Era incrível como eu conseguia ficar pior a cada dia, os dias passavam tão dolorosamente sem YunHo. Minha doença a cada dia piorava, eu vivia praticamente no quarto de hospital. Dessa vez uma forte dor veio e dormir por no mínimo quatro dias. A claridade de repente bateu em meus olhos e tive que cerra-los com força antes de abri-los, olhei para o teto branco tentando desembaçar minha visão, quando finalmente consegui olhei para o lado e me assustei, tinha uma cama a mais. Então ouvi o barulho do chuveiro no banheiro, me sentei e peguei o prato com meu café-da-manhã e comi meio sem vontade.

Ouvi a porta do banheiro ranger e quando vi a silhueta de quem era me engasguei com a torrada que saboreava, o que ele estava fazendo aqui? Ele se assustou e logo veio para perto de mim me ajudar a desengasgar, quando conseguiu ele se afastou rapidamente sentando-se na outra cama e olhando para baixo. Ficamos em silêncio por um tempo.

- YunHo? – Minha voz saiu falha.

- Desculpa. – Ele começou de repente. – Eu tive que pensar... Sobre tudo sabe, foi muito estranho lembrar de tudo. – Eu abaixei o olhar. Então ele se sentou ao meu lado e segurou a minha mão, meu coração quase pulou. – Eu voltei, JaeJoong. Estou aqui para cumprir a promessa. – Ele sorriu para mim.

Milhões de coisas rodearam minha mente e tudo parecia um sonho. Eu piscava inúmeras vezes e ainda assim ele estava ao meu lado, segurando minha mão e com o mesmo pijama que eu usava. Eu suspirei várias vezes, meu coração se acelerava de tal modo que tudo rodasse a minha frente, o calor de meu corpo aumentou consideravelmente apenas com seu sorriso e seu simples toque, então ele viu meu estado e colocou a mão delicadamente em minha testa.

- Você está bem? – Ele perguntou, olhei seus olhos preocupados. Eu pensei tanto no que dizer nesse momento, mas todas as palavras escapavam de minha boca, depois de algum tempo em silêncio finalmente consegui.

- Apenas... Estou feliz de mais. – Eu sorri mais do que podia. Ele bagunçou meus cabelos.

Por mais que os dias se passassem eu ainda acreditava que tudo fazia parte de um doce sonho, depois que YunHo voltou a minha vida eu melhorei e muito. Voltei ao orfanato e ele foi comigo, implorei um quarto para meu “pai”, mas o máximo que consegui foi uma cama a mais em meu quarto já pequeno. No final acho que foi melhor assim. YunHo estava bem tímido no começo e quase todo dia pedia desculpas ao dono daquele velho orfanato por ter sido tão rude.  Eu e YunHo estávamos particularmente muito felizes, passávamos os dias e noites juntos e voltamos a anos atrás quando éramos inseparáveis. Até quando eu era internado ele ficava no meu quarto me animando.

Estávamos na metade do Outono, não podia acreditar que o tempo passasse tão rápido e eu começava a ficar com medo disso. Sentei-me na varanda pensando em quanto tempo mais eu tinha nesse mundo, eu estava tão feliz ao lado de YunHo que não queria acabar com isso. Ele veio com seu sorriso de sempre e sentou-se ao meu lado.

- Pensando? – Olhou pra mim.

- Uhum. – Olhei para o céu estrelado. Ficamos em silêncio por um tempo, o olhar dele sobre mim já começava a incomodar. – Me diga Yun... Porque está comigo? Ainda quer pegar o orfanato? – Era minha vez de olhar pra ele, o peguei desprevenido.

- Estou com você por que... – Ele parou e corou. -... Não quero o orfanato, Jae. Sabe... Meu pai falou que se eu conseguisse o orfanato ele me daria minha herança... O que é muito dinheiro. Mas se eu não conseguisse... Ele só me daria 1%... O que dá em volta de um milhão... – Eu arregalei meus olhos. Um milhão? Os zeros rodavam em minha cabeça. Ele riu da minha reação. – Desculpe... Eu só pensava em dinheiro.

- Mas porque ele quer tanto esse orfanato?  - Perguntei interessado, ele forçou o cenho o franzindo.

- Não sei ao certo... Alguma intriga com o dono daqui. Algo assim. – Ele sorriu para mim e tentou segurar minha mão, mas eu a desviei.

- Yun... Você sabe né? – Olhei para o chão. – Não tenho muito tempo de-- - Fui interrompido quando seus braços quentes me rodearam e me apertaram, meu coração pulsou forte e senti uma dor horrível, mas eu estava tão feliz que não liguei. Encostei meus dedos gélidos em seu braço.

- Não fale, Jae. Não importa o que aconteça... Pra mim você sempre será o único que importa. – Ambos coramos e ele se aproximou perigosamente de mim, senti sua respiração quente tocar minha pele, nossos lábios se roçaram, mas me desviei imediatamente ao sentir uma pontada no coração, ele logo me apertou em seus braços. – Desculpe...

- Não, Yun. Eu que devo me desculpar, certo? Não posso dar o que você quer. – Senti lágrimas arderem em meus olhos.

- Contanto que esteja ao meu lado, é a única coisa que importa. – Ele afagou meus cabelos e as lágrimas presas em meus olhos marcaram minha face. Isso tudo fazia parte de um sonho... Na qual nunca queria acordar.

