Fur Elena escrita por amarifm


Capítulo 1
Introitus




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Frustrada, Elena  bateu a caneta na folha em branco de seu diário.

Hoje fora um dia comprido para a moça, pois Stefan havia ligado logo pela manhã, avisando que sairia da cidade por dois dias para caçar. Ele mencionara algo sobre o desequilíbrio da fauna da região, já que estava caçando com mais freqüência agora que os dois ficavam juntos a maior parte dos dias.

Na pequena cidade de Mystic Falls, a fauna que habitava a mata periférica era bem pouco variada, estreitando as chances de obter-se animais que saciassem a sede de Stefan por inteiro. Então, por se alimentar de animais de pequeno porte e por assim dizer, com pouco sangue, ele se lembrava do cuidado que tinha que ter toda vez que Elena corria para ele tão calorosa com todos seus capilares recheados de sangue, como se pedindo para toda aquela pressão fosse aliviada. Ele a avisava quando a proximidade era demais para ele, e Elena entendia sem nem precisar de um segundo aviso.

Stefan se culpava toda vez que sentia sua garganta arder de sede ao ver as veias azuis pulsantes por trás da pele fina de qualquer humano que passasse por ele, principalmente Elena e suas amigas. As vezes, o impulso era tão grande que ele imaginava o ato em si, mas refreava a necessidade se punindo mentalmente. Então, depois de muito tempo à base de sangue de lebres e raposas, Stefan decidiu sair da cidade por alguns dias para tentar saciar sua sede de uma  forma diferente, caçando animais diferentes. Talvez um urso, ou um leão. O rapaz não guardava segredos de Elena, então quando ele ligou informando-a de sua partida temporária, apesar do aborrecimento ser evidente na voz dela, ela entendeu que ele teria que ir.

E assim, Elena ficou dentro de sua casa um dia inteiro num sábado perfeitamente ensolarado. Ela não queria sair, pois Stefan não estava ali para sair com ela. Então o que restou fazer, depois de um sábado completamente desperdiçado, era ir para a cama cedo e quem sabe escrever sobre como fora seu dia. Mas a segunda parte de seu plano infalível não saiu como ela esperava, pois na verdade, ela não tinha o que escrever em seu querido diário.

8:13 pm.

Estava cedo demais, e Elena não estava com sono para tentar ir dormir, então decidiu descer para a cozinha e fazer um chocolate quente. O diário foi deixado junto ao seu travesseiro, acompanhado da caneta, e descalça e já de pijamas, Elena desceu as escadas vagarosamente.

Uma caneca de leite foi para o microondas e enquanto esperava, Elena sentou em frente ao seu piano, mirando as teclas de cor creme intercalada com as pretas. Seus dedos treinados correram por cada um delas sem ousar pressioná-las. Ela não tocava desde que seus pais se foram e este pensamento trouxe dor e nostalgia. Elena conseguia lembrar quando seu pai se sentava ao se lado e os dois tocavam duetos; ela conseguia imaginá-lo ali ao seu lado, sorrindo para ela quando ele, de propósito, trombava sua mão com a dela, fazendo-a atropelar algumas notas. Ah, com Elena sentia falta daquele sorriso.

O microondas apitou e Elena foi de encontro a cozinha novamente. Ela estava sozinha em casa, pois Jeremy e Tia Jenna haviam saído para seus respectivos compromissos de sábado à noite. Isso a deixava mais cabisbaixa ainda, mas a essa altura, não havia nada o que fazer a respeito disso, e ela também não estava com pique para fazer nada que requeresse demais sua atenção. Então decidiu, obstinada, aproveitar seu final de noite.

Ela levou a caneca de chocolate quente para a sala do piano após bebericar o quente líquido, o pousou encima do piano.

Elena estralou os dedos e se posicionou corretamente na banqueta; a partitura já estava cravada em sua memória, e então, seus dedos escorregaram sobre o órgão, enquanto as notas de Inverno por Antonio Lucio Vivaldi começaram a formar a música rápida e incisiva que era.

A campainha tocou.

Elena deu um pulo de onde estava, ficando embaraçada e meio perdida. Jeremy deve ter esquecido as chaves, ela pensou consigo mesmo, correndo até a porta. Ao abri-la, suas suspeitas se tornaram erradas.

“Damon!”

“Olá pra você também, Elena.” Ele esperou ali, olhando para ela fazer o convite.

“O que está fazendo aqui?” Elena sabia que não precisava convidá-lo de novo, pois já havia feito isso uma vez. Mas mesmo assim, acenou com a cabeça para que ele entrasse. Não queria que ninguém os visse conversando ali.

