Ao Avesso escrita por Annye


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá olá.
Mais um capítulo da nossa fic favorita. -q
Boa leitura.



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– Querida, já podemos ir para casa. – minha mãe disse, entrando em meu quarto.

– Ótimo, vamos lá querida, Emm e Allie estão loucos para te ver... – Esme começou a tagarelar, empolgada, mas foi cortada por Renée.

– Bella irá direto para casa, Esme. – ela afirmou categórica dando um olhar energético para Esme, que o retribuiu.

– E quem vai cuidar dela?

– A mãe dela, ora! – as duas estavam cada vez mais exaltadas, e eu resolvi interferir antes que as coisas ficassem feias.

– Gente, er, oi... – chamei a atenção das duas. – Não me leve a mal Esme, mas acho que preciso ir para minha casa, sabe, as chances de eu lembrar algo lá são maiores... – falei, tentando não ofendê-la, mas impondo o meu desejo.

– Está decidido então. Diga a Emmett e Alice que se eles quiserem ver Bella, estão convidados para ir lá em casa amanhã. – Renée finalizou se aproximando de mim. Esme deu uma risada sarcástica e foi se dirigindo a saída.

– Tudo bem, está certo. Apenas aproveite a perda de memória de Bella, Renée. Até logo querida. – Ela se despediu e saiu, me deixando confusa. O que ela queria dizer com “aproveite minha perda de memória”?

– Não ligue para ela, querida. – minha mãe disse, fazendo carinho em meu cabelo. – Esme consegue ser mais dramática que eu, quando quer. Enfim, está pronta para ir? – ela perguntou e eu assenti fervorosamente. Não suportava mais aquelas paredes brancas do hospital.

Ao levantar da cama, senti minhas pernas formigarem, além das dores no corpo voltarem, mas mais como um incômodo muscular. Minha mãe e uma enfermeira vieram me ajudar, e estava até me sentindo bem depois de colocar uma calça que cobria minha bunda.

– Pronta para ir, querida? – perguntou minha mãe, me entregando óculos de sol, boné e uma jaqueta, enquanto ela colocava seus óculos e fechava seu sobretudo, tentando esconder seu rosto com a gola e um cachecol. Olhei questionando o motivo que faríamos aquilo e ela apenas disse: – Você vai entender quando sair, mas eu te explico melhor quando chegarmos no carro. Tente cobrir o rosto o melhor possível com o cabelo, sim? – assenti e coloquei os itens, jogando meu cabelo para frente antes de colocar o boné. Fiquei com medo de cair, mas ela pegou em meu braço e me guiava para fora do quarto.

Enquanto andava pelos corredores, recebia muitos olhares, contudo, acreditava que era devido à roupa que eu usava. Porém, assim que saímos do hospital, compreendi o que ocorria.

Dezenas de pessoas se aglomeravam na porta do hospital, a grande maioria portando máquinas fotográficas potentes, cujos flashes me cegariam se não fossem os óculos de sol. A barulheira era grande, alguns microfones vieram em minha direção, várias perguntas eram feitas tanto para Renée quanto para mim, mas eu não entendia nada. Ela me guiou rapidamente para um carro parado em frente ao hospital, já com um motorista dentro; entramos as duas no banco traseiro, e assim que a porta foi fechada, minha mãe bateu na divisória, fazendo com que o motorista partisse.

– Loucura, não? – ela disse, tirando o cachecol e os óculos, e eu segui seus gestos, me livrando do meu kit “esconda-se de malucos”.

– O que exatamente aconteceu? – perguntei ainda assustada com toda aquela gente.

– Bem, é complicado de explicar... Nossa família tem certa fama aqui em Nova York, e seu acidente chamou a atenção da mídia. – disse ela, por fim.

– Já que você tocou no assunto, – emendei rapidamente – Como eu perdi a memória? Como foi meu acidente? – minha mãe suspirou alto diante de minha questão.

