Seven Days a Week escrita por Jojo Almeida


Capítulo 9
Monday Hero


Notas iniciais do capítulo

Hey there!
Como vai a vida?
Hahaha.
Eu de novo, com mais um capitulo.
Pois é... Pobre de vocês leitores que têm de me aturar.
Falando em leitores... 31 leitores, gente? Owwt!



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                Jessie encolheu os ombros ao passarem por um filho de Hefesto que produzia uma quantidade absurda de faíscas.

                - Isso não é perigoso? – ela perguntou afastando o cabelo loiro dos olhos com um pequeno gesto que chegou a passar quase despercebido.

                - Claro que não, bobinha. – Katie respondeu com um sorriso gentil para a irmãzinha, ao se afastarem um pouco mais. – Vamos. David deve estar lá no fundo.

                Elas continuaram andando. Passaram por duas garotas debruçadas sobre uma mesa recoberta de projetos, um garoto de cabelos castanhos que gritou de uma forma contida quando uma grade rajada de fogo queimou parte de sua camiseta e um outro, de no máximo 8 anos, que testava o balanço de uma espada grande demais para ele.

                Katie não gostava muito das forjas. Ela se sentia abafada e contida ali dentro, espremida pelas paredes resistentes. Sem falar do calor. As forjas pareciam, num sentido geral, um grande forno de carvão que foi ligado há muito tempo e esquecido desse jeito. Não, não. Katie preferia a liberdade de estar ao a livre, com o vento em seu rosto e a terra sobre os pés.

                Se bem que, agora que parava para pensar sobre isso, o ar livre, o vento em seu rosto e a terra sobre os pés não foram lá tão bons assim naquela tarde. Rob fez com que ela andasse por horas. Duas vezes mais do que o normal. E, acredite, andar não era o problema. Fazer as plantas crescerem era.  Às vezes acontecia sem que ela sequer pensasse sobre isso, mas mesmo assim ainda requeria um bocado de sua energia. Isso somada ao fator andar durante horas no sol acabou se mostrando mais cansativo do que ela poderia imaginar.

                - Kay! – David exclamou assim que elas o alcançaram. Ele limpou as mãos sujas de fuligem em um pano ainda mais sujo de fuligem que pareceu só piorar a situação. Algumas pontas de seu cabelo brilhavam incandescestes, levemente queimadas. Katie se perguntou se ele haveria percebido, mas resolveu não falar nada.   – E Jessie, imagino.

                - Hu-hun. – Jessie murmurou distraída, mas preocupada com a pesada peça de bronze celestial que fora içada por cima de suas cabeças antes de se dirigir à grande pilha que era o deposito, a esquerda de onde estavam.

                - Vocês chegaram na hora certa. – o filho de Hefesto disse com um sorriso satisfeito, se dirigindo a uma bancada atrás de si e prendendo o pano no bolso de trás da calça. – Eu terminei há algum tempo. Estava deixando esfriar.

                - Uau...- Katie murmurou quando viu o arco, ouvindo Jessie prender o fôlego ao seu lado. – David, é incrível!

                E era. O arco ela feito, aparentemente, de bronze celestial cru. Nos cantos, detalhes em revelo de flores se entrelaçavam até alcançar quase o local que a mão da arqueira deveria ficar, em um tom levemente mais claro. Tinha uma pequena gravação no centro, que Katie logo identificou como um delicado ramo de trigo. Um dos símbolos de sua mãe. Sem falar de que a arma parecia extremamente leve e pequena, mas de um tamanho que seria adequado para Jessie.

                - Não é nada de mais. – David respondeu dando de ombros, como se realmente não fosse nada demais.

                - Claro que é. –Katie disse revirando os olhos para ele. – Você acha que o tamanho vai dar?

                - Suspeito que sim. – ele respondeu dando de ombros e virando o arco nas mãos de forma pensativa – Pedi a Petey para que segurasse como teste. Ele tem a mesma idade que Jessie, então deve dar sim.