“Sabe, fica difícil para eu saber o que você está fazendo quando vem para o andar de baixo.” Ele disse, como se nem tivesse ouvido a pergunta que ela acabara de fazer. Damon entrou na casa com seu ar superior.

“Você estava me espionando?” ela perguntou indignada.

“Claro que não! Eu estava te vigiando...”

“Você é inacreditável, Damon...” Elena estava aborrecida.

Ela a encarou e arqueou uma sobrancelha, deixando-o ainda mais belo, enquanto respondia. “Eu sei.”

Elena não conseguiu fazer nada senão tentar esconder um sorriso tímido; ela sabia que não conseguia  ficar brava com Damon por muito tempo. Ela andou até o piano que ficava na sala ao lado do hall de entrada e pegou sua caneca de chocolate quente, bebericando novamente e se apoiando contra a madeira do instrumento enquanto se virava para encarar Damon.

“Então, o que quer?” ela perguntou suavemente, sem acusações.

“Eu sabia que tinha ouvido você tocar,” Damon apontou seu indicador longo e branco em direção ao piano, ignorando completamente a pergunta de Elena, mais uma vez. “mas sério, Vivaldi? Por favor, o que aconteceu com o excêntrico e brilhante Ludwig, minha cara?”

“Ah, não me diga que sabe tocar.” Elena falou já esperando a resposta convencida.

“Está brincando? Eu sou o melhor...” ele falou lançando-lhe uma piscadela e um sorriso charmoso.

Elena percebera que a conversa havia se desviado totalmente; ele usava as mesmas artimanhas que ela para conseguir o que queria, ela notou. Elena sempre conseguia persuadir as pessoas ao seu redor, mesmo que as vezes, inconscientemente, mas sempre conseguia, e Damon não diferia dela nesse quesito.

Ela sorriu um pouco quando Damon andou até o piano e a enxotou dali para não atrapalhá-lo enquanto tocava. Elena pousou sua caneca ainda cheia encima de um aparador que estava ali perto e se virou para vê-lo tocar.

“E isso, minha cara, é Beethoven...”

Molto Vivace, da nona sinfonia de Ludwig van Beethoven foi a escolha dele. Uma ótima escolha, diga-se de passagem. Ela assistiu a Damon trançar os dedos em meio as teclas agilmente; ela via que ele estava se divertindo muito ao fazer aquilo, como se compreendesse o que Beethoven quis dizer quando compôs aquela música. Quando o ato foi chegando ao seu clímax, aproximadamente quinze minutos mais tarde, Elena percebera que seus olhos já estavam fechados, e seus ouvidos absorviam cada nota como uma palavra e cada pausa como um suspiro; nos minutos em que a música estava tocando, ela fez e desfez sonetos em sua mente; sentiu aromas que nunca havia sentido e foi a lugares que nunca havia visitado, e então, tudo acabou.

Elena abriu os olhos, saindo do transe em que estava, e lá estava ele, bem em sua frente, a menos de cinco centímetros de distância. “Você gostou?” ele perguntou com um sorriso convencido e cativante nos lábios. Ele sabia a resposta.

Mesmo com o colar de Verbena, Elena se sentiu inclinando para ele. Seu cheiro quente, seu hálito gelado, seu olhos hipnotizantes, sua presença...

Ela recuou um passo e se chacoalhou mentalmente. Que diabos ela estava fazendo?

“Damon, minha tia e meu irmão podem chegar a qualquer momento...” ela nunca terminou.

“Eu posso ouvi-los a 5 quilômetros de distância, se eles chegarem, eu vou.”

Elena o olhou atentamente e o viu fazendo o mesmo. “A não ser que você queira que eu vá. Você quer que eu vá?” enquanto ele falava, Elena sentiu o hálito de Damon encontrar seu rosto muito gentilmente, e as palavras que deixavam sua boca eram como mais uma composição divina de Beethoven. Ela estava, total e absolutamente, atraída por ele. E pelo jeito, Damon também já sabia disso.

“Não.” Foi a única resposta que ela deu, tentando esconder a vulnerabilidade em sua voz.

Damon deu aquele sorriso ofuscante dele e andou para frente, alarmando-a. Por um momento, Elena pensara que ele tentaria fazer algo com ela, mas Damon só passou por ela, praticamente ignorando sua presença, e se dirigiu para a cozinha. “Então, onde está seu amado St. Stefan?”

