Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 17
CapítuV - Parte 3


Notas iniciais do capítulo

OMGOSHH hauahauhuauahauha
Tá grandinho esse, mas acho que vão gostar! =D



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              - O quê? Correr por quê? – perguntei mais espantada ainda.

              Ele voltou os olhos azuis para mim e repetiu.

              - Mel, corre o mais rápido que você puder para o restaurante! – sua voz era quase um sussurro, ele mal abria a boca para falar e o som saia como um rangido entre os dentes.

              - Não vou correr! O que está acontecendo Daniel! – comecei a ficar aflita.

           - Corre, por favor, Mel! – sua voz já estava mais alta. Seus olhos pediam mais que suas palavras para que eu corresse. – Mel, por mim... – isso sim foi um sussurro.

           Não conseguia entender nada, mas como um impulso minhas pernas começaram a correr sozinhas. Eu não olhei para trás, dobrei a esquina e fui correndo para o restaurante. Só quando cheguei consegui pensar.

           - Por que ele pediu para eu correr? Por que ele estava daquele jeito? – sussurrei umas dez perguntas para mim mesmas na frente da porta do restaurante. – Será que ele viu algum ladrão? Se for isso, por que ele não correu também? Ele deve estar correndo perigo agora e eu o deixei sozinho! Por que eu corri? Não queria correr, mas foi mais forte do que eu...

           Não restavam dúvidas, corri novamente para o lugar que estávamos. Corri tão rápido que senti o fôlego faltar, mas minha preocupação com Daniel era tão grande que nem o ar me fez falta. Finalmente, depois de dobrar a segunda esquina eu cheguei. Para minha imensa surpresa não tinha ninguém na rua.

           - Daniel! – comecei a chamar, sem muito alarme. – Daniel, cadê você?

           Comecei a andar de vagar, até chagar ao lado de uma lixeira de recicláveis.

           - Daniel... Por favor. – murmurei preocupada.

           Ouvi então um barulho vindo da lixeira, em um pulo me afastei com medo. Naquela hora, o mínimo dos ruídos fazia meu coração disparar. Fiquei apreensiva esperando, até que de trás da lixeira saiu um cachorro. Era uma mistura de pastor alemão com vira-lata. Tinha um porte grande, orelhas em pé e uma pelugem que mesclava preto com um tom mel. Sua feição era calma, o que me trouxe um alívio por ele ser apenas um cão. Ele farejou um pouco a lata de lixo, olhou rapidamente para mim e se virou, seguindo pela rua normalmente.

            Simplesmente e subitamente um vento soprou forte, fazendo meus cabelos balançarem. Eu fiquei estática e o cachorro que seguia mais a frente também. Depois do vento, uma sensação de frio tão intensa se apoderou do meu corpo, um ar gélido pairou sobre mim. O calafrio desceu e subiu pela minha espinha como se brincasse com meus sentidos. Minhas pernas estremeceram e a um medo repentino invadiu meu coração. Meus olhos paralisaram perdidos naquela imensidão de pavor inexplicável. Foi uma coisa única que eu nunca havia sentido antes. Passou de repente, senti meus joelhos novamente se firmarem, meu olhar retomou a vida e meu coração voltou a bater no ritmo normal. Olhei ao meu redor procurando entender o que se passara, mas a única coisa que vi, foi a tortura por qual aquele cão passava.

             Não sei por que, mas ele estava tremendo muito, sua coluna estava totalmente arcada, com as patas dianteiras deitadas no chão. Um grunhido agudo, que me lembrou muito um grito de dor, ecoou de sua boca. Lentamente ele foi se recompondo, até estar apoiado nas quatro patas. Foi se virando em minha direção, dando meia volta em torno de si mesmo. Quando pude vê-lo por completo, tinha dentes arregalados, com seus caninos bem à mostra. Eram grandes, parecia muito mais com a arcada de um lobo do que de um cachorro. A baba que escorria pelo canto de sua boca descrevia sem palavras a sensação de fúria. Seus olhos, antes calmos, agora eram de um tom caju, amargos e enfurecidos. Seu pelo estava arrepiado, o rabo esticado como uma antena. Os rangidos dos dentes trincavam pela rua deserta e a respiração ofegante, que fazia o ar entrar e sair rapidamente das narinas completava a melodia macabra.

              Eu suei frio. Meu coração disparou sem ritmo e minhas pernas novamente estremeceram. Não havia mais o vento misterioso, mas o medo intenso que eu estava sentindo era o mesmo. Comecei a dar passos lentamente para trás. Não sabia no que pensar, não sabia o que fazer. O cão estava se aproximando tão lentamente quanto meus passos. Com toda certeza ele não estava normal. Alguma coisa havia acontecido, coincidentemente ou não, na hora que aquele vento passou. Engoli seco, o medo começou apertar tanto meu peito, que já estava doendo. Tentei reunir forças, respirei fundo e comecei a correr de volta para a rua do restaurante. Meus passos eram rápidos, mesmo com as pernas travadas. Conseguia ouvir as fortes patadas que o cachorro começou a dar no chão, tomando impulso para me perseguir. Por mais que ele estivesse a uma boa distancia, ele iria me alcançar, a final ele e não eu, foi feito para correr mais rápido. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto ao passo que as patadas dele se aproximavam. Tentei gritar, mas não encontrava fôlego nem para correr mais rápido.

           Fui obrigada a me conforma que iria ser ali e não tinha escapatória. Mais uma vítima de ataque de cães. Ouvi-o tomar um impulso maior, come se fosse pular. Foi então que o reflexo agiu por mim. Lancei a mão por de trás da nuca e agarrei o cabo da minha raquete. Puxei-a violentamente para minhas mãos, arregaçando o zíper da bolsa. Em um único pulo, virei-me de frente para a fera e a encontrei já no ar, vindo em minha direção para o bote certeiro. Sem pensar, com as duas mãos, segurei minha raquete e dei o saque mais forte da minha vida bem na cabeça dele.

