Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 48
Sonhos de uma tarde de Inverno


Notas iniciais do capítulo

Então... sumi, mas agora, sempre que der, vou postar novamente =) Espero que continuem gostando! o//



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                       Entrei quieto e sentei em uma carteira bem no fundo. Era a última prova que eu tinha que fazer e eu nem sabia do que era. Matemática, Geografia? Nossa eu estava bem! Chutei o balde com vontade nesse final de semestre. Sem chances de eu conseguir me concentrar em estudar. Pra mim, essas coisas mundanas eram o de menos no momento.
                       Peguei a folha da prova e li o título: Literatura. Ah é... Eu não tinha feito essa prova ainda.
                       Até que dei sorte, porque o livro era capitães da Areia. Eu já tinha assistido o filme, então deu pra dar uma enrolada. Nem foi tão ruim quanto eu pensei que seria. De certa foi bem melhor do que a prova de Física. Principalmente pois quem me ajudara se esquecera de mim.

                     Pra evitar encontros desnecessários com a Mel, eu tentei fazer um caminho totalmente estranho pra sair da escola. Eu estava meio fugitivo nos últimos dias. A arte de matar aula não é simples de ser executada no colégio Paineiras. É preciso muita habilidade. Eu contornava todas as salas do ensino fundamental e saia pelo portão do primário. O porteiro sempre estava tendo altas conversas com a monitora.
                     Dessa vez não estava sendo diferente meu plano de fuga. Eis que acontece o que eu certamente não esperava. No momento em que atravessei todo o bloco do fundamental, comecei a ouvir uma voz de menina. Não demorou muito ouvi a voz de duas meninas. Uma delas era justamente a voz da qual eu estava fugindo. Bem devagar fiquei atrás da parede, tentando espionar o som que saia de dentro do vestiário feminino. O que a Mel e a Rafaela estavam fazendo ali?

                     Juro que tentei ouvir o máximo que eu conseguia, mas estava meio complicado. Até porque não durou mais que um minuto aquela conversa. Acho que elas já estavam terminando de se falar quando cheguei. Tentei ficar meio escondido até que a movimentação parasse, mas foi ai que descobri que elas não estavam apenas conversando, e sim brigando! Mas por que?
                      Melinda saiu com os olhos cheios de lágrimas do vestiário. Segurei minhas pernas para não sair correndo em sua direção. Não demorou muito e saiu Rafaela com uma cara nada animadora. Então as duas pararam no meio do corredor, apenas uns passos de distancia. Melinda começou a se virar lentamente pra ficar de frente a Rafaela. Seus olhos molhados estavam com um ar de desconsolo e confusão. Senti uma pontada tremenda no meu peito. Que queria mandar tudo se danar e ir abraçar a Mel naquele momento. Parecia muito que ela estava sofrendo. Meu desejo de ampará-la era quase que insuportável, mas consegui segurá-lo por um bem maior.
                     - Por que Rafa... Só me diz isso!
                     - Porque Melinda... Por que??? Faça-me o favor. – Rafaela deu os passos que faltavam para colocar seu dedo indicador no nariz da Melinda. – Porque amigos não mentem e desmentem, não prometem e não cumprem. E olha que mentir e jurar em falso é até que passível de desculpa. Agora isso que você está fazendo não existe! Como assim você diz que nunca foi amiga dele, que vocês mal se falam ou se veem? Cruel! Isso que você é! Falsa e incapaz de assumir seus erros. Fui uma idiota achando que você fosse minha amiga. Só não entendo porque você fez isso. Para brincar com meus sentimentos? Nunca, nunca na minha vida eu esperaria uma atitude assim de você, Melinda Dupon.

                       E foi com essas palavras que Rafaela fitou bem os olhos de Melinda, se virou e começou a andar. Pude ver os pés de Mel se arrastando sem força, até o encontro com uma parede. Eu quis sair correndo, enxugar suas lágrimas, segurá-la em meus braços, mas eu não podia.

                       O barulho de suas costas roçando na parede enquanto escorregava até o chão começou a me fazer suar frio de nervoso. Sues lábios se moveram um pouco, permitindo com que um sussurro saísse.

                       - Por que isto está acontecendo comigo... Por que? – murmurou, olhando fixamente para o nada. Então sua cabeça começou a pender para o lado e seus braços ficaram soltos como de uma marionete. Parecia que ela ia...

                       - Mel! – corri para segurar seu corpo que estava entregue a mais um desmaio.

                      Olhei rápido ao meu redor, mas não havia ninguém. Peguei então a Mel em meus braços e levei-a para dentro do vestiário. Encostei a porta e comecei a pensar.

