Pobre Leonard, nem se lembrava de como havia parado ali. Mas apesar de tudo, parecia normal estar perdido,como se logo logo alguém viesse buscá-lo. Olhou ao redor, controlando o ritmo da respiração e não via nada, a não ser branco. Um branco estranho e vazio.Talvez devesse andar um pouco para descobrir se havia alguma saída. 

- Leo. Leo, para onde você está indo? - Disse um voz atrás dele. Era o tom grave e calmo do seu irmão mais velho.
- Rudy! Ainda bem que achei você. Pensei que estava sozinho aqui.
- E você está bem? - o irmão perguntou com um sorriso que sofria para se manter nos lábios. Leo percebeu, conhecia o irmão como ninguém.
- Agora que você está aqui, está tudo ótimo. - Leonard respondeu. - Mas, aconteceu alguma coisa, Rudy?

O mais velho olhou para baixo, engolindo a seco algumas palavras que deveria polpar só para ele. Depois voltou a olhar a face preocupada e inocente do irmão mais novo, e se abaixou para estar a sua altura.

- É que eu preciso ir embora, Leo.
- Por que? Não gosta mais de mim? Nem do papai, nem da mamãe? 
- Eu amo vocês. - Rudy apertou os ombros do irmão mais novo, e as malditas palavras escorreram de seus olhos como lágrimas. Aquelas que ele havia engolido. - Muito. Amo muito estar com vocês. Mas eu estive sendo um peso por muito tempo. Não quero que vocês sofram mais.
- Está dizendo isso por causa da doença que você tem?Foi por que eu disse que estava cansado? - O coração de Leo começou a palpitar quando viu o irmão chorar. Respirar estava ficando difícil. - Nós não ligamos! Eu poso cuidar de você pra sempre! Eu sei que eu disse aquilo, que não aguentava mais, mas eu não me importo! Desculpa, desculpa, por favor, eu não disse aquilo para você ir embora.. Por favor não vai… A gente vai ficar muito mais triste se você for embora…

E o pequeno Leonard pôs as mãos no rostinho vermelho e molhado, se encostando nos ombros largos do irmão mais velho Rudy. Este respirou fundo e se segurou para não ter um ataque ali mesmo, mas tinha que ser forte para Leo. Afinal, ele era o irmão mais velho, era seu espelho. Apenas o abraçou e o apertou contra o corpo, trêmulo, desejando que não fosse preciso morrer para o mal sair da casa. Aquele mal. Aquele maldito mal.
Não disse mais nada, deixou que o choro silencioso dissesse por ele. Por conta dele, os dois foram se separando, se separando… Enquanto olhavam para o pranto desolado um do outro. Rudy então se virou, e correu, correu para bem longe do irmão naquela imensidão branca e triste. Leo tentou acompanhá-lo, gritando seu nome, xingando-o de todas as formas,até tropeçar quando não enxergava mais nada a sua frente. Só branco, só o branco.

Então acordou na sua cama quentinha, no seu quarto. Respirou fundo e aceleradamente, tocando os proprios olhos molhados. Procurou por algo ali, saiu e foi buscar no restante da casa. Abriu a porta do quarto onde deveria estar seu irmão, temendo que ele já tivesse indo embora a muito tempo, mas ele estava ali, sentado, olhando para a janela.

- Rudy! - O irmão menor gritou, chorando.Leo fingiu não entender. Apenas sorriu e o convidou para sentar na cama ao seu lado.
- Eu estou aqui, Leonard. 
E o pequeno subiu, abraçando-o imediatamente.

“Eu sonhei que você ia embora.”