Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 25
X - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que estão acompanhando o/



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Olhei para o despertador e ainda eram duas e meia e mais um sonho sem explicação entrara para a minha coleção. Daniel e a menininha juntos em uma só noite. Com certeza isso era no mínimo curioso. Pior ainda foi a reação que eles tiveram ao me ver. Mas desisti de ficar tentando entender um sonho. Já estava bem certa que eles não iam me levar a nada além do que perder mais uma boa noite de sono. Virei de lado e tentei pregar os olhos novamente. Não sei se demorei a fazer isso, só sei que quando acordei novamente já estava claro e eu precisava levantar. Lavei o rosto, troquei de roupa e engoli meu café da manhã. Sentei no sofá e fiquei esperando meu pai.

              - Ele já está descendo mãe? – perguntei um pouco impaciente, olhando para o relógio.

              - Deve sim. – disse ela. – Afonso, venha! A Mel já está pronta. – gritou quando passou do lado da escada.

             - Já estou chegando Lorena, não precisa acordar os vizinhos com seus berros! –resmungou papai escada abaixo.

             Preferi nem comentar nada, só segui-o para o carro e permaneci em um silêncio necessário até a escola. Na entrada, lembrei-me que ainda estava brava com Daniel e prometi a mim mesma que não iria deixar essa passar tão fácil. Sei que as chances de eu conseguir cumprir essa promessa eram mínimas, mas eu estava disposta a tentar.

             Fui para a sala e o professor já havia entrado. Não tinha nem me dado conta de que horas eram. Peguei o celular do bolso e assustei-me com exatas sete e dez. Eu estava dez minutos atrasada e nem havia reparado.

             Minha primeira aula era do professor Emmanuel. Nem tentei bater na porta, pois sabia que levaria um não bem no meio da cara. Os alunos atrasados vão para o pátio esperar até a próxima aula, então foi para lá que eu resolvi ir. Não tinha ninguém da minha sala, só duas meninas do fundamental e um garoto que não converso muito do primeiro. Não tinha nada para fazer. Meus deveres de escola estavam prontos, não consegui encontrar nenhum livro perdido dentro da minha bolsa e meu celular estava com uma carga muito fraca para ficar jogando sudoku. Os minutos pareciam não passar. Olhava para o relógio do pátio de tempos em tempos, mas parecia que os ponteiros não queriam andar. Senti então, uma mão se apoiar sobre meu ombro e olhei para trás espantada.

           - Você também ficou para fora? – era Daniel que perguntava por de trás de mim.

           - Ah, é você... – tentei fazer uma cara muito forçada de descaso.

           - Por favor Mel, não faz assim! – sua voz foi tão doce que quase me rendi.

           Consegui continuar mantendo-me firme e só lancei um olhar reprovador.

            - Mel – começou ele, puxando uma cadeira e sentando-se ao meu lado. – Vamos conversar...

            - Você disse que não faria mais isso... – sussurrei, agora seriamente.

            Ele deu um longo suspiro.

            - Eu sei, mas entenda que não consigo me controlar algumas vezes... – sua voz era lamentosa e triste.

            - Mas Daniel, como vou saber quando você vai resolver não se controlar. E melhor, se controlar do quê?

            - Me controlar de uma sensação sem explicação para você, que nem eu entendo! – era estranho, mas suas palavras soavam veracidade.

            - Se você quiser tentar me explicar, eu já disse, estou aqui.

            Tentei em vão fazer ele desabafar, mas sua resposta foi novamente o silêncio.

            - Daniel, eu não estou brava com você e essa é a última coisa que eu quero, mas foi muito infantil da sua parte não me deixar explicar nada naquela hora... Poxa, não me desviei por querer, foi a voz!

            - Não Mel, para! Você está entendendo tudo errado... – ele mordeu levemente os lábios. – Não me deve explicação nenhuma. Eu não fiquei daquele jeito por causa disto... Bem, pelo menos não por causa disto que você está pensando.

            - Não? – levantei uma das sobrancelhas.

            Ele sacudiu a cabeça negativamente e se calou. Entendi que dali não sairia mais nada daquele assunto. Ficamos uns minutos sentados, parecia que com Daniel do meu lado os minutos passavam mais rápidos. Já faltava pouco quando resolvemos subir e esperar pela segunda aula na porta da classe.

             - Desculpa... – murmurou Daniel enquanto subíamos as escadas.

             Dei um sorriso de canto de boca para ele e tentei caprichar no meu olhar compreensivo.

             - Não gosto de fazer isso, mas... – novamente ele deixou tudo no ar.

