A Lenda de Zelda escrita por Diego Lobo


Capítulo 1
Passos firmes


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira fanfic. Espero que gostem



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/151920/chapter/1

O céu era tempestuoso, inquieto, barulhento.­ O vento soprava como vários uivos apavorantes, carregando as folhas escuras da colina com facilidade. O relâmpago iluminava o lugar, só assim era possível ver a figura ali parada, suas vestes compridas balançando com violência graças ao tempo nervoso. Era uma jovem, ao menos parecia ser, sua silhueta não mostrava muitos detalhes, mas algo subjugava a escuridão daquele tempo. Os olhos.

De uma cor azul infinita, a garota tinha olhos aflitos e profundos.

Link

O jovem despertou imediatamente em um salto. Odiava aquela cama tão baixa, estava no chão coberto de poeira e palha que por preguiça não retirara no dia anterior. Levantou meio tonto olhando para os lados, as janelas de madeira pesada não conseguiam conter o dia que entrava pelas frestas, era possível ouvir o barulho da movimentação das pessoas do lado de fora.

Aqueles sons despertavam sempre algo no rapaz, sua barriga roncou alto. Ele olhou para a mesa pequena, também de madeira grossa, seu pai sempre lhe deixava quantias consideráveis de pães para que pudesse tomar o seu café. Mas na mesa havia uma galinha branca e rechonchuda que picava o pão, já em migalhas.

— AAAAARG!

O garoto furioso partiu pra cima da galinha, que imediatamente bateu suas asas dando volta pelo pequenino lugar. Era uma casa pequena, era preciso ter cuidado para não quebrar os vasos que seu pai costumava deixar encostado na parede. Quando a galinha parecia estar emboscada, ela avançou na janela deixando-a escancarada.

Todos do pequeno vilarejo andavam para um lado e para o outro. Conversavam alegres, carregavam cestas de fruta, puxavam cavalos, gritavam, sussurravam, era mais um dia em Hyrule. O jovem respirou bem fundo o ar que ele tanto gostava e estendeu os braços se despreguiçando.

— Link! — chamou alguém, o rapaz procurou quem lhe chamava, mas a pessoa passou correndo acenando para ele, era um de seus amigos que parecia muito apressado — Vamos para perto do castelo ver o rei e sua filha retornarem!

Todos os seus amigos já estavam correndo muito mais a frente. Ele saltou pela janela, tendo tempo de apanhar seu chapéu verde que sempre ficava agarrado ao lado. Em poucos segundos ele alcançara todos os outros jovens, tendo cuidado de desviar dos comerciantes que passavam. Havia muita movimentação logo a frente, ali perto ficava o caminho que levava para o castelo.

— Será que vai dar pra ver alguém? — alguns guardas estavam a postos separando a multidão do caminho que brevemente passariam a realeza. Link olhou o escudo do guarda do castelo, parecia bem surrado e era possível ver o seu reflexo nele.

Um garoto de cabelos loiros ofegante estava lá, seus olhos verdes decididos e sua baixa estatura de orelhas pontudas meio avermelhadas, acontecia quando ele ficava nervoso. De repente as pessoas começaram a exclamar alto e se agitarem, isso porque os cavalos reais começaram a surgir. Link pulava, se esgueirava como podia, mas não conseguia ver nada em seu todo.

As pessoas que cobriam sua visão pareciam um tanto incomodadas com sua tentativa de ver, e davam constantes cotoveladas. Um senhor barbudo e enorme lhe empurrou com força, e o traseiro do rapaz bateu no chão. Seu chapéu deslizou até seus olhos, agora ele não via mais nada. Recuperando da dor, puxou seu chapéu para trás, aos poucos conseguia ver o que se passava por debaixo das pernas das pessoas.

Caminhando a passos vagarosos, o rei andava acenando para o povo, suas vestes estendiam-se por um longo caminho. Link achou aquilo muito engraçado e riu, mas a outra pessoa lhe chamou atenção. Uma garota magra usando um vestido branco bem bonito, tentava acompanhar os passos do rei.

— Que linda a princesa! — falou alguém.

— Princesa Zelda nós te amamos! — disse outra pessoa.

Link ficou admirado com aquela pessoa, e começou a engatinhar para os lados acompanhando o seu trajeto. Ela tinha cabelos dourados, um pouco semelhante aos seus, desciam graciosamente até suas costas. Sua pele era um tanto pálida, mas isso não retirava sua beleza, pois parecia um anjo.

— Ela é bela igual à outra princesa Zelda — disse uma velha senhora, e um pequenino que deveria ser seu neto lhe perguntou:

— Outra princesa vovó?

Ela sorriu bondosamente para a criança.

— Em nosso reino todas as princesas se chamam Zelda, isso é graças a uma antiga lenda...

Link já ouvira varias vezes sobre essa lenda, na verdade todos já sabiam da lenda da princesa Zelda. Ele se sentia estranho, como se pudesse ficar o dia inteiro ali olhando para a garota que passava na estrada, acenava algumas vezes, mas permanecia serena.

— Algum problema querida? — perguntou o rei sorridente, sua barriga balançada com suas gargalhadas.

— Nenhum papai... E só que você sabe que eu prefiro ficar na carruagem, o sol esta muito forte.

Na verdade o tempo estava bem agradável, o céu era de um azul mágico e as nuvens com formas aleatórias pareciam acompanhar a todos.

— Você é a princesa desse reino, e o teu povo adora a sua imagem. Quando você demonstra alegria é o coração deles que se enche de esperança, de dias pacíficos e seguros para suas famílias...

— De prosperidade, de harmonia...— completou ela —Eu sei papai. Já estou exausta deste discurso.

 Olhou-o com nervosismo e suspirou acenando para as crianças.

 — Porque não podem seguir suas vidas sem o suporte moral de nós a realeza? Não dependem necessariamente de mim para serem felizes, eu nada posso fazer por suas vidas, alem de acenar de maneira ridícula.

