Enquanto nós andávamos, eu percebi que eu ainda tinha aquele pirulito no meu bolso, que eu havia recebido daquele possível médico quando eu fui acertado por aquele raio pela primeira vez. Mas para meu azar ele já estava todo destruído. Eu me lamentei com um suspiro.

-Se você quiser eu posso arranjar outro desse para você. –Disse ela, parecendo estar mesmo disposta a me constranger.

-Não, não precisa. Obrigado.

Depois de andar por algum tempo, e esbarrar em algumas pessoas, nós finalmente chegamos a uma sala. Essa era mais normal, não era transparente.

-É aqui que nós nos despedimos, Jake. –Disse ela num amistoso sorriso de despedida, enquanto abria a porta. –Espero te ver outra vez!

A última coisa que eu iria querer era vê-la novamente. Mas eu não disse isso.

-Huh... Também. –Soltei olhando para o lado oposto.

Quando eu passei por ela enquanto entrava, eu percebi que eu tinha interrompido uma conversa.

-Parece que você finalmente resolveu acordar não é mesmo? –Disse Selene num sorriso.

A sala parecia normal. Era grande suficiente para caber as três mesas redondas que estavam ali. Havia papéis presos em murais, mapas, imagens de figuras microscópicas, estantes com livros, um globo e todo tipo de coisa estranha.

Rachel e Phoenix estavam sentados em uma das mesas, Selene em outra e Dustin em pé com os braços cruzados apoiado na parede.

-Então eu já vou indo. –Disse a mulher com um sorriso e logo em seguida piscando para mim. Eu ainda não entendi qual era o problema daquela mulher comigo. Eu nunca havia corado tantas vezes em um dia só.

-Tudo bem Karyna. Obrigado. –Agradeceu Phoenix parecendo estar abafando o riso.

Eu estava prestes a dizer alguma coisa quando eu finalmente recobrei a consciência e percebi o que havia acontecido.

-Connor... –Foi a única coisa que eu pude dizer, mas todos da sala pareceram ficar desconfortáveis, porém calados por alguns segundos.

-Aconteceu uma tragédia. –Disse Rachel quebrando o silencio. –Uma tragédia horrível Jake.

-É melhor você se sentar Jake. –Falou Selene.

-Nós temos algumas coisas para conversar. –Continuou Phoenix.

-Como vocês sabiam que nós estávamos em perigo? –Perguntei enquanto me sentava. –Digo, vocês sabiam não é mesmo? Para terem disparado aquele raio.

-Nós conseguimos nesse meio tempo aperfeiçoar nosso Teleportador. –Explicou Phoenix. –O suficiente para funcionar tanto com o corpo quanto com as roupas.

Isso de certa forma é uma boa noticia. Eu pensei enquanto olhava para minhas roupas brancas que estavam mais surradas que nunca.

-Mas como vocês sabiam que nós estávamos em perigo?

-Nós ficamos vigiando vocês. Dustin insistiu que só ele e a Selene eram o suficiente, embora eu discordasse. Então só para garantir nós ativamos um satélite de longa visão para monitorar vocês durante essa missão, já que eu temia acontecer algo de errado. E pelo visto eu estava certo.

-Connor fez mais do que apenas capturar o jovem Pa... Super-humano. –Explicou Dustin direcionando seu olhar para Phoenix. Eu não sabia o porquê dele não dizer “Paladino”.

-E o que você quer dizer com “Ele fez mais do que capturar o super-humano”? –Perguntei. Já que Dustin não disse Paladino, eu também iria me arriscar a dizer.

-Aquele garoto era forte demais. –Explicou Selene. –E ele não consegue controlar sua própria força ainda.

-E graças a isso um desastre aconteceu. –Disse Rachel olhando para o chão.

Um silêncio se formou. Eu fiquei apenas esperando eles explicarem o que havia acontecido, e quem tomou essa iniciativa foi Phoenix.