Elena soltou o ar, que só agora percebera que estava segurando; girando em seus calcanhares, ela o seguiu de longe, e sorriu para si mesma com o jeito que Damon se referia ao próprio irmão. Olhando para dentro da cozinha, ela o viu apoiado em uma bancada que dividia a cozinha; braços cruzados, pernas num ângulo perfeito e um sorriso arrebatador. Deus, ele é magnífico.

Já desnorteada, Elena respirou fundo de novo e seguiu para tomar um copo de água. Ela virou o copo inteiro antes de olhar para Damon e responder. “Você realmente não sabe ou está brincando comigo?”

“Oh, você sabe, eu estava fora da cidade por alguns dias, não sei se notou,” ele falou, dando ênfase à última parte da frase. “e quando voltei, a casa estava vazia e Stefan não atendia o celular.” Ele concluiu disparando um sorriso glorioso.

Elena o calculou, tentando descobrir se ele dizia alguma mentira. Mas ele era impassível em cada palavra, sem deixar nenhum vestígio de qualquer forma de hesitação, excluindo assim, a desconfiança alheia.

“E então você veio aqui para me perguntar onde Stefan estava?” Elena falou arqueando uma sobrancelha e realizando que tinha tocado num assunto que o deixaria deslocado, ou pelo menos ela pensava que deixaria.

Damon foi rápido em notar que Elena sabia e gostava do fato de ele estar ali somente para vê-la. “Oh, você me pegou...” ele disse desencostando da bancada e soltando os braços para os lados, fingindo estar derrotado. “eu vim aqui para te ver.”

Ela sorriu, numa clara imitação do sorriso de Damon e reverberou as palavras que ele havia usado mais cedo. “Eu sei.”

Ele estreitou os olhos para ela, contente por Elena estar mais a vontade perto dele. Com passos vagarosos e calculados, ele partiu em direção a ela. Elena o fascinava de tantas maneiras que nem ele, experiente como era, sabia como aquilo era possível.

“Mas,” ela andou em direção a sala do piano, quando o viu se aproximando. “se você quisesse só me ver, podia ter feito isso do carvalho em frente a minha janela que você fica toda vez que está nas redondezas de minha casa.”

Damos cintilou seu sorriso marcante e a seguiu de perto. “Oh, você sabe disso, heh?” ele falou não parecendo nem um pouco intimidado ou envergonhado por ter sido descoberto.

“Eu te vi uma ou duas vezes...” Elena sentou em frente ao piano e o sentiu parar atrás de si. Ele estava a observando.

“Hmm, mas eu fico lá por que é falta de respeito ir entrando na casa das pessoas sem ser convidado...” Os dedos dela pressionaram algumas teclas em uma melodia dolorosamente doce, e Damon parou de falar nessa hora.

As notas se repetiam dando forma a música; era triste e calma, como um dia escurecido por nuvens carregadas. Ela conseguia imaginar em sua mente um campo uniforme aos arredores de Paris, com sua plantação de lavanda cobrindo o chão com um roxo suave, e o céu triste acima dizendo que o crepúsculo logo engolfaria todos seus sonhos...

Elena parou de tocar, tentando descarregar toda a tristeza que aquela música tinha trazido e se virou no banco para se levantar; ela ficou surpresa ao ver Damon a olhando tão intensamente.

“Mas eu já te convidei para entrar...” ela falou delicadamente, respondendo ao último comentário de Damon.

Os olhos de Damon se suavizaram significativamente, a ponto de transparecer uma consternação escondida. De início, ela não sabia o que havia causado a mudança na atmosfera ao redor de Damon, mas logo depois que um sorriso começou a aparecer nos lábios dele, de novo, ela pode imaginar o que era.

Confiança. Ela confiava nele.

Ela acabara de dizer que ele estava convidado para entrar na casa dela, mesmo sabendo quem ele era, o que ele era.

Damon deu um passo para frente, trazendo os dois muito perto um do outro; Elena não recuou, pois sabia que ele nunca infligiria nenhum mal contra ela. Uma mão dele subiu até o rosto dela, e dois dedos caminharam da têmpora de Elena até seu queixo. O calor emanava dos dois e as bochechas de Elena ficaram rosadas, encabulada por mostrar sua vulnerabilidade tão abertamente.

Em um segundo, a mão de Damon buscava abrigo entre os cabelos de Elena, e sua boca se aproximava da orelha dela; seu hálito fazendo cócegas quando ele falava. “Você toca muito bem,” a voz dele estava dois tons mais baixa e sensualmente rouca; as palavras se formavam muito devagar e soavam muito apetitosas. “nós devíamos tocar juntos.”