— Zelda! — falou o rei horrorizado, mas tentando manter o sorriso.

— Desculpe, meu pai — falou, sem sinceridade nenhuma na voz.

Ela baixou os olhos pensativa, mas procurando seguir a marcha que seu pai conduzia. Seu olhar encontrou os de um garoto por de trás da multidão, estava engatinhando acompanhando os seus passos. Zelda empinou o nariz e desviou o olhar em um beicinho.

Link não gostou daquilo e mostrou a língua, mas a princesa não viu aquilo. Perdendo o interesse na realeza de Hyrule, o garoto avistou seu pai ao longe carregando seus jarros artesanais, os vendedores pareciam bem interessados.

— Link meu filho! — disse o homem de cabelos castanhos, não parecia em nada com o garoto — Chegou em hora para me ajudar com os jarros. Leve esses daqui para dentro da loja do senhor Búfalo, e pelos deuses tenha cuidado com isso!

Link obedeceu, não foi muito fácil é claro, os jarros que seu pai fazia eram enormes e pesados, mas bem resistentes. O senhor Búfalo tinha um bigode enorme em formato de lua, Link adorava entrar em sua loja, pois sempre tinha itens interessantes.

— Vai treinar com seu pai hoje Link? — perguntou o homem acompanhando o garoto, ele acenou um “sim”.

Era difícil se concentrar, a loja de “armas” do vilarejo sempre tinha uma novidade, dessa vez era uma espada longa e vermelha escura, tinha pedras preciosas presas em sua lamina, Link não gostava muito, mas era bem interessante. Havia vários escudos, de diversos tamanhos e formatos, ele gostava dos tradicionais usados pelos guardas do castelo, uma versão mais simples é claro, pois os verdadeiros custavam uma fortuna.

Seus olhos demoraram-se bastante nas vestes de guerreiro, cobertas por um tecido especial que servia para agüentar diversos tipos de dano. Búfalo adorava ver a expressão sonhadora do rapaz, vários jovens do vilarejo davam a sua “passada matina”l em sua loja para sonhar um pouco com uma vida repleta de aventuras combatendo os monstros que habitavam toda a Hyrule.

O homem colocou a mãos nos ombros do pequeno Link e sorriu, o rapaz ficou meio desconcertando e colocou os objetos de seu pai no chão e se retirou.

— Link! — chamou o homem, o garoto parou imediatamente — Você é um bom garoto, e não quero que conte para os outros que lhe dei isso.

Ele foi à bancada e com seu braço retirou algo que estava por debaixo, os olhos de Link reluziram com a espera. Um bumerangue. Tentou o máximo controlar sua decepção.

— Não ouse menosprezar este bumerangue meu caro, são itens que apesar de pequenos ajudam bastante nas horas de dificuldades.

O bumerangue era verde com algumas manchas amarelas, parecia uma fruta.

— Muito obrigado senhor Búfalo! — agradeceu, ele amarrou em sua cintura junto ao seu velho estilingue.

Link e seu pai se despediram do senhor Bufalo e foram fazer outras entregas, até na hora do almoço em que descansaram no campo ali próximo. Havia um enorme rancho ali perto onde os cavalos corriam alegres.

— Pai, podemos treinar agora? — perguntou o garoto esperançoso. O homem pareciam tão cansado.

— Tome seu leite, coma alguma coisa! Ninguém consegue fazer nada de estomago vazio. Às vezes acho que aventuras e batalhas são mais importantes que se alimentar e dormir para você meu filho.

— E são! — resmungou ele sentando no chão emburrado.

O pai de Link suspirou e sentou-se ao seu lado. O garoto abraçava suas pernas olhando para alem das colinas.

— Eu não posso viver minha vida inteira aqui pai... Eu ficarei louco! Quero viajar por Hyrule, descobrir o que tem lá, não quero ficar aqui parado e ter essa vida pra sempre.

O jovem olhou a expressão triste do pai. O homem em outra época lutara bravamente ao lado dos guardas reais, participou da batalha contra a infestação de monstros que aconteceu no castelo. Mas desistiu de tudo para ficar com sua família e criar Link, já que a mãe ficara muito doente.

— Desculpe... — falou Link arrependido, o pai sorriu imediatamente.

— Se um jovem não tem direito a sonhar, então não é jovem — falou o homem, ele procurou algo na grama e encontrou — Espero que esteja preparado para sofrer a maior derrota de todos os tempos.

Link abriu um sorriso bobo, imediatamente encontrando o mesmo que seu pai havia achado; Pedaços de pau. Ele girou golpeando o homem, que habilmente defendeu-se soltando uma risada, os dois lutavam movimentando-se pelo campo verde.

— Força nas pernas Link, sempre fique firme! — falou o pai animado enquanto Link cedia aos seus golpes.

De repente Link viu um amontoado de folhas ao longe se mexer, ele desviou os olhos para tentar se concentrar em seu pai. Mas depois de tremer, balançar bastante, da terra saiu uma pequena cabeça de um monstro. Tinha a boca em formato de canhão, com lábios grandes e grossos, a criatura parecia nervosa com o barulho.

O pai de Link estava de costas e não via aquilo. O monstro mirou nos dois, o rapaz tentou disfarçar o máximo que vira aquilo, então o bicho atirou uma semente enorme e pesada. O homem imediatamente abaixou-se, deixando a semente acertar na testa de Link.

AARG

— Muito esperto! — gargalhou o homem, Link levou às mãos a testa, tinha certeza que um galo enorme nasceria dali. Seu pai avançou novamente, e ele se assustou, mas apanhou o pedaço de pau.

— Esteja sempre atento! — gritou o pai, e mais uma semente foi atirada e dessa vez Link conseguiu desviar — Sempre existirão vários elementos em uma batalha, e você precisa interagir com todos!