-Parece que quando ele lançou vocês para cima com aquele poder, ele também causou um tremor. A força que ele usou contra vocês, parece ter sido manda com quase dez vezes mais força, para a direção oposta.

-E isso significa que...

-Ele causou um sismo de magnitude de 8,9 MW. –Explicou Dustin. –Eu não sei se você entende o que significa isso. Mas apenas pense que ele causou um terremoto tão forte, que os danos chegaram a serem maiores do que a explosão da bomba de Hiroshima.

-Como ele pode ter causado algo tão grande assim?! –Exclamei surpreso, mas ninguém me respondeu.

- O terremoto provocou um alerta de tsunami e evacuações da costa japonesa do Pacífico e de pelo menos outros 20 países, incluindo toda a costa do Pacífico, tanto da América do Norte como da América do Sul, desde o Alasca até ao Chile. –Disse Phoenix. –Você tem noção do que é isso?

-Sinceramente... Não. –Soltei. –Eu nunca poderia imaginar que aquele garotinho chorão fosse tão forte assim.

Eu me lembrei de quando eu tinha entrado no armazém onde estavam o Connor e ele. Quando ele gritou, todo o local havia tremido. Mas eu não imaginava que ele fosse causar um estrago tããão grande assim.

-Outro dos efeitos do sismo foi a explosão ocorrida no dia 12 de março na Central Nuclear de Fukushima I, que era aonde nós estávamos. –Continuou Dustin. - O tsunami atingiu-a e provocou uma avaria no sistema de refrigeração. O corte de eletricidade impediu a recuperação desse sistema, permitindo que os bastões do combustível continuassem a aquecer, aumentando a pressão e originando a explosão.

-Opa opa, você disse dia 12? –Perguntei. –Por quanto tempo eu fiquei apagado?

-Cinco dias. –Respondeu Selene coçando a cabeça com um ar de preocupação.

-O tremor principal teve o epicentro a 130 quilômetros de Sendal, na ilha de Honshu, e com profundidade de 24,4 quilômetros. –Disse Dustin. –O local exato onde eles estavam.

-Eu não sei como ele pode ter uma força tão grande, mas o que realmente me preocupa é o fato dele estar do lado do Connor. –Disse Phoenix pensativo com os cotovelos na mesa e os dedos entrelaçados.

-E para onde ele foi? Nós não podemos simplesmente ir atrás dele? Como Dustin fez quando nós estávamos dentro da nave.

-Aquilo foi diferente. –Explicou Dustin. –Nós chegamos perto o suficiente para coletar uma pequena porção da energia dele. Aconteceu quando você estava amarrado e eu consegui chutar ele. Eu não queria derrota-lo, apenas encostar nele. Sua energia foi forte o suficiente para penetrar dentro do meu gelo.

-E quando Dustin desfez a cúpula eu peguei um pouco do gelo dele, ates que pudesse se desfazer. –Disse Selene. –Mas quando nós entramos na nave, a energia que estava dentro do gelo já estava escassa. Eu não sabia se conseguiria rastreá-lo com aquilo. Foi quando eu sem querer disparei aqueles mísseis. E me desconcentrei quanto a direção da nave, mas depois que eu consegui eu pude retomar o controle.

-Ah, então foi por isso. –Refleti. –E por que vocês não vão lá no armazém pegar mais?

-Você tem noção do que você disse? –Perguntou Phoenix desentrelaçando os dedos. –Tem radiação de alto nível naquele local agora. E com a explosão da usina todas as provas e evidências a respeito de Connor sumiram, junto de qualquer vestígio de sua energia. Parece até que ele calculou tudo aquilo.

-Um tremor de 8,9 MW. –Refletiu Dustin.

- Tsunamis com ondas de até 10 metros. –Acrescentou Rachel.

-Trezentos e trinta e oito mortos, novecentos e quarenta e sete feridos e setecentos e sete desaparecidos até agora. –Continuou Selene.