                Katie se lembrou do garoto que virava com a espada grande de mais e se pegou pensando em como ele ficaria segurando aquele arco. Pelo menos esse não seria tão grande para ele. David deu um passo a frente e passou o arco para as mãos de Jessie, instruindo como deveria segura-lo para que o balanço fosse melhor e ele se adequasse a sua mão.

                - Perfeito. – Kay disse olhando para o resultado. O arco parecia aderir os dedos de Jessie, como se sempre estivera ali. A garotinha olhava para ele inteiramente maravilhada, mas com um sorriso totalmente animado.

                - Não. – David negou crítico, virando a cabeça em um ângulo engraçado. – Está pendendo um pouco para a esquerda, não acha?

                - Na verdade... Não. – ela disse tentando virar a cabeça para olhar no mesmo ângulo que ele, mas sem sucesso. Jessie virou o objeto nas mãos, distraída. – Mas eu não sei nada sobre isso. Você é quem manda aqui.

                - É tão leve... – a loirinha murmurou satisfeita, e então se virou para Katie. – Olha Kay. É muito leve!

                - É mesmo. – Katie concordou contendo o riso quando ela enfiou o arco em suas mãos e fez com que ela sentisse seu peso balançando-o delicadamente.

                - Com licença. – David disse rindo m pouco das duas irmãs, ao pegar o arco das mãos da mais velha delicadamente. O que, de fato, parecia meio difícil quando se leva em consideração que ele tinha aquelas mãos enormes típicas dos filhos de Hefesto. Delicadeza não era uma palavra atribuída a elas com frequência, se é que você entende. – Eu concerto isso em um minuto.

                O filho de Hefesto se virou, calçando luvas de couro grosso e começando a mexer os dedos pelo arco com enorme facilidade ao coloca-lo entre as chamas. Katie começou a se sentir tonta, quase como quando Juliet começava a falar muito rápido. Ela desviou os olhos do que ele fazia, observando o que  acontecia a sua volta. O garoto da camiseta em chamas acabara de tirar um objeto incandescente das chamas, analisando-o nas mãos também enluvadas.

                Katie percebeu, levemente surpresa, que era uma arma. Uma pistola, aparentemente simples, feita inteiramente de bronze celestial.  Ela sabia que o chalé de Hefesto tinha tanto mistérios quanto o de Hermes, mas nunca havia se passado por sua cabeça que eles faziam experiências daquele tipo. Certo, não era tanta surpresa assim. Ele observou enquanto ele jogava a arma de fogo de uma mão para a outra m um gesto descontraído para testar o peso.  Também viu quando, por puro acidente, a pistola escorregava por entre os seus dedos e o gatilho era acionado.

                Bum.

                O tiro ricocheteou no chão, voando em direção ao teto e batendo em uma viga de aço. O garoto arregalou as olhos surpreso, mas aliviado ao ver que não acertara ninguém. Colocou arma na mesa, tremendo um pouco, e tirou as luvas antes de passar as mãos pelo rosto.

                - Ahhh! – Jessie gritou assustada. Antes de ele arregalar os olhos, antes dele se sentir aliviado. Bem antes de ele tirar as luvas. De fato, ela gritara assim que ouvira o tiro, confirmando que estava olhando na mesma direção que a irmã mais velha.

                Katie deu um passo na direção dela, mas a loirinha recuou com os grandes e brilhantes olhos verdes carregados de terror. Ela deu um passo em falso e caiu no chão, ao mesmo tempo em que David se virava para ver o que acontecera. A garotinha se levantou em um pulo, tão rápido quanto havia caído, correndo em direção a porta o mais rápido que seu corpo poderia permitir.

                - JESSIE! – Kay teve tempo de gritar antes de a loirinha desaparecer pela porta das forjas, em uma direção indeterminada.