Os dois continuavam a sua luta enquanto desviavam das sementes, não demorou muita para que outro monstros escondidos na terra despertassem. Link investia com mais feracidade, lembrando-se de abaixar nos inervá-los de tiro de uma semente para outra, essas vinhas de vários lados.

— Agilidade Link! — o homem rolou e acertou as pernas do garoto — São importantíssimas em uma batalha.

O rapaz pulou para acertar o homem, mas ele defendeu do ataque, o som da madeira se colidindo era seco. Link direcionava os golpes em ângulos variados, como gostava de fazer, trazendo o ataque por baixo, mas seu pai era esperto e conseguia sempre se esquivar.

Link pulou para trás tentando fugir dos golpes do pai que aumentavam de intensidade, de forma que ele mal enxergava o pedaço de madeira. Mas o garoto não gostava de ficar fugindo para sempre, ele fincou os pés no chão, firmemente como havia lhe dito, e com as duas mãos presas na madeira, agüentou os ataques, sem sair do lugar.

O golpe do homem de repente não era mais rápido, e a cada pancada seu braço tomava uma distancia maior de Link, e foi ai que o rapaz encontrou uma brecha, impulsionado para frente ele avançou com toda força e derrubou seu pai. No chão o garoto ria vitorioso enquanto segurava o velho.

— Não conte vantagem, essa é uma regra tão primordial Link — e com as pernas ele arremessou o rapaz para longe, mas esse aterrissou bem com as pernas ainda firmes.

O garoto fez novamente a posição de defesa, redobrada com a disposição de seus pés. O pai correu até onde estava, mas parou poucos centímetros, ele posicionou suas pernas, e deixou seus braços a baixo, parecia que o pedaço de madeira tinha vida, pois tremia sem parar. Com um só movimento o objeto traçou uma linha até a defesa de Link, partindo o tronco ao meio.

O jovem ficou ali admirado com o que seu pai fizera. Enquanto isso outra semente fora lançada e o homem a rebateu na testa do garoto, que caiu imediatamente na grama.

— É bom ser criativo também... — falou.

Link arranjou outro pedaço de pau e por algumas horas continuaram a treinar. Já exaustos, o pai do garoto foi para casa anunciando que teria algo muito bom para o jantar, e o rapaz desejou que fosse a galinha que comera seu café.

Ficou ali sentado, a tarde era bem ensolarada e tranqüila. O sol e a sombra faziam que o pequeno vilarejo parecesse uma pintura, com seus tons e relevos interessantes. Cada casa teve seu trabalho especial, como se fosse um vilarejo de artesões. Ele gostava de viver ali, mas desejava mais, algo lhe dizia que precisava de mais. Conhecimento, aventura, eram coisas que almejava desde pequeno.

— Olá Link!

Uma jovem de cabelos ruivos amarrados em uma trança estava ali de pé, ele nem notara a sua presença.

— Oi Laura — acenou.

Laura Intravia era a flautista da cidade, não era o seu trabalho é claro, mas era assim que todos a chamavam. Costuma ficar encima dos telhados da casa tocando sua flauta; melodias que acalmavam a todos, ou agitavam quando era uma gostosa comemoração. Ela sentou ao seu lado e sorriu.

— Eu amo este lugar, mas não o tomei para mim porque sei que já possui um dono — os dois riram.

Laura e Link eram grandes amigos desde bem pequenos.

— Gosto de vir aqui e tocar para os monstros que atiram sementes... São minha melhor platéia.

O jovem olhou para trás, mal notara que os ataques haviam cessado.

— Soube que amanhã será seu grande dia. Tocar no castelo, que honra maior pode existir? — disse Link animado pela amiga.

— Será um sonho. Espero que a princesa Zelda aprecie a melodia que fiz especialmente para ela...

Ele tinha serias duvidas se a princesa Zelda gostaria de qualquer coisa.

— Se não gostar, é porque os ouvidos reais não sabem apreciar uma boa musica — falou ele sorrindo.

Laura riu.

— Sei que o temperamento da princesa não é dos melhores, mas tenho certeza que ficará mais suscetível no dia do seu aniversario.

— Aniversário? — perguntou surpreso.

— Isso mesmo Link. A princesa Zelda comemora seu aniversario amanhã, no mesmo dia que o seu.

— Eu não vou comemorar...

— É provável que seu pai já tenha pensado em algo — ela riu.

— É provável.

— Pois bem Link, eis o meu presente antecipado já que não estarei aqui amanhã! — a garota colocou a flauta nos lábios e começou a soprar.

Era a musica preferida dele. A melodia não era tão tranqüila como a de costume; era viva, aventuresca, com ela sentia que poderia viajar pelos quatro cantos de Hyrule. Seu corpo ganhava uma vibração extasiante para olhar o horizonte e imaginar que ainda era possível partir em uma jornada.

Ela terminou de tocar.

— Laura você já teve vontade de sair do vilarejo? Alguma coisa além dos bosques que você gostaria de ver?

A garota encostou sua flauta na cabeça de leve e pensou.

— Sempre quis ver de perto uma fada — ela olhou para Link — Ouvi dizer que elas podem ser bem irritantes... Mas fiéis.

Conversaram mais um pouco e Laura voltou para o vilarejo. Ele não conseguia tirar da cabeça que o aniversário da princesa era no mesmo dia que o seu. Porque alguém ficaria tão zangada um dia antes de seu aniversario?

— Zelda...

Link atravessou o pequeno bosque, não passou pela grande estrada. Rapidamente encontrara o muro que levava ao castelo, tudo permanecia o mesmo desde a ultima vez que ele e seus amigos encontraram “a passagem”. Ficava escondida, coberta por folhas. Seus amigos jamais se atreveram a atravessá-la, pois haviam vários guardas andando por toda a parte.