– Depois conversamos sobre isso, querida. Por hora, vamos fazer com que você lembre-se um pouco de si mesma, ok? – ela disse, fazendo carinho em minha bochecha, entretanto, por mais doce que ela seja, eu estava cansada de permanecer no escuro. Eu precisava saber um pouco de mim, e era agora.

– Ok então, vamos lá. Onde está meu pai? – perguntei. Percebi que ela tentaria dar uma evasiva novamente, então decidi ser enfática. – Não fuja outra vez da questão, por mais difícil que seja. Quero saber quem eu sou! – acabei gritando, devido minha irritação, mas logo me arrependi e corei. – Desculpe. Por favor, me diga. – supliquei.

– Tudo bem querida, não queria te contar, pois isso pode fazer com que você sofra duas vezes, mas você precisa mesmo saber. Seu pai faleceu, há quatro anos. – ela disse a última frase mais baixo, e eu pude ver seus olhos marejarem.

– Oh. – foi tudo que eu consegui dizer. Perder um pai que eu nem lembrava era muito triste. Sentia-me a pior pessoa do mundo, porém, ainda não estava pronta para saber direito o que eu perdi, então decidi mudar o assunto. – Irmãos? – perguntei.

– Não. Você é filha única; seu pai e eu acertamos logo de cara. – brincou ela, e nos duas rimos um pouco, deixando o clima um pouco mais descontraído.

– Hm... E Esme? Ela é minha madrinha, ok, mas somos próximas? Por que vocês duas brigam tanto? – perguntei tudo de uma vez, e ela revirou os olhos na menção do nome.

– Esme e eu fomos melhores amigas, desde a infância. Como nos casamos e tivemos filhos quase na mesma época, ela ficou como sua madrinha, e eu como madrinha de sua filha, Alice. A propósito, Alice e Emmett, filhos de Esme, e você são muito amigos. – explicou ela. Eu queria saber o porquê do atrito entre as duas, mas desisti sabendo que ela não iria responder.

– Eles estudam no mesmo colégio que eu? – perguntei em vez de continuar no mesmo assunto.

– Não. Esme vive em Los Angeles. Veio para cá, só para se meter em nossos assuntos pessoais. – disse ela com desprezo. – Mas no colégio você tem outros amig... – ela hesitou. – É complicado, vamos para próxima pergunta? – não aguentei mais, e acabei explodindo.

– Que droga! Será que eu posso saber alguma coisa sobre mim? Como eu vou confiar no que você está dizendo, se fica censurando tudo?! – gritei para ela, fazendo com que o motorista olhasse para nós, pelo retrovisor.

– Querida, vou contar quando chegarmos em casa. Paciência, por favor. – ela pediu, e eu cruzei meus braços, encarando a paisagem e desistindo de conversar de volta. Renée suspirou alto e eu pude ouvir um “Ela está se recuperando”. Não quis saber o que isso significava, mas mesmo que quisesse, aposto que ela não explicaria, então desisti e fiquei ali quieta no meu canto.

Pelo visto eu morava numa cobertura chique em Upper East Side. Bem, após os flashes e câmeras, era de se esperar que eu não morasse no Brooklyn. Ao entrar no apartamento, não senti absolutamente nada. Ele era bonito, porém, bem impessoal. Tinha algumas fotos, num canto mais afastado. A maioria eram de minha mãe, mas havia uma com ela, um homem que eu julgava ser meu pai, e eu com um rosto bem infantil.

– É o seu pai. – Renée respondeu meus pensamentos, ao me observar olhando a foto. – Venha, vamos ao seu quarto. – ela disse me puxando.

Meu quarto. Com certeza ele não podia ser mais diferente do que eu imaginava. Parecia que um elefante rosa tinha vomitado em tudo ali dentro, tinha coisas brilhosas e chamativas, e várias fotos minhas por todo o canto. Ao abrir meu closet, outro choque: saias, tops, vestidos, sapatos, e vários itens que eu não usaria. Pelo menos não agora.

– Isso aqui é meu? – perguntei, apontando para o quarto.

