O Fantasma da Ópera escrita por N_blackie
Capítulo V
- Não está triste mesmo? – Lily interrogou Marlene pela última vez enquanto se alongavam para o número de balé da peça que estava sendo encenada, e a morena riu vagamente.
- Quantas vezes preciso dizer que não?
- Aliás. – Lily aproveitou que tinha a atenção da amiga voltada para ela, já que desde que voltara ela nem sabia de onde Marlene estivera aérea, perdida em pensamentos. – O que aconteceu enquanto você estava fora?
- O que o bilhete dizia? – Marlene sorriu e rodopiou com as outras, ajeitando o adereço que deveria usar nos cabelos.
- Que você estava sob a asa do anjo da música. Não me faça de boba, esse anjo não existe. Mas que eu saiba, eles disseram "o" anjo. Era um homem. Quem é ele?
- Você faz tantas perguntas que nem consigo ouvir meus próprios pensamentos. – Marlene riu alto, mas logo parou quando um alvoroço começou próximo às cortinas. Emmeline apareceu, estalando os dedos.
- Onde está meu perfuminho? – ordenou, e Marlene revirou os olhos. Dentre os vários pedidos de Emmeline havia o "perfume" que ela dizia, um produto que melhorava sua voz para os trechos longos, segundo ela.
Apesar disso, não foi o que aconteceu quando a loura borrifou o líquido em sua garganta. Surpresas, Marlene e as outras bailarinas observaram enquanto Emmeline ofegava e tentava, em vão, limpar a garganta, cada vez mais fechada. Desesperada, a loura tossia sem parar, mas quando tentava testar a voz, nada acontecia.
- Mas o que está acontecendo? – Monsieur Fudge entrou rapidamente, para encontrar Emmeline em estado de pânico, segurando a própria garganta como se não a sentisse ali. – O público está esperando!
- Não consegue cantar, Monsieur! – exclamou uma camareira próxima, tentando acudir Emmeline com um copo d'água.
- Oh, Deus. Mandem-na para o hospital. – mandou Monsieur Crouch ansiosamente. Enquanto Emmeline se retirava, as lágrimas borrando toda a maquiagem, os dois administradores se tornaram para Marlene, que sentia pena da soprano.
- Você! Vá se vestir, vai assumir no lugar dela.
Em vinte minutos, completamente surpresa, Marlene estava ali, recitando as falas de Emmeline em frente à fervorosa plateia da ópera. Quando terminou, quis ir até os trocadores do balé, mas uma figura bloqueou seu caminho, guiando-a pelos pulsos até um canto próximo ao palco. Indignada, Marlene viu o estranho retirar a cartola, mostrando-se Conde Lestrange.
- Monsieur, me desculpe, mas eu preciso me trocar. – disse em tom sério, mas o homem apenas sorriu.
- Posso perguntar uma coisa à Senhorita?
Diante do silêncio da moça, o Conde colocou um dos cachos negros da morena atrás de sua orelha, tocando seus brincos de bijuteria.
- Nunca quis algo mais do que aqui? Ter uma casa grande no campo, uma cama macia em que dormir?
- Não sei como isso pode ser relevante para...
- Nunca? Minha querida, sabe muito bem que quer. Quer um marido bom, que lhe dê joias e luxo.
- Monsieur, eu...
- Case-se comigo. – ofereceu o Conde. – Te darei tudo o que quiser.
- Não, obrigada. – recusou Marlene, receosa. De fato queria uma vida melhor, mas nunca a custo de viver com ele. Seus pensamentos se voltaram para seu fantasma, que a colocara numa cama macia, lhe dera joias (o colar que usava era presente dele) e sem dúvida lhe faria feliz o suficiente... Não fosse o fato que ele não tirava a máscara e morava nos porões da ópera.
- Seja razoável, querida. – Conde Lestrange se aproximou, e Marlene se sentiu forçada e recuar um pouco, até suas costas encostarem-se à armação de madeira. Lestrange respirava em arfadas. – Você é uma atriz. Uma atriz pobre. Que futuro vai ter ficando aqui?
- Assim o senhor me ofende.
- Estou sendo sincero. Agarre a oportunidade de casar-se comigo, menina. É a única que vai ter e certamente a melhor.
- Não, obrigada. – repetiu com ainda mais convicção.
- Uma pena. – o homem sorriu. – Você chamou a atenção do homem errado, querida. Eu sempre consigo tudo que quero. E eu quero você.
Dito isso, voltou-se com violência na direção oposta e a deixou assustada e acuada. Escorregou até o chão, e a vontade de chorar acometeu-lhe o coração até que quase não aguentava mais. Como mágica, a voz de seu fantasma subiu aos seus ouvidos, tão sedutora como sempre fora, mas carregada de revolta:
- Faça-se surda. Venha comigo.
Marlene sentiu suas mãos serem capturadas pelas luvas de seu fantasma, e logo estava sendo tragada novamente para o mundo de escuridão em que ele vivia, e que a fazia feliz. Chegaram à ilhota, e enquanto chorava no sofá de seus aposentos, uma xícara de chá lhe foi estendida.
- Tome, vai se sentir melhor.
- Ele tem razão. – lamentou-se assustada. – Sou uma atriz pobre, quem iria acreditar se ele me fizesse alguma coisa?
- Se ele algum dia se aproximar de você terá de me enfrentar. – disse o fantasma enquanto tirava o longo casaco e a cartola. Quando a moça deitou a caneca com chá na mesa de centro, sentiu os braços fortes do fantasma circularem seus ombros, e sentiu-se segura como nunca.
- Preciso fugir daqui.
- Fugiria comigo? – refletiu o homem, e Marlene engoliu em seco. Em seu íntimo sabia que fugiria a qualquer momento com ele. Mas havia a última dúvida.
- Se tirasse sua máscara.
O silêncio foi a resposta que obteve.
Enquanto isso, Lily chorava compulsivamente, escondida entre as barras da sala de balé. Não aguentava aquela angústia de perder membros do elenco a todo momento, e já começava a se sentir paranoica, vendo sombras e pessoas que não existiam a persegui-la. Queria voltar para a Irlanda, sua terra a chamava de volta.
- Lily? – a voz familiar a chamou, e a garota tentou se recompor antes de James ajoelhar à sua frente. – Oh, Dieu. Olhe para mim. O que foi?
- Eu quero ir embora daqui. – choramingou a ruiva. – Já tenho dinheiro suficiente, só quero ir embora. Não quero enlouquecer como Marlene fez.
- Marlene não está louca, está obsecada pelo fantasma... – ponderou James, mas Lily negou com a cabeça.
- Ela sumiu de novo! Eu quero fugir, James!
- Sh, calma. Vai ficar tudo bem...
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