A passagem era uma pequena abertura, o bastante para Link atravessar. Foi possível ver um córrego separando o muro onde estava das paredes do castelo, o córrego provavelmente era parte do rio que cercava o castelo. Parecia bem raso, mas ele não queria cair ali, então pulou para a parede, seu pé escorreu no pequeno espaço que tinha, coberto de lodo. Agarrou-se nas falhas da parede.

Para atravessar precisava andar de lado, seu rosto ficou colado na pedra.

Seu coração estava acelerado, de onde estava os guardas do castelo não o veria, mas não era possível encontrar nenhuma entrada, então continuou se arrastando pelo fino caminho. Se andasse mais chegaria na ponte do castelo, onde provavelmente haveria vigias.

No caminho encontrou aberturas que possuíam cabeças de serpente de pedra, de suas bocas saiam água, que parecia vir de dentro do castelo. O buraco não era nada grande, o corpo da serpente de pedra seguia por todo o caminho para dentro da abertura. Link engoliu o seco e entrou.

O cheiro não era nada agradável, havia muito lodo ali, mas era possível ver uma iluminação logo à frente. Já podia ficar de pé, estava dentro do castelo, na área dos jardins. O lugar tinha enormes arranjos de flores, parecia um grande labirinto florido, e era possível ver o elmo dos guardas carregados de plumas andando ao longe. Precisava evitá-los.

— Não acredito que estou fazendo isso — falou nervoso.

Ele agachou-se e seguiu em frente por um caminho estreito, tentou acompanhar os passos dos soldados, eram um tanto escandalosos graças às folhas secas do chão. Correu na hora certa que a dupla de homens de armadura passou, ele rolou para outro canto levantando um grande numero de folhas, seu coração pulando em seu peito. Foi por muito pouco que outro guarda não o viu.

Apesar de parecer ser um labirinto, tudo indicava que havia uma saída logo ali perto, era o fim da grama do jardim e o começo de degraus de mármore de cor clara. O lugar parecia vazio, a não serem os pássaros que pousavam nas pilastras enormes cobertas por uma vegetação rasteira. Ele andou com cautela, olhando para os lados, sentia que estava entrando em um santuário. Foi então que a viu.

Sentada em uma pedra, a princesa Zelda olhava para o alto, onde havia uma enorme entrada de luz, os raios do sol pareciam cortinas fantásticas. O garoto deu pequenos passos, estava difícil de respirar com seu nervosismo, mas admitia que aquilo era bem emocionante, afinal ele burlou a segurança do castelo e chegou bem próximo da princesa. Ela parecia triste.

Os pássaros possuíam diferentes cores, cantavam em alegria enquanto circulavam ao redor de Zelda. A garota soltou um longo suspiro.

— Minha princesa! — falou uma senhora com veste de sacerdotisa — Não fique tão longe dos meus olhos, minha princesa, sabe que seu pai sempre teme perde-la para o acaso!

Zelda apertou os olhos nervosa e desviou o olhar.

— Me deixe em paz, por favor! — falou ela, sua voz era encantadora, mas não condiziam com os modos — Quero respirar, vocês me sufocam demais dentro deste castelo. Do que adianta ser princesa se não me dão liberdade nenhuma!

— Mas minha Prince..

— Não me importa o povo de Hyrule, ninguém liga para a minha felicidade! Estou farta de ser exibida como uma espécie de imagem de pedra a ser adorada. Não sou de pedra, estou viva, quero viver...

A mulher parecia horrorizada, como se a culpa fosse toda dela, imaginava como deveria se punir depois. Zelda reparou no olhar de desespero da mulher e suspirou mais uma vez.

— Escute, me deixe aqui por um minuto ou dois, só lhe peço isso.

A mulher assentiu e se retirou delicadamente. Zelda levou as mãos ao rosto.

Link estava concentrado na cena da garota triste, parecia em uma espécie de transe maluco, como se seu corpo não quisesse sair daquele lugar, seus olhos não piscavam, sua garganta estava completamente seca. Então ele não reparou quando sua mão umedeceu a ponto de escorregar da pilastra que estava apoiado.

— Quem está ai? — perguntou Zelda em alta voz, Link se assustou com a faca que a princesa retirara de sua veste.

Os olhares dos jovens se encontraram. Link no chão, imóvel, não sabia o que fazer, enquanto a princesa estendia sua faca afiada para ele, com uma expressão de curiosidade no rosto. Ela tomou alguns passos a frente, a mão firme, o garoto não sentia a mínima vontade de fugir, parecia congelado. Zelda chegou bem perto, sua lâmina bem próxima a garganta do jovem, ele se sentia estúpido por não ter vontade de fazer nada, como se estivesse pronto para dar a sua vida. Sentiu-se covarde.

— Você é o garoto que vi na estrada, o que aprecia ficar no chão — ela falou concentrada.

— Link...

— Eu não perguntei seu nome! — atacou ela — A mim não importa o nome de um ladrão barato!

— Não sou ladrão! — retrucou ele.

Ela encostou a lâmina na pele dele e ele se assustou.

— Não minta para sua princesa! — ela sorriu maldosa — Meu pai mandará prendê-lo e provavelmente seu pescoço estará em uma corda pela manhã!

Link nada disse, só pensou em seu pai e seus amigos que nunca mais iria ver. A flauta de Laura que nunca mais iria escutar. Tudo isso porque ele fora burro o bastante para se aventurar.

Após um longo período silencioso Zelda baixou a faca, parecendo desapontada.

— De todos os ladrões de Hyrule, o mais tonto de todos veio a mim — ela olhou pra ele zangada — Levante-se de uma vez, você foi a única coisa de interessante que me aconteceu nesse castelo, não vou entregá-lo ao meu pai.

Link se levantou, e a princesa parecia enxergá-lo corretamente pela primeira vez. Ele era baixo, mas nem tanto, a verdade era que os dois tinham algumas semelhanças, e uma sensação esquisitíssima de conhecerem um ao outro.