                      - Vamos lá Daniel... Você não tem muito tempo até ela acordar... – parecia que uma luz malandra havia se acendido na minha cabeça. – Mas é claro! Para ela acordar, ela precisa estar dormindo! E se ela está dormindo... Ela está sonhando.
                      Olhei para a minha menina desmaiada ao meu lado. Coloquei - a meio que sentada em um banquinho de madeira e fui para dentro de uma cabine. Sentei no chão mesmo e comecei a me concentrar na Mel. Nos sonhos de Melinda.
                  Era escuro. Eu olhei para minha mão e mal pude ver uma silhueta. Procurei uma parede pela qual comecei a tatear. O lugar era amplo, lembrava um estacionamento subterrâneo. Comecei a arrastar meus pés e percebi que havia uma grande rampa. Por ela comecei a andar devagar, focando meus olhos nos vultos dos meus pés, para me certificar que nada estava no meu caminho. Quando eu achava que o topo estava próximo, ouvi um estrondo ligeiro. Ergui meus olhos, mas mal pude chegar a uma conclusão pois algo se chocou rapidamente contra meu corpo. Não consegui manter o equilíbrio e eu e o algo, que logo percebi ser alguém, começamos a rolar rampa abaixo, em um emaranhado só. Senti minhas costelas latejarem ao se chocarem com uma pilastra. Quis soltar um grito de dor, mas o que saiu foi mais um grunhido sem animo.

                 Reparei que o lugar, antes tomado pelo breu, já não estava mais tão escuro. O corpo que estava em cima de mim começou a se mover e pude ver com mais clareza que era Melinda. Ela ainda levava a mão na cabeça, parecia que havia se machucado.

                 - Mel, está tudo bem com você?? – murmurei.

                 - Ai, acho que bati minha cabeça com um pouco de força. Mas Deni, o que você faz aqui?

                 Fiquei estático por um segundo.

                 - Mel, você me chamou de Deni? Você se lembra de mim?

                 A menina então me olhou com uma ternura que eu não conhecia.

                 - Seu tolo, porque eu me esqueceria de você?

                 Custou um pouco para entender, mas meu pensamento fluiu rápido. Era meio estranho concluir isso, mas os fatos eram óbvios. A Mel foi Apagada apenas no Mundo Real, não no Mundo dos Sonhos. Mas isso não é possível. Uma vez Apagada, é como se a mente da pessoa não se ligasse mais aos fatos apagados. E como mente é a principal responsável dos sonhos, como é possível somente uma parte da mente da Mel ter sido apagada? Isto definitivamente não é normal.

                 - Mel, o que está acontecendo? – perguntei enfim.

                 - Ah tá, agora você quer que eu responda as suas perguntas? Deni, tá tudo muito confuso! Por que você está aqui e por que estamos em uma estação de metrô? – disse gesticulando e me fazendo ver que de fato era uma estação de metrô um pouco abandonada por sinal.

                 - Bem, isso é um sonho seu. Você quem deve saber!

                 Ela gargalhou alto.
                 - Sonho? Isso pode ter começado como um sonho, mas virou rapidinho um pesadelo! Eles não param de me seguir! – sua voz estremeceu e ela estava mais histérica do que realmente parece ser. – Nunca param... E a voz Deni, a voz está falando comigo todos os dias quando eu durmo. Eu não aguento mais, eu não aguento mais... – ela levou a mão aos cabelos, encostou na pilastra e começou a chorar com um olhar fundo e nervoso.

                 Fiquei sem reação. A Mel já estava sendo levada pela loucura e isso estava agindo até mesmo em seus sonhos. Eu não podia deixar isso acontecer.

                 - Mel, MEL! – segurei seus braços e chacoalhei com força.

                 Ela foi soltando as mãos dos cabelos e começou a voltar seu rosto bem divagar em minha direção.

                 - Oi... – resmungou com voz chorosa.

                 - A gente não tem muito tempo, então você vai prestar muita atenção em mim e, como sempre, não vai fazer perguntas, okay? Eu só preciso que você confie em mim. – olhei fundo em seus olhos ao dizer cada palavra.

                  Ela balançou vagarosamente a cabeça, então tomei ar e comecei.

                  - Não vai ser nada fácil esses dias que vamos passar, você está me entendendo? Mas é muito importante que você aguente firme até a viagem para Angra.

                  Ela desgrudou os lábios para me questionar. Seu rosto de desconsolo estava me fazendo estremecer, mas me mantive forte.

                  - Só confie no que eu te digo. Quando você acordar, eu não vou estar mais com você. Mas nos seus sonhos, estarei sempre que você precisar. Eu vou sumir por um tempo e não é culpa sua. Eu preciso cumprir uma missão. Se não der certo, bem, não sei o que vai acontecer, mas já vou te adiantar o pior. É bem provável que se eu falhar, você nunca mais se lembre de mim. As pessoas vão te questionar, vão querer saber o que aconteceu comigo, mas você não vai saber responder. Obvio que não, você não vai se lembrar dos nossos momentos juntos. Isso também não é culpa sua, talvez seja um pouco minha e eu não me perdoo por isso. Mas preciso que você seja forte e, mesmo que briguem com você, que façam você chorar, você precisa parar de tentar se lembrar de mim o mais rápido que conseguir. Você me entendeu?

                  - Não... – seus olhos agora eram de pânico.

                  Eu quis rir, de nervoso talvez. Ergui minhas mãos, que estavam nos seus braços, e segurei seu rosto.

                  - Mel, por favor, não tente se lembrar de mim. Eu serei seu Daniel aqui, apenas nos sonhos. Para o seu bem, não brigue com sua mente, não ligue para o que falam, apenas ignore qualquer fato estranho que aconteça. Viva, por mim, pelo menos por enquanto.                     

                  Dizendo isso, encostei meus lábios em sua testa e senti as alfinetadas enfincando em minha pele. Ela estava acordando.


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Notas finais do capítulo

Comentem, isso sempre é um bom incentivoo =)
Obrigada