha certeza que faria, porque Hermione certamente não era do tipo de garota que deixa só os homens fazerem o trabalho.

- Mas eu quero ajudar – ele respondeu e ela revirou os olhos, certamente pensando no que alguém riquinho e mimado como ele poderia ajudar, afinal ele sempre estava do lado de fora do balcão. – Assim eu vou ter um favor para cobrar mais tarde, quando você rejeitar novamente sair comigo – deu outra piscadela e saiu lhe dando as costas, sabia que ela havia ficado com as bochechas ainda mais coradas, e que mais tarde iriam discutir sobre isso.

Era engraçado, nem sequer tinham uma relação, nem ao menos de amizade, mas Draco apostava que mais tarde discutiriam como se estivessem se relacionando há anos.

Hermione revirou os olhos e lhe deu as costas bufando, certamente suas bochechas estavam coradas, tanto que as sentia queimando, mas não daria a ele o gostinho de vê-la pedir por ajuda. Vinha lidando com o trabalho muito bem nos últimos anos, e não era a primeira vez que trabalhava em um dia com festa de retorno as aulas, assim como nunca havia pedido ajuda para um homem carregar a bandeja só por estar pesada.

Apesar de que a ajuda de Draco havia vindo a calhar, Tina tivera que sair para buscar algumas coisas, e ela estava enlouquecendo sozinha no meio de tanta gente, com tanto trabalho para dar conta – mas claro, ela pensou soltando um risinho, nunca diria isso a Draco.

Massageou um pouco os braços doloridos e respirou fundo, sua folga não durou muito, pois logo já havia alguns homens a chamando. Bufou indo até três adolescentes bêbados, já sabendo pelo que esperar, isso também era algo que nunca mudava.

- Não quer se juntar a gente? – um deles perguntou com a voz arrastada pela bebida.

- Estou ocupada – Hermione respondeu dando as costas aos três rapazes.

- É só por uns minutinhos – o rapaz falou alto, gargalhando e segurando-a com força.

Mas antes que pudesse reagir, ele agarrou seu braço puxando-a para perto, quase forçando-a a sentar em seu colo. Isso fez o estômago de Hermione revirar pela repulsa, o cheiro forte do álcool a deixava nauseada e o modo como ele a estava tratando a humilhava.

- Não vai fazer mal nenhum – um dos amigos disse, esticando uma mão para tocá-la também.

- Não – ela disse tentando se soltar, mas ele parecia não ouvir.

- Vai ficar aqui sim...

Antes que o rapaz pudesse tocá-la, um golpe atingiu sua mão.

- Largue-a – ela pôde ouvir a voz autoritária de Draco Malfoy e seu coração palpitou mais forte, dando-se conta só então de quão constante vinha sendo a presença de Draco em sua vida, e pela primeira vez gostou da ideia.

O rapaz riu alto encarando Draco e Hermione se encolheu no canto, afastando-se deles quando o rapaz afrouxou o agarre em seu braço. Só esperava que não começassem uma briga...

- Fora daqui – Draco gritou e o rapaz deu um passo para trás, parecendo realmente assustado. – Agora!

A visão de Draco a defendendo fez seu coração bater ainda mais acelerado, observando-o de perfil ela até esqueceu dos rapazes que há pouco queriam incomodá-la, tudo que pode ver foi o nariz bem delineado de Draco Malfoy, seu queixo rígido e o cabelo jogado para trás com gel. Ele era atraente, isso desde o início Hermione havia percebido, mas só agora se dava conta do quanto ele a atraía.

Já era de madrugada quando por fim arrumou a última mesa, deixando o pub em ordem antes de poder sair do trabalho. Estava exausta, seus olhos coçavam e ainda se sentia humilhada pela cena de horas antes, principalmente por Draco Malfoy permanecer ali. De um modo que a surpreendera imensamente, ele havia continuado ali até que ela dissesse que o expediente havia acabado, principalmente depois de Tina não ter voltado para o trabalho, ela havia deixado tudo ali até que uma chamada importante a fez se retirar. Hermione a princípio ficara desconfiada, mas o que poderia fazer?

Suspirou jogando-se em uma cadeira, seus pés estavam mais que doloridos, jogando a cabeça para trás ela pensou na festa que Gina havia mencionado, mas não tinha condições nenhuma de aparecer por lá, não sem antes ir em casa e se arrumar, e ela bem sabia que se voltasse para casa, não sairia tão cedo. Mais tarde se desculparia com a amiga, o ano letivo estava por começar, então muitas outras festas ocorreriam, e oportunidades não iriam faltar para conhecer o tal garoto por quem Gina se interessara.

- Vamos embora? – Hermione voltou a abrir os olhos ao ouvir a voz forte e um pouco rouca, que soava sexy, de Draco Malfoy. Sentou-se corretamente na cadeira e revirou os olhos fingindo indiferença, mas a verdade era que não sabia como teria agüentado aquela noite se ele não houvesse aparecido. – Vamos, eu levo você para casa – algo no tom de voz de Draco a incomodou, ele falava como se já tivessem algum grau de intimidade, e ela de repente sentiu vontade de lhe esclarecer tudo. Não o conhecia, nem pretendia conhecê-lo.

- Eu... – sua voz morreu, cansada demais para voltar a discutir com ele. – Vou pegar a minha bolsa.

Com lentidão ela se levantou indo até o balcão, guardava sua bolsa sempre por ali, e a pegou sem muita vontade. Estava relutante porque não queria que ele a deixasse em casa, a princípio queria apenas se fazer de difícil, desfrutar do interesse de algum homem – porque todas as constantes visitas de Draco Malfoy só poderiam representar algum tipo de interesse! –, mas agora tinha de assumir para si mesma que se sentia envergonhada perto dele, Draco era sempre cheio de charme, esbanjando riqueza como um bom aristocrata, enquanto ela era o quê? Uma simples garota que trabalha num pub juntando dinheiro para faculdade.