– Isso aqui é você. – sorriu ao responder. Eu estava ainda mais assustada. Não gostei de nada que eu encontrei até agora, e sinto que ainda vai piorar. – Bom, estamos em casa. Acho que eu devo contar, por fim.

– Tem razão. Comece pelo acidente, por ser a última coisa que eu fiz, talvez eu recobre minha memória. – sugeri, percebendo sua tensão na mesma hora.

– Filha... Essa parte é a mais complicada. É melhor sentar-se. – Ela pediu, e eu sentei-me em minha espaçosa cama, acompanhada por ela. – Primeiramente, diferentemente do que dizem, você não é culpada, ok? – nessa hora eu gelei. Será que aquelas pessoas lá fora do hospital se reuniram para me odiar, uma vez que elas achavam que eu causei um acidente. Era isso? – O que aconteceu foi uma fatalidade, logo, ninguém é culpado, e...

– Mãe, seja objetiva, por favor! – supliquei, cortando sua enrolação de uma vez.

– Ok. Você e seus amigos estavam em uma festa...

– Quais amigos? – perguntei, cortando ela. Em vez de ficar brava, ela simplesmente se levantou, e pegou uma foto em um dos porta-retratos.

– Aqui. – ela disse me entregando a foto, que tinham cinco pessoas, além de mim. – Essa aqui é Lauren, – ela disse apontando para uma loira com uma cara tão antipática quanto a que eu fazia naquela foto – essa é Jéssica, – disse mostrando uma morena sorridente – e esses são Mike, Ben e... Tyler. – finalizou, apontando respectivamente para um loiro, um oriental e um moreno, e com sua voz embargando ao falar o nome do último.

– Certo, e estávamos nós seis no carro? – continuei meu interrogatório.

– Não. Vocês haviam ido para uma festinha, e Ben se sentira indisposto, e acabou não indo. – até ali a história estava bem inocente: cinco amigos indo para uma festa. Seja o que for, não entendia como acontecera uma fatalidade.

– E como exatamente aconteceu o acidente?

– Foi quando vocês estavam retornando. Um caminhão estava em direção ao seu carro, que era guiado por Tyler, e acabou se chocando de frente. – aquilo foi um choque para mim, então as perguntas que seguiram foram automáticas.

– E onde estão meus amigos? Eles ficaram bem? – Renée deu um suspiro alto, e sua cara deixou claro que não, não estavam todos bem.

– Jéssica está relativamente bem. Quase não sofreu sequelas, como você. O que era de se esperar, já que apenas você e ela usavam o cinto. Acho que isso é uma boa lição para os jovens. – ela respondeu otimista.

– Tá, e os outros? – questionei impaciente.

– Mike estava no banco traseiro atrás do motorista, onde o impacto foi maior. A situação de sua coluna não está boa... – fiquei chocada. Mike era o loiro, e pelas fotos, dava para perceber que ele era do tipo esportista. Levantei-me e peguei a foto que me fazia concluir isso – Mike, vestindo o uniforme de futebol americano e segurando um troféu, enquanto Jessica e eu, uma de cada lado, abraçávamos.

– Não me diga que esse menino está paraplégico, mãe! – pedi desesperada, apontando a foto para ela.

– Não dá para saber Bella, ele ainda não ganhou alta, como você... – ela saiu pela evasiva novamente, mas eu já estava entendendo o que ela queria fazer. Ela tentava me proteger dessas informações dolorosas; contudo, eu precisava saber.

– Mãe, chega de eufemismos, fui clara? Conte de uma vez, reto e direto o que aconteceu com Lauren e Tyler. – ordenei.