                - Eight days a week... – Travis catarrolou em uma espécie de murmuro, distraidamente. Havia acabado de sair de seu chalé e andava em direção da arena, rodando a espada entre os dedos. Não coseguiu conter uma careta ao passar pelo chalé número dez, ouvindo um choro baixo vindo de lá.

                No fim das contas, Katie estava meio certa. Ele encontrou Louise depois de já ter andado praticamente o acampamento inteiro. A garota estava assistindo a um jogo de vôlei, praticamente babando em cima dos jogadores do chalé de Apolo.

                Ela olhou para ele irritadiça quando entregara a carta, como se não passasse de um incômodo. Pena que mudou de ideia tão rápida. A carta, Travis conseguiu descobrir pelas falas que ela emitia por entre os soluços, era de seu namorado. Ex-namorado, melhor dizendo. Travis achou um motivo estranho para chorar, uma vez que as filhas de Afrodite tem aquela mania de se aproveitar dos caras e depois joga-los fora por pura diversão, mas acabou decidindo que era melhor nem perguntar.  Algumas amigas vieram ao seu encontro para consola-la e xingar em alto em bom som o ex, quando Travis resolveu sair dali.

                Certo, era importante. Era uma noticia terrível, pelo visto. Para ela. Pode soar mesquinho e teimoso, mas ele parara de ligar para os dramas do chalé de Afrodite há muito tempo. E, realmente, não se importava muito para o término deles. Talvez ela estivesse melhor agora, se ele não tivesse entregado a carta. Talvez não. É possível que amanhã mesmo Louise já estivesse aos beijos com um dos filhos de Apolo. E com filhos de Apolo, Travis apostaria em Jake.

                Pegou a se mesmo imaginando como seria se terminasse com Katie, mas... Não, não valia a pena pensar sobre isso. Estivera muito próximo dessa linha nas ultimas semanas, só essa ideia o assombrando. O que faria sem ela? Não sabia. Ia acabar num estado dez vezes pior do que o de Louise, com o acréscimo de uma garrafa de álcool para ajudar a esquecer. Claro que falharia. Nunca conseguiria esquecê-la, ela estaria sempre lá, sorrindo para ele e perguntando se estava louco.  Iria morrer antes de esquecê-la, era um fato.  E não estava exagerando ao-

                - Ah! – Um grito agudo fez com que Travis saísse de seus devaneios. Um milésimo de segundo antes de um pequeno furaçãozinho loiro conseguir dar um jeito de tropeçar em seu pé esquerdo e cair no chão. Travis olhou para os lados confuso, constando que estava em algum ponto entre a arena e o bosque, e que o furacãozinho loiro era, na verdade, Jessie. A irmãzinha de Katie.

                Em seguida, consegui notar duas coisas. A primeira foi que devia estar realmente distraído para dar aquela volta desnecessária, que quase dobrava o tamanho do caminho. E segunda foi que Jessie havia amortecido a queda com as mãos, agora sujas de terra e sangue, se sentando de uma forma meio engraçada sobre as pernas e se encolhendo ao olhar para ele.

                - Hey. Calminha aí. – Travis disse tentando se aproximar dela. A garotinha recuou, arregalando os olhos para ele e parecendo assusta. – Jessie, certo?

                Ela se encolheu ainda mais, olhando para os lados. Travis percebeu que ainda segurava a espada e, finalmente entendendo, jogou a arma para longe.

                - Eu não vou te machucar. – disse ao mesmo tempo em que o som do aço batendo no chão ricocheteou os dois. – Está tudo bem.

                Jessie ainda continuou em silencio, mas pareceu menos amedrontada dessa vez. Ele a encarou de uma forma enigmática, antes de se jogar no chão ao seu lado. A loirinha soluçou, fazendo com que ele percebesse que estava chorando o tempo todo.