Juntando dinheiro! Ela sentiu vontade de rir, alguém como Draco Malfoy nunca deveria nem ter conhecido a expressão, quanto mais vivenciado. Tinha que aceitar que as diferenças eram grandes demais para que ela pudesse abrigar qualquer tipo de esperança, além do mais havia lido as notícias sobre o verdadeiro Draco Malfoy, as mulheres, o sexo, a bebida... Ele era um bom vivant, e ela nunca apreciou esse tipo de vida.

E para aumentar sua vergonha, no momento ele se oferecia para deixá-la em casa, parecia quase como se quisesse humilhá-la. Morando no pequeno prédio desgastado, numa rua que não representava nenhum tipo de segurança, isso sem mencionar o tamanho de seu apartamento, que para alguém como ele seria o tamanho de um cômodo da casa, não a moradia inteira.

Chegou perto dele novamente, agora tendo as bochechas coradas pela vergonha.

- Não precisa me deixar em casa – ela não queria realmente que ele soubesse onde ela vivia.

- Está tarde – ele respondeu como um bom cavalheiro. – Eu faço questão.

Como ela poderia contestar a isso?

Ele havia sido bem educado, isso ela já havia percebido, e como lera em algum artigo, logo ele assumiria um lugar no Parlamento, certamente alguém que ocupa tal posição não pode ser menos que um cavalheiro.

- Está bem – ela disse com um suspiro, dando-se por vencida.

- Vamos – ele se levantou da cadeira em que havia sentado para esperá-la, pôs a cadeira de volta no lugar e seguiu atrás dela para a saída dos fundos. A porta da frente estava trancada, tudo estava bem arrumado e as luzes foram apagadas, Hermione precisou apenas fechar a porta dos fundos e pronto, estava pronta para ir para casa.

O friozinho da madrugada a atingiu, fazendo-a se arrepiar. O pub havia estado tão cheio que o calor predominava, mas ali fora a situação era diferente, ali ela podia apenas relaxar e deixar que Draco a levasse para casa, fazendo-a fantasiar – mesmo que inconscientemente – com o dia em que alguém se importaria de verdade com ela, a ponto de esperá-la e depois levá-la para casa.

Hermione tentou não se abalar pelo luxo do automóvel em que entrou, não parecia ser a intenção de Draco, mas parecia que em cada ato que ele fazia só mostrava como era rico e tinha uma boa vida. Sentou-se em silêncio no banco do carona, sentindo-se incrivelmente confortável.

- Onde você mora? – ele perguntou.

- Onde você mora? – ela perguntou de volta. – Pode me deixar no caminho.

- Eu não me incomodo – Draco respondeu e ela assentiu, sentindo-se atraída pelo seu charme.

Explicou onde morava, aceitando que o cansaço era tamanho que não poderia dar bola para o fato dele se importar ou não com o lugar em que vivia. Quando Draco estacionou na frente da porta do prédio, Hermione estudou suas feições a fim de descobrir como ele reagiria vendo o estado que o lugar em que morava se encontrava, e não se surpreendeu quando ele não esboçou reação nenhuma, Draco Malfoy estava mesmo se mostrando um cavalheiro.

- Viu? Não foi incomodo nenhum – ele disse com meio sorriso, quebrando o gelo e fazendo-a sorrir também.

- Obrigada – ela respondeu e virou-se para beijá-lo no rosto.

Mas como sempre acontece nos filmes – e Hermione realmente pensava que nunca aconteceria na vida real – ele se virou também, fazendo seus lábios se roçarem. Em sua mente ela berrava para se afastar, mas por alguns segundos não pôde. Ele moveu os lábios a fim de buscar um verdadeiro beijo, e Hermione se viu surpresa ao gostar, mas logo se afastou. Draco não era o seu príncipe.

Sentia que suas bochechas pegavam fogo, e sem olhar para trás correu para dentro do prédio só parando ao entrar em seu apartamento. Se aproximou da janela, vendo que o carro se encontrava parado lá embaixo, pelo teto solar Draco a viu na janela e sorriu, para só depois partir. O que significava aquilo? Foi o que Hermione se perguntou até pegar no sono.

E sonhou com ele.

Draco dirigiu com pressa até seu apartamento, ao entrar a quantidade de bebidas espalhadas pela sala o fez revirar os olhos. Há quanto tempo não aparecia ali? A resposta ele bem sabia, desde que Hermione Granger havia aparecido em sua vida. Mas não que o motivo fosse exatamente ela, mas desde aquele dia havia decidido que encontraria alguém, estava na hora de honrar o nome Malfoy e o primeiro passo havia sido se afastar da vida boêmia que levava, que se refletia perfeitamente em cada canto daquele apartamento.

Jogando-se na sua cama, o único cômodo do apartamento que ninguém mais pude acessar, Draco fez uma nota mentalmente de que deveria chamar alguém para limpar aquele lugar logo, queria apressar um pouco as coisas com Hermione e mostrar um apartamento naquele estado não daria certo. Pensar nela logo o remeteu ao beijo que deram no carro, beijo esse que o havia agradado até mais do que esperava e que sabia que ela não esqueceria tão cedo. Assim como sabia que a partir de então cada vez que o visse ela voltaria a ficar corada – o que só mostrava que ela era realmente diferente das mulheres que conhecera.


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Notas finais do capítulo

n/a: acharam que eu ia esquecer do capítulo? não! 'hahabom ai está o capítulo dessa semana, agora já sabem, mais quinze dias e a Dani vem com o capítulo novo!espero que gostem e não esqueçam os reviews:*