— Como conseguiu chegar até aqui? — perguntou ela.

— Ouvindo os passos dos guardas... Eles andam sempre na mesma rota — respondeu ele encabulado.

— É verdade — admitiu ela — Parecem zumbis.

Os dois riram.

— Então... Você não é muito esperto para um ladrão, ou assassino — mas Zelda tinha certeza, de alguma maneira, que isso ele não era.

— Eu não sou ladrão, eu só queria ver você — Link reparou em como aquilo era verdade, o motivo verdadeiro de ter entrado escondido no castelo era que ele precisava ver a princesa Zelda.

Ele corou.

— É normal que os jovens do reino se apaixonem por mim, afinal sou a princesa de Hyrule... — não havia segurança nenhuma nas palavras de Zelda, o que mostrava que ela também estava desconcertada.

— Amanhã é seu aniversario... — começou dizendo.

— Então você veio presentear a princesa com algo? Parando para pensar no acaso, foi um ato nobre, pois alguém como você jamais teria permissão para entrar no castelo no dia do meu aniversario e se dirigir a minha pessoa.

Link não falou nada, ele não tinha presente algum.

— Amanhã também é meu aniversario — disse sem pensar.

A princesa ficou surpresa por completo, como se tal acontecimento fosse impossível. De repente ela sentiu uma alegria repentina, uma emoção esquisita passando por seu corpo.

— Então somos dois infortunados, tenho que dizer... — ela riu — Estou dizendo isso, pois alguém que desafia a morte para chegar até aqui para me desejar congratulações, não deve ter também uma vida muito interessante.

Link murchou aos poucos.

— Nós dois não temos motivo para comemorar de fato, estou certa?

— Esta — respondeu demoradamente.

Ele reparou no símbolo que havia na veste da princesa, um conjunto de três triângulos dourados, juntos formavam um maior.

— Triforce... — falou admirado.

Ela olhou para o símbolo.

— Sim, já ouviu falar?

— Historias... Sempre contavam quando eu era pequeno.

A princesa riu.

— Continua pequeno — ele emburrou — Desde que nasci esse símbolo tem me acompanhado aonde quer que eu vá. Meu pai me contou que há muito tempo um feiticeiro lançou uma praga maligna em uma princesa chamada Zelda, para que ela dormisse eternamente. Seu pai, o rei, decretou que todas as princesas se chamassem Zelda desde então.

— “A lenda de Zelda” — ela falou pensativa, Link conhecia muito bem a lenda — É isso que sou, uma lenda viva...

— Você não é uma pedra — falou ele de repente.

Zelda soltou uma risadinha.

— Meu pai teme que esse mago, chamado de Ganondorf, retorne de sua prisão temporal atrás de mim e do poder da triforce. Mas é uma historia de gerações passadas, eras atrás que não chegam afetar a paz do nosso reino.

Link ficou pensativo e disse:

— Meu pai falou que a calmaria é perigosa, pois assim como nos mares, a calma pode se transformar em uma terrível tempestade.

— Eu sempre quis ver o mar — falou ela de repente.

— Eu também... Velejar.

A conversa se estendeu por duas graciosas horas. Link se sentia renovado discutindo seus sonhos com alguém que se sentia do mesmo jeito que ele, e a princesa era uma pessoa bastante mimada e arrogante, mas também era sincera e engraçada. Ele nunca conhecera alguém assim.

— Então Link, o seu sonho é viver grandes aventuras? Lutar com monstros e proteger seu reino? — falou ela em tom de desdém.

— Sim — respondeu envergonhado.

— Pois bem, ajoelhe-se — ordenou ela rindo, ele revirou os olhos e obedeceu.

Zelda foi até um canto e arranjou uma flor de cabo enorme. Encostou ela no ombro de Link como se fosse uma espada.

— Sendo a princesa de Hyrule, eu lhe transformo a partir desse dia, véspera de nossos aniversários, em meu guardião pessoal. Link, meu protetor...

Ela ria com aquilo tudo, mas sua risada se desfez quando reparou no olhar reluzente de Link aos seus pés. Tomado pelas palavras da princesa, aquilo viera como uma enorme honra para o rapaz, como se aquele momento de fantasia pudesse realizar seus sonhos. Ela sorriu com ternura.

— Link, pelos poderes da triforce, com os deuses testemunhando, você será meu protetor e guardião. A esperança deste reino, pois você tem a alma mais pura e a melhor das intenções. A partir deste dia, você é um guerreiro!

Ele sorriu orgulhoso.

— Levante-se — ordenou mais uma vez, ele obedeceu — Você precisa ir Link, estou extremamente surpresa que ninguém apareceu... Tenha uma boa vida.

Ele não queria se despedir dela, seu coração ficou apertado.

— Posso lhe pedir uma coisa antes de você ir? Será meu presente de aniversario — falou ela energética.

— O que? — perguntou inocente, aquilo encantou Zelda.

— Um beijo.

Link ficou espantado com o pedido, quase chegando para trás. Ele nunca pensava nessas coisas e mantinha distancia dos casais apaixonados.

— Sempre quis saber como é... Vocês homens sonham com aventuras além das montanhas, decapitando monstros e encontrando tesouros. Mas para o coração de uma mulher não há aventura maior que o amor. E creio que nunca irei conhecer o que ele é de fato.

O garoto estava muito apreensivo com aquilo, e piorou quando Zelda calou-se esperando alguma medida, ou resposta. Tremendo um pouco ele inclinou-se para frente juntando seus lábios, a garota fez o mesmo. Foi como se o sol estivesse tocando o corpo dos dois, mas isso não era possível, pois já não havia mais sol. O beijo foi rápido, os lábios se tocaram por um segundo ou dois, carregados de inocência.

— Obrigada — disse ela satisfeita — Agora vá.