– Certo, sente-se novamente e eu contarei. – ela requereu, e eu o fiz, não aguentando mais as hipóteses em minha mente. – Lauren estava no meio do carro, e foi lançada para fora, pelo para-brisa. – nessa hora eu parei de respirar. Lauren teria morrido? Meus olhos marejaram automaticamente. – Ela ficou muito tempo correndo sério risco de vida, mas agora seu quadro já está estabilizado. E seus pais são médicos, então enviaram-na para melhor clínica neurológica dos Estados Unidos. – fiquei mais calma com esse fim. Lauren iria ficar bem. – Já Tyler, querida, ele estava dirigindo... – ela suspirou em sinal de rendição – O caminhão o acertou em cheio. Desculpe querida, mas ele faleceu antes mesmo de chegar ao hospital. Sinto muito. – ela terminou, e me abraçou.

Eu não tinha palavras para me expressar. Quando dei por mim, lágrimas já escorriam de meus olhos. Podia não me lembrar de Tyler, mas ele era meu amigo, e agora deixara não só uma amiga, mas uma família, outros amigos, e uma vida inteira pela frente.

– Mãe, você pode me deixar sozinha, por favor? Por incrível que pareça estou cansada, e queria descansar. – pedi a ela, que prontamente atendeu meu pedido, me dando um beijo na testa e saindo do quarto.

Assim que a porta foi fechada, comecei a chorar desesperadamente. Meus soluços altos, talvez fossem escutados de fora do quarto, mas eu não ligava. Esquecer quem é você era desesperador. Some agora com o fato de sua mãe ser famosa e ficar te ocultando tudo, você descobrir que não gosta de tudo que você antes gostava, além do fato que acabara de perder um amigo, sem contar a situação que estavam os outros. Eu estava entrando em parafuso.

Respirei fundo, e fui em direção ao meu closet. No meu quarto havia um banheiro, e tudo que eu queria era tomar um banho enquanto chorava minhas mágoas. Estava tendo uma enorme dificuldade em achar roupas que eu realmente pudesse usar; até que me deparei com uma gaveta, bem no fundo do guarda-roupa.

Ao abrir, me deparo com uma surpresa agradável: jeans, moletons, e todo o tipo de roupa que realmente me agradava. Infelizmente, o cheiro era de mofo, e os números bem menores – como se eu tivesse guardado por muito tempo. Continuei procurando algo ali dentro para que eu pudesse usar, e acabei achando uma caixinha.

Peguei-a, levando para meu quarto, que era mais iluminado, e abri, revelando seu conteúdo. Eu não sabia explicar, mas sentia que aqueles itens tinham alguma conexão para mim. Ali havia uma pulseira com contas coloridas, um cartão postal de Los Angeles e um papel, com várias marcas.

Primeiramente li o cartão postal, que dizia: “Los Angeles nunca mais será a mesma sem você aqui. A foto vai de presente, não como recordação, mas para lembrar o lugar que você pertence. – Esme, Alice e Emmett.”. Aquilo me confundiu ainda mais. Abri o papel, encontrando uma caligrafia bonita, até. Comecei a ler então:

“Aqui jaz Bella.

Sem sorrisos. Sem sonhos. Sem eu.
Enquanto não posso fazer nada para melhorar, guardo aqui minhas melhores expectativas para o futuro; um lugar distante daqui, onde eu possa ser feliz em vez de usada.
Toda vez que minha esperança esvair, lerei novamente esse bilhete, e jamais me esquecerei daqueles que estiveram comigo.”

Ao fim, havia um número de telefone, que eu já podia imaginar de quem era.

Minha mãe estava mentindo para mim. Eu não sei o quanto, nem o por quê, mas era fato que ela me enganava. Mas agora eu via uma luz no fim do túnel. Talvez alguém pudesse me falar a verdade. Alguém que chegara me reprimindo no hospital, porque talvez, sabe-se lá como, eu tivesse culpa pela tragédia citada por minha mãe (se é que era verdade!). Decidi então tomar uma atitude drástica; iria pedir para minha mãe o número de Esme. Já sabia que ela iria ficar bem descontente, mas precisava agir, e agora.

Contudo, ao chegar na sala, vi que não precisaria fazer nada, uma vez que Esme, acompanhada provavelmente de seus filhos, Alice e Emmett, estavam ali, encarando mortalmente Renée.


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Notas finais do capítulo

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