YunHo sempre estava ao meu lado. Nos momentos bons e ruins, desistiu de uma fortuna apenas para viver comigo, me pergunto se é tudo verdade. Se ele realmente desistiu de tudo pela promessa. Por mais que estivesse feliz ao lado de meu amado, me divertindo com as crianças pulando em cima dele ou ele me jogando água da mangueira enquanto lavávamos o quintal, ou então quando ele me abraçava pelas costas quando eu estava lavando a louça me ajudando a lava-la colocando as mãos sobre as minhas... Não importava o quanto meu coração palpitasse de alegria, ele ainda batia doente. E como os médicos previam meu tempo estava acabando. Eu estava piorando a cada dia.

- Jae! Abra essa porta! Não me faça quebra-la. – Ele batia insistente na porta do banheiro, eu estava sentado no canto do banheiro apertando meu peito como se isso fizesse meu coração parar de doer tanto, eu só não queria que YunHo me visse desse jeito tão doente. Mas ele realmente arrombou a porta.

Novamente senti seus braços em meu corpo me abraçando, minhas lágrimas grossas molhavam seu ombro.

- Está tudo bem. Eu estou aqui. Sempre estarei. – Ele dizia, e como eu queria acreditar. Apertei sua camisa sentindo minha visão embaçar e novamente eu me perder no mundo dos sonhos.

Era como se a cada momento inesquecível que eu tivesse com YunHo o mundo me castigasse com uma dor indescritível, eu o ouvia suspirar pesadamente pelos cantos e isso me deixava angustiado. Entrei na pequena biblioteca do orfanato, eu sabia que encontraria YunHo ali e lá estava ele lendo um livro enorme. Ele estava com algo na mão, parecia aquele vidro do “Drink Me” da Alice. Quando ele me viu tratou de esconder o pequeno vidro o que me fez arder em curiosidade.

- O que é isso? – Sentei ao seu lado tentando olhar o que ele escondia.

- Não seja curioso, Jae. – Ele riu acariciando minha face sorri para ele e formei um bico.

- Mas eu quero saber, parece ser algo bonito. Me deixe ver Yun! – Eu sei, eu sou extremamente manhoso.

- Okay, Okay. – Ele suspirou e me mostrou o que era. Era exatamente o vidro da Alice, mas tinha um lacinho rosa com um papel preso e dentro havia inúmeros papéis coloridos enrolados.

- O que é? – Ele deu para mim e o olhei.

- É pra você. – Ele apontou para o papel. Eu olhei o papel branco que estava preso.

- Obrigado... – Meu coração palpitou forte quando vi o que estava escrito. “Um por dia. Aqui dentro está um pouco do meu coração. YunHo.”  - Yun... – Tentei falar, mas ele me interrompeu.

- Um por dia, okay? Não quero você tendo uma overdose. – Riu. Eu não sabia o que fazer, eu não queria ler apenas um. Levantei-me rapidamente e corri para o andar de cima e entrei em meu quarto me jogando na cama.

Eu estava tão feliz e nervoso, meu coração parecia que ia explodir. Abri o primeiro papel azul, estava escrito: “Eu te amo, Jae.” Senti lágrimas grossas marcarem meu rosto, abri outro verde bebê: “Não importa o que aconteça eu sempre estarei com você.” Eu solucei e abri outro amarelo não me importando com a dor de meu peito: “JaeJoong, você é eterno para mim.” Eu escondi meus lábios com o dorso da mão, eu queria gritar: “Eu estou aqui por você.” “Você é único.” “Meus dias só são completos com você.” “Eu te amarei eternamente.” “Quando chegar a hora nos encontraremos novamente algum dia, certo?” “Você é meu céu.” “Você é um anjo que apareceu para mim.” Cada mensagem eu senti mais como se estivesse em um doce sonho, eu já tinha acabado com metade das mensagens quando YunHo adentrou em nosso quarto.

- Eu disse que era um por dia. – Ele sentou ao meu lado. – Vai ter uma overdose. – Ele segurou minhas mãos com apenas uma e limpou meu rosto das lágrimas com a outra, mas eu não conseguia parar de chorar.

- Yun... Eu te amo. – Eu agarrei seu pescoço o abraçando-o forte, ele logo retribuiu o abraço fazendo um carinho gostoso em minhas costas. – Eu tenho medo de não sobreviver até ler todos. – Ele me apertou mais e senti lágrimas quentes em meu ombro.

- JaeJoong... – Eu o interrompi.

- Sabe qual é meu sonho? Construir um novo orfanato... E ter um espaço só para nós dois, um quarto grande cheio de estantes com livros e ursos de pelúcia. – Eu ri e ele me olhou sorrindo. – Mas já é tarde de mais... – Eu suspirei pesado e ele segurou meu rosto entre as mãos.

- Jae! Eu irei construir um orfanato para você. – Ele sorriu largo fazendo meu coração se aquecer. – Eu prometo.

- De verdade? – Mais lágrimas vieram.

- Eu sempre cumpro minhas promessas, não é? – Eu assenti sorrindo.

Nos deitamos na mesma cama nessa noite fria, eu estava de costas para YunHo e ele me abraçou carinhosamente, eu entrelacei nossas mãos e ele passou todo seu calor para mim, como era aconchegante, eu queria ficar assim para sempre. Olhei para a janela e pelo vidro eu pude ver... A última folha da enorme árvore caindo.

Amanhã era inverno.