-Ficar assim não vai adiantar de nada. –Disse Phoenix. –Como você percebeu Jake, as coisas estão realmente ruins. Então eu acho que já está na hora de lhe apresentar seu time, e mandar vocês para a Ilha com a Katherine.

-Que ilha? E quem Khaterine? –Perguntei erguendo as sobrancelhas.

-A ilha onde nós vamos ter que treinar. –Disse Selene não parecendo nem um pouco contente com a ideia de ir treinar comigo. –Vou ser forçada a ficar com aquela garota irritante.

-Eu também irei certo? –Rachel se pôs de pé e olhou a sua volta, esperando uma resposta.

-Mas é claro. –Assentiu Phoenix.

Eu fiquei calado esperando alguém protestar, mas ninguém o fez, então tive que fazer isso eu mesmo.

-Esperem ai! Por que ela vai conosco? Ela é só uma garota qualquer! Eu não sei nem o porquê dela ter ido para aquela missão!

Talvez dizer aquilo na frente dela não tenha sido a coisa mais certa a se fazer. Mas ela já devia estar acostumada.

Os olhos de Phoenix cintilaram. Quase como um aviso para não interferir em suas decisões.

-Eu tenho meus motivos Jake. Mas agora, vocês devem descansar. E é claro, comer. Hoje mesmo eu já apresento você aos outros.

Eu olhei para Rachel com as sobrancelhas franzidas, mas logo em seguida em revirei os olhos e assenti.

-Que seja. –Suspirei.

-Até quando vocês vão ficar aqui choramingando? –Disse uma voz entrando na sala.

-Ah Khaterine. Que bom que você chegou! –Disse Phoenix se levantando.

Selene grunhiu.

-É, ótimo. Maravilhoso!

Khaterine era realmente bonita. Parecia ter uns vinte anos mais era pouco maior que eu. Usava uma boina marrom por cima de seus longos cabelos castanho, e vestia um vestido preto com mangas compridas, de babado, bolsas e barra da manga marrom, cinturado com um cinto da mesma cor. E em seu pescoço, havia um cachecol marfim. Seu rosto era tão lindo que me fez prender a respiração, mas sua expressão era implacável e perigosa. Eu poderia até mesmo me apaixonar por ela daquele jeito.

-Então esse é o Only One idiota que fracassou a missão?

É, talvez não.

-Poupe ele Khaterine. –Disse Phoenix sem disfarçar seu sorriso. –Foi a primeira missão dele, e ele teve um encontro direto com Connor.

-Mas você lembra o que eu fiz na minha primeira missão certo? –Perguntou ela.

-Ah, claro. –Disse ele pensativo. –Como se eu fosse esquecer o que você fez com aqueles pobres T-mutantes. Deu um belo de um trabalho recolher aquelas centenas de corpos.

Centenas de corpos. Uma super-humana comum derrotou centenas de T sei lá o que, e eu um Only One que pode derrotar um exercito não aguentou com um simples cara grandalhão. Tive que recorrer aos fantasmas.

-O que são esses “T-mutantes”? –Perguntei.

-Nós não temos tempo pra explicações. –Disse Phoenix fechando a cara novamente quando se virou para mim. Ele gostava da tal garota mas não de mim. –Agora que você estará com Khaterine ela poderá te explicar tudo o que você quiser.

-Eu posso? –Perguntou ela com uma sobrancelha arqueada.

-Sim, você pode. –Retrucou Phoenix mexendo a cabeça indiscretamente apontando para mim.

-Ta, ta. Eu posso. Mas então. Quem vai querer uns chesseburguers com refrigerantes? –Perguntou ela com um sorriso.

E assim nós finalmente saímos da sala para comer e nos endireitar depois de tanto tempo. Mas o que eu não sabia era que as coisas estavam prestes a ficar interessante.