Link voltou para a terra, e piscou confuso como se acabasse de despertar de um transe. Ele correu imediatamente para fora do jardim, estranhamente os guardas não estavam ali, então foi mais fácil. Ele apertou o passo, não queria ser encontrado de maneira nenhuma.

Bateu-lhe um arrependimento de não ter olhando mais uma vez para a princesa, mas ele conhecia o caminho e iria voltar mais vezes. Chegou à parte em que tinha que se arrastar na parede, ele escutava sons estranhos, pareciam metais colidindo, era estridente. De repente no céu, havia um rastro de fumaça, e seguido de uma explosão.

BUM

Link escorregou no lodo da parede e caiu com força no riacho, sua visão perdeu o foco e ele desmaiou.

Tudo aconteceu tão rápido que ele só conseguia lembrar de borrões, e escutar zumbidos esquisitos, gritarias, metais estalando, um cheiro forte de algo queimando. Ele acordou assustado com a chuva caindo em seu rosto, estava completamente molhado, suas pernas encobertas pelo córrego.

Ele escalou até o muro do castelo, a fenda que levava para fora não estava muito longe. Seu cabelo estava grudado em seu couro, e suas vestes escureceram com a sujeira. Quando ele saiu do castelo percebeu que algo estava diferente, uma agitação incomum vinha de longe, mas a forte chuva não o deixava ver o que era.

Correu em direção ao vilarejo, seu corpo reclamava da dor de ter caído. Link sabia que havia algo muito errado, era possível ver um clarão alaranjado, a chuva se tornava mais pesada. Quando chegou foi tomado por um arrepio.

A cidade estava em chamas. Mesmo com a chuva, telhados e carroças foram tomados por um fogo intenso e aterrorizante. As pessoas corriam gritando para todos os lados, havia soldados do castelo tentando conter o fogo, e outros lutavam com homens estranhos. Possuíam armaduras negras e tinham uma pele pálida, como se o sol jamais houvesse os tocado. Tinham um sorriso perverso no rosto e olhos vermelhos, golpeando os soldados sem nenhuma hesitação.

Assustado, Link pensou logo em seu pai. Correu para dentro do vilarejo, seu coração batendo loucamente. Ele desviava dos guerreiros negros e do fogo que consumia tudo. No caminho, parava e acertava alguns deles que estavam nos telhados, usou seu estilingue, mas era muito difícil com aquela chuva. Havia um grandalhão na sua frente, ele aproveitou que estava correndo para deslizar na lama, passando por debaixo das pernas do homem. Pela primeira vez ficou feliz em ser pequenino.

Chegou a sua casa, a luz estava apagada, sentiu seu estomago revirar. Correu até a porta, mas antes de conseguir abri-la um dos guerreiros de armadura negra apanhou seu braço com força. Na sua mão livre ele estendia sua espada, seus olhos mortais encaravam Link indicando seus próximos passos, ele não conseguia se mexer.

Antes que o homem movimentasse a espada, a galinha gorducha de antes avançou com toda força no rosto dele, que urrou de dor não conseguindo enxergar.  Link conseguiu se livrar e empurrou o guerreiro contra parede, derrubando-o. Ele olhou para galinha e acenou em agradecimento, imediatamente abriu a porta.

Estava tudo destruído, seu pai era uma sobra no chão.

Link correu em seu auxilio, o homem estava todo suado e tinha vários ferimentos, não era possível ver o resto, pois estava tudo muito escuro. O jovem ajoelhado no chão tentava levantar o corpo do seu pai.

— Link... Meu filho, não sei o que esta acontecendo — disse com a voz rouca — Você precisa se proteger, a todo custo, quero que fuja!

O garoto se sentia triste, acabado, queria chorar, não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

— Debaixo da mesa, tente empurrá-la... Seu presente de aniversario está ali.

Link fungou balançando a cabeça indicando que não queria saber de presente nenhum, mas seu pai agarrou em seu ombro.

— Pegue o presente Link, vai precisar! — o jovem imediatamente entendeu do que se tratava.

Ele empurrou a mesa com alguma dificuldade, havia um buraco no chão e alguma coisa embrulhada nele, era cumprida entregando do que se tratava Tremulo demais, ele cedeu ao chão, suas mãos abriram lentamente, e seu coração doeu quando o metal reluziu. Era de fato uma espada.

— Não posso...

— Sim você pode Link! — disse o pai agora com força — Você pode meu filho. Quero que pegue esta espada e salve sua vida!

Ele revelou a espada por completo. Era a velha espada de seu pai, a lâmina era longa e triangular, o cabo era reforçado com algum tipo de tecido, ele sentiu o seu peso quando se levantou.

— VÁ LINK! — gritou o homem.

Ele apertou os olhos sem se decidir, mas partiu para fora da casa. As pessoas corriam desesperadas, havia menos guardas do castelo, e mais guerreiros negros. Tudo girava a sua volta, ele se sentia tonto, precisava fugir. Aquela espada parecia pesar toneladas. Um homem de armadura da cor da noite, e uma careca horrível, parou bem na sua frente. Sua língua indicava a alegria de ver uma presa.

Link foi tomado pelo medo e pânico, não conseguia se mexer novamente enquanto aquele homem se aproximava. Havia gritos de pessoas desesperadas, e chovia bastante. Foi quando ele se lembrou de algo.

Zelda.

 A princesa deveria estar assustada em seu castelo. Ele havia feito um juramento que iria protegê-la, e estava fugindo, aquilo não estava nada certo.

A expressão de assustada de Link foi tomada por uma determinação nova, sua expressão zangada encarava o careca que ficava mais feliz em poder acabar com uma presa tão fácil. Suas mãos apertaram o cabo da espada com força e segurança. O guerreiro fez um movimento rápido com sua espada em direção ao rapaz, mas Link foi mais rápido ainda em se defender.

O som foi alto e assustador.