           Eu sempre fico intrigada com essas frases que simplesmente ele corta no meio me deixando louca. Não sei se ele faz isso de propósito ou se realmente não consegue falar algo, mas fico pensando nelas pelo resto do meu dia.

            O sinal tocou e então entramos na sala. Francisco e Joana vieram me receber e, consequentemente, Daniel ficou conosco no grupinho de conversa. Acho que era a primeira vez que via Daniel conversando com meus amigos. De início, todos nós ficamos um pouco sem jeito, mas logo o assunto entrou na roda e em pouco tempo conversávamos todos no maior entusiasmo. O professor entrou na sala e fomos nos sentar. Eu estava indo para o fundo, quando fui puxada por Joana, mostrando-me um lugar vago na mesma fileira que ela. Não sei como aquele lugar ainda estava ali, mas também não reclamei, sentando-me. Daniel sentou no fundo, a umas quatro fileiras de mim. Fiquei tirando sarro dele através de gestos, por que meu lugar era bem melhor do que ele tinha arranjado, mas logo tive que parar, pois o professor queria começar a aula.

               O professor Emmanuel fez questão de chamar minha atenção durante a aula por duas vezes sem motivo algum. Não entendia muito bem o porquê, mas já faz algumas semanas que percebo que ele anda me perseguindo. Não sei o que fiz para ele tomar antipatia por mim, mas já estava obvio que isto estava acontecendo. Estou relevando a maioria das vezes, até porque tirei uma ótima nota em História. Sempre tem que ter um professor para te testar, testar sua paciência. Se ele está pensando que vai chegar uma hora que eu vou explodir, pode ficar esperando sentado, pois meu controle para isso é ótimo. Bem, nem tudo é perfeito.

              Finalmente a aula passou. Quando o pior passa, o resto voa e foi justamente isso que aconteceu com o resto do dia. As matérias nem eram das minhas prediletas, mas os professores, muito engraçados, não deixavam o riso parar por um segundo. Acho que todos deveriam ser assim. Mas, nem tudo é perfeito.

               Fomos para o ponto e logo tomamos o ônibus. Nós nem tocamos mais no assunto de domingo, prendendo nossas conversas apenas em coisas da escolas e futilidades a parte. Senti-me um pouco estranha, mas não incomodada com o fato de estar ali sentada ao seu lado. Já fiz isso tantas vezes, era mais do que certo que eu já devia ter me acostumado com isso, mas daquela vez parecia ser diferente. Depois de um tempo espremida no meu acento, aviste meu ponto no final da rua. Fiquei de pé e dei um tchau tímido para Daniel, corando levemente minhas bochechas certamente. Ele deu aquele sorriso maravilhoso e seus intensos olhos azuis me fitaram docemente. Desci e fiquei vendo o ônibus partir, perdida nos meus pensamentos.

               Como pode ser assim? Esse tal de amor realmente é um bichinho chato que te pica e te cega. Você sofre, o outro sofre, mas mesmo assim ambos insistem e sempre teimam. Nunca, até agora, havia sentido algo assim. Claro que já tive algumas paixonites, alguns rolinhos adolescentes, mas um grande amor, desses de sentir o coração bater mais rápido quando você encontra a outra pessoa; de suas pernas tremerem com um simples sorriso; de não conseguir pensar em mais nada e tentar desesperadamente entender o motivo de tudo isso e só encontrar mais perguntas ao invés de respostas. Sim, é deste sentimento que estou falando e que nunca imaginei sentir tão cedo.

                 O mais engraçado é que até agora, não aconteceu nada. Não sei ao menos se o que ele realmente sente por mim é a mesma coisa que eu sinto por ele. É como ser fã de um cantor que você nunca ouviu uma música se quer. Acho que me sinto assim, extremamente apaixonada por um presente que ainda não ganhei, um presente que tenho medo de não ganhar.

                 Agora o mais engraçado e o que mais me irrita, é que não sei se sou capaz de demonstrar isso nas minhas ações. Sou um pouco novata, fico meio perdida. Travo muitas vezes quando quero falar algo. Sinto que sou um bicho do mato que não sabe lidar com algumas situações e isto me aborrece. Então, é só juntar minhas esquisitices com as esquisitices de Daniel, que resulta em um tremendo de um rolo. Agora quem vai conseguir desenrolar isso? Juro que gostaria muito de saber. Gostaria de ter coragem e atitude para eu mesma fazer isso. Mas como já disse, conquistar não é meu charme então, por favor, não se prenda em detalhes.


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Notas finais do capítulo

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