Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 4
A Azia, a Pergunta e a Resposta


Notas iniciais do capítulo

Parte 1 do capítulo 2 o/



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Parte 1                     

Naquele momento um sentimento tão forte subiu a minha cabeça, uma bronca daquele garoto, grosso, grosso e grosso! Não entendia por que ele mudou tão repentinamente, mas a essa altura não tinha nem mais vontade de saber. Entrei em casa e logo me deparei com um bilhete de minha mãe sobre a mesinha da sala.

                     

                      Mel, fui ao centro de Bráscula comprar confeitos com a Marlene.

                      Seu prato está dentro do microondas. Esquente!

                      Volto para o jantar.

                      Beijos, mãe.

                 

                       Quando li o bilhete fiquei tão aliviada por estar sozinha em casa. Não queria que minha mãe me visse tão estressada. Primeiro, porque ela iria ficar muito preocupada a me ver; segundo, pois eu não iria contar o motivo de tanto azedume; terceiro, porque aí sim ela estaria realmente preocupada e, com certeza eu não queria isso.

                        Subi para o meu quarto, fechei a porta e me lancei na cama. Não entendia realmente nada. Nunca sentira tamanha bronca de algo ou de alguém. Nem ao menos sabia se havia motivo para tudo isso. Mas havendo ou não, estava ali e por mais que eu quisesse tirar de dentro de mim, era inútil. A raiva já havia me consumido.

                        Em um pulo levantei da cama, desci rapidamente as escadas e esquentei meu almoço. Li em um livro que comer com raiva é o mesmo que engolir a ela. Por mais que o estômago desaprovasse esse fato, era a solução mais viável no momento. Comi meu prato de macarrão com tanto gosto, que fazia até força para engolir. Em poucos minutos já estava vazio. Depois virei um copo de refrigerante por cima. Nunca comera tão rápido assim, foi estranho, mas creio que resolveu o problema com a raiva. De um certo modo eu estava mais calma, o descontrole passou, era mais suportável.

                          Voltei para o quarto e me debrucei no parapeito da janela. Não entendia o que havia acontecido nos últimos minutos que passara. Minha raiva súbita, meu ataque de comida. Aquilo não entrava direito na minha cabeça, eu realmente havia feito tudo aquilo para esquecer de um garoto? Não me conformava com isto. Soava até um tanto ridículo.

                     Só de noite consegui me concentrar em alguma coisa útil. Por mais que eu tivesse de aguentar uma azia danada, eu lembrei da imagem da correntinha dourada com pingente de bolinha e comecei a fuçar em uma caixinha cheia de bijuterias que estava guardada dentro do criado mudo.

                     - Achei! – exclamei.

                     Peguei do fundo da caixinha uma correntinha toda cheia de nós. Era incrível a semelhança. Com certeza eram a mesma corrente, ou melhor, correntes diferentes, mas iguais. Ri dessa minha definição e lembrei que minha mãe me entregara essa correntinha agora, depois de crescida, mesmo dizendo ser um presentinho que eu havia ganhado quando nascera.

                     Bem, mas agora não me importava mais saber se era igual ou não, presente ou seja lá o que for. Perdi o interesse que antes me cativara. Melhor dizendo, fizeram-me perder o interesse. Joguei-a de volta na caixinha e fui fazer o dever de casa. O dia até que legal de aula e péssimo pós ela, finalmente tinha acabado.  

                     A noite estava passando muito bem sem pesadelos, mas meu sono foi quebrado bruscamente por uma agulhada fortíssima que senti no estômago.

                    - Mãe! – gritei.

                    Em dois tempos minha mãe e meu pai estavam postos na porta do meu quarto com cara de preocupação.

                    - Melinda, o que foi? – perguntou minha mãe sentando-se na beira da minha cama.

                    - Meu estômago... – disse fazendo uma cara retorcida. – Está insuportável.

                    Realmente, eu não estava fazendo drama. Parecia que os ácidos digestivos estavam fazendo a festa dentro de mim. Sentia uma forte queimação, uma náusea estranha. Horrível de se sentir.

                    Meu pai desceu até a cozinha e pegou um remédio contra azia para me dar. Tomei e tentei esquecer a dor. Mas parecia que ficava mais forte com o tempo. Passei o resto da noite em claro, levantando de tempo em tempo e correndo para a pia do banheiro, com uma estranha queimação de garganta e enjôo.

                   Amanheceu e eu estava amarela. Troquei-me para ir à escola e desci para cozinha. Já estava decidida que não iria tomar café da manhã. Era só pensar em comida que minha barriga já pegava fogo.

                   - Onde a senhora pensa que vai? – disse minha mãe se deparando comigo na escala.

                  - Escola... – empurrei a voz para que saísse.

                  - Nem pensar! Você não dormiu nada, está com uma cara de acabada e com certeza com uma dor forte. – falou ela erguendo o dedo indicador na altura do meu nariz.

                  - E eu vou fazer o que então? – indaguei com uma rouca.

                  - Vou te levar a um médico geral. Você nunca foi de ter dor de estômago e do nada, sem motivo nenhum, você começa a rolar de dor... – Foi muito estranho e me preocupou.

                 Não estava acreditando naquilo. Minha azia estava me matando, minha mãe estava preocupada comigo, querendo me levar no médico e eu teria que faltar do segundo dia de aula. E o pior de tudo, é que eu fiquei assim porque me matei de comer por causa daquele garoto grosso. Definitivamente estava com muita raiva dele e isso só contribuía ainda mais com minha dor.

                 - Não mãe, não quero que você se preocupe com isso. – disse com uma voz calma, que me surpreendeu. – Eu estou com essa dor porque estava muito ansiosa com a primeira semana de aula. Tenho certeza que comi muito... Muita porcaria principalmente. – fiz uma cara convincente.

                 - Mas acho que ainda deveria te levar ao médico. –Pode ser sintomas de uma gastrite, refluxo, ou sei lá o que. – ela me olhou com um ar preocupado.

                 - Fique tranquila, tenho certeza que não é nada disso. – disse tentando tirar a idéia de sua cabeça. – Vamos fazer assim, se eu tiver de novo essa dor um outro dia, você me leva no médico, hoje não precisa.

                 Ela fez uma cara desaprovadora, mas cedeu depois.

                 - Está bem, mas você fica em casa. Nada de escola por hoje!

                 Concordei com a cabeça. Seria nada de escola por hoje e nem por amanhã, já que no dia seguinte era feriado em Bráscuba, aniversário da cidade.


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Notas finais do capítulo

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