Link não cedeu um milímetro se quer, seus pés fincaram no chão com perfeição de defesa. O careca ficou incomodado com aquilo, e quando se movimentou para um novo e certeiro ataque, o garoto foi novamente mais rápido. Sua espada girou pela direita em um arco horizontal, lançando o homem para trás.

 Era uma sensação nova, podia sentir que a armadura era apenas uma segunda pele que poderia ser vencida se golpeada algumas vezes.

AAARG

O jovem avançou com uma fúria corajosa, se esquivando dos ataques defensivos, golpeou em seqüências variadas até o homem cair no chão derrotado e com sua armadura destroçada. Ele olhou por um minuto para o que acabara de fazer, sua grande vitoria. Seu peito se encheu de algo que não conseguia explicar, o medo não existia mais. Com um movimento ele guardou a espada em suas costas, não foi má idéia ter feito um suporte me sua roupa, e correu em direção ao castelo.

Precisou golpear mais alguns guerreiros, mas não havia tempo para batalhas demoradas. Voltou para abertura, não considerando a entrada do castelo de maneira nenhuma, e incrivelmente o caminho se tornara mais curto.

Link atravessou o caminho com bastante rapidez, sem sinal de fraquejar ou escorregar novamente. O jardim estava repleto de inimigos de armaduras escuras.

Quando avistaram o garoto correram em sua direção. Link posicionou suas pernas, mas dessa vez não seria em defesa. Elevou a espada até um pouco acima de sua cintura, com os braços curvados, a lâmina tremia loucamente. Esperou que os guerreiros chegassem perto o bastante, para girar seu corpo rapidamente, golpeando todos de uma vez. Ele sorriu vitorioso.

Zelda estaria em algum lugar daquele castelo. Imediatamente começou a correr, havia muitos outros invasores, mas ele precisava se apressar. O castelo estava bem escuro assim como sua casa, mas era possível enxergar os corredores graças aos trovões da tempestade que ocorriam lá fora.

Passava por cada corredor, completamente a espreita, pegando inimigos desprevenidos com um só golpe, cada aula de luta de seu pai lhe possuía naquele momento.

AAAAH

O grito da voz feminina lhe apontou o caminho exato a seguir. Ele subiu algumas escada para chegar a um corredor iluminado. Havia dois monstros horrendos que pareciam duas esferas de pêlos. Possuíam um único e grande olho, e asas de morcego. Zelda estava agachada no chão protegendo-se com os braços.

Link não pensou duas vezes antes de apanhar o bumerangue que havia ganhado mais cedo, ele lançou habilmente nas criaturas, mas não foi possível matá-las. Mas não deram sinal de que podiam se mover.

Zelda não ficou parada, e golpeou uma delas com sua faca, e Link deu fim à outra com sua espada.

— LINK! — exclamou surpresa e feliz — Como pode ser tão tolo?

— Horas, não sou a porcaria do seu protetor? — falou eufórico, mal contendo os seus modos perto da princesa, ela não ligou e riu também.

— Onde estão todos? Porque não há guardas reais aqui?

— Link, o castelo inteiro esta amaldiçoado, como conseguiu entrar aqui? — perguntou intrigada.

— Amaldiçoado? — ele estava confuso.

— Todos exceto eu foram lançados para fora do castelo, até meu pai!

— Mas como o castelo foi tomado por tal maldição? Você esta bem?

Ela ficou apreensiva e olhou para a tempestade.

— Ganondorf!

Ele balançou a cabeça.

— Mas é só uma lenda... Não é possível!

— É a sua magia que tomou o castelo. Em breve ele estará aqui, ainda não conseguiu atravessar o mundo onde vive — Zelda parecia sincera em suas palavras.

Link pegou em sua mão.

— Então sairemos daqui agora! — ele olhou para a princesa, possuía igual confiança.

— Obrigada.

Ele sorriu, e os dois saíram correndo pelos corredores. Foi bem difícil chegar a lugar algum, já que o castelo estava infestado de guerreiros da sombra e monstros. Pedia para que a princesa que esperasse em segurança quando precisava retirar sua espada e atacar. E não era nada fácil, Link rapidamente ficou exausto.

— Não consigo me localizar Link, acho que isso se deve a magia de Ganondorf!

— Não importa, sairemos a salvo, eu prometo! — falou Link respirando com dificuldade.

Continuaram a correr. Link descia os degraus como se fossem milhas e milhas, sua força se esvaia cada vez mais.

— Link o tapete vermelho, a entrada fica logo ali! — falou Zelda.

O corpo do jovem tremia, como se seus ossos urrassem de dor, mas sua mão segurava firmemente a de Zelda, e os dois partiram para a saída. Um ultimo clarão de trovão tomou todo o lugar, seguido pelo barulho colossal que tremeu toda estrutura. Ele só teve tempo de olhar a expressão aterrorizada da princesa.

Lá, bem na entrada, estava Ganondorf.

Era muito alto e forte. Sua pele era da cor da terra e seus olhos possuíam um fogo vivo. Seu rosto lembrava de um abutre, e seus cabelos eram tão vermelhos quanto seus olhos, mas esses pareciam mesmo chamas vivas. Sua armadura era imensa e negra, possuía ponta de espinhos que intimidariam qualquer um que fosse cruzar o caminho de seu caminho. Olhou para princesa, o seu tesouro, ignorando completamente a presença de Link. Abriu um sorriso largo vitorioso.

Quando ele deu paços a frente, Link se pôs de frente a Zelda empunhando sua espada. Ganondorf agora via o rapaz, mas com um olhar de desprezo como se fosse um inseto. Quanto mais se aproximava maior era a diferença de tamanho entre eles.

— Saia da frente pequenino! — falou o mago, mas Link não se mexeu.

Alguma coisa nos olhos do rapaz o incomodava, como se já tivesse visto aquele olhar em algum lugar. Um outro tempo.