                - Hey, hey. Está tudo bem. – Travis disse desconfortável, sem saber como reagir a uma garotinha de sete anos que estava chorando e com medo dele.  – Eu não vou te machucar. Ninguém vai te machucar. Sou só eu, o Travis. O amigo da Kay. Não vou te machucar. Não vou deixar ninguém te machucar.

                Ela soluçou, mas não respondeu.

                - O que aconteceu? – Ele perguntou, já sabendo que não teria resposta. Não teve. -  Pode me contar. Sou bom em guardar segredos.

                O silêncio pairou sobre os dois durante um tempo. Travis passou  o braço pelos ombros de Jessie, que ainda soluçava, aproximando-a de si e deixando a garotinha molhar sua camiseta com lagrimas. Não sabia o que fazer. Como poderia? Nunca fora bom com pessoas chorando. Este era Connor. Connor sim saberia o que fazer. Ele faria Jessie sorrir antes mesmo de Travis conseguir se pronunciar.

                - Eu te assustei? – Voltou a falar depois de um tempo.

                Para sua surpresa, Jessie balançou a cabeça negativamente, apertando os olhos e fazendo com que mais lagrimas rolassem por sua bochecha.

                - Alguém te assustou?

                Um aceno positivo bem vigoroso dessa vez. E mais lagrimas

                - Certo. Estamos chegando a algum lugar, afinal. – Travis disse com voz calma, sorrindo vitorioso. – Quem te assustou?  Eu posso bater nele. Se você quiser.

                A filha de Demeter riu baixinho, mas não respondeu. O sorriso vitorioso dele se alargou ainda mais. Aquele riso podia ser ainda melhor do que uma resposta. Quando uma garota está chorando, qualquer garota, cada lagrima que deixava de ser derramada era uma vitória.

                - Você quer conversar sobre isso? – perguntou. Jessie balançou a cabeça positivamente, apertando os olhos com ainda mais força antes de abri-los. Ah, lá estavam. As grandes, inocentes e brilhantes órbitas verde-planta.  Ainda mais brilhantes pelas lagrimas e ainda mais inocentes pelo jeito choroso.

                - Ka... Kat...Katie. – Ela balbuciou, tendo o corpo violentamente sacudido por um soluço inesperado que a fez para se falar. – A a... A ar... A arma...

                - Kay te assustou? – Travis repetiu confuso, notando que devia haver algum furo naquela história. A Gardner que ele conhecia não era do tipo que assusta suas irmãzinhas de sete anos com armas. Ao menos não de propósito.

                - Nã...Não. – Jessie respondeu arregalando os olhos como se a insinuação foi um crime, mas sem deixar de chorar. – A... A...

                -Jessie – Travis a interrompeu. – Você realmente quer falar sobre isso? Não precisa se não quiser. Não vou te forçar.

                A garotinha olhou para ele confusa, sem responder.

                - Podemos conversar sobre qualquer outra coisa. – O garoto insistiu. – Onde você mora, por exemplo? Eu e meu irmão somos de Washington.

                - Phoenix. Arizona. – Jessie respondeu parecendo aliviada pela troca de assunto. Travis sorriu.

                - Sente falta de seu pai? – Perguntou.

                - Não me lembro dele muito bem. – ela respondeu em um tom de voz incrivelmente baixo. – Papai morreu quando tinha quatro anos.

                Seu corpo se sacudiu por um soluço, que ela não pareceu notar. Travis se amaldiçoou, de novo e de novo, por ser tão incrivelmente idiota. Porque?, se perguntava. Os deuses devem realmente me odiar.

                - Estávamos voltando do teatro. – Jessie continuou. – Tínhamos assistido a aquela peça com nome engraçado e plantas grandes. Papai disse que fazia com que ele se lembrasse da mamãe.

                A loirinha já estava chorando de novo. Travis a abraçou, sem saber o que mais poderia fazer e sem se atrever a interrompê-la.