Elena recuou muito devagar seu rosto para olhá-lo nos olhos. Ela se lembrou de seu pai e das tardes em que os dois tocavam juntos, mas não disse nada. Havia uma suavidade nos olhos dela que ela não sabia existir e muito delicadamente, ela sorriu.

Damon sabia que algo passava pela mente de Elena, mas não ousava perguntar o que era; cabia a ela decidir se queria dividir a memória com ele ou não. Ele não desviou o olhar dela nem por um segundo,  e quando ele viu os olhos de Elena brilharem e uma lágrima escorrer em sua bochecha macia, ele desentrelaçou seus dedos do cabelo dela e limpou a lágrima com um dedo.

“Eu tenho que ir...”

“Não...” a palavra escapou os lábios dela sem nem mesmo Elena perceber.

Ambos ficaram surpresos com o pedido silencioso que a palavra trazia; e então, ela ouviu a fechadura da sala virar. Elena olhou para porta e em um piscar de olhos ele estava ali, parado em sua frente com um sorriso fulgurante nos lábios, e no outro, Damon desaparecera.

Elena suspirou tristemente, pois apesar de tia Jenna ter acabado de chegar, ela estava sozinha de novo.

“Elena, o que está fazendo parada aí?” ela ouviu a voz curiosa da tia.

“Ah, huh, eu- eu ia...” Elena olhou para os lados e viu a caneca de chocolate quente ainda encima do aparador. “eu só estava guardando isso aqui.” Ela terminou pegando a caneca e indo até a pia despejar o que havia sobrado dentro da caneca.

“Você está bem?” Tia Jenna perguntou quando viu Elena passar por ela sem nem olhá-la.

“Hmm, sim, claro. Só estou cansada. Vou para a cama agora. Boa noite.”

“Tudo bem. Boa noite.”

Mentir se tornara algo tão comum para Elena, que ela própria estava começando a acreditar nas suas mentiras. Elena foi direto para seu banheiro escovar os dentes, e se sentiu um pouco frustrada pensando no jeito que Damon havia ido embora, ou talvez ela só estivesse ficando louca, pois sentia falta de Stefan. Ela apagou as luzes do banheiro e foi para seu quarto.

Quando acendeu as luzes para seu quarto, Elena sentiu seu coração pular uma batida. “Damon...” sua voz era de alívio e isso não passou despercebido por Damon que estava deitado na cama dela com as mãos atrás da cabeça, somente seus pés com botas para fora da cama de lençóis brancos “Pensei que você tinha ido embora...”

“Oh não, eu só vou embora quando você me manda ir.”

Elena sorriu e balançou a cabeça, fechando os olhos no processo. Damon parecia ter o dom de fazê-la rir.

Ela andou até a cama e se sentou do outro lado. Pegando seu diário e caneta nas mãos exatamente onde ela deixara mais cedo naquele dia; ela os colocou no criado mudo e encostou-se à cabeceira da cama.

“Posso te perguntar uma coisa?”

“Claro. Só não vou dar a certeza de uma resposta.”

Elena olhou Damon nos olhos e ponderou a melhor forma de elaborar a pergunta de uma forma não agressiva. “Por que você está aqui, realmente?” ela perguntou numa voz calma e quase distante.

Damon continuou a olhando nos olhos e ela podia ver as pupilas dele dilatando enquanto as engrenagens de seu cérebro trabalhavam uma resposta. Mas o que ele disse não foi tão complexo quanto ela imaginava.

“Porque eu gosto de você.”

Elena ficou satisfeita com a resposta, e apesar de não saber se era verdadeira ou não, ela gostava de pensar que era, de fato. Com um sorriso nos lábios, ela quebrou o contato dos olhos e viu que horas eram: 11:22. O tempo passara despercebido no momento em que Damon pisara dentro de sua casa.

Ela escorregou para debaixo dos cobertores fofos; olhando para o teto e com as mãos descansando em seu abdome por cima dos cobertores, Elena suspirou, sentindo-se relaxada. Ela sentia os olhos Damon nela; olhou para o lado e o viu tão suspenso quanto ela. Eles se olharam até os olhos de Elena pesarem com o sono e se fecharem.

Ela sentiu um dedo passar por entre seus olhos e pela curva de seu nariz, pousando finalmente em seus lábios simetricamente desenhados e então, um hálito gelado contra o pé de seu pescoço.

“Boa noite.”


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