We are broken. 

Eu mantinha os olhos fechados, mesmo que não estivesse dormindo. O celular estava desligado e o telefone fora do gancho, mas isso não era o bastante para deixar claro para o mundo que eu não queria ser encontrada. A campainha continuava tocando insistentemente, mas eu não atenderia. Primeiro porque não queria ver ninguém, segundo porque nada que qualquer pessoa me falasse ou fizesse agora poderia fazer com que eu me sentisse melhor.

As coisas estavam confusas de uma forma que jamais tinham estado antes. Tudo parecia estar acontecendo em um filme alemão sem legendas onde todos entendiam a história, menos eu.

Certo, Josh e eu tivemos alguns problemas. Nós tivemos algumas discussões e falamos coisas cruéis um para o outro, mas há alguns meses tudo corria bem. Nós estávamos consertando aquilo, estávamos voltando a ser como éramos. Eu estava feliz por estarmos melhorando. Aquilo era um balde de água fria sendo jogado em minha cabeça. Eu ainda ouvia a voz de Zac anunciando feliz que Josh havia pedido Jenna em casamento. A troca de olhares dos dois, a aliança brilhando na mão dela, os sorrisos acanhados de quem não quer parecer feliz demais. A voz desconhecida que saiu de dentro de mim quando eu disse, com forças tiradas ainda não sei de onde: “Eu estou muito feliz por vocês”.  Muito feliz. Há. Aquilo era exatamente o contrario do que eu me sentia agora. Eu me sentia em pedaços. Me sentia uma idiota, por ter acreditado que nós ainda conseguiríamos fazer aquilo dar certo quando não existia nenhum “nós”. Éramos “eu” e “Josh”. Duas pessoas separadas. Eu me esforçando para tentar salvar a nossa história e ele construindo uma história nova. Eu não podia culpá-lo, mas a raiva que eu sentia era mais forte que eu. Eu queria cortá-lo em pedacinhos e colocar num ensopado. Eu queria que ele sentisse tanta dor quanto eu sentia agora, pra que ele conseguisse entender o quanto eu amava aquele ser humano estúpido e idiota. Eu sou uma pessoa horrível.

 Meus olhos já estavam cheios de lágrimas de novo e a campainha ainda não tinha parado de tocar. Que droga, eu não quero ver ninguém, é tão complicado assim entender isso? Coloquei um travesseiro sobre a cabeça, tentando abafar todos os sons externos. Não funcionou. Eu desisti. Me arrastei até a droga da porta sem nem me preocupar em parecer apresentável para quem quer que fosse.

Pelo olho mágico, vi Josh parado em minha varanda. De todas as pessoas do mundo, ele era a ultima pessoa que eu esperava e queria ver agora. Eu me afastei da porta, ainda sentindo as mãos tremendo pelo choque de vê-lo ali. Eu não atenderia. Não falaria com ele.

- Eu sei que você está aí, Hayley. – Ele falou com a voz grave contra a porta. Maldito piso de madeira que faz barulho enquanto caminho. Eu suspirei, tentando decidir se eu o ignoraria simplesmente ou se falaria com ele.

- O que você quer? – perguntei ríspida, ainda sem abrir a porta.

- Falar com você, mas você não atende o telefone.

- Uma pessoa não pode querer ficar sozinha?

- Não por três dias inteiros.

Caramba. Três dias? Sério? Já fazia tudo isso?

- Eu não quero ver ninguém. – falei, mas já menos convicta.

- Por favor, Hayley, abre a porta. – ele insistiu. Eu tinha mesmo ficado três dias no fundo do poço daquela forma? Decidi abrir a porta. Não poderia ser pior.

- O que você quer? – perguntei de novo. Ele pareceu aliviado por eu ter resolvido falar com ele. A sorte dele é que as facas não estavam por perto, porque a minha vontade de esfaqueá-lo ainda não tinha passado. Ele me encarou em silencio por alguns segundos e eu sustentei o seu olhar.

 - Como você está? – a voz dele soou um pouco hesitante, como se estivesse com medo da resposta.

- Como você acha que eu estaria?

- Você ta assim por causa do casament... – a simples menção daquilo fez meu coração apertar de uma forma insuportável e antes que eu pudesse evitar, eu já tinha jogado uma caneca de porcelana na sua direção. Ele desviou, deixando a caneca se espatifar na parede, ainda me olhando como se não acreditasse no que estava vendo. – Hayley, eu... – ele começou a tentar falar.

- Eu estou bem. É isso o que você quer que eu te diga? – eu o interrompi.

- Você não tem motivos para agir dessa forma. – ele continuou como se eu não tivesse falado nada. – Eu não fiz nada errado.

- Claro que não. Você nunca faz nada errado.  

- Hayley, chega! Não é como se eu estivesse te traindo ou qualquer coisa assim.

- Nós não tínhamos nada mesmo, não é?

- Não era isso o que você queria? Não foi por isso que você terminou?

- Não Josh. Não era isso o que eu queria! Era isso o que era o certo a fazer na hora e você sabe disso. Não tenta colocar a culpa disso tudo em mim porque você concordou. E você sabe que eu voltaria pra você no momento em que você pedisse. – falei sem pensar. Ele paralisou de novo, sem resposta para aquilo. – Você tem noção de como doeu em mim te ver desistindo da gente pra ficar com ela? – eu quase gritava.

- Eu nunca desisti de você. Você é que ficou com o Chad na primeira oportunidade. – ele respondia no mesmo tom. Eu não tinha resposta para aquilo. Eu sabia que era verdade. - Não aja como se eu não tivesse lutado por você, Hayley.

Eu queria gritar todas as ofensas do mundo. Ao invés disso, respirei fundo e tentei me controlar.

- Vai. Embora. Daqui. – falei pausadamente, com os olhos fechados.

- Você não pode me odiar dessa forma por querer continuar a minha vida. – ele insistiu. Eu joguei outra xícara na sua direção, mas ele nem precisou desviar porque eu errei feio.

- Sai da minha frente antes que eu fique sem louça. – falei. E ele saiu, fechando a porta ao passar. Era isso. Fim.