                - Quando estávamos perto de casa, um moço estranho apareceu. – soluçou. –  Ele disse alguma coisa numa língua estranha. Papai olhou para mim antes de responder. De.. Depois o moço pegou uma arma pequena e esquisita. E... E a-a... E aí a-atirou.  Papai caiu no chão, todo sujo de algo vermelho e gosmento. Eu achei que ele ia levantar. Ma-mas não levantou. Ele fi-fic-ficou lá de-deit-deitado e sem se me-mexer.

                Travis apertou  a garotinha contra o peito desejando, acima de tudo, que pudesse roubar um pouco de sua dor para ele. Desejando poder roubar suas lagrimas e impedir que ela chorasse novamente. Ah, como desejava.

                - A-aí, eu gri-gritei. G-gritei bem alto. E-e o mo-moço mal fu-fugiu. – mais lagrimas. – A-a Se-senhora Marrion sa-saiu de casa para a-ajudar o Papai. E-ela di-disse que-que era médica. De-depois di-disse que Papai na-não estava bem. Disse que a ge-gente tinha que ir até o hos-hospital.

                Era impossível não se sentir mal. De fato, todos os meios-sangues tinham problemas e uma vida conturbada. Mas isso? Bom, isso não era o típico de sempre, digamos assim.

                - N-no hospital o-o moço de bra-branco di-disse que ia cui-cuidar do Papai e le-levou ele. Depois u-uma moça de ro-rosa f-fez um bo-bocado de p-perguntas. – Jessie disse gaguejando ainda mais do que antes. – Ma-mas e-eu nã-não sa-sabia resp-ponder. Aí a Se-senhora Marrion re-respondeu para mim. E... E qua-quando e-ela a-acabou de f-falar, o mo-moço de branco voltou e pediu para falar co-com ela. De-depois e-ela cho-chorou e disse q-que... Que o Papai tinha morrido.

                Travis a apertou ainda mais contra si. Deuses. Era cruel deixar com que uma garotinha sofresse tanto. Ela tinha só 4 anos.

                - E-ela di-disse que a-alguém teria que fi-ficar comigo. Ma-mas a Tia Ju-judith na-não quis. – Continuou. – Nem a T-tia Mary.O-ou o T-tio Ben. E-eles di-disseram que e-eu era u-um problema. Di-disseram q-que na-não me queriam p-por perto. E-então... E-então... Então m-me ma-mandaram para o or... Orfa... O-orfanato.

                - Não é culpa sua – Travis sussurrou passando os dedos pelos cachinhos loiros e tentando acalma-la.

                - Eu se-sei. – Jessie balbuciou, abaixando ainda mais o tom de voz. – Eu só sinto a falta dele.

                - Agora você tem a Kay. Você tem a Juliet, a Rob, a Chad, a Mark e a Jonatah.  Aquela garota filha de Nike...  Aghata. Você tem a mim, e a Connor. – Travis disse tentando se lembrar de todos que ela poderia gostar. – Estamos no Acampamento Meio-Sangue. Aqui somos uma família. Cuidamos uns dos outros.

                A loirinha sorriu, mas não respondeu. Com um tempo, parou de chorar vagarosamente. Travis aproveitou para olhar para os lados um pouco. O sol já havia caído por entre as arvores, e agora estava quase completamente escuro. A espada dele estava a alguns metros dos dois, jogada na grama fofa por entre dois troncos de árvore.

                - Kay... Kay deve estar me procurando. – A garotinha disse passando as mãos pelos olhos para afastar as ultimas lagrimas e parecendo arrependida.

                - Eu te levo. – Travis a impediu de levantar, agachando a sua frente. – Me deixe eu ver sua mão antes. Não sou nenhum filho de Apolo, mas posso ser melhor do que nada.

                Jessie esticou as mãozinhas para frente, com as palmas viradas para cima. A esquerda estava ralada e vermelha, sagrando em alguns pontos, mas nem se comparava com a direita. Essa estava com um rasgo transversal  que começava abaixo do dedão e se estendia por toda a palma que sagrava sem dó. Travis olhou para elas durante um segundo, antes de começar a busca em seus bolsos.