— SAIA PEQUENA CRIATURA! — berrou, sua espada gigantesca reluziu nas sombras em um tom mortal.

— Link... — sussurrou Zelda apavorada.

As pernas de Link se estenderam, como se ele desejasse preencher todo o espaço que separava Ganondorf de Zelda.

— Que insolente! — rosnou — Como conseguiu entrar no castelo, sub-julgando meu poder?

Link espremeu os olhos fitando o gigante.

— Você não vai levá-la!

TUM

Aconteceu tão rápido que Link não teve chance de ver ou sentir. As luzes do castelo apagaram-se por completo naquele instante, deixando o breve trovão do céu revelar em parte a cena. O pequeno jovem foi erguido pela lamina enorme de Ganondorf, muito acima do chão, atravessara seu corpo.

LINK!!

Ele não conseguia mais ouvir, aquele foi o ultimo som. O Mago arremessou o seu corpo para longe da princesa, e com um movimento assombroso ele apanhou Zelda como se ela nada pesasse. No chão frio Link assistia o enorme Ganondorf carregar a princesa nos braços, lutando sem sucesso, a sua visão se tornava turva, ganhando uma brancura intensa aos poucos até que não enxergasse mais nada. O pulsar de seu coração diminuía conforme o branco se tornava negro, até seu ultimo suspiro.

Quando o feiticeiro foi embora, levou a tempestade consigo.

O sol retornou a Hyrule, e os habitantes do castelo já conseguiam entrar normalmente já que a magia de Ganondorf se dissipara. Os clérigos e sacerdotisas olhavam com espanto o estado em que o castelo se encontrava, alguns dos monstros permaneceram no lugar, mas foram rapidamente derrotados pelos guardas. O rei caminhou aterrorizado, olhando os estragos.

— Meu rei! — chamou um dos criados.

O homem marchou apressado até onde o criado estava. Encontrava-se de joelhos ao lado de um corpo de alguém muito jovem, quase uma criança.

— Pelos deuses! Quem é? — perguntou o rei, enquanto outros se aproximavam.

— Não faço idéia meu rei, nunca o vi antes — respondeu o criado.

— As vestes... — disse a sacerdotisa — As crianças da aldeia usam algo muito parecido meu rei, a cor verde representa o bosque, é uma tradição dos pequenos!

— Mas o que, pelos deuses, estava fazendo um jovem da aldeia no castelo em hora tão horrível como foi aquela? — perguntou-se o rei.

O clérigo olhava para os seus iguais.

— Como passou pela barreira do feiticeiro Ganondorf? — ninguém parecia ter a resposta.

O rei olhou para a espada de Link, repousando ao seu lado, havia uma diversidade de tons impregnada.

— Esse pequeno lutou bravamente — ele pegou o jovem em seus braços, parecia um anjo dormindo. O rei pensou em sua filha, seus olhos já choraram o bastante — Que seja enterrado junto aos mais nobres guerreiros!

Os criados apanharam o corpo de Link imediatamente e carregaram para fora, o rei se levantou olhando as paredes de seu castelo pensando em como ele tentou evitar este dia.

— MEU REI! — berrou os criados.

— Pelos malditos deuses, o que foi dessa vez? — o homem esforçou-se para correr para fora do castelo, onde o chamavam.

Os criados seguravam o corpo de Link que emanava uma estranha luz dourada como o sol de seu peito. Os clérigos imediatamente foram atraídos pelo acontecimento.

— O que é? — perguntou o rei.

Os velhos clérigos foram ao encontro de Link abrindo sua veste e soltando exclamações assustadas.

“Pelos deuses!”

— O que foi? — o rei empurrou-os para os lados e contemplou ele mesmo.

No peito de Link havia um símbolo evanescente de três triângulos unidos formando um maior.

— Ele possui a marca da Triforce, meu rei!

As sacerdotisas levavam à mão a boca completamente surpresas, o jovem fora tomado pela luz dourada.

— Mas como pode ser? — perguntou o rei, vendo que o jovem agora respirava.

O velho olhou para o rei, seus olhos surpresos.

— Esse jovem recebeu a benção dos deuses da Triforce meu senhor... Ele é o guerreiro da lenda!

O jovem Link abriu os olhos imediatamente se libertando de quem a segurava.

— Zelda! — gritou, mas ela não estava em parte alguma. Aos poucos ele enxergava as pessoas que o observavam, inclusive...

— Meu rei! — ele ajoelhou imediatamente.

O rei se aproximou do rapaz lentamente, estava muito surpreso, e com a esperança renovada.

— Me diga seu nome meu jovem — pediu.

— Link... — ele queria alertá-lo sobre sua filha, que Ganondorf a levara.

— Link. Pequeno Link de vestes verdes. Você foi escolhido pelos deuses, para salvar Zelda e toda Hyrule!

As palavras lhe sopravam o rosto como a brisa.

— Você estaria pronto para tantos infortúnios e desafios que este reino pode lhe oferecer? — todos ali presentes não conseguiam acreditar que fosse mesmo verdade.

Link lembrou-se de Zelda, de todos do seu vilarejo, da vida pacífica que tanto apreciavam e que agora estava fadada a acabar com a volta de Ganondorf. Ele podia ouvir a melodia de Laura em seus ouvidos.

— Onde esta minha espada?

E foi o bastante para o rei sorrir glorioso com uma nova esperança para Hyrule, e a chance de rever sua filha. Tudo estava nas mãos do pequenino.

Link colocou a espada nas costas, já em uma colina ali perto. Olhava para o horizonte, onde haviam florestas densas, montanhas gigantescas e nuvens escuras predizendo o perigo. Ele encarou aquele destino com confiança, ali estava a sua aventura, infelizmente viera da pior maneira, mas a enfrentaria mesmo assim. Ao som da melodia de Laura ele prosseguiu a passos decididos, um caminho desconhecido e talvez sem volta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se gostou deixa seu review ;P