           Seu corpo foi lançado a alguns metros de mim. Minha raquete estava destruída com o golpe, as cordas arrebentaram e o arco estava arregaçado. O cão estava com a cabeça sangrando. Se fosse outro, estaria morto na certa, mas ele não. Levantou-se, primeiro se apoiando nas patas da frente e sacudindo a cabeça, fazendo gotinhas de sangue voar. Depois, se erguendo totalmente, como se tivesse sido atingido apenas por um cascalhinho no meio do focinho. Entrei em desespero, minha única arma estava parcialmente destruída. Estávamos como no início, só que desta vez, ele estava bem mais perto. Parecia que a raiva havia aumentado com minha façanha, rangia mais alto e mais sombrio. Deu um pulo tão alto em minha direção, que seus dentes estavam na mira da minha jugular. Coloquei o que tinha sobrado da raquete na minha frente e dei um passo para o lado, tentando esperançosamente me esquivar. Suas presas se atarracaram em minha raquete e o golpe de seu puxão me lançou para trás, fazendo meu tornozelo torcer e eu cair no chão. Ele aterrissou há alguns passos de mim, com a minha pobre Wilson na boca. Balançou a cabeça rapidamente, estraçalhando o que sobrara dela.

            Eu estava sentada, com os joelhos dobrados e erguidos a frente do meu corpo. A dor do meu tornozelo era insignificante naquele momento, mas me impedia de ficar de pé. Seus olhos vermelhos estavam fixos na minha figura. Eu consegui ver a fúria em sua feição, em seus dentes, em seu grunhido. Cada passo lento que o monstro canino dava, era como se uma agulha perfurasse minha mente, com um turbilhão de lembranças. Aquela típica cena da sua vida passando como um filme por um segundo em sua cabeça pode descrever muito bem essa sensação. Não havia mais nada para fazer, então dei um grito desesperado de socorro. Era impossível que ninguém me ouvisse. Nada. Meu berro ecoou pela rua e o cão continuou andando em minha direção. Quando ele já estava perto, a uns três metros, não sabia que som era mais alto, o dos rangidos insanos do cão ou os meus soluços de pavor. Então, ele se curvou para trás, flexionando as patas traseiras, tomou impulso e se lançou com sede de atingir meu corpo. Sim, agora não tinha como escapar, era minha hora, mas eu não queria enxergar isso, coloquei minha mão sobre meu rosto e esperei minha sina. Esperei, mas nada me atingiu, nenhuma mordida arregaçou meu braço, nenhuma dor espetou meu coração. Abri devagar os olhos, que haviam se fechado por reflexo e deparei-me com a figura canina caída no chão, a menos de dois passos de mim. Tremia deitado, como quando começou a ficar enraivecido. Seus grunhidos eram altos, mas não eram de fúria e sim, de dor, medo. Meu corpo gelou, então lentamente fui me arrasando sentada, para o mais distante do cão que eu conseguisse. Minha tentativa durou pouco, pois em menos de duas arrastadas, senti que tinha batido em algo. Eu estava no meio da rua, então não poderia ser um poste ou uma parede. Voltei meus olhos rapidamente para trás e surpreendentemente deparei com duas pernas, que logo vi serem de Daniel. Ele estava ali parado, com a mão estendida em direção ao cachorro e eu estava sentada em seus pés, agonizando de medo, sem entender nada. Ele então abaixou a mão e o cachorro se levantou. Não era mais aquele monstro que tentara me matar a alguns minutos e sim o cão que vi saindo de trás da lixeira, com uma feição dócil e calma. O pobre coitado, que estava com o sangue escorrendo pelas entranhas, soltou um uivo longo e saiu correndo na direção oposta a nossa.

               Fiquei observando a figura do cachorro sumir na próxima esquina. Eu estava em estado de choque. Olhei para os lados e o Sol já estava começando a se pôr. O tom alaranjado que tingia as paredes e as portas das lojas fez me lembrar que eu ainda estava a onde estava. Com um pulo fiquei de pé, parada na frente de Daniel. Ele estava com um olhar sério, vago e preocupado. Ficamos ali por uns instantes, ele olhava para mim, mas parecei que olhava além de mim, não diretamente em meus olhos. Eu, ainda com medo, fiquei sem palavras por um tempo e comecei a me lembrar de tudo que havia acontecido. Lágrimas começaram a brotar dos meus olhos novamente.

              - O que aconteceu... Por que você sumiu? – as palavras saiam da minha boca em forma de soluços. – Daniel, não entendi... Não entendo! – as lágrimas começaram a sair com mais abundancia e eu não consegui controlar meu estado. – Eu... Eu fiquei com tanto medo...

              Desabei no choro. Não um choro de criancinha birrenta que perdeu o brinquedo e sim, um choro que misturava medo e alívio. Ele então olhou para mim, ainda com aquele olhar estranho, colocou a mão no meu rosto e com a máxima delicadeza, passou o dedo sob meu olho, limpando a gotinha de lágrima que começava a escorrer. Eu tentei engolir o resto do choro que me restava, mas não achei forças o suficiente. Ele, por sua vez, estava com a cara séria, como se estivesse bravo, mas não comigo. Segurou no meu braço e me puxou para os seus, me envolvendo fortemente em um abraço. Eu ainda chorava com a cabeça encostada no seu peito, mas os soluços foram se reprimindo e uma sensação de segurança foi invadindo meu corpo. Eu estava ali, protegida agora, mesmo sem entender nada. Era confuso, mas estranhamente reconfortante.          


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Notas finais do capítulo

Uhhh, comenteem ^^