                Acabou por finalmente achar o pequeno vidrinho cilíndrico que continha néctar dentro. Ele o carregava para todo o lado, desde que fora atacado por um cão-infernal em Washington e teria sangrado até a morte se não fosse por seu irmão. Era uma questão de segurança. Ele derramou um pouco do liquido nas mãos dela depois de retirar alguns pedaços de gramas que haviam se grudado lá com o impacto. Deu um jeito de rasgar uma tira de sua camiseta branca, usando-a para enfaixar as duas mãos de forma com que ela parecesse estar com luvas sem dedos em cada mão.

                - Pronto. – anunciou quando deu seu trabalho por feito. De fato, estava meio mal feito, mas era melhor do que nada. Ajudou Jessie a se levantar e em seguida ficou em sua frente fazendo um gesto para que ela subisse em suas costas. A garotinha olhou para ele levemente confusa, mas aceitou sem reclamar.

                Travis se ajustou para que Jessie cruzasse as mãos por seu pescoço e, então, começou a andar em direção à ala dos chalés.

                - JESSIE! – Katie chamou em uma voz desesperada, contendo um soluço.

                - Nós vamos acha-la, Kay. – Percy tentou tranquilizá-la, parando ao seu lado e pousando a mão em seu ombro de uma forma protetora.

                - A baixinha não pode ter ido muito longe. – Connor concordou.

                Katie fungou, trocando a grande lanterna que carregava de mão, meio desconfortável. Ela conseguira, de alguma forma, colocar metade do acampamento em busca da irmãzinha. Ah, Jessie... Estava tão preocupada. A loirinha havia sumido há horas, sem deixar vestígios de para que lado fora.

                Juliet, Annabeth e Mary estavam falando com os campistas que passavam, perguntando se algum deles por acaso poderia ter a visto. Danna fora atrás de Aghata à um tempo, para perguntar se a filha de Nike saberia dela, mas ainda não havia retornado. David e Jake foram em direção à praia, Rob e Chad aos campos de morango, Mark e Jonatah ao pinheiro de Thalia, Polux e Chris ao pavilhão, Clarisse e Tracy ao anfiteatro. Já ela, Percy e Connor estavam dando voltas não definidas.

                Connor havia dado um jeito de conseguir grandes lanternas com o alcance incrível, armando cada um deles com uma assim que escureceu. E, mesmo assim, Jessie desaparecera.  Era desesperador.

                - JESSIE! – Kay gritou de novo, sem conseguir se conter. Talvez ela conseguisse ouvi-la, se fizesse isso bem alto. – JESSIE!

                Ela se afastou um pouco dos dois e, quando viu, estava a alguns muitos metros à frente, próxima ao chalé de Nike. Deu meia-volta e começou a andar até os dois de novo. Percy parecia cansado, virando a lanterna de um lado para o outro para tentar cobrir a maior área possível. Katie se sentiu culpada. Como os outros estariam? Não era culpa deles. Ela que viu Jessie fugir e não fez nada quando podia. Não eles.

                - JESSIE! – gritou mais uma vez, soando mais triste e desesperada do que devia dessa vez.

                - Procurando por alguém? – ouviu a voz de Travis sussurrar atrás de si. Katie girou o mais rápido que conseguiu, podendo jurar que quebrara o pescoço ao fazer isso, mas sem se importar.

                Travis estava lá, parado, com o sorriso eu-sei-mais-do-que-você. Carregava Jessie nas costas, que parecia dormir acordada de tanto cansaço. As mãos estavam enfaixadas de uma forma engraçada, com ataduras levemente manchadas de sangue. Ela tinha um arranhão na bochecha esquerda, os cabelos loiros estavam completamente desgrenhados e a camiseta suja de terra. Mas, fora isso, estava bem. Katie poderia chorar de tão agradecida.

                - Jessie! – ela sussurrou aliviada, pegando a garotinha das costas de Travis. Ela, por sua vez, se acomodou nos braços de Katie e enterrou a cabeça em seus cabelos. – Onde...?

                - Perto dos bosques. Ao lado da arena. – Travis respondeu sorrindo triste para garotinha. – A encontrei quando estava indo para a aula de esgrima. Não sei o que seria dela se isto não tivesse acontecido.

                - O que houve com as mãos dela? – Katie franziu a cenho. Travis corou fortemente, desviando os olhos para o chão.

                - Ela tropeçou quando me viu. – respondeu envergonhado. – Limpei um pouco, passei néctar e usei minha camiseta para as ataduras. É o melhor que podia fazer.

                - Travis... Você é incrível. – Katie murmurou baixinho, ao mesmo tempo em que Connor e Percy paravam ao seu lado.

                - Vocês a acharam. – Connor disse aliviado. Katie concordou com a cabeça, sorrindo fracamente.

                - Percy... Você pode leva-la até o chalé? Eu vou avisar os outros.  – ela pediu ao filho de Poseidon.

                - Claro. – ele respondeu pegando a loirinha de seus braços e já andando em direção ao chalé número oito, deixando-a sozinha com os dois Stoll’s. Connor olhou para Travis, depois para Katie e então para Travis de novo.

                - Eu aviso. Pode deixar. – Disse e, antes que ela pudesse respondeu se afastou em passos largos.

                - Ela é uma garotinha incrível. – Travis disse olhando para a forma de Percy cada vez menor que andava em passos largos. – Uma verdadeira guerreira. Sabe... Por ter passado pelo que passou.

                - O que? – Katie perguntou confusa, franzindo o cenho para ele.

                - Jessie não te contou? – Travis rebateu, também confuso. – O pai dela morreu quando tinha quatro anos. Assassinato com arma de fogo que a própria presenciou. Mora em um orfanato desde então, pelo que entendi.

                Kay arregalou os olhos, surpresa. Isso explicava tudo. Explicava o jeito com que Jessie parecia estar sempre escondendo alguma coisa, seu medo de armas e, principalmente, o motivo dela ter se assutado tanto. Pobre Jessie.

                - E-eu... Não sabia. – gaguejou olhando para aquela direção também. – Melhor ir andando.

                Ela desligou a lanterna e começou a se afastar. Já estava no terceiro passo quando se virou para atrás, avançou em direção a Travis e lhe deu um beijo inesperado. Travis cambaleou surpreso, mas, para sua infelicidade, Katie se separou tão rápido quanto havia se aproximado, sem dar tempo que ele raciocinasse e transformando o beijo em um simples selinho.

                - Obrigada. – ela sussurrou com um sorriso sincero.

                - Pelo quê? – Travis devolveu, precisando de todas as suas forças para não puxa-la para outro beijo.

                - Por ser um herói. – Kay respondeu, dando as costas para ele e se afastando em passos largos logo em seguida. Travis queria ter gritado por ela, pedido para que esperasse, lhe dado outro beijo e falado que sempre seria o herói dela. Mas não o fez.

                Por quê? Na verdade, ele mesmo não sabia.


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Notas finais do capítulo

Jessie, Jessie, Jessie.
A vida é cruel não acham?
Acho que esse finalzinho foi especialmente para as leitoras que queriam me esganar por um beijo...
Vamos, foi curtinho, mas foi um beijo.
Posso prometer muitas... Hun, surpresas no próximo capitulo.
Ah para quem ainda não viu, postei MAIS UMA one-shot Tratie. "Plan B", é só olhar no meu perfil. Meio que foi a partir da ideia de Helena_pj. Como Katie e Travis se conheceram, entende?
Reviewside! (What?)
Beijos,
Jojo